quarta-feira, julho 16, 2025

Portugal, o que é que se está a fazer ou a planear fazer?


Há um ditado atribuído a Confúcio que diz algo como:

"O homem inteligente aprende com os seus próprios erros. O sábio aprende com os erros dos outros."

Ainda há dias recordei o ICI-man e a sua frase que nunca me abandona

"Planning is an unnatural process; it is much more fun to do something. And the nicest thing about not planning is that failure comes as a complete surprise rather than being preceded by a period of worry and depression."


Depois, recordei os rinocerontes cinzentos e os fragilistas:

"Os fragilistas partem do princípio que o pior não vai acontecer e, por isso, desenham planos que acabam por ser irrealistas ou pouco resilientes. Depois, quando as coisas acontecem, chega a hora de culpar os outros pelos problemas que não souberam prever, não quiseram prever, ou que ajudaram a criar."

"O fragilismo espera sempre o melhor do futuro, não prevê sobressaltos. Acredita que os astros se vão alinhar em nosso favor, não vê necessidade de precaução, just in case."

Também posso recuar ao Evangelho segundo São Lucas 14, 28-33:

"Quem de vós, desejando construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa, para ver se tem com que terminá-la? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, se mostre incapaz de a concluir e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo:

‘Esse homem começou a edificar, mas não foi capaz de concluir’.

E qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro a considerar se é capaz de se opor, com dez mil soldados, àquele que vem contra ele com vinte mil? Aliás, enquanto o outro ainda está longe, manda-lhe uma delegação a pedir as condições de paz."

Entretanto, no FT da passada segunda-feira podia ler-se, "Rising demand forces Dutch to ration electricity". O artigo relata como os Países Baixos enfrentam um racionamento da electricidade devido à crescente procura motivada pela transição energética e electrificação da economia. Com mais de 11.000 empresas à espera de ligação à rede, o sistema eléctrico holandês está a atingir os seus limites. A situação está a forçar o governo, operadores e empresas a repensar planos de investimento e a procurar novas soluções, desde tarifas diferenciadas por hora até campanhas de sensibilização sobre consumo energético. O artigo alerta que esta crise energética é um aviso para outros países europeus que estão no mesmo caminho de descarbonização.

"More than 11,000 businesses are waiting for electricity network connections… On top of that are public buildings such as hospitals and fire stations as well as thousands of new homes.

...

Everything is going electric and electricity infrastructure needs to grow massively everywhere.

...

Lengthy waits for connections were holding up economic growth and could force businesses to rethink their investment plans.

...

To fix the overcrowded electricity system... the country needs to increase capacity until 2030 by an average of €4bn a year... The Hague has also put out a 'more conscious use of energy' advertising campaign.

...

The Dutch example is a warning... other countries should 'definitely' see the Dutch example as a warning."

Portugal, o que é que se está a fazer ou a planear fazer?

terça-feira, julho 15, 2025

Curiosidade do dia

Interessante!!!

No passado dia 7 numa reunião usei este mesmo termo "sicofantismo" acerca dos LLMs. 

Escrevemos um erro no prompt e eles (os LLMs) usam-no acriticamente e nunca nos contradizem, ecoam passivamente os nossos erros (utilizadores) em vez de desafiar as falsas suposições — muito à semelhança da lisonja sem sinceridade.

Compromissos versus realidade


Foi com alguma perplexidade que ouvi na TV e li no JN, "Descargas do rio Onda foram feitas pela Lactogal", as descargas ilegais da Lactogal no rio Onda. 

Como pode uma empresa que se afirma "amiga do ambiente" e que cultiva uma imagem pública de responsabilidade social e sustentabilidade estar no centro de um caso tão grave de poluição? A morte de peixes e aves, bem como a interdição de banhos nas praias de Angeiras e Labruge, são consequências directas e inaceitáveis desta conduta.

Mais chocante ainda é a reacção da própria empresa, que admite não ter solução para tratar todos os efluentes que produz, ao mesmo tempo que aponta o dedo à APA por dificuldades burocráticas. Segundo o artigo, “as águas residuais geradas no processo industrial são ‘orgânicas e biodegradáveis’, porém ‘requerem tratamento adequado’”. Ora, se a Lactogal não tem capacidade instalada para tratar os seus próprios resíduos, como pode continuar a operar com esta regularidade? Portanto, pela reacção da empresa podemos presumir que o aconteceu não foi um acidente?

Vale a pena recordar que no site da empresa se pode ler:
"Como consequência do elevado consumo de água nos vários processos produtivos da nossa indústria resulta a produção de efluente industrial. A Lactogal possui, nas suas unidades industriais, estações de tratamento de efluente industrial que obedecem a elevados padrões de monitorização e descarga de água tratada em meio hídrico. As estações de tratamento de efluentes industriais (ETEl) têm vindo a ser alvo de grandes investimentos, tendo em vista a otimização do processo nos resultados do tratamento do efluente.
Todo o efluente da empresa é enviado para estações de tratamento de efluentes industriais sendo, depois, rejeitado em meio hídrico. Também o rácio de produção específica de efluente (m3 de efluente produzido / m3 de leite processado) tem vindo a reduzir ao longo dos anos, resultado de otimizações efetuadas ao nível dos processos produtivos."
Vale a pena recordar que o Presidente do Conselho de Administração em Maio de 2024 assinou uma "POLÍTICA DOS SISTEMAS DE GESTÃO" onde assume o compromisso:
"Identificar e avaliar periodicamente os impactes ambientais, procurando a melhoria contínua do desempenho ambiental das suas atividades, dentro de uma estratégia de proteção do ambiente, prevenção da poluição e gestão responsável de recursos naturais;"

segunda-feira, julho 14, 2025

Curiosidade do dia






Ontem ao final da tarde, na paróquia da Madalena, em Vila Nova de Gaia, viveu-se um momento bonito, e raro, de comunhão entre arte, talento e comunidade. Um concerto, "Sons de Esperança" de música clássica e religiosa, organizado por gente da casa, mostrou que não é preciso sair da freguesia para se ouvir qualidade.

Mal ouvi os primeiros acordes de "Air on the G String" dei por bem empregue o meu tempo. Depois, "Quia Respexit" do "Magnificat, depois o resultado da dedicação de vários jovens com o violino e o orgão. Os músicos tocaram com alma e entrega, e houve interpretações (Coro Jovens e Coro "Vozes de Fermúcia") que, sinceramente, não ficariam mal em palcos mais formais. 

A igreja estava quase cheia. A música uniu-nos e provou, mais uma vez, que a beleza não está só nas grandes salas de concerto, mas também nos gestos de quem oferece o melhor de si, de forma desinteressada.

Foi uma hora e meia inspiradora. Que venham mais assim.

Exportações - os primeiros cinco meses de 2025



Exportações portuguesas - Janeiro a Maio 2025: sinal misto, com farmacêuticos e aeronaves a puxar pelo total.
A evolução homóloga dos primeiros cinco meses de 2025 apresenta um quadro semelhante ao observado até Abril: 9 sectores com variações positivas e 9 sectores com variações negativas. Em termos globais, regista-se uma ligeira recuperação (+1,8%) face ao mesmo período de 2024.

O sector farmacêutico destaca-se novamente, com um crescimento homólogo superior a 150%, mantendo o perfil errático mas estruturalmente ascendente que já tínhamos identificado. As exportações de aeronaves continuam também a surpreender, crescendo mais de 45% e reforçando o papel deste sector na estratégia de reindustrialização qualificada.

Máquinas e equipamentos mantêm o bom ritmo de crescimento (+8,5%), enquanto a fruta regista um sólido +21,7%, confirmando a vitalidade de algumas cadeias agroindustriais.

No lado negativo, merece destaque a quebra acentuada nas exportações de combustíveis (-19,2%), ferro fundido (-9,3%) e produtos hortícolas (-4,3%). O mobiliário também contrai (-4,7%), dando continuidade a uma tendência que tem vindo a consolidar-se.

O sector da óptica apresenta nova quebra, acumulando dois meses consecutivos de desempenho negativo após uma série longa de crescimentos. 

O calçado inverte a tendência negativa do início do ano, com um ligeiro crescimento (+4,5%), o que pode indicar recuperação.

domingo, julho 13, 2025

Curiosidade do dia


Recordo: O contrário de uma estratégia é outra estratégia 

"Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és"


O ditado popular reza assim: "Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és."

As avós estão sempre preocupadas com quem os netos passam o tempo.

Entretanto, no sétimo capítulo (Conformity) de "The Science of Getting from Where You Are to Where You Want to Be" de Katy Milkman encontrei:
"We feel like misfits when we stand out from the crowd.
...
the logic behind the herd behavior is different. No one is worried about fitting in. Rather, we suspect other people have noticed something dangerous that we missed. Sometimes, other peoples’ decisions reflect valuable information
...
how important it is to be in good company when you hope to achieve big goals and how harmful it can be to have peers who aren’t high achievers. A growing body of evidence suggests that the people you’ve spent time with have been shaping your behavior your whole life, often without your knowledge.
...
we found that encouraging people to copy and paste one another’s best life hacks motivated both more exercise and better class preparation in adults who wanted to work out more and college students seeking to improve their grades, respectively.
...
When we’re unsure of ourselves, a powerful way the people around us can help boost our capacity and confidence is by showing us what’s possible. Often, in fact, we’re more influenced by observation than by advice.
...
These studies highlight that the closer we are to someone and the more their situation resembles our own, the more likely we are to be influenced by their behavior, even if the behavior is merely described rather than directly observed.* They also speak to the power of using norms as a tool of influence. Describing what’s typical can be an effective way to help large groups change their behaviors for the better."

sábado, julho 12, 2025

Curiosidade do dia

 

"Ivar Giaever might not have won the Nobel Prize in Physics if a job recruiter at General Electric had known the difference between the educational grading systems of the United States and Norway. It was 1956, and he was applying for a position at the General Electric Research Laboratory in Schenectady, N.Y. The interviewer looked at his grades, from the Norwegian Institute of Technology in Trondheim, where Dr. Giaever (pronounced JAY-ver) had studied mechanical engineering, and was impressed: The young applicant had scored 4.0 marks in math and physics. The recruiter congratulated him.
But what the recruiter didn't know was that in Norway, the best grade was a 1.0, not a 4.0, the top grade in American schools. In fact, a 4.0 in Norway was barely passing - something like a D on American report cards. In reality, his academic record in Norway had been anything but impressive.
He did not want to be dishonest, Dr. Giaever would say in recounting the episode with some amusement over the years, but he also did not correct the interviewer. He got the job."

Em 1973 Ivar Giaever ganhou um Premio Nobel.

Trecho retirado do NYT do passado dia 10 de Julho. 

Pena não ser complementada com criatividade

 


"Daimler Truck said it expects to cut around 5,000 jobs in Germany over the next five years as it shifts production of Mercedes-Benz trucks to a more cost-effective country.
The German truck maker said the decision is part of its previously announced European cost-saving plan of more than €1 billion, equivalent to $1.17 billion, with the job cuts likely to be made through natural attrition, expanded early retirement options and targeted severance packages."
Que futuro têm as economias baseadas em indústrias "avançadas" quando os seus próprios "campeões" deixam o país por razões de custo? 

Será que é inevitável que o foco deixe de ser a inovação e passe a ser o custo?

Recordo o estudo feito sobre o valor, para os relógios analógicos, do Made in Switzerland ...

A decisão de deslocalizar por razões de custo pode ignorar valores intangíveis e não mensuráveis, como a reputação da marca ligada à engenharia alemã, a confiança do consumidor, ou o capital simbólico de ter os produtos feitos num país com prestígio industrial.

Neste blogue não temos informação suficiente, mas gostamos de seguir algumas regras heurísticas. Por exemplo, melhor do que optimizar a eficiência, é trabalhar para optimizar a marca, o significado. Claro que não ajustar durante as vacas gordas torna inevitável, mais tarde, uma fase de austeridade. Pena não ser complementada com criatividade para subir na escala de valor.  



Trecho retirado de "Daimler Truck Plans To Cut 5,000 Jobs In Germany" publicado no WSJ do passado dia 9 de Julho.

sexta-feira, julho 11, 2025

Curiosidade do dia



O ICI-man (Sir John Harvey-Jones) dizia:
"Planning is an unnatural process; it is much more fun to do something. And the nicest thing about not planning is that failure comes as a complete surprise rather than being preceded by a period of worry and depression."

A propósito de "Pensões em Portugal vão exigir 40% da receita fiscal e contributiva até 2050":

"Com a redução da população ativa associada ao envelhecimento e a perspetiva de estabilização na carga fiscal, Portugal estará, dentro de duas décadas e meia, no topo da lista dos países da União Europeia cujas finanças públicas vão enfrentar maior pressão com os custos de pensões, apenas atrás de Espanha, noticia o Jornal de Negócios (acesso pago).

De acordo com o mais recente relatório anual sobre fiscalidade da Comissão Europeia, o pagamento de pensões deverá consumir, em 2050, um pouco mais do que 40% da receita fiscal e contributiva do país, ou seja, quatro em cada dez euros recebidos pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) e pela Segurança Social."

 

Racionalidade contra o imobilismo

A propósito de "Symington: "A responsabilidade de resolver o problema dos excedentes no Douro não pode ser nossa"".

A família Symington, uma das mais influentes na produção de vinho do Porto, voltou a levantar a voz -  desta vez com a serenidade racional (é um dos principais sentimentos que transpira do artigo) de quem olha para os números e não para as nostalgias. O diagnóstico é claro: o sistema que regulou o sector durante décadas está em colapso. Há um excesso estrutural de produção, a procura está em declínio, e insistir no modelo actual é alimentar uma ilusão insustentável.

Este alerta não é novo. Há mais de uma década que os Symington chamam a atenção para o desequilíbrio entre oferta e procura. No entanto, o sistema político e institucional tem preferido medidas paliativas e actuações de curto-prazo: apoio ao armazenamento, destilação de crise, incentivos que adiam mas não resolvem. E quanto mais se adia ... mais cresce a insustentabilidade.

A crítica não é feita de forma leviana. A empresa afirma com lucidez que não pode continuar a comprar vinho que não consegue vender — seria um suicídio empresarial. A responsabilidade de sustentar o sistema não pode recair sobre as empresas.

Neste contexto, leis como a do Terço, que obrigam à manutenção de elevados níveis de stock, revelam-se desadequadas face à nova realidade. A quebra do consumo global, particularmente de vinho tinto, afecta de forma brutal o modelo produtivo da região do Douro.

A proposta da Symington é dura, mas honesta: é preciso permitir o abandono parcial e voluntário de vinha, reestruturar a produção em torno das parcelas mais produtivas e rentáveis, e deixar cair o mito de que tudo pode continuar como antes.

É preferível enfrentar agora uma transição difícil do que assistir ao colapso inevitável de um sistema sustentado em negação. A perplexidade da família Symington perante a recusa dos decisores em aceitar esta realidade deveria ecoar com força no sector.

quinta-feira, julho 10, 2025

Curiosidade do dia

 

Reforçar a crença na capacidade de mudar.

Mais um trecho interessante retirado de "The Science of Getting from Where You Are to Where You Want to Be" de Katy Milkman:

"It’s common to give out advice when we see someone struggling to achieve a goal. We often think guidance is just the thing they’re looking for, whether they ask for it or not.
...
when it came to being more successful, people had plenty of good ideas for how to do it. Even underperforming salespeople, C students, unemployed job seekers, and spendthrifts struggling to save consistently offered smart strategies for improving their circumstances. Students made suggestions ranging from the mundane ("Turn off your phone when you're studying") to the creative ("Put candy at the bottom of a worksheet, and when you finish, you can eat it"). People with money problems advised "Don't pay with a credit card." Job seekers suggested keeping résumés up-to-date and carrying them at all times. Almost everyone knew what to do to overcome their problems; they just weren't doing it.
Lauren began to suspect that this failure to act wasn't related to a lack of knowledge, but rather to self-doubt what the legendary Stanford psychologist Al Bandura has called "a lack of self-efficacy." Self-efficacy is a person's confidence in their ability to control their own behavior, motivation, and social circumstances. ... goal strivers are sometimes plagued by insecurity. In fact, a lack of self-efficacy can prevent us from setting goals in the first place.
...
Research confirms the obvious: when we don't believe we have the capacity to change, we don't make as much progress changing.
...
Too often, we assume that the obstacle to change in others is ignorance, and so we offer advice to mend that gap. But what if the problem isn’t ignorance but confidence—and our unsolicited wisdom isn’t making things better but worse?
...
prompting goal seekers to offer advice led them to feel more motivated than when they were given the very same caliber of advice.
...
being asked to give advice conveyed to people that more was expected of them, boosting their confidence."
O problema não é falta de conhecimento.
O problema é não acreditar que se consegue aplicar esse conhecimento com sucesso. Por isso, muitas intervenções eficazes não se centram em ensinar mais, mas em reforçar a crença na capacidade de mudar.

quarta-feira, julho 09, 2025

Curiosidade do dia

não estou sozinho (recordar a necessidade de medir a produtividade do sector doméstico e do sector estrangeiro). 

Sem dados acerca do futuro


Há anos aqui no blogue comecei a falar no "optimismo não documentado," por exemplo:
Ontem, Roger Martin publicou um artigo, "Going on the Offensive with Creative Strategy", que está relacionado com o tema:
"My message was that in modern business, creatives are dooming themselves to high failure rates by accepting the dominant premise of modern business, which is that by objectively analyzing the past, you can predict the future.
...
In business, all ideas are subjected to the premise that we should only take an action for which data analysis confirms will garner the necessary revenues in the future to justify the investment required by the action. Analytics are taught that their job is to enforce this premise strictly and pervasively — any deviation is reprehensible and dangerous.
...
The problem is that analytics are taught a fundamental logical fallacy. To make decisions, they are taught to use a methodology that implicitly assumes that the future will be identical to the past while we definitively know that in business, the future is rarely identical to the past. But analytics enforce a methodology that assumes it is.
That is the single biggest problem in the modern practice of management.
...
The object of strategy is an integrated set of choices that compels desired customer action. But companies do not control customers: they will do whatever they wish. Analyzing past data to forecast the future behavior of people you don't control is a fantasy exercise.
...
If you are a creative, understand that you live in a business world completely dominated by analytics. It is an era - that took shape about fifty years and still dominants today — on which we will look back fifty years from now and wonder what were we thinking? And what on earth were we teaching?
It will probably take another twenty years for the current dominant business premise to be seen as utterly ridiculous."

O conceito de "optimismo não documentado" é a decisão de agir com convicção mesmo sem garantias estatísticas. É o risco de investir num caminho novo, sem “benchmarks”, baseado em algo que ainda não foi medido, mas que faz sentido. Ou como Martin escreve:

“Analyzing past data to forecast the future behavior of people you don't control is a fantasy exercise.”

E, como diria Rory, é justamente nas decisões que não podem ser sustentadas por dados históricos — porque criam o futuro em vez de o prolongar — que reside a verdadeira inovação. O que por sua vez se relaciona com a opinião de Phil Mullan acerca dos governos e do seu medo acerca da inovação verdadeira. BTW, Seth Godin também não é meigo:

"Certainty is another word for stalling."

terça-feira, julho 08, 2025

Curiosidade do dia



Ontem o FT publicou mais um texto de Martin Wolf, "Roots of the British malaise lie in a sick economy".

Wolf identifica três falhas fundamentais no Reino Unido: política, estado e economia — e não hesita em dizer qual é a mais crítica:

"The UK suffers from three failures: failing politics; a failing state; and a failing economy. Of these, the last is much the most important."

Mesmo reconhecendo que o Reino Unido continua a ser, comparado com muitos países, uma democracia funcional e com um nível de vida elevado, o colunista não poupa críticas à estagnação económica e à incapacidade política para a contrariar:

"The problem is that the economy does not provide a rising standard of living or the expected quality of public services at politically acceptable levels of taxation."

Na semana passada a minha irmã, que vive em Inglaterra, teve de ir a Leicester. Lá, recorreu a um taxi conduzido por um somali. O somali disse-lhe que só não regressava à Somália por causa dos muitos filhos que vivem em Inglaterra, porque na sua parte natal na Somália a vida, na opinião dele, é melhor do que em Leicester. Aliás, a mulher dele está actualmente de férias na Somália. (BTW, a minha irmã perguntou-lhe se a Somália não era perigosa, ao que ele respondeu, que tudo depende da zona... e a minha irmã que vive numa zona calma e pacata do condado de Somerset percebeu).

Os dados falam por si:

"Real disposable income per head rose by just 14 per cent between the third quarters of 2007 and 2024." ...

"Trend growth of GDP per head in the UK had been 2.5 per cent a year from 1990 to 2007; then, between 2008 and 2025, it was just 0.7 per cent."

Wolf sublinha que a produtividade é o verdadeiro calcanhar de Aquiles:

"The UK's stagnant productivity is a big worry. When economies cease to grow, everything becomes zero-sum."

Mais preocupante ainda, segundo o autor, é o facto desta ilusão de crescimento ter sido alimentada por uma bolha de crédito fácil.

A consequência política desta estagnação? Charlatanismo de um lado e timidez do outro.

"By and large, [responses) have fallen into two categories: charlatanism and timidity."

Wolf reconhece em Keir Starmer integridade, mas não a coragem necessária:

"Keir Starmer is not a charlatan. But he has not been prepared to take on the burden of leadership that current conditions require."

Os jornais ingleses têm sido bastante críticos de Starmer, mas consideram o partido ainda pior pela incapacidade de reformar o país.

Não é preciso muito esforço para ver nesta descrição um espelho da realidade portuguesa. A produtividade tem sido o parente pobre do debate político. Tal como no Reino Unido, confunde-se crescimento com financiamento externo ou ciclos de fundos comunitários, e evita-se fazer o verdadeiro debate: o que produzimos? Como produzimos? A que preço e com que valor?

Neste podcast, Rory Sunderland, por volta do minuto 46 diz:

"Our audience, Rory, is made up of marketers: CMOs and marketing leaders driving innovation within their organizations and brands. In addition to the two points you've already mentioned, they're also looking to uncover 'white space' or 'blue sky' opportunities to create the next level of value. Because if you only focus on what currently exists, you end up over-optimizing for the past. The result? You shrink and become completely non-resilient.

Exactly. This reflects the classic explore-exploit trade-off, which I believe is a fundamental principle of life. It's about what proportion of resources you allocate to exploring new ideas versus exploiting what you already know works.

You'll know this concept from media planning-the 70/20/10 model, right?

70% of your spend goes to proven strategies, 20% to things you believe will work but aren't yet fully tested, and 10% to high-risk experimentation-things you don't yet know if they'll work at all.

In practice, however, it's always that 10% that gets cut first. And not because it doesn't pay off, but because it doesn't reliably pay off.

Exactly. We've created a business environment where predictability is valued more than profit. People would rather have a consistent 3% return than a 50% chance of making 30%.""

Tal como escreve Wolf:

"When economies cease to grow, everything becomes zero-sum."

Em Portugal, isso traduz-se numa economia onde todos se sentem a perder - trabalhadores com salários baixos, empresas sem margens, estado com serviços a degradar-se e impostos sufocantes. 

Martin Wolf propõe investir "intellectual resources" numa nova estratégia de crescimento.

O mesmo é válido para Portugal. Não há "bazucas" que nos salvem se não formos capazes de gerar crescimento sustentável com base em produtividade.

Invenção, procura e inovação

 
"Norton Motorcycles has pulled the plug on an advanced electric motorbike project despite the historic manufacturer having received £8.5 million from taxpayers to develop it.
Executives at the Midlands-based firm said there was simply not enough demand for electric superbikes to justify production.
...
Richard Arnold, the chief executive of Norton, told The Telegraph that the prototype was capable of "spectacular" levels of performance.
"There's a lot of technological innovations within it, a lot of design innovations within it," he said. "But there is a question: [for] the people that have sought to bring electric bikes to market, has the demand been good or bad? And the demand has been bad.
"You can develop as many products as you want. But we have to make sure they're ones consumers want to buy, and the evidence to date is that this is something consumers aren't ready for."
...
The company is now focused on producing premium petrol bikes including the £44,000 V4SV. Arnold said it was also possible that Norton would open a US factory to avoid tariffs."

Não confundir invenção com oportunidade. A Norton tinha tecnologia avançada, mas falhou em validar a apetência do mercado. As PME também devem evitar investir em invenções que não tenham procura real e actual. Uma invenção, por si só, não garante valor económico. Pode ser tecnicamente brilhante, mas irrelevante se não houver procura. Lembro-me logo de Fernando Pessa.

Inovação a sério é quando a invenção é transformada em valor real, através de um modelo de negócio, design, processo ou produto que chega ao mercado e é usado.Por isso, é preciso validar o mercado antes de escalar: O uso de fundos públicos para desenvolver um produto sem tracção de mercado mostra o risco de não testar o mercado com MVPs antes de avançar para a produção em escala.

As PME devem manter portfólios equilibrados, não pondo todos os ovos no mesmo cesto, mas explorando novas oportunidades sem comprometer as linhas de negócio já rentáveis (como a Norton está a fazer agora, voltando-se para modelos a gasolina).

Um produto à frente do seu tempo pode falhar tanto como um produto atrasado. As PME devem alinhar invenção com o momento certo do mercado.

BTW, fiquei a pensar no "crossing the chasm" de Geoffrey Moore.

Trechos retirados de "Norton pulls plug on electric superbike due to lack of demand" publicado no FT de ontem.

segunda-feira, julho 07, 2025

Curiosidade do dia

"Habits are the behaviors and routines we've repeated consciously or subconsciously, so many times that they've become automatic. They are essentially our brain's default setting: the responses we enact without conscious processing. Neuroscience research shows that as habits develop, we rely less and less on the parts of our brain that are used for reasoning (the prefrontal cortex) and more and more on the parts that are responsible for action and motor control (the basal ganglia and cerebellum).

Because firefighters and other first responders need to be able to do the right thing without much deliberate thinking, they spend enormous amounts of time practicing and drilling for emergencies, building muscle memory and developing routines that turn smart judgments into gut reactions. At the fire academy and on the job, they drill and drill to cut down the time and thought it takes to put on their heavy gear and load their trucks when the fire alarm goes off. They practice search-and-rescue skills, learn how to pull a hose line, and rehearse what to do if an oxygen mask fails."

Trechos retirados do quinto capítulo (Laziness) de "The Science of Getting from Where You Are to Where You Want to Be" de Katy Milkman. 

Descobrir valor onde antes ele era ignorado



A minha transcrição dos primeiros minutos da intervenção de Rory neste podcast:

"Innovation is essentially about discovering value in areas that have been previously undervalued or overlooked. I have a concept that I call reverse benchmarking—a strategic exercise I encourage everyone to try. I coined the term myself, because, let’s face it, you have to name an idea if you want people to take it seriously.

The key insight here is: don’t optimize for the average. That’s a trap. Instead of differentiating, most organizations fall into a cycle of comparing themselves to others—essentially entering a race to the bottom.

Roger Martin makes a powerful point in his article 'Benchmarking Is for Losers' on Medium. He argues that by benchmarking too closely, companies stop thinking strategically. They stop asking: 'What makes us unique?' and instead start mimicking competitors—turning competition into a zero-sum game.

Strategic thinking requires stepping back, looking at where real, underexplored value might lie, and choosing to stand out rather than fit in."

A ideia central é simples e poderosa: a inovação nasce quando descobrimos valor onde antes ele era ignorado ou subestimado. No fundo, não é através da comparação com os outros que criamos vantagem competitiva, mas sim através da diferenciação deliberada. É isso que a expressão reverse benchmarking quer ilustrar — em vez de olhar para o que os outros fazem bem, olhemos para onde ninguém está a olhar. 

domingo, julho 06, 2025

Curiosidade do dia

 

"Japanese interest rates turned positive last year after a protracted stint of virtual non-existence; inflation expectations now look entrenched, so money, as well as looking more portable than before, has to work harder for everyone than it has needed to since Japan's current crop of 25-year-olds was born. Demographics have also caught up with financial arrangements. According to government figures, an estimated 17.4 million Japanese, or 14 per cent of the current population, are forecast to die between now and 2035.

That implies an inheritance avalanche the likes of which the country has never experienced. Money will move with velocity between generations, between financial institutions and potentially between international markets: the heirs do not reliably stow wealth where their parents did.

The allocation of Japan's trilliondollar stash of household assets, roughly half of which have been nonchalantly parked in cash and bank deposits for decades, is simultaneously moving under the pressures of a huge behavioural and environmental shift: rising prices, particularly of food, are forcing a quest for returns that few bothered to consider a few years ago."

Trechos retirados do FT do passado dia 3 de Julho em "Japan's great financial unsticking has begun"

"Staying one step ahead of the need to be efficient"

Já aqui escrevi que ouvir Rory Sunderland é ter a certeza que vai citar 2 ou 3 livros que têm, repito, têm de ser lidos. Por exemplo, foi com ele que descobri "Unreasonable hospitality: the remarkable power of giving people more than they expect" de Will Guidara.

No último podcast em que ele é entrevistado (mais de duas horas e ainda só ouvi metade) cita Jules Goddard no livro que descobri chamar-se "Uncommon Sense, Common Nonsense" de Jules Goddard e Tony Eccles. 

A citação que me apanhou foi uma que parece tirada deste blogue:

"There are no surer signs of the inadequacy and delinquency of corporate leadership than that cost efficiency should feature as the dominant issue facing the company, and that tactics of outsourcing, shared services, reorganisation and other short-term palliatives are being paraded as the main drivers of future profitability... Strategy is the rare and precious skill of staying one step ahead of the need to be efficient."

Esta outra relaciono com Roger Martin e "Mais vale ser rico e com saúde do que pobre e doentio":

"In business, true beliefs deliver much greater wealth than virtuous goals... Performance is a return on right beliefs, not right intentions. The choice of strategy is not between outcomes but between means." 

Outra citação alinhada com este blogue:

"A business does not make money on the beliefs that it shares with its rivals, only on the beliefs that set it apart."

Esta semana tive uma conversa com uma pessoa que comparava a margem libertada pela empresa A com a libertada pela empresa B. Empresas a operar no mesmo sector de actividade. A empresa A liberta cerca de 4 vezes mais margem que a empresa B. Depois, o meu colega de conversa e trabalho defendeu a ideia de que é prioritário aumentar a produtividade física da empresa, que também se traduz em mais margem libertada, porque tem resultados imediatos.

Sim, tem resultados imediatos, e deve ser feito. Contudo, nunca será por aí que se colmatará o gap de "4 vezes mais margem". Quase que tenho a certeza que uma PME a operar num mercado competitivo e aberto à concorrência internacional deve aspirar a estar numa posição de "staying one step ahead of the need to be efficient". The need to be efficient significa que está comoditizada e isso é só para as empresas grandes ou chinesas. 

Afinal o que significa: "Promotor da concorrência imperfeita"?

sábado, julho 05, 2025

Curiosidade do dia

O maior espectáculo em solo europeu. 

E se começássemos a experimentar responsavelmente?



No JN do passado dia 3 de Julho encontrei mais uma página usada como megafone a pedir que perdas privadas sejam socializadas, "Viticultores fartos de "empobrecer alegremente"".

Está quase a fazer um ano que publiquei aqui "O foco certo", como o tempo voa.

Recordando um empreendedor que, depois de vender a sua empresa, viajou por Israel à procura de inspiração para investimentos na área agrícola, pergunto, não há culturas de nicho utilizadas em perfumaria e na indústria farmacêutica, com forte presença em Israel devido ao seu clima semiárido e à capacidade de inovação agrícola, que poderiam ser adaptadas ao terroir do Douro, especialmente nas zonas de encosta e com solos pobres?

A resposta que o ChatGPT deu surpreendeu-me, logo a abrir:
  • Labdanum (Cistus ladanifer) - Cisto ladanífero - Utilização: Perfumaria de luxo (nota de base resinosa, quente, semelhante ao âmbar). É a minha querida estêva (chara no Alentejo). Quem diria!!!
  • Helichrysum italicum - Sempre-viva (também chamada "curry plant") - Utilização: Perfumaria (aroma quente e apimentado), cosmética e medicina tradicional (propriedades anti-inflamatórias). Altíssimo valor por quilo de óleo essencial.
  • Salvia officinalis - Sálvia - Utilização: Cosmética, perfumaria, fitoterapia (anti-inflamatória, digestiva). Mercado em crescimento com exigência por origem controlada (tradição + qualidade).
  • Calendula officinalis - Calêndula - Utilização: Cosmética e farmacêutica (regenerador da pele, anti-inflamatório). Valor comercial médio-alto com boa procura.
Em vez de continuar a pedir que "alguém lá em cima resolva", talvez esteja na hora de parar, observar o que temos, e perguntar: o que é que ainda depende de nós?

Há conhecimento, há solos, há clima, há tradição agrícola — o que parece faltar é vontade de sair da cartilha única da vinha para o benefício.

A estêva já lá está, só precisa que a olhemos com outros olhos. 

E se deixássemos de empobrecer alegremente — e começássemos a experimentar responsavelmente?

sexta-feira, julho 04, 2025

Curiosidade do dia

Há tempos usei esta imagem:


Mas também eles, os alemães, vão ter de gerir melhor o dinheiro que dão para a UE (uma espécie de USAID europeia) porque estas coisas têm consequências: "German corporate insolvencies at highest level in a decade, study shows".

Temos de acabar com o "Can I go to the bank?"

Afinal o governo de Leitão Amaro sempre vai socializar perdas



Mão amiga fez-me chegar este artigo "Sem transição verde, Portugal pode perder até uma em cada 4 fábricas de têxtil e vestuário até 2050".

O envio deste artigo quase pode ser visto como uma provocação. Há tantos ângulos de análise possíveis e sobre alguns deles ... é  melhor nem escrever.

Quando os "especialistas", quando os membros da tríade (expressão que usava no tempo da troika para incluir políticos, comentadores e economistas), se juntam para debater o tema da baixa produtividade nunca descem ao terreno da realidade. O artigo acima é sobre esta realidade do empobrecimento e da zombificação da economia.

Será que o artigo é sobre sacar dinheiros aos contribuintes? A bandeira da descarbonização serve de justificação moralmente inatacável para transferir dinheiro público para empresas privadas. Descarbonizar é bonito — sobretudo quando alguém paga por isso. Um clássico: vestir a esmola com roupagens verdes.

Será que o artigo é uma operação de lobby para manter vivas empresas com baixa produtividade? Muitas empresas do sector têxtil em Portugal operam com margens mínimas e produtividade estagnada. A ameaça de encerramento é instrumentalizada para obter subsídios, evitando enfrentar a necessidade de reestruturação ou consolidação. Em vez de "transição verde", temos manutenção do status quo travestida de inovação.

Será que o artigo é uma tentativa de eternizar sectores obsoletos através de retórica moderna? Usa-se vocabulário de futuro (digitalização, circularidade, ecodesign), mas os problemas são os de sempre: fábricas pequenas, mal capitalizadas, sem escala nem capacidade de investimento. Só que agora embrulha-se tudo em linguagem ESG para parecer que estamos na vanguarda.

A velha lógica do "se não nos derem dinheiro, vai tudo abaixo". A chantagem emocional industrial: "vamos perder milhares de empregos, centenas de empresas... a menos que intervenham." A habitual encenação em três actos: catástrofe anunciada, apelo à salvação, plano de financiamento.

O artigo parece escrito pela "DVD leasdership team". 

O artigo do DN é o equivalente a manter a equipa de DVDs na sala de reuniões da Netflix. Com uma diferença: eles não estão apenas presentes — estão a pedir aumentos e a exigir lugares cativos. É como se Portugal olhasse para as suas empresas têxteis mais frágeis, pouco produtivas, dependentes de mão-de-obra barata e dissesse:

- "Sim, claro, vamos salvá-las todas, pintando as máquinas de verde e dando workshops de sustentabilidade — e vamos chamar a isso política industrial!"

É a festa de Natal do jardim-escola. Todos batem palmas, ninguém quer magoar ninguém, e a festa continua... mesmo que o Pai Natal se tenha esquecido dos brinquedos e os miúdos estejam aos berros.

Se lermos o artigo à luz da metáfora da coragem estratégica da Netflix, ele é um case-study sobre o que não fazer:
  • Em vez de excluir a "leadership team" das fábricas zombies, o relatório dá-lhes o palco e oferece bolos.
  • Em vez de dizer "é altura de mudar de rumo", diz "se nos derem mais dinheiro, prometemos mudar... um bocadinho".
  • Em vez de alocar recursos ao futuro, quer perpetuar o passado - com metas "verdes" para disfarçar o imobilismo.
Acham que é mesmo optimista um cenário em que o número de empresas e de trabalhadores se mantém? Optimista para quem? Para o país? Para os trabalhadores cada vez mais pobres? St Louis não faz soar nenhuma campainha?

É mesmo a festa de Natal do jardim-escola... ninguém tem coragem de dizer que a festa foi uma valente porcaria.

É à luz destas cenas que o governo de Leitão Amaro vai socializar perdas (ver número 4).

A sobrevivência empresarial não é obrigatória. Deixem as empresas morrer. Porra!

Um título alternativo para o artigo do DN poderá ser:  "Sem transição de produtividade, Portugal pode manter até 4 em cada 4 fábricas de têxtil e vestuário até 2050".

quinta-feira, julho 03, 2025

Curiosidade do dia


No passado dia 1 de Julho no FT apanhei um interessante artigo de Sarah O’Connor intitulado "In defence of the second-mover advantage".

A autora defende a ideia de que nem sempre é vantajoso ser o primeiro a adoptar as novas tecnologias, como a inteligência artificial. 

"But is it true that to "act now" or be "left behind (and/or doomed)" are the only two options available?"

Apesar da pressão para "agir agora ou ficar para trás", a autora sustenta que o chamado “second-mover advantage” também faz sentido:

"Being a second-mover is particularly useful when the benefits of a new technology are uncertain and the risks are high, because what you lose in speed you gain in information."

Ela critica o discurso alarmista usado por empresas e sobretudo por políticos para forçar decisões rápidas, argumentando que isso mais se parece com técnicas de vendas agressivas do que com uma verdadeira estratégia empresarial.

O discurso alarmista prejudica a capacidade de análise e inovação dos trabalhadores:

"It is well-known in neuroscience that when the brain’s fear system is active, its ability to explore, innovate and take risks is diminished."

Outro jogo infinito



Há tempos escrevi aqui "Luxo e sinais exteriores", com base em “Signaling Status with Luxury Goods” (Journal of Marketing, 2010), sobre quatro grupos: patricians, parvenus, poseurs e proletarians. Agora no número de Julho da revista Bloomberg Businessweek encontro o artigo "The Never-Ending Fight Against Fakes".

O artigo da Bloomberg Businessweek mostra a relação entre a contrafacção e os "poseurs", descrevendo como a plataforma Vestiaire Collective enfrenta um aumento significativo de produtos falsificados, muitos deles “quase indistinguíveis dos originais”. Isto está diretamente ligado ao perfil dos poseurs:

“Poseurs do not possess the financial means to readily afford authentic luxury goods. Yet they want to associate themselves with those they observe and recognize as having the financial means (the parvenus)… Thus, they are especially prone to buying counterfeit luxury goods.”

Versus:

“Fighting counterfeiters is crucial for purveyors of secondhand luxury goods… In 2021, less than a third of the items Vestiaire rejected were on suspicion of being counterfeit. Today it’s more than half.”

A falsificação responde à procura de estatuto a baixo custo — tipicamente por poseurs.

O artigo menciona o trabalho minucioso dos especialistas em autenticação da Vestiaire para verificar costuras, fechos de correr e palmilhas – detalhes que só os conhecedores reconhecem como prova de autenticidade. Isto corresponde ao comportamento dos patricians:

“Patricians possess significant wealth and pay a premium for inconspicuously branded products that serve as a horizontal signal to other patricians.”

Versus:

“Mélissa… sniffs the supple leather, breathes deeply to take in its scent. ‘It smells soft and sweet,’ she says.”
“It’s examined by Hermès in-house, with its distinctive H-shaped stopper at the end.”

A ênfase está na qualidade discreta e não no logótipo visível — típico de patricians.

O artigo de 2010 refere que os parvenus — ricos com forte necessidade de mostrar estatuto — preferem marcas visíveis, como o monograma da Louis Vuitton.

“Luxury houses must justify their stratospheric prices or watch as the once-clear distinction between authentic and counterfeit becomes irrelevant to a generation that values accessibility over exclusivity. For an industry built on image, aspiration and status, the most troubling illusion might not be the authenticity of products themselves but rather the belief that authenticity is worth a premium price.”

O “perigo” para as marcas de luxo é que a procura de sinais visíveis (por parvenus e poseurs) torna difícil distinguir o autêntico do falso, erodindo o valor simbólico da marca.

O mercado da segunda mão (e o de falsificações) cresce porque muitos consumidores valorizam o sinal de estatuto mais do que a substância do produto — o que desafia as marcas a reafirmarem o valor da autenticidade.

quarta-feira, julho 02, 2025

Curiosidade do dia

 


"British luxury carmaker Jaguar is facing its steepest sales decline in decades, following a radical rebrand that has drawn sharp criticism from industry experts, dealers, and long-time customers. Only 49 Jaguar vehicles were registered in Europe in April 2025, a 97.5 percent drop compared to 1,961 units in the same month last year.

Year-to-date sales between January and April fell 75.1 percent, with just 2,665 cars sold across the continent.

The figures mark a dramatic turning point for a brand once seen as a symbol of British automotive elegance and performance."

Outra versão do voto popular no festival da Eurovisão.

Trecho retirado de "Jaguar sales collapse 97 percent in Europe amid controversial rebrand and EV transition"

Acerca de ter um plano



O quarto capítulo de "The Science of Getting from Where You Are to Where You Want to Be" de Katy Milkman é dedicado ao esquecimento ("Forgetfulness").

Primeiro, algumas notas:

"our intentions are only loosely predictive of our behaviors, [Moi ici: Sim, podemos genuinamente esquecer-nos]

...

forgetfulness isn't always a made-up excuse. It's a more serious and common culprit for follow-through failures than you might think. According to one recent study, the average adult forgets three things each day, ranging from pin numbers to chores to wedding anniversaries.

...

One obvious way to prevent this kind of mistake is to create reminder systems. 

...

Often when we make plans, we don't focus on what will trigger us to act. Instead, we focus on what we intend to do. [Moi ici: O equivalente a enunciar um objectivo mas não preparar um plano para o atingir. É muito comum em sistemas de gestão que audito. Há um objectivo, há um prazo e um responsável geral, mas falta o pormenor sobre o que fazer

...

First, as he later explained to me, making such detailed plans requires some time and effort. And the more time and effort we put into thinking about something, the deeper it gets lodged in our memories. [Moi ici: Entregar/receber um plano detalhado, ou ajudar a construi-lo são duas coisas muito diferentes]

...

needed to know one thing: Which of the many behavioral insights he'd learned about was most important to helping him achieve his goals?

Angela didn't hesitate before giving her answer - to her, it was blindingly obvious: cue-based plans. Forming these kinds of plans most effectively sets you up for success, she told him. It's the best insight behavioral science has to offer on this topic.

...

 Angela pointed out that in addition to reducing forgetting and short-circuiting the need to think about what you'll do in the moment, planning forces you to break big goals into bite-size chunks. This turns out to be really important to making progress on ambitious projects

...

when you have a big goal you hope to achieve, such as "earn a promotion in the next year," planning forces you to do the critical work of breaking it down. Planning for how to earn a promotion might lead you to recognize that you'll need to better communicate with your boss in weekly meetings, advocate for recognition of your work, and spend Tuesday and Thursday evenings studying to complete your online degree. Without this kind of planning, which forces you to do the critical work of understanding what achieving your goal actually entails, your goal will likely remain elusive."

Ou seja, simplesmente querer fazer algo (como terminar um trabalho) tem pouco impacte, enquanto formular um plano concreto com um estímulo (cue) quase triplica a taxa de sucesso. Planear a acção associando-a a um gatilho (hora, local, evento) aumenta muito a probabilidade de execução. 

O simples acto de pensar como, quando e onde executar um objectivo é, em si, um mecanismo de reforço da memória e do compromisso com a acção. Sem planeamento estruturado, os objectivos ambiciosos (como melhorar o desempenho de um processo ou atingir metas estratégicas) ficam vagos e inalcançáveis, mera divagação. Planear é transformar a ambição em acções específicas e realistas.

E recordo as discussões que tive com uma empresa ... 

Um parêntesis. Quando se trabalha como consultor directamente com uma empresa podemos sempre dizer "No and walk away", como refere Bent Flyvbjerg em "How Big Things Get Done". Contudo, quando somos subcontratados para trabalhar com uma empresa é muito mais difícil dizer "No and walk away" porque ao dizer não a um projecto estamos provavelmente a dizer não a futuros trabalhos com o contratante.

Essa empresa tinha uma grande dificuldade em aceitar boas-práticas se não encaixavam com o modelo mental das chefias. Uma das discussões era sobre não verem qualquer vantagem em elaborar planos de acção para atingir objectivos. A desculpa era: o dono da empresa está muito envolvido na empresa e, por isso as coisas fazem-se sem necessidade de plano.

O pior é quando o mundo muda e repetir o que dantes funcionava deixa de funcionar.

terça-feira, julho 01, 2025

Curiosidade do dia


Leio "Moreira da Silva: "Bastam 10 anos para Portugal ser dos países mais ricos""
""Há 20 anos que não temos um sonho partilhado", atirou o presidente da BRP na conferência que organiza nesta segunda-feira na Casa da Música, no Porto.
Carlos Moreira da Silva insiste que a criação de riqueza "é um imperativo de todos. É um bem público. ... "Temos de eliminar a derrama estadual de IRC", insistiu, "e eliminar o tax wedge.
...
"Temos um enorme sentido de urgência", afirmou o presidente da organização que junta mais de quatro dezenas de grandes empresas no país.
Para isso, o país deve melhorar a capacidade de gestão e de forma muito significativa a competitividade. "Não podemos continuar a fazer o que já sabemos fazer e que já nos paga o dia de hoje. Só assim poderemos ser exigentes com os outros", entende Carlos Moreira da Silva."

E o meu cinismo vem ao de cima ... acreditar que a DVD leadership team vai levar-nos ao futuro desejado é tão ... 




português.


Por isso em vez de comprometedores "eus", usa-se "nós" (não temos, temos um, o país (quando oiço falar do país como um agente individual, perdem-me logo))


Chave:

"Commitment devices"

O capítulo 3 de "The Science of Getting from Where You Are to Where You Want to Be" de Katy Milkman é dedicado à procrastinação.

O capítulo é particularmente interessante porque contraria a teoria económica e está desalinhado com um tema que os liberais tentam introduzir em Portugal. 

O que é melhor para as pessoas:

  • receber o subsídio de férias só quando vão de férias ou diluído pelos 12 meses do ano?
  • emprestar dinheiro ao estado sem juros e receber sob a forma de devolução de IRS ou pagar o IRS cobrado a menos?
A autora dá o exemplo de um banco nas Filipinas que criou uma conta para a qual as pessoas, que não faziam qualquer poupança no passado, descontavam voluntariamente todos os meses mas só podiam ter acesso ao dinheiro no fim do prazo.

"They [Moi ici: Os alunos de mestrado da autora] insist it's crazy for people to voluntarily lock away their money without an interest rate premium or sign up for class deadlines with penalties. People should never want to give up flexibility or freedom without being compensated for it! This isn't just a central tenet of economic theory or a cornerstone of government policy and marketing strategies the world over ...

by by opting into constraints—on when they could access their money, on how much they could procrastinate—they were making it harder to give in to future temptations and easier to reach their long-term goals. [Moi ici: 28% dos clientes do banco que receberam esta possibilidade passaram a poupar mensalmente e em valores superiores à média nacional]

...

Robert Strotz's article on the topic turned out to be a blockbuster (well, if any academic article can ever be called blockbuster). It introduced the heretical idea to economists that rather than always preferring flexibility and freedom, sometimes people want just the opposite because they know it will help them avoid temptation. Strotz's disciples (including the future economics Nobel laureates Thomas Schelling and Richard Thaler) began exploring these strategies in greater detail and gave a name to them: "commitment devices."

Whenever you do something that reduces your own freedoms in the service of a greater goal, you're using a commitment device.

...

The data are clear. Even if they do contradict a golden rule of economic theory, commitment devices can be something of a godsend. They help us change our behavior for the better by locking us into choices we make when we're clearheaded about what's good for us, not when we're hotheadedly reacting to an imminent temptation, and they keep us from indulging in the temptation to misbehave later on."

Por fim, o capítulo fala dos "cash commitment devices". Pessoas que se comprometem a pagar uma multa se não cumprirem uma promessa que fizeram a si próprias.

Não receber o subsídio de férias representa uma espécie de "commitment device" para quem estima a sua incapacidade de resistir às tentações de curto prazo.