"Deixem as empresas morrer!"
Este é o meu mantra. Deixar as empresas morrer tem uma grande virtude, deixa que seja o mercado a decidir quem merece ou não merece sobreviver, ou dar a volta e prosperar. Recordar A morte das empresas a dois níveis. Outra opção que não esta é deixar que seja um artificialismo qualquer a tomar a decisão e, por isso, manter ou desviar recursos escassos para outros projectos mais produtivos. Nunca esqueço a frase de Daniel Bessa em 2007:
"... faltou sempre o dinheiro que o "Portugal profundo" preferiu gastar na "ajuda" a "empresas em situação económica difícil"..."
Muitas vezes ouvimos: “Temos de apoiar as empresas a aumentarem a sua produtividade!”
Sim, é uma boa intenção, mas muitas vezes o que acontece é o que é descrito por Spender em “Apesar das boas intenções”. Onde escrevo:
“Acredito que muitos subsídios são gastos assim. Apesar das boas intenções, o dinheiro vai para empresas que até podem renovar máquinas, mas que não vão renovar estratégias e abordagens, teimando nas receitas tornadas obsoletas e prejudicando as empresas que satisfazem o mercado mas não dominam os biombos e corredores do "poder".” Ou “demasiadas vezes os apoios são usados para compensar custos” e dar fôlego ao condenado."
O caderno de Economia do semanário Expresso no último fim de semana traz um artigo sobre a EFACEC (nunca esquecer o que escrevemos aqui desde o primeiro dia, apesar do coro de comentadores económicos, políticos e governantes estarem do lado contrário - "Lives of quiet desperation"). O artigo “Há empresas a crescer à boleia da Efacec - Vestas, EDP. Siemens, Jayme da Costa e Telcabo absorvem quadros da Efacec. I-Charging foi criada de raiz” ilustra o que acontece quando as empresas zombie morrem: os recursos produtivos são desviados para outros projectos mais produtivos.
“Nacionalizada em meados de 2020, a Efacec tem vindo a esvaziar-se dos seus quadros de topo nas áreas de engenharia e comercial. Profissionais que saem da empresa -outrora um dos empregos mais desejados por quem acabava o curso de engenharia - para se juntarem a novos projetos. Numa altura em que se vive um momento de grande expansão e dinamismos nos sectores da mobilidade elétrica, da energia solar, a procura por profissionais com experiência é grande e a oferta vasta.
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E desde que foi anunciado que a venda à bracarense DST não iria avançar, a debandada de trabalhadores acentuou se, sabe o Expresso, atingindo agora também os trabalhadores das fábricas. As empresas que trabalham nos mesmos sectores admitem que tem havido mais pessoas oriundas da Efacec a bater-lhes à porta. Os trabalhadores receiam que a solução que venha a ser encontrada pelo Estado não lhe seja favorável, e já estão à procura de alternativas.
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Mas não só. Houve um projeto criado de raiz, por um profissional que cresceu na Efacec, e que está expandir-se, chama-se I-Charging. É uma empresa de produtos de base tecnológica e fabricante de carregadores elétricos rápidos, e vai já a caminho da segunda fábrica. Foi fundada pelo engenheiro Pedro Moreira, que trabalhou quase três décadas e meia na Efacec, e foi diretor-geral da mobilidade elétrica. Profissional de grande qualidade e focado na inovação, acabou por atrair para o seu projeto, sabe o Expresso, as primeiras linhas da mobilidade elétrica da Efacec os engenheiros, os quadros vocacionados para a gestão de projetos e qualidade e os comerciais.”
Por fim, tenho de discordar desta frase:
“A prova de que a Efacect em e tinha muito valor é que está a dar vida e a ajudar a crescer várias empresas em Portugal", afirmou um antigo quadro da empresa, que pediu para não ser identificado.”
Não! A Efacec é um exemplo típico de uma empresa que destrói valor. Só assim se explica que a empresa valha mais separada e vendida aos bocados do que como um todo. Isto faz-me sempre lembrar o ballet Gulbenkian.
Como diz Nassim Taleb em O intervencionismo ingénuo (parte II) - “no stability without volatility.”
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