quinta-feira, julho 01, 2021

Não se pode querer sol na eira e chuva no nabal!

Recordo este gráfico de 2013:


Então, comparava as exportações de 2012 com as de 2006. O valor era o mesmo, mas enquanto que em 2006 existiam 8000 empresas, em 2012 já só existiam 5000 empresas.

Entre 2006 e 2012 a produtividade das empresas portuguesas da indústria têxtil e do vestuário cresceu.

Vivemos num país em que os salários e os custos aumentam mais do que a produtividade física. Por isso, os preços unitários têm de aumentar, mas nem todas as empresas o conseguem fazer. Assim, as empresas com produtos mais básicos desaparecem, são obrigadas a fechar, porque não podem competir com a Ásia, Turquia ou Marrocos. Por outro lado, as empresas que conseguem aumentar preços, fazem-no porque sobem na escala de valor. São mais pequenas e precisam de menos trabalhadores. 

Com o encerramento das empresas menos produtivas a produtividade estatisticamente sobe muito mais. Recordar o exemplo:
Ontem, li "Têxtil e vestuário admite perder de 11 mil a 56 mil postos de trabalho até 2030":
"O estudo é da responsabilidade da ATP e contempla três cenários distintos, desde a visão mais pessimista, que admite o desaparecimento de 3500 empresas e de mais de 56 mil empregos, à mais otimista, que prevê o encerramento de cerca de mil empresas e de mais de 11 mil postos de trabalho. A grande diferença está na riqueza gerada. No caso do cenário 'chumbo', o mais negativo, cairá para menos de cinco mil milhões de euros de faturação, enquanto as exportações se ficarão por pouco mais de quatro mil milhões de euros. Em contrapartida, no cenário 'ouro', o mais positivo, o volume de negócios do setor subirá para mais de 10 mil milhões de euros, com as exportações a serem responsáveis por oito mil milhões de euros, um aumento de 30% e de 53%, respetivamente, face aos valores pré-pandemia."
"Na melhor das hipóteses, a indústria têxtil e do vestuário vai aumentar a facturação e as vendas ao exterior. Mas voltarão os encerramentos de fábricas e os despedimentos.

O plano estratégico anterior apontava três cenários possíveis para 2020, agora fala-se num para 2025. E é este último que prevê que uma forte quebra no número de empresas em laboração e um grande número de despedimentos. O sector da indústria têxtil e vestuário (ITV) tinha, em 2018, 6700 empresas, de acordo com o Banco de Portugal, e quase 139 mil trabalhadores. O projectado para 2025 reduz para “mais de 4000 empresas” e 110 mil trabalhadores. O que, a confirmar-se, significaria que cerca de um terço das empresas de ITV vão fechar e haveria à volta de 28 mil despedimentos."

Lamento este uso de linguagem negativa sobre os encerramentos e os despedimentos... isto parece forte, mas é como dizer que o leão é mau quando mata a gazela.

Se queremos que os trabalhadores têxteis sejam mais produtivos, e possam ter melhores salários, as empresas incapazes de subir na escala de valor têm de fechar e libertar os seus trabalhadores para outras áreas da economia onde possam ser melhor remunerados.

O erro é acreditar acriticamente que as empresas em Portugal podem continuar a crescer como antes de haver china.

Com base neste documento, atentem na evolução da facturação por trabalhador na indústria têxtil e de vestuário portuguesa:


Não se pode querer sol na eira e chuva no nabal! Recordar a evolução dos custos da mão-de-obra no têxtil e vestuário:

Eu, que sou consultor contra mim falo. É muito difícil fazer o corte epistemológico, mudar de agulha, mudar de paradigma comercial, produtivo, competitivo. Quantas vezes empresas recebem apoios e subsídios para inovação e acabam por usar esse dinheiro, sem dolo, como uma forma de reduzir os custos e poder prolongar o modelo de negócio actual por mais um ou dois anos, continuando a competir pelo preço. Não é impossível, mas é muito difícil. É abandonar a navegação por cabotagem e avançar, com medo claro porque se trata de gente com skin in the game, não são políticos a torrar impostos futuros, e avançar para mar incógnito onde os mapas antigos diziam "aqui há dragões"!

Por isso, o deixem as empresas morrer continua a ser a minha orientação principal.

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