sábado, junho 03, 2017

Cuidado com as médias

A propósito deste título "“Na Europa, cada mil milhões de euros de exportações apoiam 14 mil empregos”"

Este é o pensamento que critiquei no Senhor dos Perdões, ver a economia como um monólito, como uma realidade homogénea.

Como é que é possível lançar um número como este e esperar que tenha algum significado?

O perfil de exportações português é diferente do alemão e diferente do romeno, por exemplo. Por exemplo, em 2016 a rubrica "Viagens e turismo" representou mais de mil milhões de crescimento das exportações. Quantos empregos foram criados? Muito mais do que 14 mil.

Recordar esta lição.

Surpresas

Ontem de manhã, antes de uma reunião de trabalho numa empresa, folheei o último Boletim Económico (maio de 2017) do Banco de Portugal e foi um festival de surpresas.

Tendo em conta o que os media relatam acerca da economia portuguesa nestes tempos e o que relatavam quando a actual situação era oposição esperava diferenças abissais. No entanto:
"De acordo com o Inquérito ao Emprego do INE, em 2016 o número total de desempregados diminuiu 11,4 por cento em termos homólogos, após a queda de 11,0 por cento registada em 2015
...
Neste âmbito, o número de indivíduos desempregados à procura de emprego há 12 ou mais meses registou em 2016 uma queda de 13,4 por cento (após menos 13,7 por cento em 2015).
...
De acordo com o Inquérito ao Emprego, o emprego total aumentou 1,2 por cento em 2016, após um aumento de 1,1 por cento em 2015. Esta evolução reflete o crescimento do emprego por conta de outrem (2,1 por cento) dado que o emprego por conta própria registou uma queda pronunciada (3,2 por cento). Em termos setoriais, o principal contributo para a taxa de variação homóloga do emprego por conta de outrem registou-se nos serviços transacionáveis, que incluem as atividades ligadas ao turismo.
...
Em 2016, o consumo privado apresentou um crescimento de 2,3 por cento, ou seja, um valor inferior em 0,3 p.p. ao registado em 2015."[Moi ici: Esta última nunca passaria pela cabeça de ninguém]

Acerca da evolução das importações

"O ‘think tank’ Bruegel analisa a evolução do saldo comercial das economias da periferia da Europa e conclui que, tirando a Grécia, o ajustamento veio do aumento das vendas ao exterior e não da quebra das importações.
...
Quase uma década mais tarde, os autores propõe-se desconstruir esse mito, concluindo que na maioria dos países as importações aumentaram pouco e foram as exportações que ajudaram a equilibrar a frente externa. Em Portugal, entre 2008 e 2016, o saldo da balança corrente melhorou cerca de 8,5 pontos percentuais do PIB, que resultam de mais 11 pontos das exportações, sendo penalizado por 2,5 pontos nas importações (que aumentaram). Desde 2013 que o país tem um excedente."
De um lado temos os sofistas sempre dispostos a argumentar qualquer coisa em prol do seu clube:


Do outro, anónimos como eu que fazem contas e procuram ancorar o pensamento em factos:
"Os resultados são interessantes e fogem do que estava à espera.
...
Primeira surpresa: as importações de bens em 2012 superaram as de 2010 (no referido período)"
Trechos iniciais retirados de "Bruegel: o mérito do ajustamento externo é das exportações

Fruta e o século XXI

Este é o blogue que promove a concorrência imperfeita e os monopólios informais. Agora reparem neste relato que contraria a narrativa da economia do século XX:
"For years, economists have believed that competition tends to equalize profits across firms, as inefficient firms either learn from better ones or go out of business, and as new firms enter markets and so compete away high profits. Several things, however, suggest that we need to change our mental model, because this basic common sense intuition might be wrong.
...
An upper tail of companies and countries has maintained high and rising levels of productivity. These productivity leaders are pulling ever-further away from the lower tail. Or, put differently, rates of technological diffusion from leaders to laggards have slowed, and perhaps even stalled, recently.
...
All this is the exact opposite of what we’d expect to see if competition equalized profits."
Agora imaginem uma narrativa baseada na concorrência imperfeita e nos monopólios informais. Nesse modelo o preço não é a base da vantagem competitiva. Um cliente não compra porque o preço é o mais baixo.

Agora que vim morar para Vila Nova de Gaia surpreendo-me com a quantidade de lojas de fruta que encontro e que existem há anos e anos apesar da distribuição grande toda que existe num raio de mil metros. Será que a fruta nestas lojinhas é mais barata que no Continente? Nope!

Será que a produtividade é mais alta nestes lojinhas? Nope!

A vantagem competitiva destas lojinhas não é o preço... é o sabor!!!

Quando se constrói uma marca forte e uma proposta de valor que não assenta no preço... a narrativa do século XX cai por terra, é preciso outra lógica económica para explicar o século XXI.

Trechos retirados de "The end of competition?"

sexta-feira, junho 02, 2017

Curiosidade do dia

Exemplo típico de jogador de bilhar amador:
"o mesmo agente político que diz que é preciso anular o risco, reforçando até a legislação sobre isso, é o mesmo que "diz que não se percebe porque não se financia a economia". Contudo, essas "são duas promessas completamente insustentáveis".
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É que se o agente político não quer que bancos corram riscos, isso vai ter impacto no financiamento da economia, em menor concessão de crédito a empresas e famílias.
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Já se o agente político quer que conceda financiamento sem olhar ao risco, no final alguém terá de pagar por decisões mal tomadas."
Já muitas vezes dei comigo a pensar nisto. Jerónimo & Martins aparecem às segundas, terças e quartas a defender mãos largas para os empréstimos. Depois, às quintas, sextas e sábados protestam por causa das impedirdes dos bancos. Go figure.

Trecho retirado de "Carlos Costa diz que políticos pedem medidas contraditórias aos bancos"

Adeus Okun (parte IV)

A empresa mandou-me os dados por linha de fabrico.

Usei umas cartas de controlo estatístico para avaliar o desempenho de cada linha. Uma das linhas tinha um comportamento estranho: a produção diária da primeira metade do ano (YTD) estava sistematicamente abaixo da média anual e, a produção diária da segunda metade do ano estava sistematicamente cima da média anual. Começámos logo a levantar teorias, algumas rebuscadas, que pudessem explicar este comportamento anormal.

Quando chegámos à empresa pedi para visitar a linha de fabrico e perguntei ao encarregado do turno como é que ele explicava a evolução. A resposta foi:
- Começámos a fazer mais uma hora extra por turno desde ...

Porque recordo este episódio desta semana?

Tenho escrito a série "Adeus Okun" onde, tal como o encarregado da referida linha de fabrico, usando a minha experiência de contacto com a realidade, explico de forma comezinha como pode o emprego crescer mais do que a Lei de Okun prevê dado o crescimento do PIB.

Hoje, em "Produtividade piora apesar da forte retoma do investimento" sinto que alguém escreve sobre dados que recolheu e se esqueceu, ou não tem possibilidade de descer da torre de marfim até à realidade em busca de explicações. Leio:
"Banco de Portugal diz que paragem no investimento dos últimos anos prejudica a produtividade atual.[MOi ici: Afirmação com que não concordo logo à partida]
...
A produtividade aparente do trabalho piorou no primeiro trimestre deste ano, apesar da forte retoma do investimento e da reposição dos níveis salariais
...
O Banco de Portugal suspeita que o problema não esteja tanto nos salários, mas mais na falta de investimento (capital).
...
O indicador de produtividade média aparente laboral, que no fundo pode ser o produto interno bruto (PIB) gerado por cada trabalhador num terminado período (a preços correntes ou constantes) ou o valor acrescentado bruto da economia ou de um setor de atividade dividido pelo número de empregados (como faz o Banco de Portugal), está estagnado (calculado a preços correntes, com inflação) ou a cair, se calculado a preços constantes, tirando a inflação.
...
"Os reduzidos níveis de capital concorrem para o fraco desempenho da produtividade do trabalho na economia portuguesa", concluem os economistas do BdP, num estudo divulgado em maio. E dizem mais: "As explicações são complexas, podendo relacionar-se com as alterações da estrutura produtiva, num contexto em que os níveis de capital por trabalhador permanecem reduzidos, após vários anos com baixos níveis de investimento.""
O meu contacto diário com a realidade das PME dá-me duas pistas:

  • crescimento baseado em actividades não ou dificilmente escaláveis, tema que a série de "Adeus Okun" desenvolve. Por exemplo, a renovação habitacional é mais uma actividade pouco escalável, pequenas empresas a trabalhar para proprietários com um imóvel;
  • ao contrário do que dizem os keynesianos as PME estabelecidas que conheço não contratam hoje porque esperam vir a ter mais trabalho no futuro. Esticam os recursos, preferem colocar toda a organização em stress para servir a crescente procura e só quando ganham confiança no futuro é que voltam a contratar, para distender a organização e reduzir o stress (nesta fase o emprego cresce mais do que a facturação porque se está a compensar o que já se devia ter compensado no passado)


Cuidado com o Big Data

Mongo é o mundo da ARTE, o mundo da criatividade.

Mongo é o mundo da proximidade, do interacção, da co-criação.

Sou um apóstolo de Mongo e tenho receio da crença inabalável no Big Data.

Por isso: "If You Want to Be Creative, Don’t Be Data Driven".

Como não relacionar com:

E já agora, relacionar com "There is no right answer"

I rest my case: competitividade e CUT (parte VI)

Parte Iparte IIparte IIIparte IV e parte V.

"How to reconcile good export performances with rising relative unit labour costs in the periphery of the euro area?
...
differences in cost competitiveness however do not systematically translate into differences in price competitiveness.
...
Unit labour costs were also de-correlated from export growth: the bulk of their appreciation comes from price developments in the non-tradable sector, with the effect being largest in the crisis-countries.
...
Exports were largely unaffected by the shock in domestic demand probably because they respond primarily to foreign demand and exogenous international prices. Rising unit labour costs were not the source of the demand shock but a symptom and they were not necessarily associated with losses in export competitiveness."

Trechos retirados de "The Signatures of Euro-Area Imbalances: Export Performance and the Composition of ULC Growth" de Guillaume Gaulier e Vincent Vicard.

"Se a conjuntura explicasse tudo, a aceleração não seria apenas em Portugal" (parte II)

Como é que terminei a parte I?
"O efeito do fim da China como fábrica do mundo."
Entretanto, ontem descobri este texto "O aprovisionamento de proximidade". Recomendo a sua leitura para ter uma percepção da revolução em curso na Europa de Leste à custa do fim da China como fábrica do mundo. Portugal também está a aproveitar esta maré.

Segundo o ministro da Economia há uma aceleração do crescimento do PIB em Portugal (só em Portugal) mas ao ler este texto é impossível não imaginar a revolução em curso no outro extremo geográfico da Europa.

Basta recordar o efeito do banhista gordo. A China tem mais de mil milhões de habitantes. A Europa em 2010, segundo a ONU, tinha 740 milhões de habitantes.

Há anos que relacionamos reshoring, nearshoring e o fim da China como fábrica do mundo.

quinta-feira, junho 01, 2017

Curiosidade do dia

Apanha-se mais rapidamente um coiso que um coxo.

Ainda esta manhã li, com espanto, "Se a conjuntura explicasse tudo, a aceleração não seria apenas em Portugal".

A ilusão em que esta gente quer mergulhar o país com a ajuda da imprensa amestrada.

Entretanto, durante a tarde, enquanto escrevia um relatório, fui duas ou três vezes ao Twitter e, sem procurar, encontrei estes dois textos:

  • "Finland no longer ‘sick man of Europe’ as economy grows" onde se pode ler "Economic growth in the first quarter was 1.2 per cent over the previous three months — the highest rate since the end of 2010 — and expanded 2.7 per cent year on year, faster than economies such as Germany and Sweden."

Se calhar, se procurar descubro que a aceleração é geral...

"by removing parts, via negativa"

Esta manhã a caminho do escritório li mais umas páginas do futuro novo livro de Nassim Taleb.

Ao ler:
"SYSTEMS LEARN BY REMOVING.
Now, if you are going to highlight a single section from this book, here is the one. The interventionista case is central to our story because it shows how absence of skin in the game has both ethical and epistemological effects (i.e., related to knowledge).
...
Returning to our interventionistas, we saw that people don’t learn so much from their –and other people’s –mistakes; rather it is the system that learns by selecting those less prone to a certain type of mistakes and eliminating others.
.
Systems learn by removing parts, via negativa.
Many bad pilots, as we mentioned, are currently in the bottom of the Atlantic, many dangerous bad drivers in the local quiet cemetery thanks to skin in the game – so transportation didn’t get safer just because people learn from errors, but because the system does. The experience of the system is different from that of an individual and requires such a filtering. This remains the central point about disincentives that has been missed so far."
Ao mesmo tempo que lia estas linhas imediatamente recordei e fiz a ponte para este postal, ""Nations do not trade; it is firms that trade"", de Novembro de 2007 e estas frases:
"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled.
...
In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants.[Moi ici: A produtividade aumenta by removing parts, via negativa]
...
As creative destruction is shown to be an important element of economic growth, there is definitely a case for public policy to support this process, or at least avoid disturbing it without good reason.
.
Competition in product markets is important. Subsidies, on the other hand, may insulate low productivity plants and firms from healthy market selection, and curb incentives for improving their productivity performance. Business failures, plant shutdowns and layoffs are the unavoidable byproducts of economic development."

Imaginem o impacte do que reduz a concorrência ou protege os que os clientes não privilegiam...

I rest my case: competitividade e CUT (parte V)

Parte Iparte IIparte III e parte IV.

Mais um sintoma de que aquilo que ditava a maior ou menor competitividade no século XX não é tão relevante no século XXI: "Portugal mantém 39.º lugar no ranking da competitividade mundial"

No entanto, desde o aparecimento do euro, as exportações portuguesas cresceram o mesmo, um bocadinho mais, que as alemãs (Alemanha ocupa o 13º lugar neste ranking).

No século XXI onde reina a diversidade de Mongo estes rankings são treta.

Uma década à frente da tríade*

Há quantos anos escrevemos e defendemos isto aqui no blogue?
"A verdade é que cada vez mais fazemos menos quantidade e mais variedade. E isso é urn estímulo para quem gosta de criar.
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Mas deixar de fazer apenas duas colecções por ano, ou sapatos de verão e de inverno, não é urn problema? [Moi ici: Que formação têm estes colocadores de perguntas? Não percebem o que está a acontecer desde 2006? Não se auto-interrogam? Não procuram respostas por eles próprios? Hello! Estamos em Mongo e a fugir de Magnitograd o mais rápido possível!]
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É uma adaptação a que o nosso sector está a responder habilmente. Nesse aspecto não temos medo. Até é bom que o mercado siga essa linha, porque somos ágeis e flexíveis. Somos desenrascados, temos capacidade de resposta. E tudo isto pesa tambem numa conjuntura ern que o segmento das vendas online esta em rápido crescimento."

Acerca da inflação de épocas anuais:


Acerca da flexibilidade e rapidez:


Trecho retirado de "Este é um bom momento para investirmos em marcas" (revista Exame deste mês de Maio)


* Julgo que foi neste postal, "Uma das minhas inspirações iniciais" de Outubro de 2011 que usei o termo tríade pela primeira vez.

"Se a conjuntura explicasse tudo, a aceleração não seria apenas em Portugal"

Já sabem que não tenho em grande conta a honestidade intelectual do ministro da Economia Caldeira Cabral.

Recordar:

Em "Caldeira Cabral diz que crescimento da economia portuguesa "não vem de trás"" oiço que o crescimento não vem de trás e leio:
"Segundo o governante, a conjuntura afecta todos os países e o que se passa é que Portugal cresceu 2,8% entre Janeiro e Março, quando no primeiro trimestre de 2016 foi de 0,9%, e na zona euro o crescimento se manteve em 1,7%.
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"Se a conjuntura explicasse tudo, a aceleração não seria apenas em Portugal, seria um fenómeno europeu e isso não é a realidade", acrescentou."
Eis os números que sigo aqui no blogue há anos:

Onde está o impacte das políticas deste governo? O que mudou?

Quanto aos níveis de crescimento do PIB do 1º trimestre, recordar o fraco desempenho do 1º trimestre de 2016 e olhar para esta figura:

Quanto mais claro é o verde maior o crescimento previsto.

Volto a citar o ministro:
"Se a conjuntura explicasse tudo, a aceleração não seria apenas em Portugal, seria um fenómeno europeu e isso não é a realidade", acrescentou."
As previsões da Primavera de crescimento do PIB na UE feitas há dias são estas:


I rest my case.

O efeito do fim da China como fábrica do mundo.


quarta-feira, maio 31, 2017

Curiosidade do dia



Os jogadores amadores de bilhar não apanham os efeitos daquilo que desejam, querem um Estadão metido em todo o lado, a empregar metade dos activos do país e depois queixam-se do saque, do jugo, da impostagem.

A importância do ecossistema

Quem segue este blogue sabe que há milhares de anos que sublinhamos aqui a importância de pensar a nível de ecossistema.
"“Design-driven architecture allows organizations to understand an ecosystem and its actors, gain insight into them and their behavior, and develop and evolve the services they need,”
...
Digital business emphasizes the importance of ecosystems, or the network of customers, partners and organizations that surround a business. The increasing interconnections of people and devices also reinforce the need for enterprise architects to consider all of their organization’s ecosystems. “EA and technology innovation leaders need a holistic view of internal and external ecosystems. For example, a hospital’s EA team should consider its core ecosystem — medical staff, administrators and patients — as well as families, support groups and other external influencers,”"
Trechos retirados de "The Evolution of Enterprise Architecture"

"To discover that the unfamiliar is the comfortable familiar they seek"

"People will do a bad (a truly noxious) job for a long time because it feels familiar. Legions of people will stick with a dying industry because it feels familiar.
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The reason Kodak failed, it turns out, has nothing to do with grand corporate strategy (the people at the top saw it coming), and nothing to do with technology (the scientists and engineers got the early patents in digital cameras). Kodak failed because it was a chemical company and a bureaucracy, filled with people eager to do what they did yesterday.
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Change is the unfamiliar.
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Change creates incompetence.
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In the face of change, the critical questions that leaders must start with are, "Why did people come to work here today? What did they sign up for?"
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The solution is as simple as it is difficult: If you want to build an organization that thrives in change (and on change), hire and train people to do the paradoxical: To discover that the unfamiliar is the comfortable familiar they seek. Skiers like going downhill when it's cold, scuba divers like getting wet. That's their comfortable familiar. Perhaps you and your team can view change the same way."



Trechos retirados de "In search of familiarity"

"trying to do too much"

"1. Initiative proliferation
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This can be summed up as trying to do too much.
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Is the list of initiatives you want to accomplish for the year longer than a page? Than you are almost certainly trying to accomplish too much, which will likely mean you’ll accomplish nothing at all.
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That’s not to say there aren’t many areas your organization could improve in. But the reality is your organization can only take on a handful. So it comes down to ruthless prioritization.
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Which are the absolute most important initiatives your organization can take on? While there’s no set amount and it can vary depending on the size of the tasks, five or is a good number. That’ll allow your team to focus in on those five and knock them out of the park, as opposed to doing twenty things half-heartedly."
Recordar "Too much bread?"


Trecho retirado de "5 Strategy Mistakes That Will Derail Your Business"

11. Razão de ser de um processo

Qual a razão de ser de um processo? Por que é que ele existe?

Algumas empresas continuam a confundir processos (conjunto de actividades que transformam entradas em saídas) com procedimentos (descrições do que se faz). Assim, quando se olha para o objectivo de um processo às vezes encontra-se uma lengalenga do tipo:

"Este documento descreve o modo como a AAAA procede perante consultas ou encomendas dos seus clientes..."

Repararam?

O objectivo descrito é o objectivo do documento, é o objectivo do papel que descreve o processo!

Prefiro que se comece pelo carácter teleológico de um processo, em que é que ele se projecta, para definir o seu objectivo, a sua finalidade. Há muitos anos descobri um livro na livraria do El Corte Ingles de Lisboa, The Agenda: What Every Business Must Do to Dominate the Decade,  do controverso Michael Hammer, onde encontrei uns trechos que nunca mais esqueci:
First, processes are teleological (from the Greek word telos, meaning "goal' or mission"). That is, they focus on the outcome of work rather than on work as an end in itself. In an organization that pays attention to its processes, everyone in the company understands the why as well as the what of their work. How people are trained and how performance is measured must reinforce the outcome orientation of processes.
 .Second, processes are customer-focused. Thinking in terms of processes compels a business to see itself and its work from the perspective of the customer, rather than from its own.
...Third, processes are holistic. Process thinking transcends individual activities. It concentrates instead on how activities fit together to produce the best outcome—the results that must he delivered to customers. The key goal—superior value for the customer—is achieved when an assortment of warring departments is replaced with a seamless web of collaborators working together for a unified purpose.
Por exemplo, transformaria o processo Gestão Comercial (ver parte 10 acerca da crítica a este tipo de designação) de uma empresa em dois processos:
  • Ganhar contrato (trata da parte das consultas até chegar ao contrato)
  • Tratar encomenda (trata da parte das encomendas ao abrigo de um contrato)
Para que é que existe o processo Tratar encomenda

Reparar como esta abordagem pode ser feita com a folha em branco, não precisamos de saber o que se faz dentro do processo. Qual é a razão de ser do processo, para que é que ele existe?

A resposta pode ser, por exemplo:
  • Responder rapidamente às encomendas, sem erros e indo ao encontro do prometido
Quando se procede desta forma, acontece magia. Que indicadores escolheriam para monitorizar a eficácia deste processo? Para confirmar que a razão de existir é cumprida?
  • Tempo médio de resposta a uma encomenda;
  • Taxa de erros por encomenda;
  • Taxa de cumprimento do prazo de entrega;
  • Taxa de reclamações e devoluções.
Desta forma evitam-se os indicadores da treta e concentra-se a atenção naquilo que mede a razão de ser do processo.


terça-feira, maio 30, 2017

Curiosidade do dia

Afinal o FMI sempre veio!
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Come on Expresso, "Costa quer acelerar banco ‘mau’" ou "Banco mau? Portugal não precisa, diz António Costa".

Gente que fala cedo demais, gente que fala demais ou gente que não sabe do que fala.


Adeus Okun (parte III)

Parte I e parte II.

Outro exemplo de como a economia do século XXI difere da economia do século XX. Basta pensar na UNICER e na sua evolução recente "Unicer fecha produção de cerveja em Santarém e centraliza fabrico em Leça do Balio" e comparar com Mongo nos Estados Unidos e a explosão das cervejas artesanais:
"America seems to be toasting her economic recovery with a cold one. After a seven-year slump from 2004 to 2010, the breweries industry (NAICS 312120) reversed direction in a hearty uptick at the end of the recession and has sprung up 44% in the past four years. With 35,675 brewery jobs in 2014 (compared to 26,519 in 2004 and only 24,864 in 2010) and average earnings of $82,044 per job, the industry is clearly in a happy spot.
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Brewery establishments have more than tripled since 2004. This makes sense, given the job growth, but the difference since 2010 is that the establishments are also smaller, spreading out the workforce. In 2004, there were 384 establishments with an average of 69 workers per establishment. In 2014, there were 1,271 establishments with an average of only 30.6 workers per establishment."
Ou de outra forma:
"Combined with already existing and established breweries and brewpubs, craft brewers provided nearly 122,000 jobs, an increase of over 6,000 from the previous year.
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“Small and independent brewers are a beacon for beer and our economy,” added Watson. “As breweries continue to open and volume increases, there is a strong need for workers to fill a whole host of positions at these small and growing businesses.”"
Enquanto o século XX dependia da eficiência o século XXI aposta na preferência.

Em curso o fim da globalização

Outro sintoma do refluxo da globalização, do reshoring, do fim da China como fábrica do mundo, do advento de Mongo e do aumento da importância da proximidade, da co-criação, da interacção, da preferência, "Eurozone Manufacturing Adds Jobs at Fastest Pace in 20 Years":
"The eurozone’s economic recovery maintained its recent, stronger momentum in May as the currency area’s manufacturing sector added jobs at the fastest pace in 20 years while German businesses were more optimistic than at any time since 1991."

O que diz o contexto competitivo?

Primeiro, comecemos por "Aumentar a produtividade com filosofia":
"Se queremos ser mais produtivos - e temos de o ser se queremos aumentar os rendimentos -, temos de questionar o nosso dia a dia, o "status quo", até porque a soma de pequenas mudanças dá, por vezes, origem a grandes resultados. Este foi, no fundo, o pensamento que esteve na base do desenvolvimento da filosofia Kaizen, que foi implementada pelas empresas japonesas a partir da década de 50 para recuperarem do pós-guerra. A filosofia consiste num esforço de melhoria contínua,
...
Quando cheguei à Olbo & Mehler – especialista e líder mundial na produção de têxteis técnicos para fins industriais"
Se uma empresa olhar para o seu contexto competitivo e concluir que não precisa de mudar de segmento de clientes, que não precisa de mudar de tipo de oferta, então, esta filosofia de melhoria contínua faz todo sentido.

Se uma empresa ao olhar para o seu contexto competitivo concluir que tem de mudar de oferta e de segmento de clientes, então, esta filosofia de melhoria pode desviar a empresa da prioridade real. Nesse caso, o esforço de melhoria contínua será um esforço inglório porque insuficiente. Recordar o caso da empresa de calçado que deixou de ser competitiva a vender sapatos de 20€ e passou a ser competitiva a vender sapatos de 300€. Agora, nesta altura, faz sentido apostar na melhoria contínua.

Acerca da Olbo & Mehler encontrei "Olbo & Mehler. Têxteis à prova de fogo":
"a Olbo & Mehler só quer reforçar a sua posição em três áreas de negócios específicas: têxteis técnicos para a indústria automóvel, para as aplicações industriais e para a construção.
...
Tecidos para correias de transporte, para correias de distribuição, para corrimões de escadas rolantes ou para coletes à prova de bala foram alguns dos artigos que estiveram em exposição. Bem como a estrela da empresa, um têxtil fabricado através de basalto tratado, um produto patenteado pela Olbo & Mehler, que se destina ao uso em situações que requerem elevada resistência ao calor e ao fogo
...
Não operamos no mercado de baixo preço e o consumidor sabe ver a diferença. Os produtores chineses estão focados em elevados volumes e tentam conseguir economias de escala de modo a reduzir preços. Nós olhamos para a inovação e para o valor acrescentado. Usamos uma equipa de investigação e desenvolvimento com todo o conhecimento acumulado que 20 anos de experiência trazem para desenvolver novos produtos e acrescentar-lhes muito valor”, sublinha. Uwe Mrotzeck, adiantando: “Sabemos que os clientes americanos gostam dos nossos produtos e sabemos porque não os compram. Pela distância. Cada vez mais o tempo é um fator determinante no mundo dos negócios.”
...
Se tivéssemos continuado como estávamos, concentrados no segmento das correias de transporte, que não passam de comodities, não teríamos durado muito mais. Os chineses teriam tomado conta do mercado. A transferência da produção da República Checa para Portugal de toda esta nova gama de produtos que hoje disponibilizamos permite-nos estar num mercado onde o cliente aprecia o valor do produto”, frisa Alberto Tavares."

10.Designar um processo

O que é um processo?

Recorro à definição da ISO 9000:2015:
"Conjunto de actividades interrelacionadas e interactuantes que transformam entradas em saídas"
As actividades são sempre instrumentais, o essencial é o resultado.

Assim, esta definição pode ser melhorada:
"Conjunto de actividades interrelacionadas e interactuantes que transformam entradas em saídas tendo em vista uma finalidade! 
Olhando para uma empresa podemos pensar num elemento detonador com origem no exterior e que chega à interface: uma encomenda. Um processo é sempre iniciado por evento concreto:

  • Pode ser quando alguém decide fazer algo;
  • pode ser quando o calendário o dita;
  • Pode ser quando uma condição ou regra é satisfeita

Um cliente coloca uma encomenda.

As empresas gostam de encomendas? Sim, se forem de clientes-alvo e sérios. E o que é que fazem com a encomenda? Transformam-na numa Ordem de Produção, põe a área produtiva a trabalhar. Com que é que ficamos no final do tratamento da encomenda? Com uma encomenda tratada!

Aqui vai a primeira regra que sigo ao cartografar os processos de uma empresa:
A designação de um processo está relacionada com a principal transformação de entradas (encomenda) em saídas (encomenda tratada). Assim, a designação do processo é uma inversão da designação da principal saída: Tratar encomenda.

Em vez de dar nomes como "Processo Comercial" fujo, como o diabo da Cruz, de designações que lembrem o organigrama (processos são fluxo, são caudal, são vontade de cumprir um desígnio, são horizontalidade. Organigrama é hierarquia, são relações de poder e autoridade, é verticalidade), uso a fórmula:
VERBO + SUBSTANTIVO
O que é um processo? É um método definido para atingir um dado resultado, e esse resultado é que é fundamental para a definição de um processo, muito mais do que o trabalho, as actividades que se desenvolvem no seu interior.
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As actividades são sempre instrumentais, o essencial é o resultado.
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Muitas organizações confundem processos com departamentos atribuindo-lhes designações como: "Recursos Humanos"; "Comercial" ou "Aprovisionamentos".
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Um processo é uma realidade horizontal, transversal. Um departamento é uma realidade vertical, mais precupada com a gestão dos recursos e especialidades do que com o fluxo do trabalho.
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Um processo deve ser designado por um verbo + um substantivo (um processo é acção, é transformação), por exemplo:
  • Formar colaboradores;
  • Comprar matérias-primas;
  • Planear produção;
O que é interessante com esta fórmula para a designação de um processo é que se trocarmos a ordem obtemos as saídas do processo:
  • Colaboradores formados;
  • Matérias-primas compradas;
  • Produção planeada;
Ao escolher o verbo, escolher um que indique uma actividade única que ocorre num ponto em particular do processo e que nos ajuda a visualizar um resultado. Evitar usar verbos do tipo 'Gerir'. Verbos que indicam uma actividade, ou múltiplas actividades, que ocorrem ao longo do tempo e que não ajudam a individualizar um resultado concreto, único e específico.

Aqui vai a segunda regra acerca da designação de um processo, que aprendi em "Workflow Modeling: Tools for Process Improvement and Application Development":

  • o resultado de um processo deve ser discreto e identificável (é possível falar de diferentes encomendas e de diferentes tipos de encomenda);
  • O resultado do processo deve ser fácil de contar (quantas encomendas tratamos?)
  • O resultado deve ser relevante;
  • A designação deve ser no singular para focar a atenção num resultado único, específico e contabilizável;
  • A designação indica não só um resultado essencial mas o resultado que o cliente do processo pretende
  • Sempre vi com maus olhos a utilização da palavra "Gestão" na designação dos processos
Um processo é como uma couve-flor, é como um fractal. As regras que aplico a um sistema (conjunto de processos) são as regras que aplico a um processo (conjunto de actividades) são as regras que aplico a uma actividade (conjunto de tarefas) são as regras que aplico a uma actividade:

Macro processo: 1.Ganhar obra
Processo: 1.1.Angariar negócio, 1.2.Entregar proposta; 1.3.Assinar contrato.

Próximo desafio: Finalidade de um processo