Mostrar mensagens com a etiqueta radio clube. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta radio clube. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, novembro 22, 2016

O regresso da indústria à Europa

Da próxima vez que ouvir ou ler um adepto de Trump, da direita ou da esquerda, um daqueles que apela ao proteccionismo, lembre-se da minha teoria da conspiração e deste texto "Exportadores chineses sob pressão":
"Há uma década, os compradores teriam feito fila na maior feira profissional da China de importação e exportação para fazer negócios com as empresas têxteis que vendem matérias-primas e vestuário a uma fração dos preços cobrados em Itália ou nos EUA. Na última edição, contudo, os exportadores chineses afirmaram à Reuters que esse tipo de fila desapareceu.
...
Os exportadores têxteis, um símbolo da produção a custos baixos por detrás das economias “tigre” da Ásia, revelaram na Feira de Importação e Exportação de Cantão, no sul da China, que estão a ser esmagados pelo aumento dos custos.
.
Ainda há compradores estrangeiros – e a China continua a ser, de longe, a maior exportadora de têxteis –, mas estes estão a voltar-se cada vez mais para a Índia, para o Paquistão e até de novo para a Europa, à medida que a diferença de preços diminui, explicam os exportadores chineses.
...
A transformação económica da China significou uma subida dos padrões de vida, mas também um aumento dos salários, forçando as empresas a ascenderem na cadeia de valor para continuarem competitivas.
...
«Venho há feira há 10 anos. No seu pico, as pessoas faziam fila para falarem connosco», referiu um exportador sediado em Shenzhen que vende toalhas e outros artigos, um dos 8.239 expositores presentes na terceira fase da feira. «Agora há poucas pessoas. Há mais expositores do que compradores estrangeiros», apontou.
...
Entre as principais dores de cabeça para os têxteis e para os produtores de gama baixa estão os salários. Os salários médios na China cresceram a uma taxa composta anual de mais de 12% – de 4.538 yuan em 1994 para 45.676 yuan por ano em 2013, de acordo com a All-China Federation of Trade Unions."
Este não é o único motor por trás do regresso da indústria à Europa. Não esquecer o aumento da importância da proximidade produção-consumo, por causa da interacção e da co-criação que acabam por exigir rapidez, flexibilidade e customização.
.
O que farão as multinacionais com os activos empatados na China? Muitas, seguiram o caminho oposto deste conselho:

Nesse afã, optaram pela radioclubização, pelo hollowing, perdendo competências de desenvolvimento e de produção, tornando-se em traders, em carcaças ocas, em aristocratas arruinados que conseguem enganar cada vez menos clientes com uma etiqueta ligada a uma tradição.

Por isso, este é também um tempo para novos começos e para novas marcas.

Ah! Se tivéssemos políticas antifragilistas no poder ... podíamos ser algo mais do que esta sobrevivência comunitária a conta-gotas dependente dos humores legítimos de quem tem capital.

segunda-feira, novembro 21, 2016

"Estou otimista ... é fantástico."

Quando os dirigentes do sector têxtil encomendavam os caixões, aqui no blogue pregava-se o que tinha aprendido com a biologia e com Berger:
“… there are no “sunset” industries condemned to disappear in high wage economies, although there are certainly sunset and condemned strategies, among them building a business on the advantages to be gained by cheap labor”
Num dos primeiros postais deste blogue (Fevereiro de 2006) já escrevíamos:
"Em vez de resignação há que apostar na mudança de paradigmas. Por exemplo, se um concorrente directo resolve começar a fabricar, ou a importar da China, temos de modificar o campo de batalha, e aproveitar o que poderão ser as vantagens da nossa posição e amplificar o que poderão ser as desvantagens de uma cadeia logística, longa e muito mais lenta. Temos de jogar com a flexibilidade, com o aumento da variedade, com a explosão das opções e assim, subir na escala de valor acrescentado." 
Agora, começa a ser corriqueiro ouvir e ler, mais de dez anos depois:
"É fundamental quando se trabalha com prazos apertadíssimos. Somos recordistas mundiais nos prazos de entrega. É o nosso maior fator de competitividade, até porque não somos baratos, no contexto mundial.
...
Empresas como tínhamos há 15 ou 20 anos, já não existem. Hoje, são muito flexíveis, com grande capacidade de resposta, de engenharia de produto.
...
Estou otimista. Os grandes impactos externos já foram absorvidos e estamos a assistir a uma reestruturação das cadeias de retalho. Algumas estão a ser ultrapassadas por cadeias mais pequenas e, se for pelo fator novidade e não pelo preço, é o nosso negócio, é fantástico. E nos países mais desenvolvidos, os consumidores estão fartos das grandes etiquetas, iguais para todos. Querem coisas novas, o que cria uma dinâmica que também nos é favorável. Os ventos internacionais, dos mercados externos, são favoráveis à nossa indústria."
E em quase todos os sectores da economia transaccionável o que está a acontecer é este efeito positivo que só não é mais conhecido porque os media tradicionais estão viciados em cortisol, e as narrativas políticas não vêem com bons olhos este desempenho que desmascara os que acusam o euro de ser a causa de todos os males.

Trechos retirados de "Os ventos são favoráveis à indústria do têxtil e vestuário"

BTW, tenho uma teoria da conspiração acerca da globalização. A globalização está a recuar, não por causa de barreiras alfandegárias mas por causa de coisas que falo aqui no blogue: rapidez, flexibilidade, interacção, co-criação, salários na China, Evangelho do valor, ...
.
Quem perde com o retrocesso da globalização? As empresas grandes, as marcas grandes (ver o marcador hollowing), quando os Trumps da direita e da esquerda agora vêm falar dos perigos da globalização desconfio que andam a tramar algo para impedir a hemorragia das empresas grandes nem que para isso tenham de tramar as PME deste mundo.

segunda-feira, setembro 19, 2016

Marcas que viraram carcaças (bonitas por fora mas ocas)

Ler "The Decline Of Premium American Fashion Brands. What Happened, Ralph And Tommy?" é tomar consciência do cumprimento, em toda a linha, da profecia fácil do "hollowing", ou "radioclubização", de como uma marca forte e genuína se transforma numa carcaça, num aristocrata arruinado, fruto de deixarem os muggles à solta.
.
É ver na prática a resposta das tribos aguerridas de Mongo aos gigantes que perderem a magia e julgam que podem tratar os clientes como plancton.
"I'm not the only one who feels that these iconic American brands have lost their luster. Many are on a downward spiral, hit by sluggish sales.
...
What went wrong? How did premium American companies lose their way? And is there a new generation of labels that will fill the void?
...
Charles Lawry, a professor at Pace University's business school who specializes in studying the luxury market, points to how high-end American brands have been creating cheaper products for decades now.
...
In their new incarnations, these companies all faced new shareholder pressures to keep business booming. "Growth became more important than brand," ... "This meant everything from lowering the cost of manufacturing to making the brand accessible to new a wider spectrum of consumers."
...
"There was an over-expansion and distribution into places like factory stores, which presented a tremendous economic opportunity," he says. "But it came at the expense of the brand. If you start training the consumer to believe that the brand is widely distributed in factory outlets, people who were once your core customer will start doing that, or lose interest in the brand altogether."
.
To lower costs, many of these corporations shipped production to China and Vietnam, where labor was cheap. As a result, products suffered: People who weren't trained to work with premium leather or master expert tailoring could not be expected to create high-end merchandise on a massive scale. "With globalization and an effort to cut cost by going overseas, these megabrands that were once known for high quality started to see their quality deplete and decay,"
...
It was also hard to predict consumer demand when outsourced orders had to be placed many months before they hit stores. This lead to bloated inventories. Karla Gallardo discovered this firsthand when she studied the luxury brand supply chain before cofounding her own brand, Cuyana, three years ago. "These businesses had to liquidate their inventories at low prices," she says. "When this happens once, twice, and three times, the customer gets used to buying on sale. This is a problem that gets compounded over time."
.
In 2008, American prestige fashion hit new lows. "During the recession and post-recession periods, these brands went further by having a lot of these products trickle down to discount retailers," .
...
In short, bargain prices robbed luxury brands of their mystique."
Depois, em "The Rise Of The High-Quality, Reasonably Priced, Direct-To-Consumer Brands" o artigo continua mas já com as marcas que estão a aparecer agora e a ganhar força:
"A younger generation of companies saw the decline of legacy American brands as an opportunity to redefine premium fashion and educate customers about how high-end goods are made.
...
"Digital-first retail brands,
...
"They architected brands that had a belief system built into them—about things like quality and social good—and a conversational tone built into its messaging that transparently exposed [those values].
...
It has focused on creating women's clothing and accessories made by experienced craftsmen using quality materials so that consumers can enjoy their products for a long time—and perhaps even pass them on to their children.
.
Another important distinction between these fashion startups and older apparel companies is that they are much less flashy. ... "Millennials are not as interested in logos as previous generations who gravitated toward things like the enormous Gucci Gs. Those garish logos would scare today's consumer away.
...
Today, many people see high-end products as one-of-a-kind items—the antithesis of mass-produced commodities whose attention-grabbing logos turn consumers into advertisements. And a new wave of savvy entrepreneurs have built businesses on the idea of offering customers something that feels unique.
...
"I understand what can happen when demand for your product explodes: The easiest way to respond to that on a knee-jerk basis is to aggressively pursue growth. But I think if you want to maintain status as a luxury brand, you have to temper this desire." A little self-control can go a long way, even in fashion."
A propósito deste parágrafo final mais dois artigos:



  • "How Mansur Gavriel Beat the ‘It’ Bag Hangover"

  • "“Certain articles of clothing, once they become coveted by everyone, everyone gets over it,” says street-style photographer Tommy Ton, who shot the brand’s spring/summer 2016 presentation. Not Mansur Gavriel’s.
    ...
    “In addition to being great designers,” he says, “they’re also good businesswomen. They’re careful not to overdistribute.”
    .
    Mansur Gavriel restricts its retail partners to a few high-end boutiques and department stores and limits the number of bags a retailer can order." 

    segunda-feira, agosto 29, 2016

    "respond by becoming a shell of their former selves"

    Competir pelo preço, tentar seduzir clientes oferecendo o preço mais baixo, é uma opção estratégica legítima e honesta. Contudo, não é para quem quer, é para quem pode.
    "Of course, you have competition. But the big companies that are winning the price war aren't winning because they've eliminated customer service and common sense. They're winning because of significant advances in scale and process, advances that aren't available to you.
    Organizations panic in the face of the floor falling out from under their price foundation, and they often respond by becoming a shell of their former selves. [Moi ici: Aquilo a que chamo de "hollowing" ou radioclubização, usando exactamente essa terminologia de carcaça oca] Once you decide to become a cheap commodity, all of the choices you made to be a non-commodity fall victim to your pursuit of cheap.
    Cheap is the last refuge for the marketer who can't figure out how to be better.
    The alternative is to choose to be worth it, remarkable, reliable, a good neighbor, a worthy citizen, leading edge, comfortable, trusted, funny, easy, cutting edge or just about anything except, "the cheapest at any cost.""
    Há duas alternativas, aumentar o denominador ou reduzir o denominador. Não se pode é ser PME e querer estar nos dois campeonatos em simultâneo:
    Trecho retirado de "In pursuit of cheap"

    quarta-feira, julho 27, 2016

    A pensar acerca do futuro

    3 textos que me põem a pensar acerca do futuro que está a ser construído agora mesmo de forma muito gradual e que ao 100º dia explode e estará em todo lado.
    "Num lago há um nenúfar que todos os dias cresce para o dobro do seu tamanho. Se em cem dias cobrir o lago inteiro, quantos dias serão necessários para cobrir metade?"
    Primeiro este "Silence on social issues could be the kiss of death for brands, says UN marketing chief". Isto é assumir que nos "social issues" há um lado bom e um lado mau, é assumir um mundo a preto e branco sem tonalidades de cinza. As marcas clássicas que herdámos do século XX apontam para o mercado de massas, apontam para o máximo comum, apontam para o conjunto mais alargado possível de clientes. Isso implica não fazer muitas ondas porque ao cobrir o que um grupo de clientes quer, vai inexoravelmente criar problemas com um grupo oposto que quer exactamente o oposto. Também por isto é que as marcas clássicas estão condenadas a desaparecer, por não poderem tomar partido e por o mercado estar a fragmentar-se num conjunto muito diverso de tribos aguerridas que pactuam cada vez menos com quem não é da sua "cor".
    .
    Segundo, este "LVMH vende marcas Donna Karan e DKNY por 592 milhões".
    "O comprador é o grupo G-III Apparel Group e o valor foi de 650 milhões de dólares (592 milhões de euros), incluindo dívida.
    .
    A estilista Donna Karan fundou em 1984 a sua marca de roupa feminina com o marido Stephan Weiss, tendo abandonado a chefia do gabinete de design da companhia no ano passado, para focar-se em projectos como a Urban Zen.
     .
    A companhia G-III é, por seu turno, fabricante industrial de roupa sob insígnias como a Calvin Klein ou Vince Camuto."
    Comecei por imaginar uma operação como a compra da marca "Fly London" para subir na escala de valor. No entanto, depois de ver o site da G-III e a quantidade de marcas que fabricam, sinto que é mais um sintoma do hollowing. Carcaças ocas que vivem de glória e nome feito no passado mas que já não têm chama. Outra contribuição para o fim das marcas clássicas.
    .
    Terceiro, este "Procter & Gamble launches direct-to-consumer subscription business" um proprietário de marcas clássicas, habituado a dar plankton aos consumidores ao longo de décadas, tenta mudar de modelo de negócio, tenta fazer o bypass ao retalho físico. Não é mais uma empresa de média dimensão, é só o gigante P&G.

    quinta-feira, junho 30, 2016

    "O papel da marca em Mongo (parte III)"

    Esta segunda-feira estivemos numa empresa de calçado a conversar sobre o documento "Footwear Consumer 2030".
    .
    Uma das previsões feitas é:
    "Brands become more importantAs global trends gain importance, brands become more relevant and important"
    Como acredito em Mongo acredito que as marcas terão uma função cada vez mais importante, daí este postal recente "O papel da marca em Mongo (parte II)".
    .
    No entanto, é importante fazer dois esclarecimentos:

    • "As global trends gain importance" acredito no crescimento do número de marcas, cada vez mais marcas mais pequenas, para tribos mais pequenas e aguerridas. Acredito que existirão cada vez menos marcas globais relevantes porque Mongo é o fim do mercado de massas.
    • Um dos empresários presentes defendeu que as marcas no futuro serão cada vez menos importantes por causa daquilo a que chamo aqui de "hollowing" ou "radioclubização": "Consequências da radioclubização ou os muggles à solta" e "Leu aqui há vários anos..."
    Ontem, li "Oliver Cabell Wants To Disrupt The Luxury Fashion Market" e sinto que o tema do "hollowing" ou "radioclubização" anda por lá à solta:
    ""A lot of the traditional Western European brands were once family owned and focused on quality and exclusivity, since they were made in small batches in local factories," he says. "But many had been bought by larger conglomerates like LVMH that are publicly owned and feel shareholder pressures."
    .
    As he learned more, he discovered that there is not a lot of transparency in the manufacturing. Labeling practices are famously opaque: It is possible to make your product largely in Asia, then finish it off in Europe, and say your product is made in Italy or France. All of this makes it hard for the consumer to understand exactly what they are paying for. A $1,200 price tag on a bag no longer signals top-grade materials and craftsmanship."


    quarta-feira, fevereiro 24, 2016

    Plataformas, Mongo, emprego e confiança nas marcas

    Para ir complementando a evolução da economia baseada nas plataformas, referida recentemente em "Escrito nas estrelas" e em "Acerca do pós-Uber ou não, uma aposta" mais alguns artigos:

    • The Platform Economy Has Arrived [Moi ici: Não acredito na versão do autor, antes creio que no longo prazo as plataformas cooperativas vão sair vencedoras];
    • Platform Capitalism or Platform Cooperativism [Moi ici: Longe de ser "esquerdalho", ou okupa, ou syrizico, acredito e desejo que no longo prazo a economia das plataformas terá uma maioria de plataformas cooperativas];
    • Smooth operators [Moi ici: Reparar na forma como termina o texto
    "Earnings from Uber and the like are strongly correlated with negative shocks to incomes from other sources (capital platforms are used much more consistently). That suggests people use apps to smooth bumps in their earnings, which are frequent: more than half of JPM’s customers have seen their incomes swing by at least 30% in a month. Volatility in pay is largely responsible. Perhaps conventional jobs are not so great after all."
    Ou seja, está em curso este jogo de vasos comunicantes:
    A redução de empregos clássicos criados com o advento do Normalistão e que criaram a necessidade da escola do século XX, a ser complementada pelo crescimento dos empregos associados ao Estranhistão e às plataformas.
    .
    BTW, em "Acerca do pós-Uber ou não, uma aposta" escrevi:
    "A alternativa à Uber é fugir do preço, apostar na conveniência, na interacção e na confiança, muita confiança. E reforçar a ideia, a mensagem de que ao recorrer a uma plataforma cooperativa está a lidar com pessoas e o dinheiro é distribuído naquela comunidade e não centralizado num gigante"
    Há dias, o Paulo Peres chamou-me a atenção para esta apresentação:
    O Paulo referia-se à minha crítica à ideia de Itamar Simonson sobre o declínio das marcas.
    .
    Itamar no livro defende que isto que se segue está ultrapassado:
    Eu não concordo, e expliquei em "Leu aqui há vários anos":
    "Itamar Simondson e Emanuel Rosen não me convencem, não creio que o problema seja das marcas por serem marcas, o problema está no que o marcador "hollowing" conta, marcas que para chegarem ao maior número possível de pessoas se tornaram tão ocas, tão vazias, tão medianas que já só vivem da fama de outros tempos."
    A apresentação que o Paulo identificou, para suportar a tese de Simonson, mostra estes slides:


    O engraçado é que eu usaria os mesmos slides para suportar a minha tese. O que é que impede os restaurantes independentes, ou as plataformas cooperativas, de crescer?
    .
    O desconhecimento e a falta de confiança.
    .
    Com sistemas de avaliação pelos clientes, a barreira da falta de referência, logo, falta de confiança desaparece. E marcas independentes, próximas das tribos, dirigidas a tribos, têm vantagens sobre as marcas de mass-market que herdámos do Normalistão.

    sexta-feira, janeiro 01, 2016

    Começar 2016 olhando em frente!


    Qual a melhor maneira de começar 2016?
    .
    Olhando para a frente!
    .
    E o que é que encontramos pela frente?
    .
    .
    .
    .
    MONGO!
    .
    Sim, essa metáfora que uso sobre o mundo económico para onde nos estamos a entranhar, o Estranhistão.
    .
    Em "2016 Food Trends: Being Brand Agnostic, New Proteins, Delivery Shifts and 5 more" julgo que encontramos muitas das características desse mundo:
    "Trend #1. Agnosticism" [Moi ici: Aqui estou um bocado dividido e tentado a discordar do autor. Em Mongo teremos dois caminhos, ou entregar o produto ou serviço básico (estilo "Grab & Go") ou co-construir a experiência. As marcas grandes optaram há muito pelo básico e, por isso, serão vítimas daquilo a que chamo radioclubização ou hollowing e os clientes nada sentirão por elas. As marcas que optam por co-construir a experiência, por servir uma tribo, terão cada vez mais força, talvez não a força dos números grandes, mas a força dos Davids]
    A tendência que se segue é tão Mongo:
    "Trend #2. Have it your way...
    personalization will become pervasive...
    Food retailers will need to curate their offerings, and understand what all of their customers’ wants and desires truly are [Moi ici: Isto fez-me lembrar o falhanço da Papelaria Fernandes... algures no tempo quiseram fazer uma mini loja Staples, sem máquinas, num espaço caro e visitado por outro tipo de público... BTW, foi outra prova do tempo que foi superada] if they will remain in business and grow and compete with online sellers who continue to hone their algorithms and offerings based on purchase history." [Moi ici: Confesso que não tenho grande receio dos algoritmos, nos próximos anos, se houver humanos do outro lado. Em Outubro recorri ao Booking para reservar um quarto de hotel em Almeirim, por causa de uma visita de trabalho. Desde então, não voltei a precisar de dormir em Almeirim. No entanto, já recebi 17 e-mails parvos a oferecer-me "ofertas de última hora para Almeirim"]
    Em Mongo além da tribo e da personalização: a localização, a proximidade, a autenticidade e o DIY:
    "Trend #3. Bioregions:
    .
    “Local” has been one of the biggest trends in the supermarket aisles for almost ten years.
    ...
    A recent study by A.T. Kearney found that women and (with?) children – are willing to pay more for locally produced food. The ultimate in local? Growing lettuces, herbs and yes even kale in your own kitchen year-round without herbicides."
    Salami slicers?
    "Trend #4. Micro-stores:
    .
    Far from the everything-and-the-kitchen-sink hypermarkets, look for smaller, neighborhood grocers to spring up. These stores, such as ALDI (with over 1,400 locations in the U.S. and counting), Bfresh in Boston, Green Zebra in Portland are more relaxed, attentive and curated, with a heavy emphasis on products that Millennials yearn for, and buy. Excellent private and exclusive brands with prices that this generation can afford."[Moi ici: Recordar o que escrevi acima sobre o agnosticismo da tendência 1. Recordar o TOO BIG TO CARE]
    O que é que a loja disponibiliza, produto ou experiência? Produto ou saúde? Ainda me recordo, numa longínqua vida passada de engenheiro, achar que uma PME nunca precisaria de um marketeer. Hoje, sentir que não precisa é o que me faz espécie. E as mercearias do futuro precisarem dos serviços de nutricionistas?
    "Trend #5. A new way of eating:
    ...
    unless your store can disrupt the pattern by offering retail dietitians, health fairs and a 24/7 source of unbiased food and health information. In 2016 we will see new kinds of proteins that are more sustainable and affordable than animal sources. Algae, nuts, vegetable, yeast and even insects will be used as ingredients to up the protein punch and we will see development of new healthier profiles
    ...
    Look for an emphasis on “less is more” – fewer ingredients, and many more products touting their “free from” claims – free-from growth hormones, free-from GMOs ..."
    Algo que julgo está muito mais atrasado em Portugal, o à vontade da compra online:
    "Trend #6. Evolution of the millennial generation:
    .
    There are now more Millennials than Baby Boomers and although they got a late start in their careers they are now earning dollars, getting married and moving out of their parents homes. Millennials garner a lot of attention, and they buy very differently. There is no difference to buying online or in a store."
    Também neste sector a explosão do "home delivery":
    "Trend #7. A delivery shift:
    .
    It already feels as though you can order any food at any time and have it delivered in a flash, and that trend will only increase. One major change is that people of all age groups are willing to pay extra for that service."
    Por fim, é a experiência da compra ao contexto da sua confecção e usufruto:
    "Trend #8. Technology to the rescue:
    .
    In every way, from supply chain to point-of-sale systems to loyalty and more, technology continues to affect the food retail industry, and there’s no chance of that stopping. But as so many technologies flood the market, some of them aren’t that reliable. Retailers should be certain they have accurate and relevant information on their websites and apps, so shoppers don’t have to go to other sources – that may mislead. We cherish our mobile devices, and believe everything that is on the screen. The opportunity to retain a shopper relationship will come through information, service and empowerment. Now more than ever we need to equip store level personnel with information and technologies that can answer the questions that shoppers have. To create a food experience like no other with tastings and classes. To truly be the center of a community.
    .
    What will 2016 be like? More mobile. More delivery. More artisan. More curated. More delivered. More nutrition. More expensive."

    quarta-feira, dezembro 23, 2015

    Uma oportunidade

    "there are two kinds of Brand Leader in each category. One is the Market Leader, the biggest player, the brand everyone lives with—and, chances are, the brand they probably grew up with.
    .
    But there is also another type of Brand Leader: the Thought Leader, the brand in the category that everyone talks about. While not the biggest, it is the brand that is getting the most attention.
    ...
    Most of the brands we are looking at effectively made the decision that if they weren’t the first of these, they needed to be the other: If they couldn’t be the Market Leader, they needed to be the one everyone talked about. The one that was seen to be dynamic, the one with a sensed momentum.
    ...
    by surprising the consumer in selectively breaking not all, but one or two of the conventions of the category they were entering or reentering so late.
    ...
    But a Challenger enters (or reenters) a market late, almost by definition. And in entering late into a market, you have to differentiate yourself more strongly: You have to offer the consumer a powerful reason to choose you.[Moi ici: Dedicado especialmente às empresas que começam a exportar para um mercado novo]
    ...
    Category conventions offer a natural point of leverage to create this differentiation: The Challenger has to find a genuinely innovative insight into what the consumer really wants—and then play to that by taking one or two of those conventions and deliberately breaking them in the way it markets itself. This offers short-term leverage as the Challenger enters the market. It also offers an act of drama if that break is highlighted through publicity or advertising.
    ...
    It is important to stress that this kind of convention breaking is not just about making a splash to gain attention. While one is certainly looking to be noticed, the short-term aim is also to use that break with convention in order to communicate with impact one’s identity and positioning, and further the deepened consumer relationship that will come from that. Longer term, the goal is to reframe the  category territory, in particular the consumer’s selection criteria, to territory the Challenger has defined itself, and therefore to their own longer-term advantage. Changing the rules in the challenger’s favor."

    Trechos retirados de "Eating the big fish : how challenger brands can compete against brand leaders" de Adam Morgan.

    domingo, dezembro 20, 2015

    Too Big To Care

    Recordo muitas vezes este tweet de Tom Peters:
    Esta é a nesga que as PME podem usar para atravessar a fortaleza de Sauron e aproveitar a oportunidade do Estranhistão.
    "Large organizations are facing a crisis of trust. Big is becoming associated with bad.
    ...
     “Unfortunately, for many of our large coverage companies, this runs amok of their long-established brands as those are often identified as faceless machines of profitability and propaganda by many consumers, not as trustworthy or even high quality … [Moi ici: Recordar a radioclubização, o hollowing]  it remains a challenge for large companies to re-brand an incumbent brand and develop trust."
    ...
    People believe that big is bad. There’s an inverse relationship between the size of an organization and the perception of shared values. Our qualitative and quantitative research shows that the larger the organization / company / farm, consumers are more likely to believe that it will put profit ahead of principle—that it will put its own interests above consumer interests every time.”
    ...
    We are entering an era of brand switching and disloyalty where the Web becomes a huge comparison tool. We’re getting societies of distrust, where people become more and more cynical about the official story or the brand / establishment promise."
    E como é que a sua PME aproveita esta oportunidade? Como é que aproveita a vantagem da proximidade, da autenticidade, da personalização?
    .
    E como usa esta vantagem para construir uma estratégia? Para escolher os clientes-alvo e as prateleiras onde expõe a oferta? Pergunte-nos como.

    Trechos retirados de "The bigger the brand the less it is trusted"

    sábado, outubro 17, 2015

    Cuidado com os muggles (parte II)

    Parte I.
    .
    E volto ao artigo do Expresso, agora por causa da Viarco.

    O tema não é novo, já o abordámos em "Nós fazemos as contas ao contrário" e tem tudo a ver com o value-based pricing
    ""Na indústria o que acontece é o seguinte: apuramos um custo e percebemos qual vai ser a margem de lucro. [Moi ici: O modelo cost plus pricing, a fórmula dos muggles que leva inexoravelmente à radioclubização] Quando fazemos o processo ao contrário, como nós, que queremos perceber qual o valor perceptível do produto, acontece uma coisa muito interessante: temos a ideia, desenvolvemos o produto, pedimos para o experimentarem (temos uma rede muito generosa de artistas com quem trabalhamos) e perguntamos quanto estariam dispostos a pagar. Fazemos as nossas contas a partir daí. [Moi ici: O modelo seguido por quem acredita e potencia a magia, o value-based pricing] Normalmente, ficamos com uma margem de mais de 20% ou 30%, o que é muito, muito mais interessante", [Moi ici: Como eu o entendo, alguém que conhece o Evangelho do Valor] explica. E desta forma deixa de competir diretamente nos lápis de cor com multinacionais como a Faber-Castell, a  Staedtler, a Caran d'Ache, "o chinês, o indiano, o paquistanês"."
    No postal de 2014 que referimos acima vejam a surpresa dos muggles com esta abordagem ao preço e com a produtividade que não é conseguida à custa do eficientismo.

    Radioclubização parte III (outra vez Mongo e mais do que a cerveja)

    Parte I e parte II.
    .
    Começámos a parte I com:
    "Millennials would rather support small, local brewers, even if they have to spend a little more money,"[Moi ici: Porquê? Ver a parte II e o "just enough"]
    Anteriormente em "O que a Unicer estará a fazer" escrevemos:
    "O que a Unicer estará a fazer é a livrar-se das interrupções para produzir pequenas séries e que disrupcionam o modelo das bolas azuis da figura.
    .
    Não sei se é a melhor opção estratégica, contudo; é perfeitamente defensável. Claro que isto abre o flanco a futuras marcas "artesanais" de sumos e refrigerantes."
    Quando escrevi isto estava a pensar em abstracto, estava longe de descobrir, via "Eating the Big Fish" de Adam Morgan, um exemplo concreto, a marca inglesa innocent.
    Fundada por 3 amadores em Inglaterra em 1999, em 2014 era já a bebida fria mais vendida na Alemanha, Áustria e Dinamarca. (Marca entretanto comprada pela Coca-Cola).
    .
    Entretanto descubro isto "California distilleries get into spirits of handcrafting":
    "In the midst of a Renaissance for carefully crafted spirits, artisan distilleries like Greenbar have boomed in California and across the nation — there are now nearly 800, up from only about a dozen in 2000.
    ...
    These pricier artisan spirits are a growing niche of the $60-billion U.S. spirits market, with 2% of sales last year, according to the American Craft Spirits Assn. The volume of craft spirits produced has nearly doubled in the last two years, the trade group said.
    ...
    "There will be an explosion of more and more small distillers," said Lance Winters, master distiller at Alameda, Calif.-based St. George Spirits, the first craft distillery in the nation. "Hopefully because of the fact that there will be a lot of competition, people will be really working hard to differentiate themselves from one another.""[Moi ici: Interessante e lógico que o factor competitivo aqui não é o preço mais baixo]
    Mais uma série de exemplos sobre o Estranhistão em que nos estamos a entranhar, um mundo económico com lógicas competitivas diferentes, capazes de fazer encalhar qualquer membro da tríade.
    .
    Enquanto as marcas velhas continuam focadas numa vantagem competitiva baseada na eficiência, vão surgindo cada vez mais nichos para servir os que procuram uma experiência diferenciada.


    sexta-feira, outubro 16, 2015

    Radioclubização parte II

    Em sintonia com o postal de ontem "Consequências da radioclubização ou os muggles à solta":
    "Built on Rock...
    There are, broadly speaking, two kinds of rock available to us: a brand (or company) truth and/or a product truth.
    ...
    Knowing that our brand is different - better than the Establishment brand we are taking on in some key dimension - affects not simply our own performance and attitude, but the relationship with our customers. Brand Leaders operate a ‘‘just enough’’ strategy. Just enough mushrooms in the sauce, just enough thoughtfulness in the ergonomics of the bottle, just enough quality control in the product sourcing, just enough courtesy at the check-in desk—and only one packet of peanuts per passenger per flight. There is a story about Henry Ford that dramatizes the ‘‘just enough’’ philosophy nicely: Ford used to send his people out to scour the scrap heaps of America looking for old Ford engines. Dragging them back to Detroit, they would look for the parts that hadn’t worn out and then downgrade the specifications to save money.
    .
    Yet while ‘‘just enough’’ is at some level simply good commercial sense for a Brand Leader, it creates an opportunity for the Challenger to create product enthusiasm, not just product satisfaction. Robin Wight has observed that brands that enjoy an iconic status in consumers’ minds are not so much engineered (in the broadest sense of the word) as overengineered: They offer not just product performance but product overperformance - that is, they honor the brand promise by offering the consumer in their product dramatically superior performance on some dimension chosen by the Challenger."
    E para temperar as interpretações sobre o que pode ser esta "overperformance:
    "Many of the Challengers we are discussing reflect Wight’s concept of overperformance - indeed, they parade it. They are more deliberately extreme than the Brand Leader not simply in the emotion and intensity of the way they talk about themselves, but also in the product performance they offer.
    ...
    Does overperformance mean premium, or quality? Not necessarily.
    ...
    (Even Southwest Airlines, in its own way, overperforms—it overperforms on enthusiasm and friendliness. It may not be to everyone’s taste, but it is very engaging to those who like it.)
    ...
    Its other value is to create supreme self-belief and conviction within the company, and this is something that can be detected by those outside the company. Overperformance shows the company really cares about the product, which in turn means it is committed to delivering on the brand promise. And it gives the company the confidence to be a Lighthouse."
    Trechos retirados de "Eating the big fish : how challenger brands can compete against brand leaders" de Adam Morgan.

    quinta-feira, outubro 15, 2015

    Consequências da radioclubização ou os muggles à solta

    No postal anterior terminámos com a citação:
    "Millennials would rather support small, local brewers, even if they have to spend a little more money,"
    Os muggles não só não acreditam na magia como a destroem quando ela existe.
    .
    Ao longo dos anos através dos marcadores:
    • radio clube;
    • hollowing
    • centromarca
    E em postais como:
    Fomos aqui testemunhando a destruição de valor provocada por muggles à frente de empresas que um dia tiveram e faziam magia, através daquilo a que metaforicamente chamo de "hollowing" e de "radioclubização". Quando uma marca, outrora poderosa e querida pelos seus clientes ou aspirantes a isso, optou algures por deixar de apostar na criação de magia, de interacção, de co-criação de valor e começou a dar prioridade à redução de custos, começou a descurar o cuidado naquilo que a fazia diferente. Com o tempo, a erosão acaba por transformar essa marca numa espécie de aristocrata arruinado, habituado a boa-vida mas já sem os recursos para a suportar. Assim, acaba por ser uma carapaça enganadora por fora e oca por dentro.
    .
    Já aqui referi um americano, Chamberlin, um verdadeiro promotor da concorrência perfeita. O académico era tão defensor da concorrência perfeita que advogava o fim de todos os monopólios, mesmo dos informais. As empresas não deveriam, segundo ele, poder usar marca comercial ou outras ferramentas de marketing e de identidade que permitissem criar diferenciação. A diferenciação cria um campo de possibilidades que se alimenta e gera novas formas de promover a concorrência imperfeita e os tais monopólios informais.
    .
    Já aqui referi por várias vezes o marxianismo, a crença de que o valor de um produto reside no trabalho que nele foi incorporado até ao momento da transacção. A maior parte das empresas segue este pensamento, ainda que não o reconheça, quando, por exemplo, pratica o cost+plus pricing.
    .
    Sem magia, os clientes concentram-se nas funcionalidades do produto e aí, começam a interrogar-se sobre se o preço que pagam é justo face ao valor que recebem...
    .
    Sintomática e previsível esta evolução "An emerging trend in retail should scare everyone from Michael Kors to Macy's"
    "Consumers are increasingly questioning the prices behind the products they buy — and this trend is challenging some of retail's biggest heavyweights.
    .
    Retail startup Everlane, which claims to offer better prices on clothing, encourages consumers not to shell out at department and specialty mall stores.
    .
    "Know your factories. Know your costs. Always ask why," the company's "about" page reads."

    Isto faz-me recordar este postal "O marxianismo entranhado (parte II)" de Outubro de 2009 mas tão actual:
    ""The relative values of commodities are, therefore, determined by the respective quantities or amounts of labour, worked up, realized, fixed in them"... à posteriori até sinto algum embaraço... esta visão marxiana ignora o cliente, o consumidor, que é quem atribui o valor.
    .
    O valor não é algo de intrínseco às coisas, aos produtos e não tem nada a ver com a quantidade de trabalho que foi necessária para a sua produção. O valor é atribuído por quem compra."
    Qual a alternativa que proponho às PME?
    .
    .
    .
    Que pensem nisto: "Value it's a feeling, not a calculation"
    .
    Que pensem nisto: O valor é uma classificação subjectiva, muito pessoal, que alguém, o cliente, atribui não a um produto, mas à experiência que esse produto permitiu sensoriar.
    .
    Os muggles apoucam, erosionam a experiência e acabam por remeter a questão do preço para o lado objectivo, para o lado matemático e aí é uma corrida para o fundo... tablets a $50 USD quem vai ter medo? Quem vai aproveitar?
    .
    Que viajem é que a sua PME pode iniciar para se entranhar de magia, para apostar no valor durante o uso e não só no valor na transacção?
    .
    Fará sentido co-construirmos juntos esse caminho?

    quinta-feira, janeiro 08, 2015

    Escolhas com consequências

    "Hollowing", ou também, "radioclubização" o que acontece quando uma marca abandona as práticas que a levaram até um certo patamar, para enveredar pelo "cost-cutting".
    .
    Numa altura em que a economia acelera, manter ou adoptar longas cadeias de fornecimento representa correr com um saco de pedras às costas.
    "Tem sido chamado o segredo sujo da moda, mas segundo Miuccia Prada, em breve toda a gente vai fazê-lo. [Moi ici: Não o creio, só os incautos ou gananciosos é que vão cair nessa. Afinal a Gucci também se abastardou, sinal de que nenhuma marca aguenta tudo] O “made in China” é bom para a figura suprema da Prada e para uma série de outras figuras influentes da indústria. Mas para as empresas e designers chineses que tentam tornar-se players mundiais de estilo, produzir vestuário de gama alta no mercado interno é complicado. [Moi ici: Um interessante contraste] As barreiras alfandegárias, questões de percepção de marca e o sourcing de certos tecidos combinam-se para formar um obstáculo a que concorram internacionalmente com um produto exclusivamente feito em “casa”."
    Um bom desafio para o sector têxtil em Portugal, um desafio para 20-30 anos, uma estratégia de trajectória, para fazer subir o cluster na escala de valor:
    "«A nossa linha comercial (Ports International) é luxuosa e muito bem confecionada com alguns tecidos caros. Mas quando estamos a produzir em Itália, há certas coisas artesanais que estamos a fazer a um nível muito elevado de designer que não são propriamente realizáveis na China. Além disso, os melhores materiais vêm de Itália. Levá-los para a China e importar de volta é também um exercício que leva tempo e aumenta os custos. Sim, Itália é mais cara, mas para o que se obtém, o valor ainda existe», acredita."

    Trechos retirados de "“Made in China” não convence"

    quarta-feira, novembro 13, 2013

    Um exemplo de radioclubização?

    Costumo dizer que produzir é o mais fácil porque difícil é vender. Contudo, isso não significa abandonar a aposta, o investimento no produto.
    .
    Quando uma empresa desiste de investir no produto, entra naquilo a que chamo a radioclubização (aqui e aqui), tornando-se cada vez mais ôca, "hollowing", até que fica uma carcaça sem potencial valor intrínseco que apenas vive da ilusão criada pelo marketing.
    .
    E isso resulta até um certo ponto.
    .
    Foi disto que me lembrei ao ler "Abercrombie & Fitch: el riesgo de ser sólo ‘sexy’":
    "“es de esperar cuando un modelo de negocio está basado al 90% en la marca y no en el producto”"

    segunda-feira, junho 03, 2013

    Um exemplo, uma lição para as futuras marcas das PMES

    Enquanto lia "Make What You Sell: A New Breed of Manufacturers" pensava em quão raro é uma empresa industrial em Portugal se abrir para visitas pelas pessoas comuns e pensava até que ponto, para certos negócios, essa abertura para os bastidores não traria vantagens para a imagem, para a marca.
    .
    Entretanto, em "The Chinese Pork Panic of 2013" leio:
    "The most valuable technology—without which a modern consumer economy would be impossible—is the power of brand reputation that allows consumers to eat the pork that emerges from these opaque industrial processes with confidence."
    e cruzo com "5 Stops on a California Cheese Trail" e penso: AUTENTICIDADE
    "the epicenter of California’s lively artisanal cheese movement. Twenty-two thousand acres of land in the two counties are currently used to produce almost 100 different cow, sheep, goat and water buffalo milk cheeses as well as fermented products like yogurt and crème fraîche. The cheeses are all made primarily by hand, in small batches, and in keeping with cheesemaking traditions — hence the artisan designation — and most are also classified as farmstead, meaning they are made on a farm with milk from its own animals.
    ...
    but I also met the people behind them and saw firsthand their multiple passions: for the craft of cheesemaking; for their cultural heritage; for the animals they raise; and for the beautiful, bountiful land on which they depend."
    Tantos pensamentos, tantas oportunidades, tantas possibilidades...
    .
    Enquanto assistimos ao "hollowing" das marcas estabelecidas, das marcas tradicionais (ainda esta manhã, a caminho de Felgueiras, só abanava a cabeça ao apreciar ser ultrapassado por uma espécie de SUV da... Volvo, por isso é que vão acabar, por terem perdido o espírito da marca dos anos 70 e 80)  talvez o futuro das futuras marcas das PMEs passe pelo truque francês.
    .
    Uma grande lição, no meio da guerra da commodity alimentar que é o leite, quando o pensamento afunila e parece que não há alternativa...
    .
    Continua.

    domingo, maio 26, 2013

    O regresso do artesão

    Já aqui escrevi várias vezes sobre o fenómeno da "radioclubização", aquilo a que, em inglês, se chama "hollowing".
    .
    Uma marca que em tempos representou algo muito valorizado porque era escasso; entretanto, mudou, mantendo para o exterior essa aura de superioridade, enquanto internamente se abastardava, ora recorrendo à produção em massa, ora recorrendo a materiais mais baratos.
    .
    A Louis Vuitton recentemente começou a tentar travar esse percurso:
    "Louis Vuitton detiene su expansión. La firma, propiedad del conglomerado LVMH, ha decidido dar un cambio a su estrategia y paraliza su internacionalización con el objetivo de proteger su imagen.
    ...
    la importante penetración internacional de Louis Vuitton en todo el mundo ha puesto en riesgo su exclusividad y la ha acercado demasiado al público general."
    Certamente já a pensar nisto.
     .
    Entretanto, a Hermés continua a sua saga para justificar os seus preços e para criar/reforçar uma ideia, um posicionamento na mente dos clientes actuais e potenciais: "A luxury house take its artisans on a global tour":
    "an attempt to ground the myth in reality and to justify the often exorbitant price points by showing, not telling, consumers about the work that goes into each product."
    Será também uma reacção à cultura da chiclete? (mastiga, sem demora e, depois, deita fora)
    .
    Por um lado, com o fim da colecção de CD's (estão no iCoiso) e com o fim da biblioteca (está no iCoiso) até que ponto a nossa relação com as coisas está a mudar...
    .
    Por outro lado, recordo o que Nassim Taleb escreveu em "Antifragile" sobre a efemeridade de tudo o que cheira a tecnologia moderna e da permanência do que é artesanal:
    "I am initially writing these lines longhand, using a seasoned fountain pen. I do not fuss over the state of my pens. Many of them are old enough to cross decades; one of them (the best) I have had for at least thirty years. Nor do I obsess over small variations in the paper. I prefer to use Clairefontaine paper and notebooks that have hardly changed since my early childhood—if anything, they have degraded in quality. But when it comes to transcribing my writing into electronic form, then I get worried that my Mac computer may not be the best tool for the job. I heard somewhere that the new version had a longer-lasting battery and I plan to upgrade soon, during my next impulse buying episode.
    ...
    But consider the difference between the artisanal—the other category—and the industrial. What is artisanal has the love of the maker infused in it, and tends to satisfy—we don’t have this nagging impression of incompleteness we encounter with electronics. It also so happens that whatever is technological happens to be fragile. Articles made by an artisan cause fewer treadmill effects."

    Obrigado caro "notes" pela referência,

    terça-feira, fevereiro 12, 2013

    A radioclubização das marcas

    Esta história da carne de cavalo "Lean Six no seu prato?" ilustra aquilo a que chamo a radioclubização das marcas.
    .
    As marcas (basta pesquisar Centromarca neste blogue) criticam as práticas seguidas pela grande distribuição com as suas marcas próprias. No entanto, o que os clientes vêem, muitas vezes, são carapaças que embalam algo sem o potencial de valor que apregoam, são pálidas imagens de um passado "glorioso" sacrificado no altar do eficientismo.
    .
    Reparem no circuito que se destapa com esta investigação... o consumidor fica satisfeito? O consumidor fica imperturbável? Onde está o valor da autenticidade? Onde está o valor da marca? Como fica a confiança?
    .
    Ontem, Seth Godin escreveu este postal "Humanize it". Escreveu-o a pensar nas pessoas, a pensar nos fazedores (makers), a pensar nos artistas. Contudo, também o recomendo às PMEs:
    "What industrialists do: They dehumanize what they make, so it is the brand and the organization and the factory that is known and trusted (Moi ici: Trusted?), not the person on the line. (This is not always a bad thing--there are many items where consumers prefer perfect instead of human).
    ...
    The only alternative is to humanize our work. To create something that only you could have made, or said, or conceived of. When it looks and feels like you, when you are the trusted source (not an anonymous trademark) then you are on the spot, under pressure and deservedly valued."
    Descubro no Twitter estas frases de @nilofer:
    "Relationships are to the Social Era what efficiency was to the Industrial Era.
    And we all remember what relationships are built on, don't we? Trust. The asset as valuable as capital, oil, land, silicon." 

    quinta-feira, janeiro 19, 2012

    Vantagens da autenticidade

    Enquanto no Ocidente muitas e muitas marcas que foram grandes no passado, entraram na vertigem da radioclubização, ao apostarem mais na redução dos custos do que na criação de valor potencial para os seus clientes, compensam a erosão do valor da marca com redução de preços, promoções, saldos e sei lá que mais:
    É interessante verificar esta evolução na Ásia:
    Vantagens da autenticidade e uma oportunidade a agarrar por quem a pode reclamar!