Aborrece-me solenemente o uso dos saxões contribuintes para pagar a externalização de problemas por parte de actores económicos.
Numa economia saudável o que acontece quando uma actividade económica não consegue sustentar-se com o fruto das suas operações? Fecha, e os seus recursos são transferidos para outros agentes, dentro da mesma actividade económica ou fora dela, onde supostamente são mais bem utilizados. E é assim que uma economia saudável evolui, daí o aumento da produtividade.
Daí ser adepto do: Querem aumento da produtividade? Deixem as empresas morrer!
- Deixem as empresas morrer! (Dezembro de 2018)
- De volta a 2009 e ilusões de um I9G (Setembro de 2019)
Numa pequena economia, habituada a obter apoios e vantagens dos governos de turno, é comum assistirmos a um periódico tocar dos sinos a rebate, seguido do apelo ao actvismo do governo de turno (seja ele de um Capoulas ou de uma Cristas).
A figura que se segue ilustra o arquétipo:
Manifesta-se o sintoma de um problema! E sabem que para mim "stressors are information". Os sintomas podem ser sinais de uma situação conjuntural ou de algo mais estrutural.
O que é que um sistema saudável faz? Desenvolve uma solução interna para o problema. Por exemplo, empresas fecham e o seu espaço competitivo é ocupado por outras mais produtivas. Por exemplo, a empresa muda de produto e/ou de clientes-alvo e/ou de modelo de negócio.
O que é que um sistema doente faz? Sugere a alguém sem skin-in-the-game (a um político que manipula dinheiro impostado aos saxões) que forneça um remédio que evita que os intervenientes tenham de sofrer as dores de parto da sua própria mudança. Como os sintomas são resultado de um qualquer desajuste estrutural a situação repete-se periodicamente. Assim, o risco de uma actividade económica, algo que devia ser específico de cada actor, é transferido para agentes sem voto na matéria, os contribuintes. Desta forma, adia-se a subida na escala de valor de um sector económico, evita-se a pequena mortalidade que não afecta o todo, e vão-se acumulando desequilibrios que acabarão por estoirar quando o político deixar de ter dinheiro para actuar.
Ontem apanhei mais este exemplo:
Produtores de tomate pedem apoios excepcionais ao Governo e União Europeia https://t.co/5xdrFbcgzh— Jornal Económico (@ojeconomico) September 9, 2019
Segundo o Anuário Estatístico - Portugal 2018, a campanha de produção de tomate em 2018 caiu quase 26% face ao ano anterior sobretudo por causa da diminuição da área instalada. Agora em 2019 temos:
"A Associação Portuguesa de Produtores de Tomate (APPT), filiada na CNA — Confederação Nacional da Agricultura, considera que este é um ano/campanha (até final deste mês de Setembro) com “muitas adversidades para os produtores de tomate para a indústria do Ribatejo”. Dizem estes agricultores que “a difícil situação reclama apoios excepcionais a atribuir pelo Governo e pela União Europeia”.Claro que em ano eleitoral isto é trigo limpo, farinha amparo.
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No essencial, esta “difícil situação deve-se ao facto de os custos de produção terem aumentado muito nesta campanha — atingem os 7 mil euros por hectare — devido à necessidade de aumentar, e muito, os tratamentos nas terras e plantas invadidas por fungos e outras mazelas, a fim de se evitar a perda da produção”.
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A direcção da CNA diz que “ainda há a esperança de existirem melhorias neste sector. Porém, tendo em conta a gravidade da situação, é necessário que o Governo intervenha para possibilitar o aumento de rendimentos da produção de tomate para a indústria.
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Entre outras medidas, aqueles produtores reclamam a atribuição de ajudas específicas aos pequenos e médios produtores de tomate para a indústria, para os tratamentos fitossanitários desta cultura, assim como apoios para compensar baixas de preços na produção por motivos aleatórios.
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Ainda assim, em geral, os agricultores, “com muito trabalho e com o aumento dos custos de produção devido aos tratamentos frequentes à cultura, acabaram por conseguir produtividades de assinalar, próximas às 100 toneladas de tomate por hectare, mas o preço à produção é que está muito baixo”, realça a CNA. [Moi ici: Portanto, têm de ser os saxões a pagar a incapacidade negocial dos produtores de tomate. Se não compensa, mudem de culturas de produção]
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Aqueles produtores realçam ainda que os custos reais de arrendamento da terra “à campanha”, praticados na zona irrigada mais próxima a Santarém, atingem os mil euros/ano por hectare — na Lezíria Ribatejana mais baixa chegam a dobrar este valor — o que, logo à partida, é um pesado encargo para os “seareiros” (os arrendatários da terra) para este tipo de culturas. [Moi ici: Quer isto dizer que há procura por estes terrenos, se calhar para outro tipo de culturas mais competitivas e ricas]
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Em contrapartida, é cada vez menor o preço final do tomate para a indústria colocado na fábrica de transformação. Nesta campanha, e apesar dos problemas tidos com a cultura, os preços à produção oscilam entre 70 e 85 euros por tonelada, dependendo da qualidade apresentada à entrada da fábrica. [Moi ici: Há aqui qualquer cena que merecia ser bem investigada... desconfio que teremos uma situação semelhante à do leite, uma grande heterogeneidade de produtores. Produtores grandes e eficientes aceitam preços mais baixos e, depois, todos os outros têm de os aceitar. Se os grandes ganham alguma coisa os pequenos nunca conseguem os ganhos de escala e eficiência para conseguirem lucrar.]
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“São preços que, repete-se, não compensam os produtores de tomate pelo investimento feito, e ainda menos compensadores são se entrarmos em linha de conta com a valorização do trabalho do agricultor (e família) tido na faina”, acrescenta o mesmo comunicado. [Moi ici: Se não compensam é simples, mudem de culturas, subam na escala de valor e façam pela vida. Não esperem que sejam os outros a suportar as más decisões de gestão]"
Não me admirava nada que por trás disto estivesse a agro-indústria do tomate para que o governo de turno lhe subsidie os produtores para que possa continuar a baixar preços de compra do tomate e gerar lucros cada vez maiores.
Situação estrutural:
- I see Qimondas everywhere (Novembro de 2017)
- Curiosidade do dia (Maio de 2015)
- Como eu gostava ... (Fevereiro de 2014)
- Sou só eu? (Janeiro de 2014)