quinta-feira, agosto 28, 2025

Não são elas que precisam de Portugal, é Portugal que precisa delas (Parte V)


O Jornal de Negócios de ontem relata a queda no IDE em Portugal, "Investimento externo é dos que mais peso têm no PIB na OCDE":
"Os dados divulgados pelo BdP mostram ainda que o país perdeu 400 milhões de euros em investimento direto estrangeiro nos primeiros seis meses deste ano."
Cuidado com as justificações que põem paninhos quentes:
"Tal ficou a dever-se, em grande parte, a uma alteração metodológica nas estatísticas. É a primeira vez que se verifica uma queda desde 2013."
Nos meus textos aqui no blogue venho alertando que sem investimento estrangeiro não há salto de produtividade possível. A Irlanda não se tornou rica pelos empresários locais, mas porque soube atrair multinacionais com produtividades de 400 €/hora e criar efeitos de spillover. Em Portugal, preferimos discutir produtividade em cafés enquanto o IDE cai e a atractividade fiscal afasta novos players. Não são elas que precisam de Portugal, é Portugal que precisa delas.”

De seguida comparo afirmações dos meus textos com trexos do JdN:
Nos meus textos sublinho o "salto irlandês", onde o sector estrangeiro atinge produtividades acima dos 400 €/hora. O JdN, ao relatar que o IDE em Portugal está a cair, confirma a minha preocupação: sem captação de multinacionais de alto valor acrescentado, a produtividade portuguesa não se afasta da mediocridade.

"Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas" = "a quebra no IDE significa menos empresas estrangeiras a transferir know-how, tecnologia e integração em cadeias globais."

Nos meus artigos mostro que na Irlanda, mesmo com dualidade (empresas estrangeiras muito produtivas vs. domésticas menos produtivas), há efeito de spillover. Se o JdN destaca a fuga ou retracção do IDE, isto implica também perda de potenciais efeitos de aprendizagem e inovação para empresas portuguesas.

"As melhorias de produtividade que o país precisa dependem das empresas e dos empresários que não existem" = "se não atraímos novos players internacionais, ficamos condenados à estagnação estrutural." Acrescento, ficamos condenados a criar o futuro com a "DVD leadership team," ou seja é como torrar dinheiro e ficar na mesma

No texto "Em Portugal, a conversa de café é a norma (Parte II)" denuncio que se fala muito de produtividade sem olhar para números. O JdN fornece precisamente os números de queda no IDE — que deviam estar no centro da discussão. "Enquanto se discute produtividade em abstrato, a realidade é que o país perdeu X% do investimento estrangeiro em 2024, o que compromete ganhos de produtividade futuros."

Em "Não são elas que precisam de Portugal" sublinho que Portugal é menos atractivo que a França no ranking fiscal. Se o JdN mostra quebra no IDE, posso ligar: não basta formação ou apoios estatais, é preciso políticas que tornem o país competitivo para decisores globais. Ou seja "Baixar o IRC pode não ser suficiente, mas é certamente necessário" = "a queda no IDE é também reflexo da falta de atratividade fiscal e regulatória."

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