sexta-feira, setembro 05, 2025

As muletas apenas adiam o inevitável

Em Outubro de 2022 aqui no blogue escrevi "A brutal realidade de uma foto". Entretanto, no passado dia 2 de Setembro, no WSJ, encontrei o artigo, "American Businesses Find One Tariff List To Embrace."

A Sherrill (no artigo do WSJ) e a Herdmar (no blogue): dois lados da mesma moeda.

No meu texto sobre a Herdmar, sublinhei uma realidade dura: quando os custos disparam mais depressa do que a capacidade de gerar valor, as empresas ficam sem chão. A foto que acompanhava o artigo no Expresso mostrava bem a armadilha, demasiados minutos humanos incorporados em cada colher, demasiado pouco valor criado para sustentar salários, matérias-primas e, ainda, o futuro. O diagnóstico é estrutural: produtividade baixa e uma crença quase ingénua de que cabe ao governo resolver o problema.

Do outro lado do Atlântico, encontramos a Sherrill Manufacturing, último fabricante americano de talheres em aço inoxidável. Também ela foi varrida pela concorrência chinesa e acabou em bancarrota. Não conseguia sequer praticar preços que o retalho considerasse “aceitáveis”. Até que surgiu uma tábua de salvação: tarifas sobre produtos importados. Graças a essa barreira, a Sherrill ganhou uma “fighting chance” e pôde voltar a respirar.

Aqui está a semelhança e a diferença. Herdmar e Sherrill partilham o mesmo dilema: custos demasiado elevados num sector globalizado, margens esmagadas, fragilidade estrutural. Mas enquanto a Herdmar espera por medidas de política energética que lhe aliviem a factura, a Sherrill depende de tarifas governamentais que distorcem o mercado. Em ambos os casos, a lógica é a mesma: sobrevivência à custa de muletas externas.

O problema é que essas muletas não resolvem nada. Podem adiar a morte, podem até criar ilusões de renascimento, mas não alteram o essencial: a incapacidade de competir de igual para igual, pela via da produtividade, da inovação e da criação de valor diferenciado. A Herdmar sonha com electricidade barata; a Sherrill rejubila com tarifas sobre o aço importado. No fundo, ambas continuam no mesmo campeonato, o campeonato dos que não conseguem jogar sem protecção.

E é aqui que volto ao ponto que defendi: não cabe aos governos escolher vencedores, nem salvar empresas estruturalmente frágeis. Cabe às empresas encontrarem o seu caminho, reinventarem-se, ou então desaparecerem. As muletas apenas adiam o inevitável.

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