quarta-feira, março 06, 2013

Como pão para a boca

"Esta deve ser a aposta forte das empresas para aumentarem o seu negócio e conquistarem mais clientes, mas há quem continue a olhar para o design como um custo"
Recomendo a leitura de "Not just a pretty face: economic drivers behind the arts-in-business movement" de Robert D. Austin e Lee Devin, publicado no Journal of Business Strategy (2010).
"In the market place, products and services with aesthetic dimensions often command startlingly high prices (a Bang & Olufsen TV) or sell in volumes that dwarf less sophisticated offerings (Apple’s iPod). Some of these products and services appear immune from the progression toward commoditization that innovation research portrays as inevitable. High profit margins, big sales volumes, immunity from commoditization – these command the attention of the most bottom-line-fixated managers.
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Might enthusiasm for innovation be a ‘‘bubble’’? No, there’s something more fundamental at work here. This buzz is not a fad, but a symptom of executives’ mostly intuitive (but increasingly urgent) understanding of two fundamental technology-driven tectonic shifts in the business environment. These shifts and their accompanying seismic upheavals will change the way firms compete, especially established companies based in developed economies. Both shifts point managers toward art, art making, and aesthetics – territories unfamiliar to many, but in which they will soon need to build competitive capabilities.
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Executives of established firms in developed economies, bracing for a battle against foes with insurmountable cost advantage, naturally seek less-cost-dependent strategies.
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Michael Porter has argued that companies can successfully employ one of two generic strategies, but not both. A company can compete via cost leadership, in effect saying to its customers ‘‘Buy my products (or services), they’re just as good as others, but they’re cheaper.’’ Or a company can compete via differentiation, saying to customers, ‘‘Buy my products (or services), they cost more than others, but they’re better.’’ The rise of companies and brands competing from low cost regions, with access to a nearly infinite supply of low cost labor, suggests to firms in developed economies that they may soon have difficulty maintaining cost leadership (if they aren’t already). Some form of this realization usually starts managers in established firms thinking harder about differentiation strategies.
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Companies will need to figure out how to convincingly sell beauty, meaning, and experience, and that’s going to require that they think about aesthetics with a certain degree of expertise and coherence"
Temos de ligar ainda isto com  "somos todos alemães" e com a TSU para exportadores. Design, tão importante para as empresas como pão para a boca.

À atenção dos novos velhos.

É estrangeiro e comissário europeu, deve ser um Deus

""Não sou proteccionista, nem nacionalista, mas parece-me que há uma necessidade de ter as mesmas regras na Europa e fora dela. É impossível ir a Pequim e o Benfica jogar com 9 e o Beijing FC com 13 jogadores. Jogamos no mesmo campo, e devemos jogar com as mesmas regras", diz Antonio Tajani, vice-presidente da Comissão Europeia e comissário europeu da Indústria e Empreendedorismo."
Blá, blá, blá, blá, blá.
"After attending a classical high school in Rome, he earned a degree in Law at the Sapienza University of Rome.
Tajani was an official in the Italian Air Forces. After attending a specialized air defense course, he became radar controller.
Tajani has been a professional journalist, editor of parliamentary affairs for the weekly "Il settimanale", presenter of Rai Radio 1 news programme, and head of the Rome editorial office of the newspaper "Il Giornale", owned by the Berlusconi family. He was special envoy to Lebanon, the Soviet Union and Somalia."
O que é que na sua experiência de vida o habilita?
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Trechos retirados daqui e daqui.

terça-feira, março 05, 2013

Curiosidade do dia

"Ikea retira tartas posiblemente contaminadas con materia fecal. El gigante sueco ha anunciado la retirada de estos productos de sus cafeterías en 23 países después de que las autoridades sanitarias chinas alertaran de un nivel excesivo de bacterias coliformes" (fonte)
Interessante que tenham sido as autoridades chinesas a detectar algo que em outros 22 países não foi detectado.
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IKEA com cafetarias em 23 países... qual é mesmo o negócio da IKEA?
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Depois das almôndegas, agora os coliformes fecais... o que é que isto nos diz sobre a capacidade de controlar cadeias de abastecimento super eficientes?
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A low-cost food é awesome, não é?

Títulos para todos os gostos


Como o conteúdo está comoditizado, tenta-se a diferenciação pelo título que mais se ajuste ao perfil de quem ainda compra o jornal?

BTW, deve ser a isto que chamam espiral recessiva.

Retoma, espiral recessiva e a conversa das marés

Falar de retoma e falar de espiral recessiva, é a mesma perspectiva... olha-se para a economia como uma realidade homogénea porque só se olha para os indicadores do agregado.
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Recordo este postal de Janeiro de 2007, "A retoma da economia"


Ontem, em Espanha, "Desempregados em Espanha superam pela primeira vez os 5 milhões". Há dias, em Portugal "Desemprego em Portugal atinge 17,6% em janeiro"
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Só que a economia não são os indicadores que seguimos, nem é o modelo simplificado que seguimos:
"Pequeña recuperación del empleo en la moda española durante el mes de febrero. Las empresas de la industria textil, de la confección y del cuero y el calzado registraron una media de 130.252 afiliados a la Seguridad Social durante el mes de febrero, 1.108 más que en mes anterior.
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El aumento mensual, del 0,9%, contrasta con el estancamiento del empleo en el conjunto de la economía española: el número medio de afiliados cayó en febrero en España un 0,1% en relación al mes precedente, con 18.712 trabajadores menos." (fonte)
E
"A indústria de calçado está a aproveitar as oportunidades surgidas com a crise para assegurar novos ganhos de competitividade - em curso estão projectos de investimento de 45 empresas, num total de 25 milhões de euros.
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Mas a elevada concentração da indústria em regiões como Felgueiras está a causar dificuldades na contratação de pessoal.
Um paradoxo numa altura em que o desemprego atinge recordes em Portugal. Para muitos empresários, a solução passa por ter carrinhas a assegurar o transporte diário de trabalhadores de concelhos distantes; para outros o crescimento passa pelo investimento em novas fábricas no interior do País." (fonte)
Dar à luz uma economia mais sustentável não se faz sem dor, e não ver as mudanças que estão a acontecer é entrar no jogo dos partidos.

BTW, isto também é bom para o têxtil português "La moda española eleva un 13,3% sus exportaciones a los mercados BRIC"

É a vida

Em tempos escrevi "Mais um monumento à treta - parte II" e, "Factos versus retórica", acerca das organizações que escolhem indicadores sobre as actividades que desenvolvem, como forma de avaliarem o seu desempenho.
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Custa muito pôr o pescoço no cepo, ás vezes, nem actividades se medem, mede-se... sei lá o quê.
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Se conhecerem alguém que sofra desta doença, que confunda actividade com resultados, que confunda desempenho com quantidade de trabalho e que tenha medo do julgamento via resultados, indiquem esta brochura que descobri via @GrahamHill, "Impacts and Outcomes of Local Authority Regulatory Services".
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Imaginem o que é uma organização medir o seu desempenho só com base nas actividades que desenvolve... e esquecer, ou esconder que:

  • as actividades geram saídas;
  • as saídas geram resultados; e 
  • os resultados geram impactes.
Os que fogem dos resultados e dos impactes pensam no seu futuro, não no da sua organização.

Um exemplo de como funciona um modelo de negócio que dá resultado no sector têxtil

Um exemplo de como funciona um modelo de negócio que dá resultado no sector têxtil:
"Em vendas a empresa soma mais de 1.7 milhões de t-shirts por ano, todas destinadas à exportação, para vestir mulheres europeias, mas também dos EUA. Canadá e Austrália, três novos mercados que a Givec está a explorar para alargar e diversificar a sua base comercial. "É uma oportunidade descoberta nas feiras europeias do sector. (Moi ici: Que prateleiras usar? Onde expor a oferta?)
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Na estrutura do negócio, a empresa segue um modelo pouco usado na indústria têxtil portuguesa. (Moi ici: Ao ler o que se segue recordar o que repito aqui muitas vezes, e que uso para chocar empresários que olham demasiado para dentro da fábrica, produzir é o mais fácil, difícil, difícil é vender) A Givec trata da área comercial, do controlo de qualidade e da criação, mas deixa a actividade industrial ao cuidado de terceiros. Um grupo de trabalho criado com fornecedores da região responde pela produção das malhas, e confecção, tinturaria, estamparia, lavandaria e acessórios. Esta malha envolve directamente dez empresas têxteis da vizinhança e mais de três mil pessoas, permitindo à Givec manter a sua estrutura interna reduzida a 47 trabalhadores, 25 dos quais na área criativa.  (Moi ici: Quais são os recursos-chave? Quais são as actividades críticas? Quem são os parceiros-chave?) "Como os fornecedores estão todos na vizinhança, tudo funciona de fortim eficiente e rápida e, assim, somos muito mais flexíveis a responder ao mercado",  (Moi ici: O que prometer na proposta de valor? Sem dúvida flexibilidade e rapidez) justifica Isabel Correia, que divide a direcção da empresa com o irmão
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A especialização nas t-shirts 100% algodão"  (Moi ici: Especialização, concentração, focalização)
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Vocacionada para trabalhar marcas próprias desde a sua criação, com urna equipa limitada a três pessoas. a Givec cresceu com uma estratégia assente na inovação, design e resposta rápida. (Moi ici: O que prometer na proposta de valor? Sem dúvida inovação, design e resposta rápida) Na empresa, fazer t-shirts não significa produzir um artigo básico. "Trata-se de criar um produto diferenciado, com foco na qualidade, na construção, na resistência e durabilidade, na imagem gráfica", sublinha a administradora. E este é um trabalho desenvolvido internamente, desde os testes à matéria-prima, à criação dos estampados e de 300 modelos por colecção, à preocupação com o corte e a silhueta em todos os tamanhos. Fazemos protótipos que os fornecedores vão usar é uma das missões internas. Produzir a primeira camisola de cada um dos modelos criados, repetindo a tarefa as vezes necessárias até concretizar o conceito também é um trabalho da equipa da Givec." 
Um exemplo de como funciona um cluster com empresas que ocupam diferentes posicionamentos na escala de valor.

Trechos retirados de "Malhas com ambição" no semanário Expresso do passado Sábado.

segunda-feira, março 04, 2013

Curiosidade do dia

"Portugal exportou 1,95 milhões de pares de calçado para a Itália em 2012, no valor de 55,2 milhões de euros, um crescimento de 6%, ao preço médio de 28,25 euros.
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Importou, por outro lado, mais de dois milhões de pares, no valor de 43,4 milhões de euros a um preço médio de 20,87 euros."
O "lead" do artigo começa com:
"Dados surpreendem o próprio sector: Itália produz o calçado mais caro do mundo, mas Portugal vende cada par para lá 7,38 euros mais caro que cada que lá compra."
Surpreendido?
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Se quiserem eu explico, é tão fácil... uso uma metáfora com clubes que praticam futebol, andebol e basquetebol.
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Trecho retirado de "Portugal já vende sapatos para Itália mais caros que os que lá compra"

Where the puck will be


"as encomendas na China "têm que ser em maiores quantidades e pagas à cabeça". Nesta conjuntura internacional, nem as marcas ‘premium' arriscam. "As encomendas são mais contidas, mais em cima da estação", além que as marcas têm "condições de pagamento mais flexíveis""

"O regresso das grandes marcas "explica-se pela subida de preços na Ásia", quer pelo aumento dos custos de produção quer por via cambial. A colocação de encomendas em Portugal permite ainda tomar decisões depois de ver a reação dos consumidores às primeiras vendas.
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"Se comprar na Ásia, ou faz grandes stocks ou é difícil fazer reposições; nós, em dois dias, temos um camião no centro da Europa", diz. Além disso, "tem de ter toda uma operação financiada a priori", enquanto em Portugal já recebeu a mercadoria e só vai pagar a 30 ou a 60 dias." 

Estes trechos parecem retirados deste blogue... desde as condições de pagamento, aos contentores cheios (link de 2006... where the puck will be), aos camiões que em dois dias chegam ao centro da Europa, até às pequenas séries (link de 2007... where the puck will be) e à facilidade das reposições.
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BTW, imaginem os media a bombardearem-nos com a desgraça da economia portuguesa durante 2012... agora, imaginem como deve estar a comunidade que vive de e para, e constitui a Evereste:
"A Evereste, que em 2012 aumentou a sua facturação de 2,8 para 4,5 milhões"
Aumentar a facturação em mais de 60% num ano...

Agora, esqueçam o calçado!
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E pensem que os mesmos factores (excluindo o design e a moda) podem ser usados por tantos outros sectores para competirem à la Sun Tsu, onde estes factores são uma vantagem baseada, na rapidez, na flexibilidade, nas pequenas séries, na co-criação, na co-produção.

O jornalismo e a realidade

O jornalismo e a realidade ou "Looking to where the puck was!!!"
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"Skating to where the puck is going, not where it is" é o conselho de Wayne Gretzky, mas os jornais teimam em olhar para "where the puck was". E, depois:

"Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?"

A revista Exame traz um artigo sobre as diferenças e semelhanças entre os sectores do calçado e do têxtil português "Tão iguais, tão diferentes".
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No passado dia 20 de Fevereiro, na viagem para este evento em Felgueiras, tive oportunidade de conversar com alguém que conhece o sector do calçado há muitos anos, chegou a referir-me conversas da associação do sector, a APICCAPS, com o então ministro da Indústria Mira Amaral.
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Uma das perguntas que lhe fiz foi "Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?"
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Precisamente a pergunta a que o artigo da Exame pretende dar resposta.
"Mas porque é que a imagem dos têxteis está a demorar mais tempo a descolar dos anos de declínio, marcados pelo impacte da concorrência asiática e da deslocalização de empresas e encomendas?"
O designer Miguel Vieira confirma essa diferença:
""os dois sectores estão em estádios diferentes de desenvolvimento". "O calçado deu o salto, percebeu a importância da tecnologia, da marca, da embalagem, da imagem, enquanto que o têxtil adormeceu, ficou mais estagnado no private label""
Como referi neste postal, esta figura conta a primeira parte do que aconteceu ao sector, às empresas do calçado:
Menos empresas, empresas mais pequenas, menos produção em pares e menos pares por trabalhador.
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O artigo dá um exemplo concreto:
"Há 12 anos éramos 500 pessoas e tínhamos cinco clientes activos. Hoje somos 160 e temos mil clientes activos"
Os números retratam uma mudança formidável!!! Passámos da quantidade, de grandes séries e poucos modelos, para uma produção mais diversificada e flexibilizada. É como passar de um extremo para o outro do espectro competitivo:
 BTW, recordar o postal de onde tirei a imagem... escrito em Janeiro de 2007.
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Os cinco clientes de há 12 anos não desapareceram, foram para a China.
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Nesse mesmo evento de 20 de Fevereiro, uma das pessoas presentes, exterior ao sector do calçado, verbalizou para a plateia o seu espanto com o que via, algo que a minha companhia de viagem tinha referido menos de uma hora antes. Essa pessoa, tinha estado em várias dezenas de sessões do mesmo tipo noutros sectores industriais e o do calçado tinha algo que o diferenciava... a quantidade de gente nova à frente de novas empresas, ou de empresas de 2ª e 3ª geração. O que diz o artigo da Exame?
"Poder de atracção de novos talentos Até no poder de atracção de jovens designers o calçado tem marcado a diferença, visível em números como a criação de mais de 300 marcas desde 2005 ou em histórias como a de João Pedro Filipe, que lançou a primeira colecção da marca Sr. Prudêncio na London Fashion Week, em Londres, depois de vencer o prémio Young Creative Fashion Entrepeneur da Plataforma de Moda - Fashion Hub Guimarães 2012 e do British Council. "Sempre estudei vestuário, mas em Paris decidi apostar no calçado. pela consciência de que parecia mais aliciante para o futuro". diz o jovem designer." 
Em Fevereiro de 2011 escrevi "Não é impunemente que se diz mal" e julgo que não é preciso dizer mais nada.
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Ao longo dos anos sempre chamei a atenção para a diferença de discurso entre a APICCAPS e a ATP. Nunca encontrei um texto da associação do calçado a apelar ao proteccionismo, a defender barreiras alfandegárias, a invectivar os chineses. Pelo contrário, ao longo dos anos tenho chamado a atenção para a inelasticidade do tempo e para o excesso desse recurso que é gasto pela ATP a combater os chineses, a combater os pobres paquistaneses, a pedir proteccionismo e a defender o levantamento de barreiras alfandegárias.
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O artigo também refere o trabalho de 30 anos da APICCAPS com sucessivos planos estratégicos para o sector. Recordar o que escrevi sobre o tema em 2009.

É sempre engraçado encontrar entrevistas a Daniel Bessa sobre o calçado... e acho que já é maldade da minha parte relembrar este postal: "Para reflectir"
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E agora, coisas que os membros da tríade (políticos, académicos e paineleiros) precisam de aprender sobre os patrões do calçado:
"Há números que ajudam a compreender o percurso da indústria portuguesa de calçado, a investir, em média, 16% do seu valor acrescentado bruto por ano, quase o dobro dos concorrentes Italianos.
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Sob o lema "A indústria mais sexy da Europa", os sapatos made in Portugal acompanharam a recuperação das exportações com a qualificação dos seus recursos humanos: a percentagem de trabalhadores qualificados subiu de 28% para 48% e o valor acrescentado bruto por trabalhador cresceu 34% em 10 anos." (Moi ici: Recordar o segundo conjunto de gráficos deste postal)
Para terminar, uma parte do artigo que está menos conseguida... é quase caricata:
"Se há uma guerra entre os sectores, o calçado terá tido o tempo a favor. Ao contrário dos têxteis, obrigados a enfrentar a liberalização do mercado apenas em 2005, os sapatos começaram a competir com os grandes asiáticos mais cedo, uma vez que não beneficiaram de um período de transição, com quotas de exportação para a Europa."
A pessoa que me acompanhou na viagem, respondeu-me aquela pergunta lá de cima, "Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?", com esta diferença. O calçado teve de conquistar o futuro porque não tinha experiência, histórico, tradição de estar protegido por barreiras alfandegárias. O têxtil tem gasto demasiado tempo e outros recursos a defender o passado, a pedir proteccionismo... não lhe sobra tempo para abraçar o futuro
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Esta argumentação da revista, põe em causa todos os programas sectoriais de transição... muito poucas empresas mudam por causa de relatórios ou de avisos, a esmagadora maioria só muda pressionada pelas circunstâncias. Por isso, é que a desvalorização da moeda cria uma adição perversa que impede a subida de uma economia na escala de valor. 
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Por fim, algo verdadeiramente preocupante, o equivalente a ter um Ferrari e não ter mãos para o controlar:
"Na contagem de armas, não há um só representante do calçado no top das 10 maiores empresas de moda, mas os responsáveis da fileira têxtil vêem o peso da sua dimensão como uma fraqueza potencial"
Ainda continuam a sonhar com o modelo mental de há vinte anos... dimensão, quantidade, ... não conseguem perceber e passar à acção, e implementar, e operacionalizar os estudos sobre o sector que o próprio sector financia, ver "A teoria não joga com a prática".
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BTW, é sempre reconfortante ver o futuro muito tempo antes da multidão.
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BTW, sempre que ouvirem André Macedo falar sobre um qualquer assunto com um ar de superioridade intelectual e moral... não esqueçam isto "Cuidado com as generalizações, não há sunset industries"

Todos os barcos metem água e, apesar disso...

Às vezes... quase sempre, fico preso aos pequenos postais de Seth Godin. Sobretudo os pequenos, tão pequenos e tão cheios de sumo.
"There's always a defect, always a slow drip, somewhere. Every plan, every organization, every venture has a glitch.
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The question isn't, "is this perfect?" The question is, "will this get me there?"
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Sometimes we make the mistake of ignoring the big leaks, the ones that threaten our journey.
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More often, though, we're so busy fixing tiny leaks that we get distracted from the real goal, which is to go somewhere."
Este, particularmente, bateu fundo.
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Tentar decidir o que fazer para ter um futuro, quando não se tem uma estratégia clara, é como subir a uma cadeira e procurar o caminho a seguir a partir desse pequeno ponto mais elevado. Formular uma estratégia em equipa e acordar no que ela significa é como subir a uma montanha e procurar o caminho a seguir a partir desse ponto muito  mais elevado. Contudo, nem sempre isso é suficiente, a nossa mente é preguiçosa, não somos nós, é a biologia, e, por vezes, mesmo a partir desse ponto muito mais elevado, mesmo com um mapa da estratégia junto de nós, mesmo com a visão panorâmica que nos dá, continuamos prisioneiros das pequenas falhas que nos distraem do verdadeiro objectivo. E achamos que se não dermos tiros nos pés chegamos lá... não chegamos ponto.
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Como se ultrapassa isto?
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Volto a Roger Martin: praticar, praticar, praticar.
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Regressando à metáfora de Seth, todos os barcos metem água, por mais bem calafetados que estejam, há um ponto a partir do qual a viagem pode ser feita, em segurança, em direcção ao destino, apesar da quantidade de água que entra.

Trecho retirado de "All boats leak"

domingo, março 03, 2013

Curiosidade do dia

Deve ser a isto que chamam espiral recessiva:
"As vendas de automóveis em Portugal subiram 11% em Fevereiro, face a igual mês do ano anterior para 8.797 unidades, segundo os dados divulgados esta sexta-feira pela ACAP.
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No mercado de veículos pesados, observou-se um aumento de 36,5% das vendas no último mês, comparativamente com o mesmo período do ano anterior."

Trecho retirado de "Venda de automóveis cai 1,4% nos primeiros dois meses de 2013"

Gente nova a fazer pela vida

"Com 25 mil euros, Mariana começou a imprimir móveis"

Ou como a necessidade aguça o engenho.

Cuidado com o destino das formigas num piquenique

Recordar o que sempre disse sobre a redução da TSU na competitividade das empresas exportadoras, por exemplo aqui :
E conjugar com o artigo "Exportadoras desvalorizam efeitos dos salários na competitividade", publicado no Jornal de Negócios de 1 de Março:
"No entanto, é quase consensual que a diminuição dos encargos com pessoal não são fundamentais para que as unidades nacionais sejam mais competitivas nos mercados externos ou exportem mais.
"No nosso caso, existem benefícios, mas não é determinante para o ganho de competitividade. Se não existisse não íamos deixar de ter o mesmo plano e a mesma estratégia. Posso dizer que o ganho é marginal", explica o CEO da empresa de mobiliário Molaflex
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No caso da Couro Azul, unidade que fábrica revestimentos de assentos para a indústria automóvel, o presidente, Pedro Carvalho, explica que na sua empresa "a mão-de-obra representa, com os operadores gerais e quadros, não mais do que 12% da estrutura de custos. Não somos uma empresa de mão-de-obra intensiva, e essas, na maioria, já saíram de Portugal".
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Mais radical. é o presidente da Kyaia, maior fabricante de sapatos em Portugal, e também líder da associação empresarial do sector do calçado, Fortunato Frederico, que pensa que as alterações "não foram benefício nenhum". "Acho que os salários já são muito baixos.
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Na líder ibérica de produção de ferramentas de corte de precisão, a Frezite, o presidente José Manuel Fernandes, apesar de reconhecer que ainda não fez as contas às poupanças que vai ter com a diminuição do número de feriados, do pagamento de horas extrardinárias, ou em despedimentos. não tem dúvidas do resultado. "Não é significativo", reconhece.
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Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP (associação empresarial da metalurgia e da metalomecânica), junta ao argumento de Fernandes, a pressão do preço das matérias-primas e da energia "Lidamos com margens muito apertadas, que têm de ser compensadas de alguma coisa", identifica. Mas haverá uma baixa nos preços da venda de produtos no estrangeiro? "Não, mas pelo menos permite mantê-los."
A linguagem usada neste postal "Vocabulário do valor" já tem quase 2 anos e foram 2 anos em que a service-dominant logic me ensinou uma nova forma de encarar e perceber o valor. Hoje faria algumas alterações ao texto para se perceber melhor que valor está na mente do cliente e não na produção e oferta do fornecedor. No entanto, recorro a esta figura:

Existe 3 formas de ganhar mais dinheiro com uma oferta:
  • reduzindo o custo;
  • aumentando a diferenciação, que permite praticar preços mais elevados; e/ou
  • inovar no modelo de negócio
Olhem para o exemplo do calçado... é pelo custo?
Olhem para o exemplo do mobiliário... é pelo custo?
Olhem para o exemplo da metalomecânica... é pelo custo?
Olhem para o exemplo do vinho... é pelo custo?
Olhem para o exemplo da ...

O futuro não vai ser ganho a olhar para o umbigo e a conquistar clientes à custa de uma melhor arrumação interna das cadeiras.


Imaginem um governo a torrar dinheiro ...

"A problem for every bricks-and-mortar retailer is internet retail, which went from $45bn to $225bn, or more than 6 per cent of all US retail, between 2002 and 2012. Meanwhile, data from CoStar Realty show that during that decade US retail space grew 13 per cent, or about 1.9bn sq ft. Traditional retailers are hurting. A lot of stores will have to be shuttered before the pain stops."
BTW, imaginem um governo a torrar dinheiro dos contribuintes para suportar uma indústria sobre-dimensionada e alicerçada num modelo de negócio tornado obsoleto pela tecnologia... à espera da retoma.

Trecho retirado de "US retail: shutters are poised"

sábado, março 02, 2013

Curiosidade do dia



"The next big thing: 4D printing"

Imaginem um governo a torrar dinheiro ...

"According to data released on February 26th by the International Federation of the Phonographic Industry, sales of recorded music grew in 2012 for the first time since 1999, albeit only by 0.3%, to $16.5 billion (see chart).
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The internet sank the music industry, but is now helping it to resurface. Digital sales rose 9% last year; a third of the music industry’s revenues now come through digital channels. Download stores represent roughly 70% of digital revenues. Popular “streaming” services, such as Spotify and Deezer, which pay a royalty each time a song is played, have also helped to rescue the business. Subscription services had 20m paying subscribers around the world in 2012, up 44% from a year earlier. Millions more use free advertising-supported versions."
BTW, imaginem um governo a torrar dinheiro dos contribuintes para suportar uma indústria sobre-dimensionada e alicerçada num modelo de negócio tornado obsoleto pela tecnologia... à espera da retoma.

Trecho retirado de "Something to sing about"

Leitura recomendada aos novos velhos

Recomendo a leitura de "For Startups, Design is the New Competitive Advantage" aos novos velhos aqui referidos:

Preço, valor e a Sildávia do Ocidente

Recordo esta imagem:

A maior parte da riqueza criada vai para salários...
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No entanto, esta imagem:

Diz-nos que os salários são baixos.
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Se os salários são baixos e, mesmo assim, já comem grande parte da riqueza gerada, então, a conclusão é óbvia:

Cada hora trabalhada gera muito pouca riqueza.
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Pergunta: se queremos um futuro onde empresas saudáveis, economia saudável e salários mais elevados se compatibilizem, onde temos de actuar?
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Na criação de riqueza!
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Num futuro desejado, cada hora trabalhada terá de gerar mais riqueza! Ou seja, cada hora trabalhada tem de contribuir para facilitar mais valor percepcionado, mais valor criado pelos clientes. Quanto mais valor for criado pelos clientes na sua vida com um artigo ou serviço que compram, mais elevado será o preço que estão dispostos a pagar por esse artigo ou serviço. E quanto mais elevado o preço, mais riqueza é criada, mais a produtividade sobe a sério e mais os salários podem subir sem entrar na guerra do gato e do rato (salários vs produtividade) (recordar Rosiello e Marn)
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Isto que acabei de escrever é desconhecido da maioria dos decisores, por isso, continuam presos a velhos modelos. Ontem, no Jornal de Negócios, apesar de Portugal ter um desempenho no crescimento das exportações superior ao alemão desde 2007, no artigo "Há indicadores que já dão como recuperada a competitividade perdida" pode ler-se a receita do BCE:
"Aquele que é talvez o principal indicador de competitividade do País, que considera a evolução do euro, dos custos do trabalho e da produtividade, já está em melhor nível que antes do euro. Ainda é pouco, dizem alguns. O Norte da Europa tem de ajudar, reforçam outros. As empresas têm mesmo de baixar preços, diz BCE."
Que idade terão os decisores do BCE? O que aprenderam e moldou e enformou os seus modelos mentais? Quando o aprenderam? E como era o mundo quando o aprenderam? Normalistão ou Estranhistão?
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Diga-se de passagem que o Rui Peres Jorge também não ajuda ao meter no mesmo texto corrido a competitividade e as exportações com:
" "reflecte a falta de concorrência na economia interna", e afirmando que "impõe-se que exista uma grande determinação para reduzir as margens de lucro excessivas resultantes de uma concorrência monopolista, em particular em sectores protegidos da concorrência internacional""
 O mesmo Jornal de Negócios, no mesmo dia, já não na página 4 mas na página 23 traz este artigo "Portugal vende sapatos 15% mais caros e reforça segundo lugar mundial" onde se pode ler:
"A indústria portuguesa de calçado nunca exportou tanto, tendo fechado o último ano acima dos 1,6 mil milhões de euros de vendas ao exterior. o que traduz um crescimento  de 4,5% em relação ao ano anterior. E reforçou a sua segunda posição no "ranking" dos sapatos mais caros do inundo, ao conseguir vender 71 milhões de pares de calçado a 22.71 euros o par, um preço 15% superior ao atingido em 2011."Conseguimos assim distanciarmos-nos ainda mais da França, cujo preço médio subiu 7%, e aproximarmos-nos mais da Itália, que apresentou um crescimento de 10%", adiantou ao Negócios Paulo Gonçalves, porta-voz da associação do sector (AP1CCAPS). A taxa de crescimento do preço médio do calçado é o dado mais relevante na validação da performance comparativa dos sapatos portugueses com os seus mais directos concorrentes."
Qual é o segredo?
""É o resultado da aposta do sector na valorização dos seus produtos. Por um lado, as empresas apresentam colecções cada vez mais sofisticadas, e, por outro lado, a aposta na valorização da imagem do calçado português atrai um conjunto de potenciais novos clientes", frisou Paulo Gonçalves."
Será que o calçado é uma indústria com barreiras que impeçam a entrada de concorrentes asiáticos?
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O futuro desejado, para um país pequeno como o nosso, conquista-se não à custa da venda de quantidade de artigos com baixo valor unitário, mas à custa de artigos com cada vez maior valor unitário. Não perceber isto é condenar-nos a ser uma Sildávia do Ocidente:

Os senhores do BCE querem o nosso mal? Não, simplesmente seguem uma cartilha que funcionava quando não havia globalização e quando o Normalistão era a norma.
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O mundo mudou e, como dizia Max Planck:

“A Ciência avança um funeral de cada vez”.
ou
“Uma verdade científica não triunfa porque convenceu seus oponentes e os fez ver a luz, mas sim porque os seus oponentes eventualmente morrem, e uma nova geração cresce familiarizada com ela.”
Só quando os decisores do BCE forem substituídos por novos decisores ... duvido que um Ananias lhes abra os olhos.