- Em vez de excluir a "leadership team" das fábricas zombies, o relatório dá-lhes o palco e oferece bolos.
- Em vez de dizer "é altura de mudar de rumo", diz "se nos derem mais dinheiro, prometemos mudar... um bocadinho".
- Em vez de alocar recursos ao futuro, quer perpetuar o passado - com metas "verdes" para disfarçar o imobilismo.
sexta-feira, julho 04, 2025
Afinal o governo de Leitão Amaro sempre vai socializar perdas
O envio deste artigo quase pode ser visto como uma provocação. Há tantos ângulos de análise possíveis e sobre alguns deles ... é melhor nem escrever.
Quando os "especialistas", quando os membros da tríade (expressão que usava no tempo da troika para incluir políticos, comentadores e economistas), se juntam para debater o tema da baixa produtividade nunca descem ao terreno da realidade. O artigo acima é sobre esta realidade do empobrecimento e da zombificação da economia.
Será que o artigo é sobre sacar dinheiros aos contribuintes? A bandeira da descarbonização serve de justificação moralmente inatacável para transferir dinheiro público para empresas privadas. Descarbonizar é bonito — sobretudo quando alguém paga por isso. Um clássico: vestir a esmola com roupagens verdes.
Será que o artigo é uma operação de lobby para manter vivas empresas com baixa produtividade? Muitas empresas do sector têxtil em Portugal operam com margens mínimas e produtividade estagnada. A ameaça de encerramento é instrumentalizada para obter subsídios, evitando enfrentar a necessidade de reestruturação ou consolidação. Em vez de "transição verde", temos manutenção do status quo travestida de inovação.
Será que o artigo é uma tentativa de eternizar sectores obsoletos através de retórica moderna? Usa-se vocabulário de futuro (digitalização, circularidade, ecodesign), mas os problemas são os de sempre: fábricas pequenas, mal capitalizadas, sem escala nem capacidade de investimento. Só que agora embrulha-se tudo em linguagem ESG para parecer que estamos na vanguarda.
A velha lógica do "se não nos derem dinheiro, vai tudo abaixo". A chantagem emocional industrial: "vamos perder milhares de empregos, centenas de empresas... a menos que intervenham." A habitual encenação em três actos: catástrofe anunciada, apelo à salvação, plano de financiamento.
O artigo parece escrito pela "DVD leasdership team".
O artigo do DN é o equivalente a manter a equipa de DVDs na sala de reuniões da Netflix. Com uma diferença: eles não estão apenas presentes — estão a pedir aumentos e a exigir lugares cativos. É como se Portugal olhasse para as suas empresas têxteis mais frágeis, pouco produtivas, dependentes de mão-de-obra barata e dissesse:
- "Sim, claro, vamos salvá-las todas, pintando as máquinas de verde e dando workshops de sustentabilidade — e vamos chamar a isso política industrial!"
É a festa de Natal do jardim-escola. Todos batem palmas, ninguém quer magoar ninguém, e a festa continua... mesmo que o Pai Natal se tenha esquecido dos brinquedos e os miúdos estejam aos berros.
Se lermos o artigo à luz da metáfora da coragem estratégica da Netflix, ele é um case-study sobre o que não fazer:
Acham que é mesmo optimista um cenário em que o número de empresas e de trabalhadores se mantém? Optimista para quem? Para o país? Para os trabalhadores cada vez mais pobres? St Louis não faz soar nenhuma campainha?
É mesmo a festa de Natal do jardim-escola... ninguém tem coragem de dizer que a festa foi uma valente porcaria.
É à luz destas cenas que o governo de Leitão Amaro vai socializar perdas (ver número 4).
A sobrevivência empresarial não é obrigatória. Deixem as empresas morrer. Porra!
Um título alternativo para o artigo do DN poderá ser: "Sem transição de produtividade, Portugal pode manter até 4 em cada 4 fábricas de têxtil e vestuário até 2050".
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