sexta-feira, agosto 23, 2024

Wokismo e produtividade

Sempre que desconfiarem dos escritos de um académico nos jornais, lembrem-se da "Raygun":


E se isso não chegar lembrem-se deste video:
Quem é Alejandro Inurrieta? Um doutorado em Economia.

Aproveito para recordar Helena Garrido acerca da pós-verdade em "Vivemos no tempo da pós-verdade"
"Não importam os factos, pouco interessa o que é verdade, acredita-se, quase por fé, naquilo que se deseja que seja verdade. É o sentimento que conta, tal como nos mercados. Não é mentira, mas também não é verdade mas é aquilo que queremos que seja a realidade,
...
Na era dos factos, basta verificar com estatísticas, frases ou relatos para se fazer ou desfazer uma declaração. Nesta nova era é mais importante quem diz, a que “tribo” pertence e especialmente, num mundo de imagem, a forma como se afirma."

No passado dia 19 o jornal Público trazia o artigo "Semana de quatro dias: lições sobre produtividade" assinado por um dos coordenadores do estudo sobre a semana de quatro dias.

Comecemos pela foto usada para ilustrar o artigo: uma operária a costurar uns panos numa fábrica. Interessante! Será propositado? Se lerem o postal "Vivemos no tempo da pós-verdade" pensem em:

"Algumas das empresas que participaram no estudo só aplicaram a semana dos 4 dias a parte dos trabalhadores (presumo que os deltas e epsilones ficaram de fora)"

Se forem ler o estudo encontram:

"and four companies with more than 80 employees are taking part. Of these four companies, two opted for partial implementation with around 30 employees." [Moi ici: Presumo que só a aplicaram ao pessoal fora do chão de fábrica]

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"In some companies, like a physiotherapy clinic and a social centre, shortening the working week was more difficult in some roles and would require an initial financial investment in hiring more workers, so they decided to start with roles that would allow the work to be reorganised without the need to hire additional staff. [Moi ici: Nunca aparece nestes artigos de jornal]"

Voltemos ao artigo publicado no passado dia 19 de Agosto:

"A maioria das empresas traduz as melhorias organizacionais e tecnológicas em aumentos de produtividade baseados na redução das horas trabalhadas conseguida através de um corte no número de trabalhadores, mantendo o serviço prestado. Frequentemente, a consequência é um plano de consolidação acompanhado de rescisões com os trabalhadores. Neste contexto, compreende-se que eles possam transformar-se numa força de bloqueio. [Moi ici: Isto cheira-me a conversa dos "patrões". Malandros não querem trabalhar para não perder o posto de trabalho]

No caso da semana de quatro dias, o aumento da produtividade também não decorre diretamente de um aumento do valor de vendas, mas da diminuição das horas trabalhadas. [Moi ici: Chegamos ao tema, quem diria, do uso pouco edificante dos objectivos]. Aumenta-se o indicador da produtividade (euro por horas trabalhadas) mas não se cria mais riqueza. Weird!!! Conseguem imaginar onde isto nos leva? Qual é a minha equação para a produtividade? Valor criado sobre o custo necessário para criar o valor, se as vendas se mantêm, se não há mais output e se os salários se mantêm os custos mantêm-se, então a produtividade continua na mesma.] No entanto, essa diminuição é feita, não despedindo trabalhadores, mas reduzindo as horas por trabalhador, o que explica o seu empenho na melhoria da produtividade."

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A elite empresarial portuguesa - as grandes empresas e as associações empresariais - não se deve esconder atrás deste facto para continuar a ignorar o tema, como fez nos últimos dois anos [Moi ici: É procurar no estudo o tipo de empresas que participaram, a sua dimensão e o universo de trabalhadores incluído em cada uma delas]. A semana de quatro dias é uma prática de gestão legitima capaz de aumentar a produtividade, [Moi ici: falso] e cuja generalização já está em curso em todo o mundo [Moi ici: falso]. 

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[Moi ici: Interessante esta ameaçazinha caviar] Resta saber se vão pôr de lado o seu preconceito, manifestar maior abertura e tomar a iniciativa de a estudar, discutir e experimentar. Se não o quiserem fazer, mantendo a sua posição intransigente, estarão a demonstrar que não podemos contar com eles para conduzir este movimento e, então sim, estarão a dar um argumento válido para os que querem impor a semana de quatro dias por legislação."

Quando vos falarem de estudos de semanas de 4 dias pensem sempre em:

  • Âmbito: Qual o tipo de organizações incluídas no estudo? Qual a representatividade da amostra, particularmente em relação aos sectores e aos cargos dos funcionários envolvidos? Isto levanta questões sobre a generalização dos resultados, especialmente para indústrias como a manufatura ou os serviços, que têm exigências operacionais constantes.
  • Impacte na qualidade dos serviços: A redução de 5 horas no SNS não foi lição suficiente? Qual a viabilidade de uma semana de trabalho de quatro dias em sectores como a fabricação de calçado, serviços de transporte ou retalho, onde a redução das horas operacionais poderia levar a uma diminuição da produção, a horários comerciais mais curtos e, em última análise, à insatisfação dos clientes. 
  • Aumento dos custos operacionais: Aumento dos custos operacionais para as empresas que precisariam de contratar pessoal adicional ou pagar mais por horas extraordinárias para manter os níveis actuais de produção ou de serviço. 

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