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sábado, setembro 15, 2018

O outro lado das tabelas

Ontem à noite ouvia a RTP a referir que a evolução dos custos laborais em Portugal tinha sido uma das baixas da Europa e estranhei. Agora, pesquisei no Google e a primeira notícia que aparece sobre o tema é "Salários em Portugal sobem abaixo da média da UE", onde leio:
"Portugal é o quarto país da União Europeia (UE) onde os custos com o trabalho - um indicador onde também são contabilizados os salários - menos subiram."
Na semana que passou, em duas empresas diferentes, em diferentes zonas do país, discutimos sobre um factor crítico: a falta de pessoas para contratar.

Por isso, estranhei os números da RTP. Como imaginei que eram números do Eurostat fui à fonte pesquisar. Encontrei isto:


E continuei a não desistir. Há aqui algo que falta explicar.

E, mergulhando no documento vê-se algo que o jornalismo não refere... será que ainda existem jornalistas?

Atenção à figura que se segue:

A RTP e Correio da manhã falam dos números globais para a economia como um todo. Ora na economia como um todo existem dois mundos à parte: A economia dos negócios e a economia ligada ao estado e imagino que também ao sector social.

Assim, na página seguinte do Eurostat aparece outra tabela que separa os dois mundos:


E agora reparem na diferença dos dois mundos em Portugal:

Deu-me então para comparar a evolução dos custos laborais dos vários países no mundo dos negócios e cheguei a isto:
Engraçado como as coisas mudam: Portugal está com um crescimento acima da média. Em 28 países só temos 12 à frente. E mais, olhando para a composição da velha CEE com 12 países verificamos que o país da Europa Ocidental onde os custos laborais mais crescem é ... Portugal. E tirando a Grécia, que está sair do efeito de um rolo compressor tremendo, e os países que se livraram do comunismo, o país onde os custos laborais mais crescem é ... Portugal.

Por que é que os so-called "jornalistas" não fazem esta análise?

Imagino que para não prejudicarem a imagem do governo... porque há o outro lado das tabelas. O que esta análise revela é a austeridade no estado.




segunda-feira, maio 07, 2018

Coisa de loucos (parte II)

Parte I.

Tanta iliteracia económica embebida neste título, "Custos laborais crescem pouco e impulsionam exportações".

Acreditam mesmo que as exportações portuguesas cresceram e crescerão por causa dos custos laborais baixos? Acaso os custos laborais portugueses podem competir com os custos laborais dos países do centro e leste da Europa?

Infelizmente, parte importante do crescimento das exportações nos próximos tempos vai ter um perfil diferente do verificado nos anos da troika, mais à custa de automóveis e outras commodities, e menos à custa de PME.


sexta-feira, dezembro 29, 2017

Custos Unitários do Trabalho, salários e produtividade

Lembram-se do tempo da troika e de quanto esquerda e direita nos bombardearam com grandes tiradas sobre a necessidade de reduzir os Custos Unitários do Trabalho (CUT)?

Lembram-se de como aqui sempre estivemos contra essa treta porque os CUT são um rácio e, por isso, os CUT podem baixar, apesar dos salários subirem, se o que se produz tiver maior valor unitário?

Os clássicos, como Teixeira dos Santos ou os direitolas como Ferraz da Costa, assumem o jogo do gato e do rato, e relacionam o aumento dos salários com o aumento da produtividade em termos de produção de unidades por unidade de tempo, assumindo que o preço unitário não varia, assumindo que o que se produz mantém-se constante ao longo do tempo.

Aqui, sempre chamámos a atenção para o aumento da produtividade através da alteração do que se produz, a velha lição de Marn e Rosiello, porque tem um impacte muito superior ao que se consegue à custa do aumento da eficiência.

Regresso a isto ao encontrar estes gráficos:

Chamo a especial atenção para a evolução dos CUT (unit labour costs) da Irlanda. Estão a imaginar a quantidade de analistas a rasgar as vestes e a chorar com dó dos pobres irlandeses. Segundo eles, porque os CUT baixaram é porque os salários reais baixaram... os irlandeses devem estar a pagar para trabalhar.

Reparem agora neste outro gráfico sobre a evolução dos salários reais:
Q.E.D.

Já agora, olhem para a evolução da produtividade irlandesa:
Acham que esta evolução aconteceu porque os irlandeses começaram a correr mais depressa e a ser menos preguiçosos, ou porque se alterou o preço unitário do que produzem?

E como se aumenta o preço unitário do que se produz quando não se goza da prerrogativa de ter armas e de se poder obrigar os "utentes" a comprarem o que se produz?

Subindo na escala de valor.

Recordar:
Trechos retirados de "Wages and Nominal and Real Unit Labour Cost Differentials in EMU"



sábado, setembro 16, 2017

Curiosidade do dia

Quem lê este blogue sabe o quanto há muito contesto as teorias do FMI sobre a relação entre custos unitários do trabalho e a competitividade. O FMI partilha a sua visão da competitividade com o bicicletas Pais Mamede.

Basta pesquisar nos marcadores deste postal.

No entanto, ao ler "Governo contesta teorias de competitividade do FMI" ocorre-me um reparo, o mesmo que aqui escrevi em Junho de 2011:
  • "Se me vendem a redução da TSU para tornar as empresas que exportam mais competitivas não engulo. Tirando o caso das commodities, associadas a grandes empresas, o preço não é o order-winner das nossas exportadoras. [Moi ici: Recordo o injustamente esquecido relatório que provava que quanto mais um sector era aberto ao exterior menos desemprego tinha]
...
  • Se me venderem a redução da TSU para facilitar a vida às empresas que vivem do mercado interno concordo, o grosso do emprego está aqui e estas empresas vão viver tempos terríveis, o aumento futuro do desemprego virá sobretudo daqui, e tudo o que for feito para lhes aliviar o nó na corda que vai asfixiando o pescoço das empresas será bem vindo.
  • Se me venderem a redução da TSU para capitalizar as empresas concordo."
O problema não é a competitividade, o problema é a sustentabilidade das empresas que vivem do mercado interno. Recordar o caso da Starbucks. Recordar a inconsistência estratégica.

sexta-feira, setembro 01, 2017

Prisioneiros do século XX

"Os custos unitários de trabalho são um factor crítico para a nossa competitividade e não podem ser dissociados da produtividade, intimamente ligada a qualificação profissional e às leis laborais, áreas onde tem de haver um esforço continuado de adaptação às necessidades das empresas."
Quando escrevo sobre as mentalidades atoladas no século XX, prisioneiras de um passado que formatou mentalidades quando se tinha 20 anos, é disto que escrevo.

A promoção da concorrência imperfeita e dos monopólios informais é a descoberta, e a busca das condições, em que uma empresa consegue fugir desta armadilha mental de que tudo se resume ao custo.

De um lado: não podemos ser competitivos com estes custos!

Do outro lado: como podemos ser competitivos apesar destes custos!

Trecho retirado de "Os recursos humanos e a competitividade"

BTW:



quinta-feira, junho 08, 2017

I rest my case: competitividade e CUT (parte VII)

 Parte Iparte IIparte IIIparte IV, parte V e parte VI.
"De acordo com a OCDE, o crescimento português continua a ser suportado pelo aumento das exportações, com a venda de bens para os parceiros extracomunitários a recuperar de forma particularmente evidente — a organização destaca Angola, Brasil e a China. A previsão é de um aumento de 5,5% das exportações totais de bens e serviços este ano, uma aceleração face aos 4,4% registados em 2016. Para 2018, está projetado um abrandamento do crescimento, que deverá atingir ainda assim os 4,5%. “O volume das exportações vai registar um forte aumento devido às melhorias continuadas na competitividade dos custos”, adianta o documento."
Uma justificação que me parece completamente errada mas eu só sou um mero anónimo da província.

Trecho retirado de "OCDE revê em alta crescimento de 2017 para 2,1%"

segunda-feira, maio 22, 2017

I rest my case: competitividade e CUT

Recordem o que se escreve neste blogue há anos e o que os académicos, políticos e comentadores económicos (de direita e de esquerda escrevem ou afirmam) acerca da redução de salários ou da desvalorização da moeda para aumentar a competitividade. Depois, mergulhem neste texto, "Going Beyond Labour Costs: How and Why “Structural” and Micro-Based Factors Can Help Explaining Export Performance?" de Carlo Altomonte, Filippo di Mauro e Chiara Osbat.

Alguns trechos:
"Competitiveness depends strongly on firm-level factors, such as size, organisation, technological capacity, and other supportive conditions in the economic ecosystem in which firms operate. At the same time, the attention of policy-makers has been focused on aggregate macroeconomic factors, such as labour costs and current account positions. Central banks in particular have concentrated on these indicators, which is not surprising given that their traditional policy instruments are inherently macroeconomic in nature.
...
we show initial evidence that adjusting traditional relative export prices for quality allows to better understand export patterns for a number of EU countries
...
Even though “competitiveness” is at the centre of the public debate, there is no agreement on an unequivocal definition of the concept. In particular, when looking at a narrow, measurable concept of competitiveness, the focus is in general on prices, costs, wages and exchange rates. These are important factors in determining the ability of firms to compete in international markets, especially in the short run, but there is strong evidence that - in a fully globalised world and over longer term horizons – such factors are only part of a much broader set that includes at least three main elements, as identified by the literature: (i) firm-level factors, e.g. technological ability to utilise factor endowments, capacity to specialise and exploit new and dynamic markets; (ii) structural/macroeconomic factors prevailing in the individual countries, such as labour- and product-market functioning, technological diffusion, innovation, taxation, financing constraints as well as demand and overall macroeconomic conditions; (iii) the geographical position of the country and the extent of trade frictions.
...
given the sizeable changes in the world market structure brought about by globalisation and the raise of emerging economies, the overall trade performance of a country is more and more likely to depend on factors beyond pure price or cost considerations. In this context, the ability of countries and firms to compete successfully will be determined by their capacity to change and adapt to new market conditions, reviewing their product mix and export portfolios beyond pure cost considerations, and by other means of enhancing productivity."
I rest my case.

sexta-feira, maio 19, 2017

"mesmo com generosos cortes salariais, reais ou nominais"

A azul a evolução da Remuneração média por trabalhador em euros na "Indústria têxtil, do vestuário, do couro e dos produtos de couro". A laranja a evolução das exportações do mesmo segmento em milhões de euros.

A narrativa em vigor é a de que por causa da progressiva aposta da economia portuguesa no sector não transaccionável, durante os primeiros anos do século XXI, as exportações da indústria têxtil, do vestuário, do couro e dos produtos de couro caíram porque os custos portugueses, nomeadamente os custos unitários do trabalho subiram demasiado.

Esta é a narrativa que todos assinam.

E esta é a narrativa que eu não partilho.

Mesmo que a Remuneração média por trabalhador em euros na "Indústria têxtil, do vestuário, do couro e dos produtos de couro" tivesse caído através da manipulação monetária, como os governos portugueses sempre gostaram de fazer, julgo que a evolução teria sido a mesma.

Esquecem-se sempre do impacte da China como concorrente directo deste segmento português no passado e desta tabela:
Basta comparar a evolução percentual entre 1990 e 2007 para perceber que nunca teríamos sucesso a competir no mesmo terreno que os chineses mesmo com generosos cortes salariais, reais ou nominais.

domingo, julho 03, 2016

Os salários alemães

"Já no encerramento dos trabalhos, Saraiva apontou baterias contra a Alemanha. Notando que o problema do investimento é também “um problema de expectativas dos agentes quanto à evolução da procura”, o presidente da CIP lembrou que, se Portugal não tem condições para apostar em “políticas expansionistas do lado da procura”, há quem as tenha.
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Países com finanças públicas sólidas e “que continuam a acumular crescentes excedentes externos” contribuem para o “problema de escassez da procura que bloqueia o relançamento do investimento na Europa”, afirmou o presidente da CIP." (fonte 1)
Entretanto, o que dizem os números:
"In 2014 Germany imported $1.13T, making it the 3rd largest importer in the world. During the last five years the imports of Germany have increased at an annualized rate of 6.1%, from $842B in 2009 to $1.13T in 2014." (fonte 2)
Uns olham para a evolução dos CUT alemães e não percebendo que se trata de um rácio, e não percebendo que a subida na escala de valor tem um peso muito mais forte que a subida do salário, acreditam que os salários alemães baixaram.


Recordar:

Preferia que a CIP apoiasse os seus associados com informação, exemplos e inteligência para que estes reforcem o trabalho bottom-up para conquistar clientes na Alemanha, em vez de politiquice. Podiam seguir o exemplo da Portugal Fresh, por exemplo.



Fonte 1 - Trecho retirado de "Sem procura e confiança, “não há razão para investir”"
Fonte 2
Fonte 3 - Imagem retirada de "Global Wage Report 2014 / 15 Wages and income inequality" da ILO

quinta-feira, maio 12, 2016

CUT, produtividade, competitividade e gato e rato

Recomendo a leitura de "Acima da produtividade" e dos textos com o marcador CUT.
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Depois, recordar sobre os CUT postais como:
Por fim, sobre o jogo do gato e do rato recordar este postal de Janeiro de 2011 e o primeiro, de Junho de 2010.

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

Lições do calçado português (parte II)

Parte I.
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Outra lição do calçado português: a subida na escala do valor, a única forma sustentável de aumentar preços, aumentar salários e reduzir custos unitários do trabalho, através da concorrência imperfeita.
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Recordar de ontem:
"The upshot is that real-life competition in oligopolistic markets cannot be reduced to just unit-labor-cost competition - whatever the textbooks want us to believe. And if one insists on focusing on unit labor costs, then there is no reason why one should not also look at unit capital costs (or profit margins), as is argued by Felipe and Kumar (2011); oligopolistic firms might as well compete on profit margins."
Subir na escala de valor e apostar na marca, para subir preços:
"o preço de venda ao pública da marca própria varia entre 150 e 200 euros, "o que significa um ganho de 20% em valor.
...
entre o trabalho para private label (insígnias de clientes) e a marca própria, “os ganhos de valor chegam por vezes a 500%.

só nos últimos seis anos foram criadas mais de 300 marcas de calçado em Portugal.

Analisando os dados de outra forma, entre 2004 e 2014 as exportações de calçado aumentaram 47% em valor, para 1,8 mil milhões de euros, enquanto o número de pares vendidos ao exterior cresceu apenas 2%. … um teste cego ao mercado, em 2004, mostrava que o made in Portugal implicava uma desvalorização de 30% nos sapatos portugueses … Há uma no, um novo teste cego mostrou que o défice de imagem do made in Portugal tinha caído para 17%.

Sem o jogo das marcas lusas, “tanto a qualidade como a moda oferecidas nos sapatos portugueses poderiam ser as mesmas, mas grande parte do valor criado estaria certamente muito mais do lado dos donos das marcas internacionais”

Pelas suas contas, “uma marca pode trazer um ganho de 70% em valor”." 

quarta-feira, fevereiro 03, 2016

A seu tempo será outro testemunho, outra prova do tempo

Ainda recentemente em "A fazer sombra aos alemães!" escrevi:
"Ainda ontem à noite ao fazer zapping pelos canais apanhei a ex-ministra, julgo que ainda eurodeputada, Maria João Rodrigues, em plena lengalenga que eu já julgava obsoleta.
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Dizia a técnica que os alemães tinham de aumentar os seus salários para que os europeus do sul pudessem exportar mais para a Alemanha."
 Lembrem-se que para este anónimo da província a causa raiz dos problemas portugueses que levaram ao descalabro das contas públicas tiveram origem na entrada da China no comércio mundial e não no fim do escudo:

Outra guerra deste blogue e deste consultor é a de aumentar preços, para baixar os custos unitários do trabalho enquanto se aumentam salários. Recordar:
Ontem, descobri este texto "Why the Neoclassical Story About German Wage “Moderation” Causing the Eurozone Crisis is Wrong". Um artigo longo e que merece uma leitura atenta. Sublinho estes trechos:
"German firms, producing high-tech, high value-added, high-priced and mostly very complex manufacturing goods, do not directly compete with Spanish, Portuguese, Greek or even most Italian firms, which are specializing in lower-tech, lower value-added, low-price and less complex goods (Simonazzi et al. 2013). German firms are price-setters and dominate their niche markets, while Greek and Portuguese firms instead compete with low-cost Asian producers - on costs (but not just labor costs) - and get pushed out from their markets by their Chinese competitors (Straca 2013). [Moi ici: Segue-se algo que só vi escrito por mim e ao arrepio dos gurus tugas... lembrem-se do meu marcador gato vs rato] The upshot is that real-life competition in oligopolistic markets cannot be reduced to just unit-labor-cost competition - whatever the textbooks want us to believe. And if one insists on focusing on unit labor costs, then there is no reason why one should not also look at unit capital costs (or profit margins), as is argued by Felipe and Kumar (2011); oligopolistic firms might as well compete on profit margins."
E ainda:
"Flassbeck and Lapavitsas argue in favor of higher German wages (and higher German inflation), just like Wren-Lewis (2016), in the mistaken belief that this will lower Germany’s cost competitiveness, reduce its trade surplus, and thereby rebalance the Eurozone as a whole. German exports and imports, as I argued above, are not very sensitive to changes in relative unit labor costs, however, and hence there will be only a limited amount of expenditure switching (away from German products and toward foreign goods), as has also been convincingly shown by Schröder (2015). Let me repeat for clarity’s sake that I am strongly in favor of higher nominal wage growth (in excess of labor productivity growth plus 2%) in Germany. It will definitely help Germany. But it will not help the crisis-countries of the Eurozone." 

sábado, novembro 07, 2015

Desigualdade e estratégia

Este blogue pode ser percorrido, pode ser pesquisado, e uma das constantes, ao longos dos anos, foi o convite permanente:

  • aos empresários para que aumentem a produtividade apostando no numerador e não no denominador; e
  • aos encalhados da tríade - que querem desde a saída do euro (para desvalorização cambial e ganho de competitividade por essa via), até à redução nominal de salários (para ganho de competitividade por essa via) - para que abracem o Evangelho do Valor
Como é que se aumentam os salários e se aumenta a competitividade ao mesmo tempo? Subindo na escala de valor:
A subida bem sucedida na escala de valor permite praticar preços mais altos de forma sustentada e permitida pelos clientes.
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Outro tema caro a este blogue é o da distribuição de produtividades dentro de um mesmo sector económico:

"Existe mais variabilidade (no lucro, ou na produtividade) dentro de um sector económico, do que entre sectores económicos"
Voltemos à equação dos CUT:
Empresas capazes de praticarem preços superiores, por causa de estratégias e modelos de negócio mais ajustados à realidade, podem pagar salários superiores.
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Sempre achei que essa era a grande razão para o aumento das desigualdades salariais. Recordo "Desigualdade e produtividade" e "Quem é que gosta de viver numa "Reserva Integral"? (parte II)". Agora apanho "Behind Rising Inequality: More Unequal Companies":
"Workers at the 90th and 99th percentile did see their pay rise much more than median and lower-paid workers over the period. But no such disparity appeared among co-workers at the same firm: the ratio of their pay to their firm’s average remained flat. In other words, everyone at the top companies, from the lowest to highest paid, pulled away from the pack, and everyone at the bottom companies languished."
Uma das explicações avançadas é deliciosa, faz-me logo recordar os empregos do regime em certas empresas que foram "privatizadas" com golden-share:
"There is another, more troubling possibility. Some companies may so dominate their market that they can extract profits over and above what a purely competitive landscape would allow; economists call these excess profits “rents.” Employees at those companies then share in those rents."
 BTW, a concorrência imperfeita aspira a criar monopólios informais e, a partir daí, rendas excessivas:
"Promotor da concorrência imperfeita, dos monopólios informais e das rendas excessivas"
Com as eleições a onda mudou, o pêndulo deixou de ir no sentido de evitar que as empresas fechem para não criar desemprego e começou a viajar no sentido de "que se lixem as empresas e o desemprego, se as empresas não puderem suportar os 600€ de SMN merecem fechar".
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Talvez seja tempo da sua empresa, se opera no mercado interno, pensar seriamente em rever a sua estratégia.

domingo, setembro 13, 2015

O erro de análise dos Custos Unitários de Trabalho (parte V)

Parte I, II, III e IV

Sabem o que penso acerca dos CUT (Custos Unitários do Trabalho) como medida da maior ou menor competitividade de um país - uma treta!
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Ainda agora em "O FT a colar-se ao anónimo de província" listei uma série de postais sobre o tema. Entretanto em "Seven technical reasons why ‘(Real) Unit Labour Costs’ are not a valid macro-indicator of competitiveness" encontro estas críticas para acrescentar:
"1) The RULC [real unit labour costs] are calculated by Eurostat, based upon the next operational definition (emphasis added):
This derived indicator compares remuneration (compensation per employee in current prices) and productivity (Gross Domestic Product (GDP) in current prices per employment) to show how the remuneration of employees is related to the productivity of their labor. It is the relationship between how much each ‘worker’ is paid and the value he/she produces with her work. It’s growth rate is intended to give an impression of the dynamics of the participation of the production factor labour in output value created. Please note that the variables used in the numerator (compensation, employees) relate to employed labour only while those in the denominator (GDP, employment) refer to all labour, including self-employed”.[Moi ici: Hmmm como a taxa de trabalhadores que não têm um emprego tradicional está a aumentar (freelancers, free-agents)... os CUT baixam. Extraordinário]
...
D) Non-tradeables. Between 2000 and 2011, average German wages did not rise too much which led to a low increase of the German macro ULC. But to quite some extent this was caused by stable nominal wages (and falling purchasing power) of teachers. Wages in industry rose a little above average and Germany still is one of the very few countries where industrial wages are higher than the average (even despite very high wages in the financial sector). But does decreasing real wages of teachers really increase the international competitivity and exports of a country? [Moi ici: Como sempre escrevi aqui, acerca da TSU, por exemplo neste postal, por causa dos trabalhadores dos sectores transaccionáveis ou não transaccionáveis] It might affect the current account as German teachers will have had to restrain consumption of, among other things, imported products. But at least I do not see the relation with gross exports!.
E) Felip en Kumar (2011) mention the Kaldor-paradox: [Moi ici: Como gostei dessa minha descoberta de 2011] the empirical evidence about the ULC and competitivity in fact suggests that high increases of the ULC do not cause a decline of competitivity but are, to the contrary, a sign of succesful export performance.[Moi ici: Recordar o exemplo do calçado e do vinho, e o trabalhar para subir preços]
...
G) Global supply chains. The share of ‘domestic’ labour in the cost price of tradeable products shows sustained declines. Giordano and Zollino mention that the ‘domestic labour share’ of Germany declined from 27% to 21% of gross output (not the same as value added, the concept of GDP!) while the Italian share declined from 21% to 18% [Moi ici: Ainda esta semana chamei a atenção para o fenómeno num comentário a esta notícia- Uma empresa tradicional à medida que faz o outsourcing de todas as suas actividades aumenta a produtividade. No limite, um trader sem contacto físico com o que compra e vende é o que tem a maior produtividade... se nos concentrarmos na redução do denominador, a pior forma de subir a produtividade]

O FT a colar-se ao anónimo de província

O governo finlandês vai cortar 2 feriados, reduzir o tempo de férias e reduzir os subsídios de doença, cortar no pagamento das horas-extra e do trabalho ao Domingo, entre outras medidas de austeridade, para atingir o objectivo de reduzir os custos unitários do trabalho.
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Ainda recentemente, a propósito do que eram na altura as intenções do governo finlandês, escrevi neste postal:
"BTW, isto "Finns Told Pay Cuts Now Only Way to Rescue Economy From Failure". Numa economia aberta esta mensagem e terapia é necessária para os sectores não transaccionáveis quando o sistema fica insustentável. A mensagem é irrelevante para os sectores transaccionáveis porque o acerto ocorre a toda a hora e momento."
O que é que neste blogue se escreve há anos e anos sobre a tolice de querer ganhar competitividade com base na redução dos custos unitários do trabalho (através dos salários, da TSU ou da saída do euro)?
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Segue-se uma lista não exaustiva do que aqui fui escrevendo, sempre afastado do mainstream de direita e de esquerda.
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No entanto, antes de os convidar a ler/reler essas opiniões, convido-os a ler o que o FT publicou ontem "Since you asked: Un-Scandinavian lessons in balancing Finland’s economy". Posso ser um anónimo da província mas consigo que o FT esteja mais próximo do que aqui defendo do que os gurus mediáticos da nossa praça. [Moi ici: Se tiverem tempo, parem para pensar um bocado. As elites do pensamento económico cá do burgo estão tão desfasadas da realidade...] Estão mesmo a ver uns cromos a aconselhar a Nokia a baixar os custos de fabrico, para poder baixar o preço dos smartphones e, assim, recuperar vendas?
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Alguns exemplos dos textos:


sexta-feira, agosto 14, 2015

Acerca dos CUT

O @MAL publicou este gráfico no Twitter:
Onde podemos ver a evolução dos Custos Unitários do Trabalho (CUT) a crescerem, ao longo desta década, na Finlândia.
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A inferência rápida que somos levados a tirar é que a crise finlandesa se deve à evolução dos elevados custos unitários do trabalho. Recordo daqui:
"Se os CUT são um rácio entre os custos do trabalho e a produtividade desse trabalho, então, a redução [o aumento] dos CUT pode ser obtida através de 3 vias:
  • reduzindo [aumentando] os custos do trabalho
  • aumentando [reduzindo] a produtividade do trabalho; ou
  • uma conjugação das duas.
Sistematicamente, quem fala da necessidade de reduzir os CUT fala em reduzir salários."
O que aconteceu aos salários finlandeses?
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O que aconteceu à criação de riqueza pelos finlandeses?
Fontes: LCPH e GDPAMP

Acho que é a isto a que chamam sticky wages. Os salários finlandeses cresciam muito mas no período 2012-14 não cresceram nada de especial. Contudo, a riqueza criada tem vindo sempre a descer. A conjugação das duas direcções no numerador e denominador, provocam o aumento considerável dos CUT.
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A minha alternativa?
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A mesma que recomendei e recomendo para Portugal, subir na escala de valor, trabalhar prioritariamente o numerador.


domingo, abril 12, 2015

Este não pode ser o caminho do futuro

Arrepia-me ler textos assim "Can US manufacturing compete with China?"
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Vou dar um exemplo europeu com o calçado português:
O calçado europeu procura ocupar nichos de valor, em vez de chocar de frente com a produção chinesa.
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O calçado português, goza de boa saúde, assim como muitos outros sectores, como o têxtil:
"Exports of leather goods continue to grow in Portugal. Since 2008 their value nearly tripled and now amounts to 143 million euros.
...
Good quality, good customer service and quick response are strong arguments in favour of the Portuguese companies."
Como comparam os custos salariais portugueses com os chineses?

Qual é a via americana? A via da falta de paciência estratégica (mais aqui):
"Manufacturers are bullish on the US these days, and for good reason. Unit labour costs are dropping even as productivity is increasing compared with many countries in Europe at the same time that US energy costs have gone down.
...
There is also good reason to believe that the US can be competitive even with China, the world’s manufacturing powerhouse for the few last decades. Which raises the question: Can the US, in fact, be the new rising star in manufacturing?
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“We are hands down more competitive than Europeans both because of energy costs and because of lower labour costs,” [Moi ici: Apetece perguntar; Ri de quê? De sair vitorioso de uma race to the bottom?]
E continua com:
“We should, if projections of the direction of Chinese labour costs are right, be more competitive than China right about now—even if we, too, will have some wage inflation coming as slack in the economy decreases,”
 Este não pode ser o caminho do futuro, o caminho com futuro é o da race to the top, é o do valor mais do que o dos custos.

sexta-feira, janeiro 09, 2015

Treta e mais treta!

Apesar de não concordar com a ideia de que a seguir a uma falência, a austeridade deve ser evitada, li com interesse o que se escreve aqui "Welcome to the Hunger Games, Brought to You by Mainstream Economics".
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Lentamente, muito lentamente, demasiado lentamente, lá vão surgindo brechas no pensamento único que defende que a culpa da situação actual na zona euro decorre dos "baixos"salários alemães.
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Continuo a crer que o abaixamento de salários para tornar mais competitivos os sectores exportadores é conversa da treta. Contudo, continuo a crer que pode fazer a diferença entre mais ou menos desemprego nos sectores não-transaccionáveis.
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Algo que sempre achei e continuo a classificar como absurdo é a ideia de que as economias da Europa do Sul competem de igual para igual com a economia alemã, mais treta da grande.
"The surge in imports created deficits on the trade balances of the Southern European economies, but these imbalances had nothing to with rising relative unit labor costs or “excessive” wage growth in the periphery."
Mesmo que os salários na Europa do Sul não tivesse subido um cêntimo, durante a primeira década do século XXI, mesmo assim, muita da indústria exportadora da Europa do Sul teria o mesmo destino, a falência às mãos da concorrência com a China. Interessante como no texto não há nem uma palavra sobre o impacte da China na competitividade das indústrias da Europa do Sul.
"First, Germany’s superior export performance has nothing to do with labor cost competitiveness. Demand for Germany’s exports has not been sensitive to changes in the cost of labor, as we show and as other studies (including ones by IMF, World Bank and ECB economists) confirm. German firms do not compete on “costs” but on factors other than price: things like product design, quality, high-tech content, and reliability."
E, por isso, é que a China não teve um impacte tão grande na Europa do Norte.
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Há algumas passagens que me fazem duvidar da honestidade intelectual das pessoas:
"To illustrate, the ECB sent a letter to the Spanish government in August 2011 asking for wage cuts and the creation of “mini-jobs” to address the issue of youth unemployment in exchange for buying Spanish government bonds in the secondary market. These “mini-jobs” would pay salaries below the Spanish minimum wage. How to square this with the aim to turn Spain into a more competitive economy? I don’t know, unless one wants Spain to directly compete with China."
Qual a percentagem do PIB espanhol que está associado a sectores não-transaccionáveis?
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Ou socialismo adepto do Grande Planeador:
"Europe needs a hand-on industrial policy with government investment in innovations like renewable energy systems, public transport and education and health. Countries like Greece in the periphery need help in the task of industrial restructuring and upgrading. Resources should be going from countries like Germany to them instead of the other way around."
Quem é que sabe que indústrias é que vão ter futuro?
A velha ideia, desmascarada tão bem por Spender, (recordar a série "Shift happens!") de que um negócio não está repleto de incerteza, de que não depende do contexto e da idiossincrasia de quem investe, de que basta escolher o negócio e obter os recursos. Treta!

quarta-feira, setembro 18, 2013

Pois...

Estas frases:
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Primeira:
"Mas o aumento da produtividade não terá apenas relação com os níveis de rendimentos dos trabalhadores. Zeinal Bava acrescenta que “se conseguirmos reduzir os custos unitários de trabalho e aumentar a produtividade então poderíamos baixar os preços” e tornar a tecnologia acessível a todos."
Até parece que o preço tem alguma relação matemática com o custo.
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A PT, assim como qualquer empresa normal, faz o preço que o mercado deixar, independentemente dos custos que tem ou não.
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Segunda:
"O presidente executivo da Oi sublinha que a produtividade é “importante”. “Discutir o salário mínimo e quanto pagamos às pessoas torna-se secundário." 
Gostava de conseguir conciliar esta frase com a história por detrás de "Curiosidade do dia ou As opções durante uma reconversão - parte V"

Frases retiradas de "Zeinal Bava: "Discutir o salário mínimo é secundário""

sexta-feira, junho 07, 2013

Cão que morde o homem

Na passada terça-feira, durante o almoço num restaurante na Sertã, via as imagens do noticiário televisivo. A certa altura, apareceu a figura de Vale e Azevedo e em rodapé a notícia de que teria estado mais uma vez num tribunal.Como tinha o PC ao meu lado, escrevi no Twitter:
"Vale e Azevedo em Tribunal" - Cão morde homem.
No JdN da passada quarta-feira encontrei outro "cão que mordeu um homem" e que, todavia, era alvo de notícia e, ainda por cima, sublinhada.
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Em "Em Portugal, o custo da energia não é competitivo. Isso é um ponto fraco do País" pode ler-se:
"Os custos laborais da operação portuguesa são mais altos ou mais baixos do que os que têm na Alemanha? (Moi ici: Como classificar uma pergunta destas num jornal de negócios? Qualquer pessoa sabe a resposta a esta pergunta básica... 

desconfio que a pergunta vem da confusão entre custos laborais e custos unitários de trabalho (CUT). Habituados a ouvir que os CUT alemães baixam, pensam que os salários alemães baixam...)

Recordar: