terça-feira, janeiro 03, 2017

Não perca tempo

Já aqui escrevi, mais do que uma vez, que os líderes de uma associação sectorial ou empresarial devem idealmente vir da vanguarda do pensamento estratégico.

Colocar e manter mentes demasiado agarradas ao passado, demasiado confiantes no direito adquirido ao queijo  garantido, em posições de chefia tem tendência a resultar em erro.

Considerando o tema de Pre-suasion, por exemplo aqui e aqui:
"frequently the factor most likely to determine a person’s choice in a situation is not the one that counsels most wisely there; it is one that has been elevated in attention (and, thereby, in privilege) at the time of the decision"
Se quem ocupa uma posição de liderança vê a mudança como uma ameaça, vê um futuro com mais nuvens negras do que oportunidades, então, o mais provável é que todo o sector assuma esse posicionamento e se refugie no papel de vítima, de coitadinho que tem de depender de outros para sobreviver.

Esses "líderes" presos ao passado, quando o mundo muda ficam perdidos e como que esperam ser socorridos. Líderes (sem aspas) virados para o futuro acham-se a si mesmos, encontram um novo lar nesse novo futuro.

Numa pesquisa que fiz aqui no blogue fui parar por acaso, não há acasos todas as coincidências são significativas, a um postal de Julho de 2006 intitulado "O futuro para o têxtil português" onde se podia ler:
""In a fast-paced environment where time-to-market and short-cycle production are powerful levers of competitive advantage, proximity has taken on much greater significance in all but "fashion" items, where once-a-season orders still prevail.
...
The keys to success in an age of product proliferation, the authors found, are no longer economies of scale and cheap labor but an up-to-the-minute knowledge of what sells and what doesn't, flexible manufacturing capabilities that can respond appropriately to demand, lean rather than fat and costly inventories, and the rapid replenishment of stock."
Agora pensem nos anos que o sector têxtil perdeu em Portugal porque em vez de olhar para o futuro pelo lado das oportunidades, em vez de divulgar esse futuro possível, em vez de comunicar os exemplos de sucesso, gastou demasiado tempo a defender o passado, a esperar que tudo voltasse à "normalidade".

Este blogue ganhou vida própria entretanto mas quando começou a ser escrito com regularidade tinha como objectivo ser um prolongamento da minha memória. E ter memória ás vezes é um castigo dos deuses:

Agora imagine que a sua empresa têxtil tinha recorrido aos serviços deste consultor anónimo da província e que tinha feito um gerador de cenários e tinha formulado uma estratégia de trajectória para vir encontrar-se com um futuro mais risonho à custa da batota, comandando em vez de ser comandada, apostando na proximidade, na rapidez, na flexibilidade muito antes dos outros.

Se tiver tempo leia mesmo este postal de ontem "Isto está tudo ligado (parte II)". Consegue sentir como eu o arrepio de descobrir o quão facilmente podemos ser enganados por nós próprios?

E mais uma vez aquela descoberta: sentado num banco no interior do Amoreiras, ao princípio de uma noite de 1998, enquanto aguardava pela minha colega Dores para jantarmos, lia Stephen Covey em “The Seven Habits of Highly Effective People”:
"Não é o que acontece que conta, é o que nós decidimos fazer com o que nos acontece."
E aquela outra mais recente mas igualmente bela proporcionada por Gonzales:
"É como se a nossa economia fosse um conjunto de pessoas que viajava de avião. O avião despenhou-se e, agora, as pessoas encontram-se numa floresta tropical cheia de perigos e riscos. Há uns que querem aventurar-se e procurar a salvação atravessando a floresta, há outros que querem permanecer junto ao avião esperando que ele volte novamente a levantar vôo, há outros que gritam por ajuda e esperam um milagre. O que aprendi com Gonzales, e chocou com o que ouvi de Lobo Xavier, é que os que decidem aventurar-se e procurar a salvação, enfrentando o desconhecido, ao fazerem essa viagem, acabam por se transformarem a eles próprios e o mais interessante é que quando chegam à "civilização", ou quando são encontrados, já não estão perdidos, já se encontraram, já se adaptaram a uma nova realidade." 
Não perca tempo com líderes que fazem do seu sector um coitadinho, procure gente com o locus de controlo no interior.

BTW, se precisar de apoio estamos por aqui.

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