domingo, março 15, 2020

Quantas empresas (parte X)

Parte I, parte II, parte IIIparte IVparte Vparte VIparte VIIparte VIII e parte IX.

Este é percurso a seguir por uma empresa virtual de calçado em busca do próximo modelo para funcionamento na Fase IV.


É preciso descobrir o(s) novo(s) mercado(s), seleccionar aqueles que parecem ser os primeiros clientes, validar essas hipóteses, para só então começar a fazer crescer o negócio.
É preciso aprender a perceber os problemas, as expectativas e necessidades dos hipotéticos novos clientes, é preciso desenvolver um modelo de abordagem comercial, um modelo de venda que possa ser replicado, é preciso criar e gerir a procura para, por fim, transitar um modo de descoberta e aprendizagem, um modo de tentativa e erro, para um modo de empresa, um modo de execução eficiente.

Descoberta do cliente
Descobrir quem são os clientes, qual o nicho a servir, qual o produto procurado e qual o problema que esses clientes procuram resolver. A tal startup, ainda que virtual, referida na Parte IX, não é uma réplica em escala reduzida de uma empresa. Uma start-up é uma experiência. Os empreendedores têm uma ideia que nunca foi testada no mercado. Essa ideia tem clientes? Quais? Onde estão? Essa ideia materializa-se em que tipo de produto ou serviço?

Qualquer start-up, numa fase inicial, está em modo "search", pesquisando sucessivas hipóteses de clientes e produto. Nesta fase o "fail often, fail well, fail fast" é fundamental: testar hipóteses sobre a combinação clientes-produto e descartar rapidamente as que não funcionam, o que no mundo das startups é conhecido como "pivoting". Nesta etapa, o empresário tornado empreendedor, não tem ninguém por quem copie sobre o que fazer para ter sucesso. Tem de criar o seu futuro, tem de testar alternativas de futuro. Saras Sarasvathy e a sua Teoria da Efectivação pode ser útil. Segundo a Teoria da Efectivação o empreendedor é como um piloto na cabine de um avião, o futuro é algo que se pode influenciar como base nas decisões que se tomam, ou seja, o empreendedor pode criar as suas próprias oportunidades:

Os quatro princípios da efetivação são:
  • Um pássaro na mão: O empreendedor precisa criar soluções com os recursos que tem disponíveis aqui e agora.
  • O princípio da limonada: Erros e surpresas são inevitáveis e podem ser usados para procurar novas oportunidades.
  • A colcha criativa: Entrar em novas parcerias pode trazer ao projecto novos fundos e novas direcções.
  • Perda comportável: O empreendedor deve investir apenas o quanto estiver disposto a perder.

Assim, o melhor que o empreendedor pode fazer é começar por si, pela sua empresa da Fase III.

Olhar para nichos de clientes com os quais tem uma relação especial, com os quais continua a ganhar bom dinheiro, e gerar perguntas, e gerar hipóteses: Que experiência foi adquirida ao longo do tempo?
É olhar para nichos de clientes actuais, e gerar hipóteses: por que é que este tipo de clientes me continua a comprar? Quais são as vantagens que a minha empresa actual tem? 

Qual é mesmo o negócio em que está metido ao trabalhar para esse tipo de clientes de nicho? É muito provável que a resposta certa não seja a primeira que lhe vem à cabeça. Um cliente de nicho não compra sapatos, compra uma paixão, compra a solução de um problema, compra o diálogo e a capacidade de comunicar, experimentar, compra a cumplicidade de alguém que o percebe. Os sapatos são como que contratados para fazer um trabalho na sua vida. Qual é mesmo esse trabalho?

O empreendedor deve perguntar: Quem conhecemos? Conhecemos alguns potenciais clientes de nichos? Conhecemos alguém que conheça potenciais clientes de nichos? Conhecemos alguém que conheça intervenientes no modelo de negócio dos clientes de nichos?

O empreendedor deve começar com o que tem, arriscar o que pode pagar, estar aberto a surpresas positivas e procurar relacionar-se com outros.

A ideia é seleccionar um nicho com potencial, desenvolver uma proposta de produto, uma amostras ou protótipos, e sair da empresa e ir para a rua, e ir para o mercado à procura da validação do cliente.

Continua.

sábado, março 14, 2020

O mundo não vai acabar este ano

Ontem aproveitei estar no escritório para ligar a duas ou três empresas de calçado com que trabalhei há 2 anos. Continuam a trabalhar, e até me disseram que alguns clientes habituais estão a colocar encomendas em quantidades superiores ao período homólogo de 2019.

Entretanto, no Financial Times li "Fashion designers hit by coronavirus outbreak":
"For fashion’s supply chain to come undone, sometimes all it takes is a missing zip.
...
“We had a whole shipment ready but there were no boxes to put clothing in,” said Ms Smilovic, whose company sources its fabric in northern Italy and manufactures much of its clothing in China, both heavily disrupted by the deadly coronavirus outbreak. “Material is not being made in northern Italy right now. Zippers are in short supply.”
...
The $2.5tn global fashion industry is dominated by huge companies such as €200bn-LVMH but most designers are smaller businesses that supply department stores.
.
It is these independent designers that are facing a cash flow crisis as supply chain delays and reduced demand due to the coronavirus outbreak lead stores to cut or refuse orders. Some are now rethinking their supply chains and dependence on China
...
Around the world, less established designers, who rely almost entirely on wholesale partners for revenue, face an uncertain future.
.
Many retailers have contracts — particularly with young or independent designers whose collections are seen as riskier bets — that allow them to refuse payment if orders do not arrive within a 30-day period. Some may still accept the goods, but only on a consignment basis, or seek discounts.
.
This is creating a cash crisis for young designers, many of whom have just splashed out £80,000 or more on a fashion show, and must pay factories to produce both their pre-autumn ranges and the autumn/winter 2020 collections they have just shown at fashion week."
O artigo deve ser lido até ao fim, por quem está no sector, uma vez que refere várias propostas, como, por exemplo, atrasar o começo da próxima época de saldos.



O ponto importante agora é evitar o momento Buscemi (recordo cena do filme Armageddon: o cenário é a superfície do meteorito, a personagem desempenhada por Buscemi (Rockhound) foi presa pelos colegas, porque entrou em pânico e só grita parvoíces. Entretanto, os outros continuam a fazer o seu trabalho. Pense nas oportunidades que uma situação como esta pode trazer?

Até que ponto pode tomar a iniciativa de contactar alguns destes designers e procurar chegar a um acordo com eles? O mundo não vai acabar este ano. De uma forma ou outra a vida vai continuar, porque não arranjar aliados para o próximo nível do jogo?


A quarta vinda do FMI




Há uma semana em "O bode expiatório" escrevi:
"O coronavírus vai ser o bode expiatório de quem não soube preparar uma economia para os maus momentos. Os maus momentos ocorrem sempre! Não são uma questão de "se", mas uma questão de "quando". Não-fragilistas sabem que algures haverá turbulência. Por isso, em vez de criar situações fail-safe, preparam situações safe-fail. Recordar Alicia Juarrero -  "-THERE WILL BE TURBULENCE!" por isso, safe-fail (Maio de 2015).
"Stability ends of up getting killed by the next hurricane, the next pest, the next competitor, the next predator, ....""

Foi como não-fragilista que tento ser, não é impunemente que se tem um negócio unipessoal há mais de 26 anos, que em Outubro de 2015, depois dos resultados eleitorais fiz esta previsão:


O bode expiatório (parte II)

Parte I.

O texto é sobre empresas, mas também sobre países, quando o diabo chega:
"“What can our company do to survive the downturn?” I’m sorry, but the real answer is, “Not a lot.”
.
The market is Darwinian: the strongest ones survive. And an economic downturn is like winter in Alaska; many animals can live a happy life in Alaska all through spring, summer, and fall, but when winter comes, it’s not a great place to be. It’s a much tougher environment — and only the fittest survive.
.
If you’re not very strong, if you haven’t accumulated much body fat or haven’t developed the ability to hibernate, I am afraid it is going to be tough for you, too. “But what can I do to become stronger? Get thicker skin? It’s getting a bit cold here!” you might cry. Well, I am sorry (again), but winter in Alaska is not a great time to try and become stronger. It is a tiny little bit late for that...
First, we see quite a lot of firms display what we in management academia call “threat-rigidity effects.” When under threat, facing a shortfall in performance, firms are inclined to more narrowly and firmly focus on the one thing they do well (e.g. their core product or service), stop doing other things, and become more hierarchical and top-down in terms of management control.  [Moi ici: Útil para as empresas de calçado reflectirem, depois do que escrevi na Parte IX]
.
Unfortunately, this often makes things worse, or at least prevents you from coming up with any solutions.
.
What firms are better off doing, is opening up; exploring new sources of potential revenue and experimenting with bottom-up processes to generate such ideas and innovations."
Já agora, recordo algo que escrevi em Novembro passado em "O exemplo da Victorinox":
"Um mundo saudável não cresce sempre, sempre tem o seu Ragnarök, que vem podar os exagerados, os exuberantes, e premiar os mais preparados, para iniciar um novo nível do jogo.
Os que têm o locus de controlo no exterior pedem ajuda aos governos, culpam os chineses, ou os alemães, ou o Trump. Viveram e governaram como se a tempestade não estivesse no horizonte das possibilidades. Comportam-se como as salamandras no meio da tempestade. Quando a tempestade chega, porque ela sempre acaba por chegar, a culpa é sempre dos outros, quer dos Passos, quer das Merkl desta vida."
BTW, lembrem-se da cena no filme Armageddon: o cenário é a superfície do meteorito, a personagem desempenhada por Buscemi (Rockhound) está presa, em pânico e a gritar parvoíces, enquanto os outros continuam a fazer o seu trabalho. Pense nas oportunidades que uma situação como esta pode trazer?

Trechos retirados de "Is Your Company Brave Enough to Survive?"

sexta-feira, março 13, 2020

Brace for impact - #schadenfreude

Acaba de ser actualizado o Atlas of Economic Complexity atlas.cid.harvard.edu. (Portugal 2017)
Bom para perceber os desafios que aí vêm...
Mais bandarilhas da austeridade no lombo dos hospedeiros-saxões.
Entretanto, os fragilistas continuam concentrados na distribuição e sem equacionar o aumento da riqueza gerada.



Quantas empresas (parte IX)

Parte I, parte II, parte IIIparte IVparte Vparte VIparte VII e parte VIII.

Em tempos pediram-me um texto sobre o calçado e a inovação. Nesse texto desenhei este processo:


Depois, para cada etapa apresentei um conjunto de indicadores. Ontem, no meu escritório, entre telefonemas e sessões de trabalho via Skype, dei comigo a pensar que a inovação que o calçado precisa nesta altura não é mais do mesmo, não é a “sustained innovation” de que Clayton Christensen falava, e ao qual o fluxograma acima se aplica

As empresas de calçado devem manter e tirar o máximo partido da actividade que conseguem ter através do modelo de negócio actual. Paralelamente, devem criar uma empresa, ainda que virtual, dedicada a desenvolver o negócio do futuro. E para desenvolver o negócio do futuro essa empresa tem de se comportar como uma startup: sem clientes, sem negócios, apenas com hipóteses de produtos e de clientes.

Neste cenário o meu fluxograma lá de cima é uma treta, neste cenário o fluxo a seguir é o que Steve Blank preconiza em "The Four Steps to the Epiphany":
Num postal de Abril de 2011 escrevi, acerca desta fase de startup:
"Uma start-up não é uma réplica em escala reduzida de uma empresa. Uma start-up é uma experiência. Os empreendedores têm uma ideia que nunca foi testada no mercado. Essa ideia tem clientes? Quais? Onde estão? Essa ideia materializa-se em que tipo de produto ou serviço?
.
Qualquer start-up, numa fase inicial, está em modo "search", pesquisando sucessivas hipóteses de clientes e produto. Nesta fase o "fail often, fail well, fail fast" é fundamental: testar hipóteses sobre a combinação clientes-produto e descartar rapidamente as que não funcionam, o que apelidam de "pivoting".
.
Uma vez validada a hipótese clientes + "produto mínimo viável" (esta é outra história) termina a fase de "search" e começa a fase de "execution". Nessa nova fase não convém falhar e colocar o erro, a falha num altar, numa empresa que está na fase de execução é uma forma excelente de doirar a pílula e enganar os empresários.
.
A fase em que o erro é inevitável é uma fase onde se gasta pouco dinheiro, onde ainda se está em testes, onde ainda as coisas estão coladas com fita-cola e não existe produção em série."
Vejamos o que fazer em cada uma das fases.

quinta-feira, março 12, 2020

Second-order thinking...


Na última semana recordei duas frases da autoria do Aranha:

  • "Não me venha com os seus factos que eu tenho os meus argumentos!"
  • "Quando o empresário português tem um problema, saca da carteira e compra uma máquina!"
Na mesma última semana várias conversas acabaram por aflorar dois temas clássicos no blogue:
Há um ditado que volta e meia Nassim Taleb usa:
  • Good fences make good neighbours
Hoje em dia, quando vejo imagens de gente que quer deitar para o caixote do lixo da História a existência de fronteiras penso sempre nos jogadores amadores de bilhar e no tal ditado.

Há dias, enquanto conduzia ouvi "Chesterton’s Fence: A Lesson in Second Order Thinking". Recomendo vivamente a leitura:
"When we seek to intervene in any system created by someone, it’s not enough to view their decisions and choices simply as the consequences of first-order thinking because we can inadvertently create serious problems. Before changing anything, we should wonder whether they were using second-order thinking. Their reasons for making certain choices might be more complex than they seem at first. It’s best to assume they knew things we don’t or had experience we can’t fathom, so we don’t go for quick fixes and end up making things worse."
Este trecho que se segue fez-me recordar "Most thinking stops at stage one":
"Second-order thinking is the practice of not just considering the consequences of our decisions but also the consequences of those consequences. Everyone can manage first-order thinking, which is just considering the immediate anticipated result of an action. It’s simple and quick, usually requiring little effort. By comparison, second-order thinking is more complex and time-consuming. The fact that it is difficult and unusual is what makes the ability to do it such a powerful advantage." 
Na última Terça-feira vimos as imagens do primeiro-ministro holandês fazer um discurso sobre novos comportamentos e, depois, o seu lado "fast" actuou e instintivamente fez o contrário do que tinha acabado de pregar. Pena que a cena dos amadores a jogar bilhar seja tão comum quando se toma a decisão de comprar uma máquina e, não se considera se ela viola as orientações estratégicas à la Terry Hill.

Monitorizar o contexto

Ainda ontem me perguntavam acerca das ferramentas que podem ser usadas para monitorizar o contexto externo. Entretanto, li este texto com algumas ideias muito interessantes:
"The reason the company had not considered these and other areas of potential disruption had to do with its entrenched habits and cherished beliefs. The team was accustomed to a rigorous — but narrow — approach to planning. They built financial projections, tracked their immediate competitors, and followed R&D within their industry sector. That was it.
.
What I observed is hardly unique. When faced with deep uncertainty, teams often develop a habit of controlling for internal, known variables and fail to track external factors as potential disrupters. Tracking known variables fits into an existing business culture because it’s an activity that can be measured quantitatively. This practice lures decision makers into a false sense of security, and it unfortunately results in a narrow framing of the future, making even the most successful organizations vulnerable to disruptive forces that appear to come out of nowhere. Failing to account for change outside those known variables is how even the biggest and most respected companies get disrupted out of the market.
.
Futurists call these external factors weak signals, and they are important indicators of change. Some leadership teams lean into uncertainty by seeking out weak signals.
...
As a quantitative futurist, my job is to investigate the future, and that process is anchored in intentionally confronting uncertainties both internal and external to an organization.
...
I use a simple tool to apply the future forces theory to organizations as they are developing strategic thinking. It lists 11 sources of macro change that are typically outside a leader’s control.
It might go against the established culture of your organization, but embracing uncertainty is the best way to confront external forces outside your control. Seeking out weak signals by intentionally looking through the lenses of macro change is the best possible way to make sure your organization stays ahead of the next wave of disruption."
Trechos retirados de "The 11 Sources of Disruption Every Company Must Monitor"

quarta-feira, março 11, 2020

Isto é sobre Mongo

"A key change that marketers need to recognize is that customers had to rely solely on the manufacturer for information about the product and brand (through advertising, promotions, public relations [PR] exercises, etc.). However, today, customers can easily access information about products and brands from experts, friends, colleagues and users of the product across the world, thanks to the Internet.
.
This means that brand as a surrogate of quality is becoming irrelevant; this also means that customer expectations are far more realistic before buying a product or service. It must be mentioned here that brand would still be relevant in several other ways—as ‘badge’ value, [Moi ici: Fazer parte da tribo] as a manifestation of trust and in the consumer goods sector.
...
Given these changes, it makes sense for marketers to start thinking about moving from product and brand focus to a focus on the customer—from creating brand equity to creating customer equity, from having a chief brand officer to having a chief customer officer.
...
This movement from brand to customer also means that the organization needs to shift from a production-oriented mindset and capability to a mindset of ‘mass customization’ where each customer is a market of one—[Moi ici: Isto é Mongo!!!] this is when the organization can create real value, for customers, shareholders, employees and other stakeholders. However, this may also be the biggest barrier in an organization’s metamorphosis from brand to customer. Given that what gets measured gets managed, the starting point for the change must be clearly defined customer metrics that is closely related to business outcomes."
Trechos retirados de "From Brand to Customer" de Ajit Rao publicado no Journal of Creating Value.

Por que não generalizar?

Trabalhei vários anos numa empresa da indústria química que operava 24 horas por dia, 7 dias por semana. Durante a semana fazia-se o controlo da qualidade e ao fim de semana havia um turno de laboratório que continuava o controlo da qualidade. Depois, enveredei pela vida de consultor. Foi nessa vida que conheci uma empresa que também operava 24 horas por dia, 7 dias por semana e realizava uma bateria de testes de controlo da qualidade durante os dias da semana, mas ao fim de semana não fazia qualquer controlo. Achava aquilo absurdo.

Outro absurdo conheci na introdução de um livro que li há uns anos e registei num postal aqui no blogue em Abril de 2006 "Simplex". Os supervisores de uma refinaria diziam que eram impossível mantê-la a funcionar com 2700 trabalhadores. Os trabalhadores entraram em greve e os mesmos supervisores com os engenheiros, cerca de 450, conseguiram mantê-la a funcionar durante os 4 meses  que durou a greve.

Lembrei-me disto ao começar a ler este artigo "Harvard to Make All Classes Online March 23, President Says":
"Harvard is asking students not to return to campus after its spring break amid coronavirus concerns.
.
The Ivy League university is seeking to completely transition to virtual classes for all courses by March 23, when they were originally due to begin after the recess, president Larry Bacow said in a message to the community."
Se isto é possível... por que não generalizar? Por que não abandonar o modelo clássico e apostar a fundo neste modelo para o futuro? Uma espécie de híbrido, as aulas clássicas passarem a virtual e o regime presencial para workshops? E já agora, por que não introduzir o "flip the classroom"?

Talvez estas experiências feitas por necessidade contribuam para mostrar a obsolescência actual.


terça-feira, março 10, 2020

Wrong customer?

A propósito deste artigo "How Under Armour Bet Everything on the Wrong Customer" algumas divergências com o seu conteúdo:
"The “performance” corner of the athletic-wear market — meaning products made for actual sports use, not for sitting on the couch in front of the game — is where Under Armour made its name. [Moi ici: A Under Armour começou com um certo tipo de cliente-alvo que valorizava a performance.]
...
Under Armour went on to live out the axiom that if you win over the most demanding consumers (in this case, serious athletes), then the wannabes fall in line and follow whatever trend those influencers set.[Moi ici: A Under Armour confiou no impacte dos influencers]
...
But lately, the company’s strategy hasn’t been a winner. ... Under Armour announced disappointing results and a gloomy forecast, its stock has suffered accordingly, and among other problems, a federal probe is reportedly exploring whether the company used accounting tricks to massage its sales-growth curve.
.
What went wrong? One compelling answer is that Under Armour misread the rise of the so-called athleisure trend and put too much focus on performance. In short, this maker of gear for authentic athletes may have been better off catering more to the poseurs and couch potatoes.
.
It’s not that a brand can’t be successful with a strict focus on performance, ... But a brand with mass aspirations shouldn’t get overly obsessed with an elite customer niche. “[Under Armour] clearly needs to understand that [performance] is very much the smaller part of the market,” he says. “And a shrinking part of the market.”
A Under Armour quis crescer para o mass market. Por isso, teve de procurar servir um outro tipo de cliente que não o da performance. Ora, parece que os influencers não determinam as compras para esse mercado. Será que o cliente errado da Under Armour é o da performance, como pensa o artigo, ou o do athleisure? Será que a Under Armour tem vantagens competitivas para ter sucesso no mass-market?

Wrong customer ou wrong strategy?

Quantas empresas? (parte VIII)

Parte I, parte II, parte IIIparte IVparte Vparte VI e parte VII.

Ontem numa empresa discutíamos o futuro do calçado em Portugal. Enquanto essa conversa decorria, pensava neste texto que tinha lido durante a caminha matinal, "The End of the Jaffa Orange Highlights Israel Economic Shift":
"Since peaking in the early 1980s at 1.8 million tons a year, Israeli citrus production has dropped almost 75%.
...
With a strengthening currency making exports less competitive and scarce water supplies raising the cost of cultivation, oranges—and many other crops—are no longer worth the effort. Agriculture has fallen to 2% of goods exports, from a peak above 40% in the 1950s,
...
Just 1% of Israelis now work in agriculture, down from 18% in 1958, while the tech sector has shot up from virtually zero to 10% of jobs today, many developing software used outside the country. That’s helped double exports of services since 2008, to more than $50 billion last year—with services in 2020 poised to surpass goods exports for the first time. The shift “from basic agriculture like Jaffa oranges to top-of-the-line tech” makes economic sense,
...
In regional rivals such as Egypt, Turkey, and Morocco, “labor is very cheap, and water is very cheap, and the currency is better for exporters,” says Nitzan Rottman, who oversees work on citrus at Israel’s Ministry of Agriculture. “We can’t compete with them.
...
Some farmers are shifting from crops such as oranges—water-intensive even with the best irrigation systems—to less-thirsty alternatives such as grapes, olives, and Argania spinosa, the nut tree that produces argan oil for shampoos and skin creams."
O calçado vai acabar em Portugal? Não.
Afinal por ano ainda se fabricam 23 milhões de pares em França e 35 milhões de pares na Alemanha (dados de 2016).

No entanto, com a subida do SMN e o cerco turco/romeno/marroquino, é preciso pensar numa Fase 4:
"O número de empresas vai voltar a diminuir
A quantidade de pares produzidos vai voltar a diminuir
O número de trabalhadores vai voltar a diminuir
O preço médio por par vai novamente dar um salto importante"
Recordar a Intel e a decisão: se estivesse a começar agora, apostava nisto ou mantinha-me a defender o negócio actual?

Value-based selling (parte III)

Parte I e parte II.

Uma lista a não esquecer
"When is the VP not usable in value-based selling?.
When customer (1) wants to buy predefined specifications. instead of impact on his value, (2) is not willing to collaborate. When the value of the relationship is low.
...
When the customer uses target costing that concerns cost reduction only, as managerial accounting device for knowledge transfer to suppliers
...
When customer wants to buy predefined specifications instead of impact on their value
...
When actors on supplier or customer side: (1) don't understand financial value drivers concept and (2) have motivation system which is loosely linked to their company's NPV"

Trechos de "Where is value in b2b value proposition? The concept of value in research on selling, innovation management and NPD" de Ryszard Kłeczek, publicado em Wroclaw University of Economics and Business em Abril de 2018.

segunda-feira, março 09, 2020

"Customer Value Needs to Be Formally Managed" (parte I)

Gosto muito de ler Stephan Liozu. Este artigo, "Customer Value Is Not Just Created, It Is Formally Managed" de Stephan Liozu e publicado no Journal of Creating Value,  faz jus à tradição e representa um bom resumo do que procuro transmitir às empresas em que trabalho para subir na escala de valor.
"What value is depends on who it is created for and who is in charge of the value creation process. Three theoretical positions exist with three diverging scholarly views on what value means and who value is created for: resource-based view of the firm, value exchange and relationship value.
.
Value Creation or Value Capture?
There is also lots of confusion among scholars and practitioners between the concepts of value creation and value capture.
...
Value creation and value capture are, therefore, different concepts
...
the value that a seller creates needs to be quantified in financial terms to be exchanged, shared with and captured from customers.
...
Customer Value Needs to Be Formally Managed
...
We posit that, like any process, customer value needs to be formally and intentionally managed. Customer value management includes three steps that form a sequence that cannot be broken
All three steps require a formal process and the development of strong capabilities. The process begins with value creation activities designed for and with customers. Generally speaking, these activities or initiatives are managed by innovation and marketing teams with the support of business development and sales teams in the field. [Moi ici: Sorri ao ler isto. Estou sempre a pregar que para subir na escala de valor é preciso ter uma equipa unida em torno do marketing, comercial e inovação/desenvolvimento] During this first step, value for the customer is created but can also be co-created as partnerships and collaborative projects. In both instances, customer value is identified and potentially created. It is not yet extracted or captured. Following this first step, marketing and pricing teams need to zoom in on the second step of the value management process, which is value quantification.
Value quantification is an essential step in the process and is most often neglected or forgotten. The goal in this step is to assess and quantify the value potentially created for the customer. [Moi ici: Recordar Total Value Ownership] This external quantification process, in the form of value-in-use analysis, total-cost-of ownership calculations, life-cycle costing models or customer value models, is essential to calculating the value pool generated by a supplier and potentially shared with customers.
.
This, of course, requires testing and validation with the customer that value is indeed created and eventually delivered. Because one cannot capture something which is not measured, value  quantification has received increased attention in scholarly and practitioner publications in the past 24 months. After the customer value pool is clearly calculated, the last step of the value management process is value capture. At this stage, prices are set within the value pool in combination with cost and competition information. Pricing and marketing teams can, therefore, decide how much value can be captured through price premiums versus competition and how much value can be shared with customers. That process of sharing and exchanging happens during the value capture process through the hard work of value-based selling and negotiation for value.
.
In summary, value for customers is first created, then quantified using formal methods, then captured through price-setting and price-getting activities. This value management process is essential to a firm’s go-to-market strategy. It involves all the key players and functions of such a strategy, beginning with innovation teams and ending with sales teams,

Continua.

O mundo que conhecemos nos últimos 20 anos pode mudar drasticamente (parte III)

Parte I e parte II.

Um texto interessante com analogias interessantes, "Covid-19 is foisting changes on business that could be beneficial":
"IN FEBRUARY 2014 a strike on the London Underground offered management theorists a lesson in resilience and adaptation. Because the shutdown closed some but not all Tube lines, frustrated Londoners were forced to rethink their commutes to and from work. Researchers at Oxford and Cambridge universities subsequently found that around 5% of passengers stuck to their new itineraries even after normal service resumed. The long-term economic gains of one in 20 travellers adopting new and improved ways to get to work turned out to be greater than the short-term costs of the disruption.
...
Some companies will, like most of London’s commuters, revert to autopilot once the threat recedes. But for others the interruption will have a lasting effect, accelerating trends in business organisation that were already under way.
...
 And for firms already worried about rickety supply chains amid a trade war, the virus gives another reason to reconfigure them.
...
The coronavirus will not make business travel or lean global supply chains disappear. Chinese factories are cranking up again and high-flyers will, in all likelihood, be back in airport lounges soon enough. But the crisis offers a chance to experiment with new ways of doing things—and to question the wisdom of old habits. Chief executives should not be immune to the opportunity."
E ainda:
"What’s happening to Italy’s fashion industry is likely a preview of the coronavirus’ impact on the global economy more broadly. Companies in a wide range of industries are dependent on China as both a manufacturing behemoth and billion-plus-consumer market. But as life in some parts of the country comes to a near-standstill in the face of the outbreak, that reliance looks more and more like a weakness.
...
Like many other industries, the fashion world has long embraced China as a source of cheap manufacturing — the country is by far the world’s largest producer of textiles, and it produces many of the other elements that go into clothes, from buttons to zippers to thread. “The vast majority of certain products are only done in China,” says Gary A. Wassner, the CEO of Hildun Corporation and the chairman of Interluxe. “We became very dependent, and we allowed it to happen because it was cost-efficient, but that’s not the only thing to consider.”"
Trechos retirados de "How the Coronavirus' Effect On the Fashion Industry Reveals Flaws in the Global Economy"

domingo, março 08, 2020

Parlamento tuga vs vida real

O parlamento tuga dos direitos adquiridos, da impostagem crescente, da redistribuição sem criação de riqueza, do arrepio que provoca a menção de "reformas estruturais".



A vida real das empresas e das pessoas do sector privado, uma montanha russa de emoções, uma montanha de esperanças que não chegam a concretizar-se, de esperanças que deixam de concretizar, de sonhos que viram pesadelos.

Como explicar ao primeiro mundo o carrocel de emoções de viver no segundo mundo?

Como explicar ao primeiro mundo os custos do amanhã?

Foi disto que me lembrei ao ler "Coronavirus: Turquía sube precios y amenaza los márgenes de la moda en 2020":
"Ya no sólo el ecommerce amenaza los márgenes de la industria de la moda. Un nuevo elemento sobrevenido presiona a la baja los márgenes del sector. El traslado de forma repentina de producciones a Turquía está llevando a una subida de precios y los gigantes se preparan ya para un recorte de sus márgenes en 2020. “Hay colapso de capacidad: los que ya estaban allí han conseguido espacio, pero los que hemos llegado tarde o no tenemos opción o pagamos más”, afirma un ejecutivo del sector.
...
La situación se repite en Marruecos, Túnez, Rumanía y Portugal, pero Turquía es el mercado por el que más están apostando los grupos de moda para hacer frente a la ruptura de la cadena de suministro por la paralización de las fábricas en China y la afectación de puertos y aeropuertos.
...
Son varios los ejecutivos del sector que alertan ya de una subida de precios, principalmente en Turquía. El impacto de este movimiento de los proveedores turcos se notará, sobre todo, en la temporada otoño-invierno 2020, aunque los márgenes de todo el ejercicio están ya comprometidos."

Quantas empresas? (parte VII)

Parte I, parte II, parte IIIparte IVparte V e parte VI.

Na parte V usei esta figura:
Para ilustrar:
"Onde está a próxima etapa da cadeia com possibilidade de gerar diferenciação?
Será no desenho e diferenciação do que se faz?
Será no consumo e na forma como se chega a ele?"
Entretanto, ontem ao ler "Las certificaciones Gots se disparan un 35% en 2019":
"El número de compañías certificadas por la Global Organic Textiles Standard (Gots) se ha elevado un 5% en 2019
...
En España, el número de empresas que han conseguido este sello durante 2019 ha ascendido un 71%.
...
Los países con más certificaciones son India, con 2.411, Bangladesh, con 1.194, y Turquía, con 858."
Recordei-me da informação de que a certificação ambiental tem crescido muito entre as empresas de calçado. E fiz logo a ponte para a figura lá de cima e para o extremo do desenho.

E é suficiente? Convém recordar o canvas de Osterwalder:
Não basta coleccionar atributos. Há todo um mundo de ajuste e alterações a fazer no modelo de negócio. Por exemplo, quais as alterações na proposta de valor? Que diferentes prateleiras usar? Que diferentes actividades-chave?

sábado, março 07, 2020

Curiosidade do dia

"O grande medo que devemos ter não é tanto do vírus, mas das lideranças bipolares que não confiam na mobilização das pessoas e na sua ação colaborativa decisiva e esclarecida, como, também, é referido pelo bastonário da ordem dos médicos que  acrescentou, esta semana, "o combate depende de cada uma das pessoas individualmente" e, neste sentido, defendeu que "os cidadãos todos juntos conseguem derrotar o vírus com facilidade"."
Trecho retirado desta reflexão.

O bode expiatório

Ao apanhar este título no Jornal Económico de ontem:


Como não recordar o conselho de José ao faraó.
Como não recordar Nassim Taleb: Desconfiem sempre das conclusões, dos "so-called" especialistas, que vão ao arrepio das conclusões das nossas avós.

Como não recordar a crítica permanente deste blogue aos fragilistas:



Recordo:

O coronavírus vai ser o bode expiatório de quem não soube preparar uma economia para os maus momentos. Os maus momentos ocorrem sempre! Não são uma questão de "se", mas uma questão de "quando". Não-fragilistas sabem que algures haverá turbulência. Por isso, em vez de criar situações fail-safe, preparam situações safe-fail. Recordar Alicia Juarrero -  "-THERE WILL BE TURBULENCE!" por isso, safe-fail (Maio de 2015).
"Stability ends of up getting killed by the next hurricane, the next pest, the next competitor, the next predator, ...."
Quando ouvirem as críticas ao bode expiatório lembrem-se deste gráfico:

Quando ouvirem as críticas ao bode expiatório lembrem-se das críticas deste anónimo engenheiro da província a uma cultura que não viu problema na evolução do padrão de exportações nos últimos anos como o aumento do Parcial II.

BTW, lembrem-se que nem todos estão no mesmo barco.

O mundo que conhecemos nos últimos 20 anos pode mudar drasticamente (parte II)

Parte I.

Um exemplo:
"A senior US official has hit out at countries including Germany, Russia and Turkey, that have rushed to introduce export controls to limit trade in medical supplies as they respond to the corona-virus outbreak - Peter Navarro, the White House's trade and manufacturing adviser, told the Financial Times that the moves showed the US was "alone" in confronting the outbreak and would have to reduce its dependence on global medical supply chains to "defend our citizens". "Just as in the H1N1 flu pandemic of 2009, actions by strategic competitors and putative allies alike once again demonstrate that in a global public health emergency, the US is alone," he said. "Such behaviour is precisely why it is important for the Trump administration to bring home its manufacturing capabilities and supply chains for essetial medicines.""(1)
Outro exemplo:
"Most downturns are Darwinian moments for capitalism: out go old, lumbering companies that failed to move with the times; in come their disruptive rivals in a blaze of creative destruction. Hardship focuses the mind, and companies find more efficient ways of running their businesses. The economy that emerges should be more productive than its predecessor. Yet in this crisis the opposite may be happening. The most efficient, which is to say the cheapest, way companies have found of manufacturing products is to use supply chains that straddle the globe in search of cheap labour. If something could be made for less on the other side of the world, so be it. Yet coronavirus, which threatens to constrain the free movement of people and goods, will deny companies this cheapest avenue. Companies will have to think long and hard about whether intercontinental supply chains make sense. Already some companies are shifting production back home and opting for home-built components. On the one hand that spells enormous disruption and could make all our lives more expensive.
...
Of course, it’s quite possible life returns to normal after coronavirus. But one consequence of this disease could be that it forces us to take a long hard look at the way we run the world, and change it." (2)






(1) - "US official hits out at hoarding of coronavirus medical supplies"
(2) - "Coronavirus can trigger a new industrial revolution"



sexta-feira, março 06, 2020

Há que repensar a actuação futura num mundo diferente (parte II)

Parte I.
"Almost a quarter of retailers have suffered a significant impact on their business because supplies have been disrupted by the spread of coronavirus.
.
The findings, in a survey by Retail Economics, a consultancy, highlight the pressure being imposed on shops by the outbreak.
.
Only 7 per cent of retailers said that they had enough flexibility to be able to switch suppliers, according to a survey of 30 big retailers in the fashion, food and health and beauty sectors.
.
About 24 per cent said that they were facing big problems. Another 28 per cent said that they had suffered disruption but were managing the situation, while 48 per cent said that they had experienced no disruption.
.
Just under half — 45 per cent — said that sales had fallen and 75 per cent expected to suffer a slump in sales if the outbreak persisted.
...
 “Retailers are battling against significant disruption to supply chains as the coronavirus has choked off production in China. While the impacts may not yet be apparent on shop shelves, about a third of retailers suggested that “continuity of supply” was their biggest concern at present.
...
A separate survey of 2,000 consumers by Retail Economics, in conjunction with Squire Patton Boggs, a law firm, suggested that a quarter of consumers would avoid shopping centres and the high street if the virus spread. More than a third think that the coronavirus poses a high level of threat, up from 23 per cent two weeks ago."
Trechos retirados de "Supply problems take toll on nation of shopkeepers" publicado no The Times de ontem.

Crendice!

No JN da última  quarta-feira:

Extraordinário!

Estão a ver os patrões que dizem que a produtividade aumentaria se os trabalhadores não fossem malandros?

Existe uma imagem no espelho para essa afirmação, acreditar que a produtividade aumenta se os trabalhadores forem melhor tratados, ou trabalharem menos, ou se forem mais felizes no trabalho.

Acreditar que se se trabalhar menos a produtividade aumenta é um conto de fadas para adultos.

A produtividade aumenta a sério quando deixamos de usar chpa de metal para fazer enxadas e pás e começamos a fazer máquinas. Depois, deixamos de fazer máquinas analógicas e passamos a fazer máquinas digitais. Depois, deixamos de fazer máquinas digitais e ...

Ontem, enviaram-me este artigo "Werkzeugbauer kurz vor dem Kollaps" - Fabricantes alemães de ferramentas de estampagem e afins para a indústria automóvel e complementares, à beira da falência. O mesmo que se passa com os fabricantes de calçado em Portugal, está a acontecer na Alemanha com   o crescimento de marcas chinesas que estão a paulatinamente subir na escala de valor. Como é que as empresas alçemãs vão responder? Terão de aumentar a produtividade! Ou seja, vão reduzir o tempo de trabalho para assim serem mais produtivas. [Estou a ser irónico]

Claro que não. Terão de subir na escala de valor, vender algo por mais dinheiro e em menor quantidade o que, como consequência, resultará em mais produtividade e menos horas de trabalho.







quinta-feira, março 05, 2020

Quantas empresas? (parte VII)

Parte I, parte II, parte IIIparte IVparte V e parte VI.

Voltemos à evolução do número de empresas de calçado em Portugal:
A azul os dados da APICCAPS publicados nas sucessivas monografias estatísticas anuais.
A vermelho curvas de tendência.

Consideremos a evolução de uma empresa em particular:
Inicialmente a empresa por tentativa e erro procura uma alternativa que lhe permita sobreviver, e quiçá, ter sucesso. 
FASE II - Muitas empresas não conseguem encontrar/criar o truque, o modelo de negócio e ou fecham ou prolongam a agonia como zombies. Subitamente uma empresa, depois outra e outra começam a ter melhores resultados e parecem ter chegado a um modelo que parece funcionar. 
FASE III - Por spillover o novo modelo é progressivamente adoptado pelas empresas existentes e o sucesso atrai novos empreendedores. Fase de exploração em que se faz render o modelo ao máximo.
FASE IV - Inevitavelmente, porque o contexto externo e interno muda, quer a nível de concorrentes, quer a nível do resto do ecossistema do negócio (clientes-distribuição, retalhistas, consumidores), o modelo começa a falhar e progressivamente começam a encerrar empresas incapazes de se sustentarem.

Ajustando as duas figuras temos, para uma empresa-tipo:


Richard D'Aveni no velhinho livro "Hyper-competition: Managing the Dynamics of Strategic Advantage" escreve, a propósito da segunda figura acima (a figura é uma adaptação da que D'Aveni usa):
"The pursuit of a sustainable advantage has long been the focus of strategy. But advantages last only until competitors have duplicated or outmaneuvered them.
...
Once the advantage is copied or overcome, it is no longer an advantage. It is now a cost of doing business. Ultimately the innovator will only be able to exploit its advantage for a limited period of time before its competitors launch a counterattack [Moi ici: Não gosto desta liguagem de "contra ataque". Os concorrentes não nos atacam. Os concorrentes precisam dos mesmos recursos financeiros que nós. Esses recursos financeiros estão nos bolsos dos potenciais clientes. Os concorrentes não nos atacam. Os concorrentes arranjam uma alternativa que serve melhor os potenciais clientes, proporcionando-lhes mais valor]. With the launch of this counterattack, the original advantage begins to erode (see Figure 1-1}, and a new initiative is needed."
Há muito que uso aqui no blogue este gif para ilustrar que as estratégias nunca são eternas:
No final da FASE III a vantagem competitiva está perdida e volta-se à estaca zero, procurar uma nova vantagem competitiva. O interessante é que ao longo das décadas, parece que a duração da fase de exploração parece que se vai encurtando.

Às vezes oiço empresários, meio a sério, meio a brincar, a defender que é preciso importar bangladeshis ou chineses. Isso era o que se fazia antigamente quando os concorrentes que se tinham tornado mais competitivos tinham melhorado a sua competitividade nuns "pós" percentuais, estes concorrentes estão muito melhor habilitados para este campeonato. Por isso, tentar extender o tempo da exploração é perder tempo e gastar recursos que deviam ser colocados ao serviço da procura do próximo modelo de negócio bem-sucedido.

D'Aveni usa uma linguagem colorida:
"So what is the harm of trying to sustain an advantage for as long as possible? In an environment in which advantages are rapidly eroded, sustaining advantages can be a distraction from developing new ones. It is like shoveling sand against the tide rather than moving on to higher ground.
.
Trying to sustain an existing advantage is a harvest strategy rather than a growth strategy. It is designed to milk what assets you have now rather than to seek new assets to build on. Even in high-growth markets old advantages based on old assets may not be the ones that will be the source of future success. A strategy of sustaining the advantage created by your existing assets creates a danger of complacency and gives competitors time to catch up and become strong.
...
Attempting to sustain an old advantage can eat up resources that should be used to generate the next move, thereby inviting attack by savvy competitors who realize that complacency has set in. Sustaining advantage is effectively a defensive strategy designed to protect what a firm has. In hypercompetition the better defense is often a strong offense."
Continua





Value-based selling (parte II)

Parte I.

As vendas deviam ser transformadas, por quem vende, num investimento para quem compra.
No b2b se o cliente pagar x quanto vai ganhar, y, por escolher uma certa opção A em detrimento de uma certa opção B?
No b2c se o cliente pagar x que experiência vai poder viver se escolher por uma certa opção A em detrimento de uma certa opção B?
"In b2b market, both the supplier (when offering their products/solutions) and the buyer (when choosing among alternative offers) aim at increasing their own value (NPV). Both the supplier and the customer can increase their values by eight dimensions that are called financial value drivers.
1. Sales increase. Additional sales increase (ceteris paribus) value.

2. Operating profit margin. Bigger operating profit margin increases (ceteris paribus) value.

3. Tax rate. Reduction of tax paid increases (ceteris paribus) value.
.
4. Effectiveness of working capital investment. Working capital equals current assets (cash, accounts receivable and inventory) minus accounts payable. The effectiveness of working capital investment can be measured as a relation between operating profit, cash frozen in accounts receivable, and inventory (the bigger the relation, the better) or determined by the time of outflows and inflows of cash (the shorter time between cash payments for buying parts and materials, and cash inflows from sales, the better).
.
5. Effectiveness of fixed asset investment. The improvement of relation of operating profit to cash frozen in fixed assets increases (ceteris paribus) value.
.
6. Cost of capital. Smaller cash paid by company to debtors (interest rate) and the owners (return) for their capital increases (ceteris paribus) value.
.
7. Value creation period. The longer a business can generate cash on the expected level (ceteris paribus), the bigger value.
.
8. Launching an additional business unit (new product, additional source of value) increases (ceteris paribus) value.

VP is defined as translating the differentiating feature (design attribute) of an offering into monetary impact on customer's business value in value-based selling.

tell the story about the offer's impact on customer's business operating profit margin (by reducing one of operating costs), so about one of eight financial value drivers.

The "product differentiating feature/design attribute" is the real cause of the impact on the customer's both non-financial and financial value driver (s). VP translates the offer's feature (as a cause) into quantified non-financial and financial effects. Thirdly, the differential impact of the offer on the customer's business value justifies its higher price that is presented as an investment for the customer. The supplier avoids price competition this way."
Trechos de "Where is value in b2b value proposition? The concept of value in research on selling, innovation management and NPD" de Ryszard Kłeczek, publicado em Wroclaw University of Economics and Business em Abril de 2018:



quarta-feira, março 04, 2020

Quantas empresas? (parte VI)

Parte I, parte II, parte IIIparte IV e parte V.

Na parte V recordamos Clayton Christensen e a continua transição entre comoditização e de-comoditização. Na passada segunda-feira o Wall Street Journal trazia o artigo "Specialty Grocers Lose Natural Edge":
"Gourmet grocers are losing their edge as natural foods become mainstreamSupermarket chains and discounters are selling more fresh, natural and organic foods at lower prices, drawing shoppers who used to seek out those products at specialty grocers.... As a result, specialty grocers are having a hard time convincing customers to pay a premium to shop in their stores. And without the revenue and reach of bigger chains, they have also been hesitant to match price cuts or to invest in new services like delivery....“Differentiation can be ephemeral. Retail is an open book of copycats,”...“What was special 10 years ago isn’t special anymore,”...New Seasons Market, based in Portland, Ore., is trying to stand out from the competition with hyperlocal products, Chief Operating Officer Mark Law said. The chain of more than 20 stores in the Pacific Northwest works with local chefs to prepare oven-ready meals and buys dairy products from nearby farmers. Samestore sales growth rate nearly doubled last year.
.
Organic has been commoditized,” Mr. Law, a former Whole Foods executive, said. “You can’t differentiate with your product mix alone.”
.
Other specialty grocers also are emphasizing services to stand out. But offering better services can push up costs, executives said.
.
“You not only have your cost of goods but you’re trying to provide a higher level of customer service to differentiate yourself,”
Este tema já apareceu aqui: "As estratégias nunca são eternas ponto"

Outro artigo recente "Fairway Is So Crowded! How Can It Be in Bankruptcy?"



Há que repensar a actuação futura num mundo diferente

Outro exemplo, retirado da realidade do dia-a-dia, que ilustra como o mundo pode mudar rapidamente.
"In the cellar of the 18th-century Château du Pavillon in Bordeaux are 70,000 bottles of wine that nobody seems to want to drink. Olivier Fleury, 48, the château owner, had earmarked them for the United States, where they usually sell for between $25 and $60 (£20-£45) a bottle. That was before President Trump imposed a 25 per cent tariff on $7.5 billion worth of European exports including Scotch whisky, Italian cheese and still French wine containing less than 14 per cent alcohol.
...
At the same time there has been an unprecedented supply of grapes and wine in California.
...
Falling demand from a slowing Chinese market, coupled with the effect of the coronavirus, are also taking a toll, prompting a leading French wine merchant to warn that Bordeaux’s most prestigious châteaux will have to cut prices to avoid a collapse in sales.
...
Bordeaux’s wine-making bodies reported a 46 per cent fall in exports to the US since the tariffs. Across the French wine industry, exports to the US were 18 per cent down in the last quarter of 2019 compared with the quarter before."
Não basta uma reacção rápida, há que repensar a actuação futura num mundo diferente.
E a sua empresa? Como é que o mundo está a mudar para ela? Que alternativas de actuação?

Trechos retirados de "Winemakers pressed to cut prices in face of glut" publicado no The Times de 02.03.2020

terça-feira, março 03, 2020

O mundo que conhecemos nos últimos 20 anos pode mudar drasticamente


Os nabateus deixaram-nos uma grande lição nas ruínas de Petra.
"BTW, este fim de semana vi num canal do cabo, tipo National Geographic(?), um documentário sobre os Nabateus e a civilização de Petra. Uma parte desse documentário não me sai da cabeça... a parte em que se refere a técnica dos Nabateus para transportar água ao longo de km e km. Eles desenhavam a inclinação das tubagens não para a máxima eficiência de caudal transportado mas para a mais eficaz. A máxima eficiência leva à rotura frequente das tubagens."
Pois:
"Systems with slack are more resilient." 
Ontem, no Financial Times apanhei esta figura:

E pensei no exemplo das farmacêuticas, referido nesta "Curiosidade do dia".

Cheira-me que este choque, que esta disrupção nas cadeias de fornecimento, provocada pelo coronavírus, vai ser um momento de viragem... como as cheias em Bangkoque para a Ecco.
Entretanto, ontem no mesmo Financial Times apanho "Margins are going to be squeezed":
"If there is a simple lesson to be drawn from last week’s market rout, it is that there is fragility in complexity. The coronavirus outbreak has, like the 2011 Japanese tsunami and Thai floods that disrupted auto and electronics businesses, or the 1999 earthquake in Taiwan that brought the semiconductor industry to a halt, shown us the vulnerabilities of our highly interconnected economy and global supply chains.
.
This time around, the trigger is an outbreak spreading outwards from China, still the factory of the world as well as its second-largest economy.
...
Goldman Sachs last week warned investors to expect zero profit growth from US companies this year, mainly because of the growing impact of the virus. But I wonder how much profit growth big corporations will be able to expect even after the infections play out and the results of the November US presidential elections come in.
...
The healthy margins of today’s highly optimised, extremely complex multinational corporations have largely depended on their ability to manufacture in China, sell in the US and Europe, and stash wealth wherever it makes most sense — particularly in favourable tax destinations like Hong Kong, Dublin or the Cayman Islands.
...
I’ve wondered for years when the fragility inherent in complex global multinationals would force them to shift their business models, and I think we’ve reached that moment. I believe coronavirus will speed the decoupling of the US and Chinese economic ecosystems, increasing regionalisation and localisation of production. That may result in “supply chains that are less efficient but more resilient”,
...
If decoupling continues, multinationals will have to make costly choices around labour, productivity and transport in order to manage a shift away from China."
O mundo que conhecemos nos últimos 20 anos pode mudar drasticamente.

BTW, e estão a ver o impacto do coronavírus nos hospitais-cidade? E nas escolas-cidade?