Pensem no que tenho escrito aqui nas últimas semanas sobre o calçado:
O sector do calçado vai encolher, e vai ter de subir ainda mais na escala de valor, ou seja, vai ter de anichar e trabalhar para segmentos de muito maior valor acrescentado, luxo mesmo talvez.
Lido no Público de 20.02, "Calçado prepara salto para competir pelo luxo em grande escala".
"Um salto. É disto que o calçado português precisa para não ficar encurralado entre dois problemas que o ameaçam: o risco de perder para a concorrência a guerra comercial pelo segmento médio; e a incapacidade de satisfazer as grandes encomendas de calçado mais caro, seja de marcas de luxo ou de calçado técnico. Sem preço e sem escala, não há saída. Mas em Estarreja estão a abrir-se portas que evitem esta "armadilha do segmento médio".[Moi ici: Olha o tema do stuck-in-the-middle]...
Com a subida dos custos de produção, Portugal deixou de ter preço para competir com outros países, de baixos salários, que usam esse "trunfo" para oferecer preço baixo e ganhar as encomendas do segmento médio. A alternativa, espelhada no que as empresas portuguesas estão a mostrar desde domingo em Itália, é o calçado mais caro, de moda ou técnico. Mas aí coloca-se o segundo problema: falta capacidade de produção em larga escala. O que pode ser solucionado com as máquinas e o software que Portugal criou e já se encontra em teste na empresa de Estarreja. Em causa está uma resposta às grandes marcas de moda internacional que procuram países fornecedores de calçado com capacidade de entrega de grandes volumes. Um assunto crítico sempre que se pensa em Portugal, e que pode ser ilustrado com o recente desfecho anunciado pela marca francesa Veja, muito popular em todas as geografias.
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Para não concorrer pelo preço baixo, as fábricas portuguesas terão de assegurar encomendas de gama alta, moda e luxo, ou gamas específicas como o calçado técnico. Para isso, é fundamental ter capacidade de resposta a grandes encomendas. O que, por sua vez, obriga a repensar a forma como se trabalha.
Luís Onofre, presidente da Apicapps, já o disse, na recente entrevista ao PÚBLICO: muita gente vai ter de se mentalizar de que é preciso fazer menos coisas, mas melhores. O que se pode traduzir em menos segmento médio em que o preço baixo é o factor crítico, e apostar em fazer mais para os segmentos mais exigentes.
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Tal como uma companhia de aviões quer os aparelhos o menos tempo possível em solo, também uma fábrica de calçado quer as máquinas sempre a trabalhar. Mudar entre produtos obriga a pará-las. "Com inteligência artificial, visão artificial e robotização, será possível mudar muito rapidamente de série, reduzindo ou eventualmente eliminando até esses tempos mortos", esclarece a gestora.
Para Reinaldo Teixeira, há outra vantagem: "Os robôs que esta tecnologia vai trazer consigo não trabalham apenas oito horas, como um ser humano. O que permite pensar num segundo turno, ou até num terceiro, caso seja necessário.".""
Leio e releio o artigo e sinto que algo não bate certo... sinto a sensação de "stuck-in-the-middle", logo a começar pelo título, "luxo em grande escala". Se tem escala não é luxo. Depois "países fornecedores de calçado com capacidade de entrega de grandes volumes" versus "muita gente vai ter de se mentalizar de que é preciso fazer menos coisas, mas melhores". (Nota: parágrafo corrigido às 08h26)
Já agora a APICCAPS tem centenas de associados, será que a sua direcção já teve uma conversa franca sobre o futuro com os associados? Não creio que todos estejam a par dos dilemas do futuro, ou tenham capacidade para sobreviver no futuro.
Agora uma pergunta séria e honesta, não sei mesmo, não estou a ser irónico, como é que uma associação lida com o facto de ter de "pick winners" entre os seus associados?
2 comentários:
Deixa-me melhorar a pergunta.
Não é uma questão sobre se tem o fazer, mas por que o está fazer…
Quem é que sabe o que tem futuro, por decreto?
Lembrei-me das fumarolas descritas aqui no blogue
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