terça-feira, maio 08, 2012

Duas lições para as PMEs

Uma história com duas lições a reter em "The Commodity-Pricing Trap":
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"When you're starting a business, it's easy to fall into the trap of trying to compete against larger companies on price. ... When you build a business around having the lowest price, you soon find that there's always someone else around who can offer an even lower one. As a result, you are under constant pressure to keep reducing yours. At best, you end up with an unsustainable commodity business that's no fun to run and an obstacle to achieving the goal of becoming economically self-sufficient."
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Recordar os postais "Como uma startup" dedicados às PMEs que decidem exportar para novos mercados e ao paralelismo com uma startup...
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"a niche lasts only until competitors catch on and start copying you. That's what Jolina's rivals will do if they discover she's siphoning off sales. Yes, she could try to obtain a patent on the software, but the process is lengthy and costly, and there's no guarantee she'd get one.
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So, instead, I urged Jolina to start looking immediately for other ways to differentiate her service"
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Duas lições recorrentes neste blogue:
  • fugir da guerra do preço;
  • trabalhar sempre, sempre, na diferenciação. Nunca descansar à sombra da bananeira, nunca acreditar em queijos garantidos para sempre.

Como uma startup? (parte II)

Parte I.
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Steve Blank convenceu-me a tirar o ponto de interrogação do título.
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Voltemos ao cenário, uma PME que vai tentar exportar para um país ou região onde nunca actuou e, ao paralelismo de uma startup que pretende avançar para um mercado que já existe:
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"In an existing market, your startup is the weakest player with the least resources. Therefore, attacking the strongest players head-on is foolish. You want to choose strategies that acknowledge your weakness and play to your agility.
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target your attack at the point where your limited resources can make a difference. You'll segment the existing market to create a submarket where your product can be unique or substantially different. Or if you can create a new market, you can define a space the market leader doesn't address at all.
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Your goal is to become No. 1 in something important to your customer."
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A actuação mais adequada passa por seguir estes conselhos... uma PME não tem recursos suficientes para enfrentar o líder no seu habitat natural (dizem que se precisa de aplicar 3 vezes mais recursos que o líder de um mercado, para o vencer no seu terreno).

segunda-feira, maio 07, 2012

Acerca da Grécia e dos custos afundados

Volto a "Thinking, Fast and Slow" a propósito da Grécia:
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"The sunk-cost fallacy keeps people for too long in poor jobs, unhappy marriages, and unpromising research projects. I have often observed young scientists struggling to salvage a doomed project when they would be better advised to drop it and start a new one. Fortunately, research suggests that at least in some contexts the fallacy can be overcome. The sunk-cost fallacy is identified and taught as a mistake in both economics and business courses, apparently to good effect: there is evidence that graduate students in these fields are more willing than others to walk away from a failing project.
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The version in which cash was lost leads to more reasonable decisions. It is a better frame because the loss, even if tickets were lost, is “sunk,” and sunk costs should be ignored. History is irrelevant and the only issue that matters is the set of options the theater patron has now, and their likely consequences. Whatever she lost, the relevant fact is that she is less wealthy than she was before she opened her wallet."

Estratégia: um processo não terminado

O último parágrafo deste texto "Why most business strategies fail":
"In some sense, business strategy is a lot like love. There are lots of people you can love and who may love you back, but the winning combination is pretty rare. So you need to keep working on it until you get it right. It's a process. And as with love, business, and so many things in life, you shouldn't settle until you get it right. So don't. And always remember, nobody has the answer."
Está bem conseguido.
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Em tempos, escrevi aqui no blogue sobre o problema de manter um mapa da estratégia e um balanced scorecard não actualizado e, sobretudo, com gestores que não o criaram (por despedimento, promoção, contratação ao exterior, morte, aquisição ou fusão, ...), o trabalho não fica feito, continua sempre por fazer.
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Há um texto antigo de Mintzberg que compara o desenvolvimento de uma estratégia ao trabalho de um oleiro, ao moldar do barro por um artesão... vou procurar.
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Cá está "Crafting Startegy" (HBR, Julho/Agosto de 1987)
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Por isso, uma estratégia não é, não existe, não está terminada, vai sendo.
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É preciso estar atento ao seu desenrolar, é preciso responder às respostas do meio.
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Este outro artigo "Why Amazon Is The Best Strategic Player In Tech" dá pano para mangas para reflectir sobre este tema.
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BTW, mais de metade das manobras da Amazon por cá, país de incumbentes, seriam consideradas predatórias, ilegais, imorais, fascistas, e sei lá que mais.

Carvalho da Silva 1 - GE 0 (parte III)

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"David Brooks: Competitiveness Vs Creativity: GE vs Apple"
"So why has GE lost 40 percent of its share value in the last ten years, and more than half its of its share value since Jeff Immelt became CEO? Why doesn’t the stock market see much of a future for GE?
A culture of the bottom line
Obviously, the results of any large company are caused by many moving parts, but one of the root causes of GE’s decline is what CEO Jeff Immelt revealed in his 2006 conversation with Harvard Business Review (“Growth As A Process”)
“At GE, the only things that move the culture are ones that show up in our income statement. It’s just the way we were raised.”
GE is the quintessential company that is run by the numbers, focused on making money for the shareholders. Because GE does it as well as anyone, its fate can tell us where this approach leads."
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"GE’s main problem today is thus a 20th Century management mindset focused on making a profit by pushing products and services at customers. It was a way of managing that worked reasonably well, decades ago, when the marketplace was dominated by a few oligopolies (customers lacked both options and information about the options) and most work was semi-skilled.
Today that world has all but vanished. The reality is that we now live in the age of customer capitalism. As a result of epochal shift of power in the marketplace from seller to buyer, the customer is now in charge. Making money and corporate survival now depend not merely on satisfying customers but delighting them. To prosper, firms must have knowledge workers who are continuously innovating and delivering a steady supply of new value to customers and delivering it sooner. The new bottom line of business is: is the customer delighted? It’s a fundamental shift from outputs to outcomes."

Saúde: Quem são os clientes-alvo?

"Na saúde, "o setor público não pode despejar no setor privado, mas o privado pode deitar fora o que dá trabalho para o público", criticou aquele que é também professor catedrático do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz."
Por que será que isto acontece?
Ponhamos de lado a hipótese de "maldade pura", veiculada pelo professor catedrático, haverá outra explicação?
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Se uma unidade de saúde privada seguisse as orientações deste blogue qual seria a primeira decisão a tomar?
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Fácil!
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Responder à pergunta: quem são os nossos clientes-alvo!!!
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Neste caso, clientes-alvo significa: quais são as áreas em que nos vamos especializar?
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O que acontece a uma unidade de saúde que quer fazer tudo e servir todos? O gigantismo, a complexidade, o desperdício, a impessoalidade, ... tudo ao serviço das melhores intenções.
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domingo, maio 06, 2012

Cada WHY é uma hipótese diferente de abordar a realidade

Uma primeira transposição deste interessante artigo "People who ask HOW work for people who ask WHY" para o canvas criado por Osterwalder.
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Na minha leitura, a primeira pergunta, o WHY não aparece no canvas. O WHY é a hipótese subjacente, é a cola que une todo o edifício.
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Talvez por isso, por não estar descrito no canvas, é que se fala na necessidade de testar vários modelos de negócio, cada modelo de negócio é colado por um WHY diferente. Cada WHY é uma resposta, uma hipótese diferente de enfrentar, de perceber, de explicar a realidade.

Longe das maluqueiras socialistas de Cristas+Louçã

A meio da leitura deste artigo "Nobody Seems to Understand What Jeff Bezos is Doing. Does He?" um pensamento apareceu-me de repente:
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- Ainda bem que a Amazon está lá longe, longe das maluqueiras socialistas de Cristas & Louçã. Num país como Portugal, um país de incumbentes, esta experimentação teria logo dado celeuma, leis teriam sido feitas, liberdades teriam sido reduzidas. Enfim...

Estratégia baseada no amor (Lc 10, 21)

Excelente!!!

"Conventionally, all of the major frameworks of strategy start by recognizing that the essence of strategy is to achieve superior competitive advantage. That is what everybody adheres to. We found that that as a concept and as a mindset is extremely dangerous, because it puts competitors at the center. And if you do that, then there is a tendency to watch your competitors and try to imitate them. (Moi ici: Muitas vezes me queixo aqui no blogue do excesso de atenção que é dada à concorrência. Impressiona ver que algumas empresas conhecem melhor os concorrentes do que conhecem os seus clientes. Assim, em vez de criar experiências novas, tornam-se cada vez mais parecidas com os concorrentes...)
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And that imitation creates sameness. Sameness will never bring greatness, and, even worse, its final result is something which is the worst thing that could ever happen to a business: commoditization. (Moi ici: Youngme Moon ilustra-o de forma soberana)   Commoditization means a business in which there is nothing that you can claim that differentiates your offering, and therefore, all you can do is to fight for price. That leads to a very aggressive rivalry. In order for you to win, you have to beat somebody.

It is like strategy as war, and that, as we know very well, is not really the most effective way to manage a business. Wars just create complete devastation; they are the worst thing that could happen to mankind, yet we use that as a simile for management! We felt it was the wrong simile.

Now, if competitors are not at the center of management, then who is at the center? For us, the answer was obvious. The customer is. Therefore, the customer is the driving force. You have to start deeply understanding what the customer’s requirements are and how you can help the customer in the most effective way. This changes completely the way you figure out what actions to do.

Now, instead of trying to imitate somebody, you are trying to separate yourself from the rest of the pack."
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"Therefore, commodities don’t really exist. The customers are all different, and if you do not understand that, you are commoditizing something — and believe it, there is so much of that happening in business in America. Typically, when I’m teaching these concepts, I ask the group of executives I teach, “Tell me, among all of you present, how many of you think that a significant percentage of your business comes from commodities?” And invariably, 100 percent of the hands come up, and I know then that they have come to the right place — because they are not thinking correctly."
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Agora, reflictam um pouco na quantidade de economistas, políticos e comentadores que todas as semanas nos catequizam dizendo que temos de reduzir custos para sermos mais competitivos... sim, até parece que essa foi e é a receita seguida pelas mittelstand...
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O meu conselho é o do abandono das folhas de cálculo e o desenvolvimento de relações amorosas com clientes, produtos e fornecedores. Ou seja, a estratégia passa pelo amor... agora, reparem no título do artigo de onde os trechos foram retirados:
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Trechos retirados de "Strategy as love, not war"

sábado, maio 05, 2012

Quatro reflexões actuais sobre o relacionamento com os clientes

Quatro reflexões actuais com um tema comum: o relacionamento entre as empresas e os seus clientes; os consultores de compra em vez dos vendedores e o mundo dos batoteiros.

Como uma startup?

Ando a ler "The Startup Owner's Manual" um livro que estou a saborear com gosto. Muitas das ideias já conhecia, contudo, vê-las assim, organizadas, sistematizadas e aprofundadas é muito útil.
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Ao ler um texto intitulado "Get Out of the Building", uma expressão que Steve Blank usa há anos com muita propriedade, encontrei uma mensagem que gerou uma questão, uma dúvida que ainda não me largou:
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"Facts exist only outside the building, where customers live, so the most important aspect of customer discovery is getting out of the building, in front of customers." (Moi ici: A ideia de Steve Blank é: uma startup é uma ideia, é uma visão, é uma hipótese lançada pelos seus fundadores. Assim, para confirmar essa hipótese, uma startup tem de ir para a rua, antes de começar a gastar dinheiro, o mais depressa possível para verificar se existem clientes, se a hipótese tem adesão à realidade)
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"Only after the founders have performed this step will they know whether they have a valid vision or just a hallucination.
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Sounds simple, doesn't it? But for anyone who has worked in established companies, the customer discovery process (Moi ici: O nome que Steve Blank dá à primeira etapa na vida de uma startup. Uma startup quase sempre não tem clientes à partida, não existe mercado. É preciso descobri-los) is disorienting. All the rules about new-product management in large companies are turned upside down. It's instructive to enumerate all things you are not going to do:

  • understand the needs and wants of all customers
  • make a list of all the features customers want before they buy your product
  • hand Product Development a features list of the sum of all customer requests
  • hand Product Development a detailed marketing-requirements document
  • run focus groups and test customers' reactions to your product to see if they will buy
What you are going to do is develop your product for the few, not the many."
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Qual é a dúvida? Cá vai.
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Quando uma PME (agora estou a falar de PMEs não de startups) resolve tentar a sua sorte e exportar para uma nova geografia, para um novo país, para um novo mercado que desconhece e que já está servido, fará sentido agir como uma startup na "Customer Discovery Phase"?
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Ou seja, em vez de arriscar um choque frontal com as marcas incumbentes (Quem luta por evitar uma perda  tem quase sempre vantagem sobre quem luta por conquistar um ganho, aprendi há dias com Kahneman), em vez de tentar chegar a todos os clientes, em vez de tentar chegar ao grosso dos clientes, em vez de tentar chegar ao mainstream, apostar numa franja do mercado, na periferia do mercado, até naqueles clientes que representam um encargo para os incumbentes.
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Será que uma PME que avança para um novo mercado geográfico e que não pode gastar rios de dinheiro para subornar (em sentido figurado) os clientes, não deverá actuar como uma startup?

sexta-feira, maio 04, 2012

Sócrates não faria pior

Ontem, aproveitei a noite para chegar até à página 50 do novo livro "The Startup Owner's Manual" de Steve Blank, em conjunto com Bob Dorf.
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Aconselho a procurar e a ler na net o "The Customer Development Manifesto". Depois, ler esta notícia "Passos Coelho lidera Conselho Nacional para o Empreendedorismo e a Inovação" e sublinho este pormenor:
"O órgão será constituído por 25 elementos"
e ainda
"Fazem ainda parte deste órgão vários responsáveis, entre eles membros do Governo, o presidente do conselho de administração da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Pedro Reis, o presidente do conselho directivo do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI), bem como "15 membros especialistas, escolhidos de entre personalidades de reconhecido mérito, nacional e internacional, nas áreas do empreendedorismo e da inovação.""
Volto ao  "The Customer Development Manifesto":
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Rule nº. 7: Agree on Market Type. It Changes Everything
"One of the radical insights guiding this book is that not all startups are alike"
Uma startup é para actuar num mercado que já existe? Uma startup é para actuar num mercado novo a criar? Uma startup é para actuar na re-segmentação de um mercado existente?
Uma startup é para actuar com base na clonagem de um modelo de negócio que funcionou noutras paragens?
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Rule nº. 10: It's All About Passion
"A startup without driven, passionate people is dead the day it opens its doors.
"Startup people" are different. They think different. In contrast, most people are great at execution. ... The people leading almost every successful startup in history are just different. They're a very tiny percentage of the world population, and their brains are wired for chaos, uncertanty, and blinding speed. They're irrationally focused on customer needs and delivering great products. Their job is their life."
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E volto a ler "15 membros especialistas, escolhidos de entre personalidades de reconhecido mérito, nacional e internacional, nas áreas do empreendedorismo e da inovação"...
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Enfim... por que não acabam com esta história de comissões de uma vez por todas... 25 elementos... já dizia Napoleão: queres uma coisa feita nomeia um general, se não nomeia uma comissão.

Mais um apelo a mais socialismo

Não cesso de me surpreender com a falta de conhecimentos sobre o funcionamento dos mercados, sobre as práticas de gestão, sobre estratégia que grass aum pouco por todo o lado.
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"A presidente deste observatório [ Observatório dos Mercados Agrícolas ], Maria Antónia Figueiredo, (Moi ici: Que por acaso parece que também é dirigente da confederação de agricultores CONFAGRI) disse à TSF que estes dados permitem concluir que «não há equilíbrio na distribuição ao longo da cadeia», saindo o produtor prejudicado." (aqui)
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Não há equilíbrio na distribuição ao longo da cadeia? O que é que isto quer dizer? 
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Planeamento a régua e esquadro da margem de cada um? Mais um apelo a mais socialismo interventor no mercado?
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Esta gente não percebe o que é um mercado a funcionar? Quanto é que acham que ganha uma sapataria ao vender um par de sapatos? Quanto é que acham que ganha uma loja ao vender um relógio Swatch? Quanto é que acham que ganha uma loja de roupa ao vender uma peça?
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Por que é que os produtores não se juntam e fazem o by-pass à distribuição? Por que não aproveitam as vendas online? Por que não criam a sua própria rede de distribuição especializada? (A minha posição de sempre aqui e aqui)

ADENDA (15:02) - A descer a A25, ouvi, no noticiário das 13h na TSF, o líder da CAP, João Machado, a falar na necessidade de um organismo, talvez o INE, que ... e agora preparem-se para o que aí vem, se eu quisesse inventar isto achavam-me maluco ... calculasse cientificamente os preços a praticar por cada interveniente na cadeia. 

Em direcção ao futuro

Ontem o Anti-comuna chamou-me a atenção para esta notícia "INESC TEC PATENTEIA TECNOLOGIA QUE REVOLUCIONA INDÚSTRIA DO CALÇADO"
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A notícia está alinhada com o futuro que aconselhamos aqui neste blogue desde sempre para as nossas PMEs:
"O INESC TEC (entidade coordenada pela INESC Porto) viu ser concedida uma patente europeia, a 21 de março de 2012, a um sistema logístico inovador desenvolvido pela Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP) para a secção de montagem/fabrico das fábricas de calçado. Aumentos de produção, flexibilidade, produção de pequenas séries e redução do tempo de produção das encomendas são algumas das mais-valias deste trabalho."
"o objetivo é produzir em simultâneo diferentes tipos de calçado na mesma linha de produção, integrando várias secções."
Tudo em linha com as bolas negras deste postal. Tudo em sintonia com o desafio de fugir da guerra dos preços mais baixos.

Até na agricultura

A propósito do risco, da ameaça que paira sobre o porco alentejano:
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"E ouve-se mais um desabafo de João Rosado: "Há regras, para os produtores, que são muito apertadas e desnecessárias mas, no que é importante, como a fiscalização, ninguém atua." (Moi ici: Aqui o senhor João tem razão, muitas regras sem fiscalização só beneficiam os incumpridores. E, quanto mais regras, sem fiscalização, maior o prémio para quem não cumpre) Quando questionados sobre que medidas se deveriam tomar para inverter este processo, (Moi ici: Agora vem aí uma resposta que só ilustra porque é que a nossa agricultura não progride mais. A incapacidade dos produtores assumirem como seu dever, como seu trabalho, como sua responsabilidade, aquilo que qualquer fábrica que quer ter um futuro tem de fazer) as respostas saem rápidas: atuar a nível do mercado para valorizar o que se produz, (Moi ici: Por que é que os produtores não apostam no marketing da sua exploração ou, por que não se juntam e apostam no marketing da sua fileira?) melhorar a eficiência das explorações - produzir mais e melhor -, baixar os custos de produção (Moi ici: E isto, depende de quem? Por que não trabalham com consultores agrícolas? Por que não trabalham com empresas fornecedoras que tenham este know-how? Por que não trabalham com escolas agricolas sobre estes desafios?), da parte da tutela, uma norma nacional que regulamente a comercialização do produto e respetiva designação. (Moi ici: E por fim, tipicamente português, começa a frase a dizer que há demasiadas regras e acaba a mesma frase a pedir mais regras...)
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Quem opera na agricultura nunca sairá da cepa torta enquanto não assumir um locus de controlo interno e agarrar o problema como seu. Até na agricultura é preciso pensamento estratégico!!!
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Trecho retirado de "O fim do porco alentejano?"
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quinta-feira, maio 03, 2012

Foi você que pediu mais crescimento à moda antiga?

Embora não concorde com tudo o que escreve acerca da Europa do Sul, talvez porque lhe falte a experiência de visitar mais e mais vezes cada país e, porque cada economia nacional infeliz é infeliz à sua maneira, estou de acordo com o essencial:
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"Rather than attempting to return to their artificially inflated gdp numbers from before the crisis, governments need to address the underlying flaws in their economies." (Moi ici: Há anos que o nosso país vivia deste truque, o de assar sardinhas com o lume dos fósforos, de estímulo em estímulo)
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"The status quo ante is not a good place to return to because bloated finance, residential construction, and government sectors need to shrink, and workers need to move to more productive work. The way out of the
crisis cannot be still more borrowing and spending, especially if the spending does not build lasting assets that will help future generations pay oª the debts that they will be saddled with. Instead, the best shortterm policy response is to focus on long-term sustainable growth." (Moi ici: Uma mensagem para os que pedem mais autopistas, mais empréstimos para consumo e mais emprego no Estado para relançar a economia e reduzir o desemprego. Até a receita do autor é pobre pois assenta na liberalização para soltar o antigo. OK, mas não é por aí, embora mal não faça)
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Duas explicações que corroboram o que penso e que estão ao arrepio do mainestream são:

  • o aumento das desigualdades salariais não é só entre o 1% do topo e o resto, não! É o aumento da dispersão da produtividade das empresas e de quem a alimenta (Dezembro de 2009 e Junho de 2010)  
"It is tempting to blame the ever-widening income gap on skewed corporate incentives and misguided tax policies, but neither explanation is sufficient. ... This is not to say that all top salaries are deserved—it is not hard to find the pliant board overpaying the underperforming ceo—but most are simply reflections of the value of skills in a competitive world.
In fact, since the 1980s, the income gap has widened not just between ceos and the rest of society but across the economy, too, as routine tasks have been automated or outsourced. With the aid of technology and capital, one skilled worker can displace many unskilled workers.
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Since the early 1980s, the difference between the incomes of the top ten percent of earners (who typically hold university degrees) and those of the middle (most of whom have only a high school diploma) has grown steadily. By contrast, the difference between median incomes and incomes of the bottom ten percent has barely budged.
The top is running away from the middle, and the middle is merging with the bottom."
  • esta, tenho andado a namorá-la mentalmente e nunca a verbalizei antes. Por que é que Portugal tem tanto abandono escolar? Como é que num mundo onde ter uma formação académica conta cada vez mais, tantos e tantos portugueses sempre abandonaram a escola antes do 10 ou do 12ª ano? Que formação escolar é preciso ter para trabalhar na construção civil ou obras públicas? A mim chocou-me perceber esta realidade: "20 a 30% do PIB do Minho dependia da construção". E cada vez mais me convenço que o namoro deste país com a construção e obras públicas tem sido o principal responsável pelas nossas elevadas taxas de abandono escolar. Se a procrastinação impera, se somos iludidos pelas promessas da satisfação imediata, se a família dá pouco valor à escola... era difícil resistir à possibilidade de começar a ganhar a vida já, em vez de esperar por um longínquo ano.
"artificially low interest rates acted as a tremendous subsidy to the parts of the economy that relied on debt, such as housing and finance. This led to an expansion in housing construction (and related services, such as real estate brokerage and mortgage lending), which created jobs, especially for the unskilled." (Moi ici: Se existe procura de trabalho "unskilled", estimula-se a oferta de mão-de-obra "unskilled". O que vai ser desta gente agora?)
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BTW, isto foi em todo o lado e não só em Portugal:
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"Well-paying, low-skilled jobs with good benefits were becoming harder and harder to find, except perhaps in the government." (Moi ici: A explosão do emprego na função pública)
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Aprender com os erros dos outros

Uma teoria interessante para explicar o trajecto recente da Sony:
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"consumers today care more about the experience, but Sony is still focused on the product. (Moi ici: Qual é o nosso conselho aqui no blogue? Perguntar quais são as experiências procuradas e valorizadas pelos clientes-alvo?)  It's gotten trapped by its own past success.  (Moi ici: Aprender a desaprender é tão difícil...)  In the early 80s, simply delivering technology in a usable form was still the biggest challenge, and Sony got it right before anyone else.
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"In the experience economy, these expectations are reversed. Technology is a given, and the question of "what are the specs?" has been replaced by "what is it like to use?" Sony's expertise at making the next great thing has been matched by companies like Samsung and LG, and soon enough, they'll all be caught by increasingly sophisticated Chinese manufacturers. Without modifying its business model, Sony has been left behind by a world that's changed its relationship with technology."  (Moi ici: Tal como as empresas portuguesas que não se adaptaram e não se adaptam às sucessivas mudanças do mundo: adesão à CEE; entrada no euro; entrada da China na OMC; fim do crédito fácil; fim(?) das "borlas" do Estado)
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"What's missing is the strategic vision to emphasize the delivery of powerful and resonant user experiences. Mr. Hirai acknowledged several times the need for the company to change, but the goals he stated were still hardware focused: sell this many smartphones, that many camcorders. The user is still missing in this equation, as is a sense of what Sony stands for, and what its vision is for an integrated experience. For Sony, it may be too late.
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Every industry has its Sony, still trying to get ahead by solving a problem that's already been solved." (Moi ici: Excelente metáfora... quantas empresas continuam que mais qualidade, ou seja, menos defeitos, é a chave para o sucesso no século XXI... já foi, já está lá atrás. Hoje, há n concorrentes capazes do mesmo desempenho ao nível dos atributos, das especificações... a diferença só pode vir da experiência!)
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E a sua empresa, que tempo e atenção dedica à criação de experiências de uso? Ainda está focada na criação de produtos, coisas que se podem copiar facilmente?
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Um país a fazer pela vida!

""Apesar do desemprego e das falências, apesar de tudo, o distrito de Leiria está numa situação mais favorável", destacando o facto de "as exportações estarem a crescer ao dobro da média nacional".
O empresário revelou que só no início deste ano as exportações da indústria das conservas em Peniche cresceram 169%." (aqui)
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"A China comprou a Portugal, entre janeiro e março deste ano, produtos no valor de 374 milhões de dólares norte-americanos (283 milhões de euros), mais 73,8 por cento do que nos primeiros três meses de 2011." (aqui)
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"O Brasil já vale um quarto do volume de negócios da actividade de feiras e congressos da Associação Empresarial de Portugal (AEP)" (aqui)
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""Estamos muitos satisfeitos porque Portugal é, sem dúvida, o país da Europa onde a qualidade da produção vinícola mais progrediu nestes últimos dez anos." (aqui)
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"Portugal já está a exportar mais produtos e conhecimento na área da saúde do que vinho ou cortiça." (aqui)
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"No ano passado, as empresas portuguesas venderam para os mercados externos mais de 42,3 mil milhões de euros, o que representou um crescimento de 15,1% em relação ao ano anterior e dos quais 31,3 mil milhões foram no espaço comunitário e os restantes com o resto do mundo, onde se destacam os países emergentes." (aqui)

quarta-feira, maio 02, 2012

Inesperado?

"«O que se está a passar no mercado de trabalho é algo que é inesperado e que não é de todo em todo compatível com aquilo que seria de esperar com o nosso nível de atividade, os valores do desemprego continuam a crescer», afirmou Luís Morais Sarmento, durante a sua audição na Comissão parlamentar de Orçamento e Finanças.
«Esta alteração da situação do mercado de trabalho sugere também que as reformas estruturais que estão a ser executadas no mercado de trabalho são mais urgentes e mais necessárias, uma vez que o mercado de trabalho está a demonstrar uma rigidez mais elevada«, afirma, garantindo que esta reforma é uma das grandes prioridades do Governo."
Inesperado?
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Eheheh, este blogue, mantido por um anónimo engenheiro de província não foi apanhado distraído (aliás, a previsão do crescimento do desemprego foi um dos motivos que usei para justificar o avanço da TSU, dado que a sua redução para ajudar as exportações sempre me pareceu absurdo). Como é que o secretário de estado do Orçamento o foi?
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Porventura o secretário de estado do Orçamento olha para o drill-down (parte II) dos números do crescimento do desemprego?
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Se acabam as obras da construção pública, se a construção civil está parada, se acabam os empréstimos para suportar consumo e se se corta nos recibos verdes do Estado, o que é que o secretário de estado esperava?
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Se houvesse estudo dos números, não se faziam estas afirmações sem sentido e que revelam preguiça intelectual, previam-se e explicavam-se.
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Ontem, enviaram-me este recorte por e-mail
acerca deste projecto.
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A acompanhar o recorte vinha um comentário muito interessante:
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"Há uns anos investiriam na construção civil ou em renováveis"
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É esta transição, esta sifonagem virtuosa de recursos para actividades auto-sustentáveis que devia ser explicada. E, no dia em que recomeçarem as medidas de apoio ao crescimento, uma espécie de "La relance", voltará a interromper-se esta transição virtuosa e necessariamente morosa.

Trecho inicial retirado daqui.

Italianices...


"First, adjustments achieved through spending cuts are less recessionary than those achieved through tax increases.Second, spending-based consolidations accompanied by the right polices tend to be less recessionary or even have a positive impact on growth.
These accompanying policies include easy money policy, liberalisation of goods and labour markets, and other structural reforms.
...
Third, only spending-based adjustments have eventually led to a permanent consolidation of the budget, as measured by the stabilisation – if not the reduction – of debt-to-GDP ratios."
Trecho retirado de "The austerity question: ‘How’ is as important as ‘how much’"
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E logo a seguir encontro:
"O governo italiano aprovou hoje, em conselho de ministros, uma série de medidas para reduzir a despesa pública de forma estrutural e evitar uma nova subida do Imposto de Valor Acrescentado (IVA) no muito curto prazo ... O aumento de dois pontos do IVA, para os 23 por cento, depois de uma primeira subida de um ponto, para os 21 por cento, em setembro, foi já determinado em dezembro, ao abrigo do último plano de austeridade. No entanto, o governo estima agora que a medida pode agravar a recessão."
Trecho retirado de "Governo italiano aprova mais cortes na despesa para evitar novo aumento do IVA"