A propósito de "Symington: "A responsabilidade de resolver o problema dos excedentes no Douro não pode ser nossa"".
A família Symington, uma das mais influentes na produção de vinho do Porto, voltou a levantar a voz - desta vez com a serenidade racional (é um dos principais sentimentos que transpira do artigo) de quem olha para os números e não para as nostalgias. O diagnóstico é claro: o sistema que regulou o sector durante décadas está em colapso. Há um excesso estrutural de produção, a procura está em declínio, e insistir no modelo actual é alimentar uma ilusão insustentável.
Este alerta não é novo. Há mais de uma década que os Symington chamam a atenção para o desequilíbrio entre oferta e procura. No entanto, o sistema político e institucional tem preferido medidas paliativas e actuações de curto-prazo: apoio ao armazenamento, destilação de crise, incentivos que adiam mas não resolvem. E quanto mais se adia ... mais cresce a insustentabilidade.
A crítica não é feita de forma leviana. A empresa afirma com lucidez que não pode continuar a comprar vinho que não consegue vender — seria um suicídio empresarial. A responsabilidade de sustentar o sistema não pode recair sobre as empresas.
Neste contexto, leis como a do Terço, que obrigam à manutenção de elevados níveis de stock, revelam-se desadequadas face à nova realidade. A quebra do consumo global, particularmente de vinho tinto, afecta de forma brutal o modelo produtivo da região do Douro.
A proposta da Symington é dura, mas honesta: é preciso permitir o abandono parcial e voluntário de vinha, reestruturar a produção em torno das parcelas mais produtivas e rentáveis, e deixar cair o mito de que tudo pode continuar como antes.
É preferível enfrentar agora uma transição difícil do que assistir ao colapso inevitável de um sistema sustentado em negação. A perplexidade da família Symington perante a recusa dos decisores em aceitar esta realidade deveria ecoar com força no sector.


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