sexta-feira, agosto 25, 2006

Mais uma vez: o que interessa são os resultados (a eficácia), não os procedimentos

Hoje de manhã, ao tomar o pequeno almoço, reparei na capa da revista PROTESTE do mês de Setembro de 2006. O título mais saliente na capa deverá, espero eu, fazer muita gente pensar:

"Inspecção periódica - 30 centros visitados, 30 reprovados".

Na página 11 aparece a imagem de uma ficha de inspecção, nela, no canto superior esquerdo é possível ver este símbolo:


Todos os centros de inspecção periódica que operam legalmente em Portugal são obrigados a serem entidades acreditadas pelo Instituto Português da Qualidade (IPQ):

"Ao contrário do que acontece na maioria dos países europeus, onde a acreditação é um acto voluntário, em Portugal o sistema de acreditação é obrigatório, ou seja, a própria legislação obriga a que as entidades, para o exercício da actividade da inspecção, tenham que ter o seu sistema da Qualidade acreditado. Isto por si só é uma garantia de que o sistema é credível e organizado. É uma garantia para o cidadão que os centros de inspecção prestam serviços de qualidade. No Congresso Mundial de Inspecções Técnicas Automóveis (CITA) verifiquei, com alguma alegria, que Portugal é um dos países que tem um sistema de qualidade acreditado. Já o disse várias vezes e reforço a minha convicção de que temos em Portugal, um dos sistemas de inspecções automóveis mais eficazes ao nível da Europa. "


Depois de ler o artigo da PROTESTE, a leitura deste texto (digitar "Empresas de Qualidade" e depois "Condução Automóvel" e, escolher a entrevista com o presidente da ANCIA") só pode:
  1. provocar um riso cínico;
  2. indignar porque vivemos e pagamos uma fraude;
A "President's Management Agenda" para o ano fiscal de 2002 dá a receita adequada:

"Focus on results. A mere desire to address a problem is not a sufficient justification for spending the public’s money. Performance-based budgeting would mean that money would be allocated not just on the basis of perceived needs, but also on the basis of what is actually being accomplished.
Impose consequences. Underperforming agencies are sometimes given incentives to improve, but rarely face consequences for persistent failure. This all-carrot-no-stick approach is unlikely to elicit improvement from troubled organizations. Instead, we should identify mismanaged, wasteful or duplicative government programs, with an eye to cutting their funding, redesigning them, or eliminating them altogether.
Demand evidence. Many agencies and programs lack rigorous data or evaluations to show that they work. Such evidence should be a prerequisite to continued funding. "

Ou seja, se o estudo da PROTESTE for representativo da realidade dos centros de inspecção automóvel... alguma coisa deveria mudar, a começar pelas auditorias do IPQ. Já estou a imaginá-las, muito enfoque em procedimentos e papeis e pouco ou nenhum na eficácia.

No final dos anos 80, a empresa onde trabalhava tinha o seu laboratório de ensaios acreditado para a realização de ensaios a águas.
No âmbito da acreditação, além das auditorias realizadas pelo IPQ, tínhamos de participar em exercícios do tipo "round robin". Enviavam uma amostra "cozinhada pelo IPQ" para vários laboratórios acreditados e pediam a sua caracterização. Depois enviavam um relatório onde comparavam o desempenho do laboratório com os outros laboratórios paarticipantes e com os resultados "verdadeiros".

Adorava este tipo de desafio, não bastava ter técnicos formados, procedimentos e equipamentos correctos, era o todo que tinha de funcionar.

A participação nestes exercícios era "quase" obrigatória, além disto havia uma associação, a RELACRE, que organizava encontros, acções de formação, e produzia artigos técnicos, tudo para melhoria e uniformização das técnicas laboratoriais, não de procedimentos e tretas de consultor.
Será que este artigo vai mudar alguma coisa?
E para terminar... eheheheheh... já estão a imaginar o contributo da certificação ISO 9001 para termos empresas mais eficazes, mais competitivas!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo Engenheiro, o País precisa de si, do seu entusiasmo, da sua pedalada, da sua inteligência, do seu sentido de humor. Mas deixe-me dizer-lhe que, concordando embora consigo em que o que importa são os resultados, nunca devemos perder de vista que os fins não justificam os meios. De acordo? E ria-se um pouco com esta pérola do Público de hoje, página 24: " Em 2000, um sueco matou a mulher a bordo de um catamarã e uma traineira recolheu-a, sem vida, ao largo de Portimão". No comments.
Até me ri, sabe? Coisa que não tenho feito muito ultimamente... Ciao. Avó Pirueta

CCz disse...

Cara Avó Pirueta:
De acordo os fins não justificam os meios.
Penso que também concordará que os meios não justificam os fins, ou seja, enunciam-se uns fins pouco claros, consensuais, para depois justificar o despejo de recursos em meios, e nunca mais se ligar aos fins.