terça-feira, novembro 22, 2016

O regresso da indústria à Europa

Da próxima vez que ouvir ou ler um adepto de Trump, da direita ou da esquerda, um daqueles que apela ao proteccionismo, lembre-se da minha teoria da conspiração e deste texto "Exportadores chineses sob pressão":
"Há uma década, os compradores teriam feito fila na maior feira profissional da China de importação e exportação para fazer negócios com as empresas têxteis que vendem matérias-primas e vestuário a uma fração dos preços cobrados em Itália ou nos EUA. Na última edição, contudo, os exportadores chineses afirmaram à Reuters que esse tipo de fila desapareceu.
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Os exportadores têxteis, um símbolo da produção a custos baixos por detrás das economias “tigre” da Ásia, revelaram na Feira de Importação e Exportação de Cantão, no sul da China, que estão a ser esmagados pelo aumento dos custos.
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Ainda há compradores estrangeiros – e a China continua a ser, de longe, a maior exportadora de têxteis –, mas estes estão a voltar-se cada vez mais para a Índia, para o Paquistão e até de novo para a Europa, à medida que a diferença de preços diminui, explicam os exportadores chineses.
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A transformação económica da China significou uma subida dos padrões de vida, mas também um aumento dos salários, forçando as empresas a ascenderem na cadeia de valor para continuarem competitivas.
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«Venho há feira há 10 anos. No seu pico, as pessoas faziam fila para falarem connosco», referiu um exportador sediado em Shenzhen que vende toalhas e outros artigos, um dos 8.239 expositores presentes na terceira fase da feira. «Agora há poucas pessoas. Há mais expositores do que compradores estrangeiros», apontou.
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Entre as principais dores de cabeça para os têxteis e para os produtores de gama baixa estão os salários. Os salários médios na China cresceram a uma taxa composta anual de mais de 12% – de 4.538 yuan em 1994 para 45.676 yuan por ano em 2013, de acordo com a All-China Federation of Trade Unions."
Este não é o único motor por trás do regresso da indústria à Europa. Não esquecer o aumento da importância da proximidade produção-consumo, por causa da interacção e da co-criação que acabam por exigir rapidez, flexibilidade e customização.
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O que farão as multinacionais com os activos empatados na China? Muitas, seguiram o caminho oposto deste conselho:

Nesse afã, optaram pela radioclubização, pelo hollowing, perdendo competências de desenvolvimento e de produção, tornando-se em traders, em carcaças ocas, em aristocratas arruinados que conseguem enganar cada vez menos clientes com uma etiqueta ligada a uma tradição.

Por isso, este é também um tempo para novos começos e para novas marcas.

Ah! Se tivéssemos políticas antifragilistas no poder ... podíamos ser algo mais do que esta sobrevivência comunitária a conta-gotas dependente dos humores legítimos de quem tem capital.

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