domingo, fevereiro 10, 2008

Esqueçam o governo, este e os outros que lhe sucederão!

A frase é erradamente atribuída a Ronald Reagan, porque fazia parte do refrão de uma canção muito popular, entre os judeus do guetto de Varsóvia, durante o cerco alemão.
Durante séculos os judeus foram tolerados na Europa Central, nos intervalos entre os "progroms", desde que respeitassem várias condições, uma delas era a de não usar armas.
Quando os alemães atacaram o guetto, os judeus recorreram às armas. O refrão era:

Se não formos nós, quem?
Se não for agora, quem?

Se não fossem eles a lutar pela sua própria vida, quem o faria por eles?
E se não fosse naquele momento excepcional... então quando é que tal se justificaria?

Tudo isto a propósito do artigo "Uma crise sem fim numa região marcada pelo desemprego" assinado por Natália Faria, no Público de hoje.

"O Vale do Ave tem mais de 500 mil habitantes e uma taxa de desemprego de quase 14 por cento, o dobro da média nacional

Fábricas a encerrar, salários em atraso, jovens qualificados sem trabalho, mulheres acima dos 45 anos que já perderam direito ao subsídio de desemprego, homens a emigrar para a Galiza em busca de trabalho. O diagnóstico no Vale do Ave pouco mudou nos últimos anos."

Qual a SOLUÇÃO?

Há gente que ainda acredita no Grande Planeador, no Grande Geometra, no papá estado!!!

"acusa o Governo de José Sócrates de ter votado a região ao esquecimento. "Por várias vezes desafiámos o primeiro-ministro a vir visitar a região, mas ele nunca veio. Há três anos que andamos a pedir coisas e não acontece nada. Esta região precisa de medidas urgentes que ajudem a minorar os efeitos da crise", alerta Castro Fernandes, incitando José Sócrates a carrear "grandes investimentos públicos" capazes de dinamizar uma região que soma mais de 500 mil habitantes."

E ainda:

"Para Castro Fernandes, o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) é o momento para que José Sócrates mostre que quer "dar a mão" ao Vale do Ave."Atendendo a que a Região Norte conta receber oito mil milhões de euros, segundo as mesmas regras de proporcionalidade, o Ave tem direito a pelo menos mil milhões", lança, em tom de alerta, convicto de que a região "conseguirá ser concorrencial e apresentar projectos válidos". " (Quem será esta região?)

"À margem disso, na óptica de Castro Fernandes, a regionalização surge como a derradeira esperança para a região." e ""A formação é fundamental e, além disso, a rede nacional de estradas precisa muito de apoios, assim como a área da saúde", especifica. "

34 anos depois de 1974 e they still don't get it!!!!

Gente sem ideias, gente sem pistas, gente que continua a acreditar que o papá estado é que tem de tomar conta dos portugueses.

Nunca saíremos da cepa torta enquanto acreditarmos que o planeamento central, ou regional, ou municipal é que vai ser capaz de criar uma economia competitiva... to hell with that. Como é que gente que não se sabe governar e que acumula défices atrás de defices, e que só se aguenta à custa do saque arrancado aos pobres saxões impostados, tem engenho e arte para criar uma economia competitiva?

Já estou a imaginar os mil milhões reivindicados para o vale do Ave a serem utilizados na construção de rotundas, na organização de festas, romarias e espectáculos culturais, na formação profissional que enche pneus, na criação de empresas municipais, e tudo melhora até que... acabam os mil milhões, e como a coisa não é sustentável, volta tudo à estaca zero, ou abaixo de zero, pois agora as expectativas são maiores. Estes subsídios são venenosos, são letais, porque impedem que a necessidade aguce o engenho.

Na página seguinte, o presidente da câmara municipal de Guimarães não é mais feliz:

"O Governo terá que ponderar seriamente o que fazer às pessoas que não encontram alternativa. ...
Por isso, há-de haver aqui qualquer coisa que permita conceder um apoio a essas famílias, em troca de um trabalho para a comunidade, por exemplo...
Mas penso que àqueles desempregados aos quais não é possível dar mais formação - porque a formação de base é tão baixa que não dá para dar um salto qualitativo mínimo para outro lado - o Governo poderá dar uma contribuição em troca de um trabalho compatível ao nível do interesse público: quatro horas por dia nas câmaras, nas escolas, nos tribunais, nas juntas e freguesia... Outro problema igualmente complexo é o dos jovens que têm formação e não encontram trabalho no mercado. Infelizmente, neste momento, não há na região trabalho qualificado para acolher essa mão-de-obra...
Nós precisamos de um centro de formação profissional e tenho confiança que o vamos conseguir, para dar um sinal às pessoas que é possível, em função das capacidades que têm, orientarem a sua formação em função da empregabilidade que existe."

Como é possível ter um discurso destes nos tempos que correm? O homem sabe de onde vem o dinheiro? O homem sabe que o dinheiro não é elástico? O homem sabe como se cria riqueza? O homem alguma vez teve de queimar as pestanas para assegurar o seu salário no final do mês?

O homem não vê que na mesma frase diz que o problema é a falta de formação, e logo a seguir diz que quem tem formação também tem um problema?
...
Basta ir à internet, ela diz tudo....
O presidente da camara de Guimarães nasceu em 1944, licenciado em História, foi professor!
Aos 32 anos foi para a assembleia da republica como deputado.
Aos 43 anos deixou de ser deputado, para aos 45 anos ser eleito presidente da camara de Guimarães - lugar que ocupa até à data.

Por que é que esta gente, que só sabe gerir dinheiro que não tem de ganhar, não reconhece humildemente que o seu negócio não é gerar riqueza. Por que é que esta gente não se concentra em: primeiro qual o tipo de empresas que queremos ter nossa região? Segundo (não dar subsídios descriminadores a ninguém mas) perguntar ao mercado que condições precisamos de criar na região para que ela seja atraente, para que empresas criadoras de riqueza sustentada se instalem na região. Como diz este artigo que não me canso de recomendar a leitura: "In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."
Como o Público refere, a primeira parte está em curso, agora falta a segunda parte, e essa só pode ser feita por agentes económicos privados, mas privados a sério, não dos que vivem de rendas de negócios concedidos pelo estado

3 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida. Gostei.

De facto, a pressão pela regionalização tem aumentado na proporção dos dinheiros da UE, acrescida pelo factor tempo. É que estes Fundos são os últimos. Eles querem deitar-lhe as manápulas a meio caminho, para o que é urgente criar as ditas juntas regionais, órgãos intermédios para um derradeiro assalto aos milhares de milhões de euros.

Anónimo disse...

Caro CCZ,

Tem razão quando critica o emprrendedorismo das administrações públicas locais, associativas ou regionais. Porém, tal não significa que a descentralização de poder da administração central para a regional ou local seja indiferente.

Leixões continua sem intemodalidade fazendo com que a exportação tenha que seguir por rodovia e assim fique mais cara.

Gastou-se incentivos para ancorar o Ikea em Matosinhos/Paços de Ferreira retirando mercado aos operadores do sector.

Como vê, 2 exemplos de políticas erradas que concerteza não existiram se houvesse governo regional. Tudo isto nada tem a ver com emprrendedorismo de Estado Regional/Local. Convém colocar os pontos nos is.

José Silva

CCz disse...

Caro José,
Penso que não me expliquei bem:

Nunca sairemos da cepa torta enquanto continuarmos a acreditar no poder, na capacidade, na inteligência do poder (seja ele central, regional ou municipal) para lidar com todas as variáveis e ser o motor de uma economia representativa.

Também caímos no mesmo erro, se forem políticos a fazer escolhas que competem ao mercado (como bem tem exemplificado João Blasfémias Miranda nos últimos dias) como refere no caso da IKEA.

Eu partilho da visão do Mayor de Nova Iorque sobre o seu cargo como político:

"Mike Bloomberg is the Mayor of New York. His job is not to be a public speaker or even to spread his ideas. His job is to make New York work--to get people to come, to visit, to start businesses, to go to school. To make the city appealing and functional.

It's hard to be a mayor. You don't get to be in charge, really. You can help set the table, and then get out of the way and let the village/city function the best you can."

O que o poder central, regional, municipal tem de aprender é esta humildade de "set the table" - criar as condições iguais para todos (nada de fretes aos amigos e ás IKEAs) - e sair da frente, deixar os verdadeiros empreendedores fazerem o seu trabalho