Mostrar mensagens com a etiqueta rosiello. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta rosiello. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, abril 24, 2018

segunda-feira, abril 23, 2018

Pregarás o Evangelho do Valor - sempre

Há tempos, numa acção de formação pediram-me para demonstrar os números de Marn e Rosiello:

Consideremos o cenário A:

Um produto com vendas 100, com custos fixos de 19,2 e com custos variáveis de 68,3, ou seja com um lucro operacional de 12,5.

Ao passar do cenário A para o cenário B o preço aumenta 1% e o lucro operacional aumenta 8,0%.

Ao passar do cenário A para o cenário C os custos fixos baixam 1% e o lucro operacional aumenta 3,2%

Ao passar do cenário A para o cenário D os custos variáveis baixam 1% e o lucro operacional aumenta 5,5%

E igualmente interessante, como demonstrado em "Pregarás o Evangelho do Valor" por Dolan e Simon, quanto mais elevados os custos variáveis maior o impacte do aumento do preço no aumento do lucro operacional:
Ao passar do cenário A para o cenário B o preço aumenta 1% e o lucro operacional aumenta 17,2%.

Ao passar do cenário A para o cenário C os custos fixos baixam 1% e o lucro operacional aumenta 3,31%

Ao passar do cenário A para o cenário D os custos variáveis baixam 1% e o lucro operacional aumenta 12,93%.

Quanto menor a margem maior o impacte do aumento do preço na margem operacionall.



sexta-feira, março 16, 2018

"What a fabulous question"

"A reader asked, “Why isn’t pricing more valued in companies?” What a fabulous question. Although I haven’t seen the research, my experience leads me to believe there are three reasons, all huge.
.
First, many companies don’t know the power of pricing.
...
Second, executives may understand the power of pricing but don’t know how to tackle it.
...
Third, pricing is risky."
Acredito que muitos estarão com o mesmo modelo mental que me formatava quando eu chamava de burros a Marn e Rosiello quando afinal o burro era eu. Algumas empresas, conhecendo a minha veia para capturar e descrever modelos sistémicos com os esquemas da dinâmica de sistemas, costumam pedir-me para retratar problemas sistémicos, em busca de pontos de alavancagem. Como de alguma forma se pode intuir pelo tema da falta de pessoas para trabalhar, isto anda tudo relacionado com a incapacidade de perceber que existem outras formas de aumentar a rentabilidade para além da cancerosa aposta no aumento da quantidade.

Trechos retirados de "Why Isn’t Pricing More Valued in Companies?"

sexta-feira, abril 28, 2017

Onde trabalhar?

Excelente figura:

Valor é criado quando uma empresa consegue criar uma oferta em que a willingness to pay (WTP) supera o cost to serve (CTS). A diferença entre o WTP e o CTS define a dimensão do valor criado. valor esse que terá de ser dividido entre o cliente e o produtor.

Tal como na figura, a vantagem competitiva de uma empresa pode ser uma função de conseguir fornecer o mercado com custos mais baixos, ou uma WTP superior ou uma mistura de ambas.

Infelizmente, muitas PME contentam-se em trabalhar na zona A muito mais do que na zona B (se soubessem o que aprendi com Marn e Rosiello naquele mês de Janeiro de 1992, na verdade só aprendi mais tarde - nunca é tarde para aprender, ás vezes é demasiado cedo)
"Where does price fit in? As shown in the right-hand panel of figure 5.2, companies can choose to price their products anywhere between WTP and CTS. This is a strategic decision that reflects how a company wants to divide the product value between itself and its customers. Consumers benefit from lower prices by enjoying a higher consumer surplus, the difference between what a consumer is willing to pay for a product and the actual price charged. High consumer surpluses spur sales, increasing growth and customer satisfaction. Producer surplus is an equivalent concept from the opposite perspective—the difference between the price a company charges and its unit cost. Obviously, companies that enjoy a competitive advantage in the marketplace have more pricing flexibility when choosing how to allocate value between the company and consumers."
A não ser que uma empresa queira ser o fornecedor com o custo mais baixo o truque é trabalhar para aumentar o WTP, trabalhar na zona B.

Continua.

Trecho e imagem retirada de "If You're in a Dogfight, Become a Cat!: Strategies for Long-Term Growth" 

domingo, maio 29, 2016

Pricing power (parte I)

Comecei a ler "Profitable Innovation" um e-book de Georg Tacke, David Vidal e Jan Haemer.
.
Recordam as manifestações dos produtores de leite ou dos suinicultores?
.
Recordam o que escrevemos aqui no blogue há muitos anos sobre subir preços, aplicar pensamento estratégico e diferenciação?
"Our Global Pricing Study, which included detailed responses from 1,600 respondents in 40 countries and across all major industries, revealed four key insights:
1. Market conditions are oppressive and are forcing companies to seek new profit opportunities [Moi ici: Quantos sectores por esse mundo fora esperam que o papá-Estado lhes resolva o problema de falta de competitividade?]
2. Innovation is the only way to escape these pressures [Moi ici: É a lição que podemos aprender com o sector das PME transaccionáveis]
3. Most new products fail to meet profit targets, putting companies’ profits and survival at risk
4. The “best” companies launch profitable innovations and thrive despite these oppressive market conditions, because they integrate marketing into the innovation process right from the beginning."
Se as empresas não inovam e não trabalham a sua relação com o ecossistema da procura como podem aspirar a ter "pricing power"?
"“If you’ve got the power to raise prices without losing business to a competitor, you’ve got a very good business. And if you have to have a prayer session before raising the price by 10 percent, then you’ve got a terrible business.”"
E voltando ao e-book:
"How are companies performing against Mr. Buffett’s criterion today? Apparently they are praying more than they would like to. The Global Pricing Study 2014 revealed that pricing power has plunged since 2012 to its lowest level in the last 5 years. This is not for a lack of desire. It turns out that companies want to raise prices, but the majority struggle. On average, companies in the study achieved just 37% of the price increase they aimed for, ... Put another way, for every 5% of price increase companies try to implement, they are netting only 1.9%. This is likewise the lowest level we have ever measured in our studies."
Recordando "Qual o cenário da sua empresa?" é interessante como os políticos da oposição e da situação, como o mainstream mediático, como os comentadores da tríade, a começar pelos académicos, todos se concentram no desafio do controlo dos custos... quantos alguma vez se pronunciaram sobre o aumento do pricing power?
.
Pois, sou só um vulgar anónimo da província mas tenho as mãos na massa e conheço o Evangelho do Valor.

quarta-feira, setembro 16, 2015

Acerca do Evangelho do Valor

Há alturas em que até um anónimo engenheiro de província sente inveja de quem vive em outros continentes e tem a arte e o engenho de conseguir transmitir a sua mensagem.
.
Neste blogue tento chegar com a minha mensagem e as minhas reflexões um pouco mais longe. Contudo, ás vezes interrogo-me e martirizo-me por não ser melhor comunicador.
.
Vejam bem este exemplo. Em Julho de 2006, há quase 10 anos, escrevi neste blogue um postal intitulado "Redução dos salários em Portugal". 
.
Na minha forma desajeitada de engenheiro pragmático e pouco convencional procurei rebater um texto e uma abordagem que ainda hoje tem muitos partidários. O que é que eu propunha?
.
Propunha que os decisores olhassem para a equação da produtividade:

E pensassem de uma forma diferente da tradicional:
"O grande desafio é o de aumentar a produtividade, o que o FMI e outros sugerem, é baixar o valor do denominador da equação.
...
Uma actuação tendo em vista o médio/longo prazo tem de actuar no numerador, na capacidade, na quantidade de valor criado.
...
Assim, em vez de andar às voltas em torno do denominador, porque não apostar no aumento do numerador?"
Em Outubro desse mesmo ano voltei à carga com "Ainda a produtividade" onde expus as minhas ideias com mais pormenor.
.
De lá para cá tenho voltado ao tema da produtividade, do numerador versus o denominador, ao jogo do rato e do gato (salários e produtividade), ao tema da eficiência e eficientismo. Depois, com o meu mau carácter habitual, criei o termo "tríade" para designar o grupo de paineleiros, académicos e políticos, gente com amplo acesso aos media mas que continua a seguir as fórmulas que aprendeu quando tinha 20 anos e o mundo era o Normalistão do século XX.
.
Não tem conta o número de conversas e discussões em que já entrei nas redes sociais para tentar explicar, mostrar, demonstrar que o numerador é muito mais importante que o denominador. Confesso que já tive alguns casos de sucesso, sobretudo quando lhes falo do Evangelho do Valor. Contudo, a minha mensagem continua a ser uma espécie de ruído imperceptível.
.
Ontem de manhã muito cedo, em São João da Madeira, enquanto corria para fugir da chuva, ia ouvindo uma versão audio deste artigo "What Economists Get Wrong About Measuring Productivity" e, incrédulo, murmurei:
- Parece que leu o blogue!
.
Por isso, convido-os a ler o artigo de Roger Martin, de 14 de Setembro último. Está lá tudo! Tudo o que pregamos aqui e nas PME há mais de 10 anos!!!
"As I read all the productivity analyses and commentary, including the recent one on these pages by the clever folks at the OECD, I am struck that in trying to understand productivity, economists exclusively look at only one half of the productivity equation — literally not figuratively. That impedes their ability to understand what is really going on with productivity in the modern economy.
.
Most people instinctively think of productivity as a quotient:
...
So far, so reasonable, but when figuring out how to improve productivity, researchers almost always focus on the direct determinants of the denominator — they think about how to use technology, training, re-engineering of work processes, and automation in order to reduce the number of labor hours required to produce a given product or service.
.
The numerator is entirely ignored as if the value of the output was fixed and immutable. However, as any student of strategy knows very well, the dollar value-added that a firm generates is directly proportional to what it can charge in the marketplace for its products or services. And that price is, in turn, highly sensitive to the competitive dynamics of the firm’s industry and the strategic decisions it makes. Given the basic dynamics of a quotient, changes to the numerator are equally important to results as changes to the denominator.[Moi ici: Aqui, sou mais radical do que Roger Martin e estribado em Rosiello, Marn, Simon e Dolan ouso escrever que o efeito do numerador é muito mais importante que o denominador]
Roger Martin vai ainda mais longe e vem corroborar o que aqui defendo há anos e anos, o problema não foi o euro, o problema foi o choque chinês. A tríade, como se pode ler aqui "Inside the Fight Over Productivity and Wages" continua a ignorar a variável China nas discussões da produtividade.


terça-feira, agosto 25, 2015

Por que e para que existimos?

Por que e para que é que existe a Metanoia?
.
Ao fim destes anos todos, creio que a razão mais forte para a nossa existência está neste gráfico com a "Produtividade do trabalho, por hora de trabalho" em 2013:
Em 2013, tendo a "Produtividade do trabalho, por hora de trabalho" da UE como referência nos 100, Portugal fica-se por uns envergonhados 65,3. Ou seja, somos um dos países da UE que menos riqueza cria por hora de trabalho.
.
Gostamos de pensar na Metanoia como um apoio, como uma ajuda importante para as empresas que procuram vencer este desafio de aumentar a produtividade.
.
Não é uma tarefa fácil. Um exemplo da dificuldade que temos de enfrentar está neste título do DE, "Alemanha é o país com mais férias pagas da UE, apesar da alta produtividade"
.
Posso estar a imaginar coisas mas até sou capaz de sentir um cheiro a "cargo cult" a transpirar daquele "apesar" do título. Brincando, pode-se pensar: se aumentarmos as férias em Portugal, a produtividade aumentará! 
.
Brinco mas a verdade é que esta brincadeira é a principal dificuldade que enfrentamos neste desafio de aumentar a produtividade. A esmagadora maioria dos empresários acredita que a produtividade da sua empresa aumentará se os seus trabalhadores forem mais disciplinados e trabalharem mais horas.
.
É mentira? Não!
.
.
Mas é o alvo errado. Será que as empresas portuguesas conseguirão chegar aos 100 da média, ou aos 109,7 de Espanha simplesmente com mais horas de trabalho e com disciplina? Não creio!
.
E volto à equação da produtividade:
A maioria olha para a equação e, automaticamente, aprisiona-se numa restrição que impõe implicitamente. Como se aumenta a produtividade? Reduzindo os custos, ou seja, trabalhando mais depressa, desperdiçando menos tempo e materiais. Poucos, muito poucos fogem desta prisão e reagem perguntando:
- Quem é que disse que estamos condenados a produzir as mesmas coisas? Quem é que disse que não podemos mexer no numerador?
.
Esse é o truque, aumentar a produtividade à custa da subida na escala do valor, à custa do aumento do preço unitário do que se produz.
.
É uma mudança de paradigma demasiado forte para a maioria.
.
Recordar:

sexta-feira, julho 24, 2015

Outra vez os descontos

A propósito dos descontos, recordar "Sobre os descontos".
"Salespeople will always argue that offering a small discount doesn’t hurt and is the right thing to do for the customer.
...
It doesn’t matter what the reason or how passionate the salesperson might feel about it, a discount is still a discount and it costs money!
...
A discount offered to a customer is not a discount on the full price. It’s a discount on the profit, unless there is something else of value equal to the discount that is being removed from the offer.  Problem is that scenario is rarely the case.
...
A salesperson looking for a 5% discount may not view it as an issue to their company and thus feel it’s no big deal.  Now, let’s frame the discount as being a 33% discount on profit and it suddenly becomes “game over.”"

Trechos retirados de "What Does Discounting Really Cost?"

domingo, julho 19, 2015

"Listen very carefully, I shall say this only once." (parte II)

Parte I.
.
Ainda ontem à noite na ETV ia tendo uma coisinha má ao ouvir propostas de engenharia para aumentar os preços do leite, sempre agarradas a vários acrónimos de programas da União Europeia.
.
O que tem acontecido ao número de produtores de leite e de carne nas últimas décadas em todo o mundo?
.
Redução, concentração do número de produtores e aumento da quantidade produzida.
"Em 1993, existiam em Portugal cerca de 84000 produtores de leite; Em 2010 restavam apenas 8400. ... Ao logo de décadas, a desistência de produtores foi compensada pelo aumento de dimensão das explorações que permaneceram e da produtividade por animal."
...
"Começou com 40 vacas do pai num terreno de 30 hectares ("era propriedade do meu bisavô"). Agora, dirige uma exploração modelar mecanizada e informatizada com 560 animais, que dá trabalho directo a 4 homens e produz cerca de sete mil litros por dia." (fonte)
No Reino Unido o mesmo filme:
"Last year alone more than 40 dairy farmers in Wales quit the industry, with many fearing that their livelihoods were simply no longer sustainable.
...
Some 9,960 dairy farmers in England and Wales have left the industry since 2002, with 60 farmers giving up milk production in December alone in the face of falling prices." (fonte)
"In June 2007, the UK dairy herd was estimated at two million animals. Since 1995, the number of UK dairy farms has fallen by around 43 per cent, but average herd sizes have actually risen during this time from 71 cows in 1994 to 92 animals in 2004. Similarly, average milk yields have also risen from 5,299 litres per cow in 1994 to 6,770 litres per cow in 2005 (figures from Defra). Future trends suggest herds will get larger with fewer farmers staying in the industry." (fonte)
 Em França o mesmo filme:
"The number of dairy farmers is forecast to drop by 70 per cent by 2015, coupled with an increase in the number of cow per farm as the industry moves away from the traditional family unit." (fonte)
Vamos introduzir um pouco de pensamento estratégico pragmático:
Os produtores começam na primeira casa e à pergunta "Existe uma vantagem competitiva?" respondem logo:
- Não!!!
E seguem a vida intuitiva, a via do senso comum, a via do século XX. Tenho de crescer para baixar os custos unitários e poder ser competitivo pelo preço.
.
Esta via é honesta, é legítima e alguém tem de a seguir. No entanto, não haja ilusões é a via da selva dos números, da crueza das commodities.
.
99,9% dos produtores segue esta via. Como o consumo agregado de leite e seus derivados tende a baixar com a evolução demográfica, quanto mais um produtor cresce em produção, mais um outro tem de desaparecer, daí os números do filme lá de cima.
.
E é esta pressão medonha que leva a esta situação "Près de 10 % des élevages sont « au bord du dépôt de bilan », selon Stéphane Le Foll" (Imaginem um ministro francês com tomates para dizer esta verdade, nem Jaime Silva conseguiu)
.
O que pode um produtor retirar da mensagem da parte I?
.
Sim, eu sei, há anos que escrevo aqui que "o leite é a commodity alimentar por excelência"
.
Conhecem aquela frase "Se eu lhes der amendoins, vou ter macacos!". Se eu lhes der uma commodity como posso esperar que eles queiram tratar o meu produto como se não fosse uma commodity?
.
Um produtor X, e escrevo um porque esta é uma decisão pessoal, resolve olhar para aquela figura lá de cima e pensar. Será que posso criar mercado? Será que posso influenciar o mercado? Será que tenho de me submeter ao mercado que existe? (Ele não sabe mas está a precisar de ler Nenonen e Storbacka sobre scripting markets)
.
Num acto de loucura, quebra o molde mental onde foi enformado, e descobre que a sua missão não é alimentar todo o mundo, descobre que a sua missão não é produzir mais do que o vizinho, sob pena do vizinho ser mais competitivo no preço que ele, a sua missão é produzir carne ou leite que clientes apreciem e estejam dispostos a sustentar o seu negócio de livre vontade.
.
Então, resolve responder à primeira pergunta com um sim! Depois, acrescenta para si mesmo:
"Ainda não tenho mas vou ter e quando a tiver vou ter um oceano azul por minha conta em vez de tentar apenas sobreviver num tanque infestado de tubarões."
 Ao comunicar a sua ideia radical à família, alguém lhe diz:
"Li num blogue escrito por um gajo anónimo da província, que existe uma coisa chamada a polarização do mercado. Todos os produtores estão, há décadas, a fugir do mercado do meio-termo para o low-cost comoditizado, onde entram numa guerra infernal entre si. Quantos é que estão a fugir do mercado do meio-termo para cima, para o da diferenciação, para o da autenticidade?"
Que diferenciação pode um produtor criar que seja valorizada não pela massa, mas por um nicho? (Ele não sabe, nem o contabilista que lhe ajuda nas contas, mas precisa de ler Marn e Rosiello. Precisa de saber que se seguir a via da diferenciação, reduz os custos e o  risco da quantidade por um lado, e aumenta o lucro porque pratica preços mais interessantes)
Que outras fontes de receita pode um produtor conseguir além da produção?
Quem serão os seus clientes-alvo? Há mercado para leite integral?
Há mercado para espécies menos eficientes mas autóctones? Nunca esquecer o exemplo das irmãs psicólogas no deserto de Aragão.
Posso vender directamente ao consumidor? Quanto me custa ter as autorizações para o fazer?
Posso vender visitas de estudo de escolas à exploração?
Posso vender refeições na quinta com produtos retirados da horta por indicação do cliente, como se escolhesse os peixes ou crustáceos numa marisqueira?
Posso vender o aluguer da terra e o trabalho para cultivar os legumes, como se fosse um jogo do FB?
Talvez a mudança tenha de ser feita por tentativa-e-erro, até encontrar o que funciona.
.
Qual a alternativa a não fazer esta mudança? Continuar no duelo até que no final só exista um produtor.
.
Será que vai avante com a mudança?
.
A maioria desiste, vende o negócio.
Outros adiam o inevitável lutando por mais subsídios e apoios.
.
Só uma minoria desesperada:
"To play by David's rules you have to be desperate. You have to be so bad that you have no choice."
 Arrisca mudar de vida, sair da sua zona de conforto. Deixar de vender quantidade e passar a vender experiências.
.
E agora, para terminar em grande com um termo da moda, fazer da exploração uma plataforma de negócios que alimentam uma marca em vez de vomitar quantidade industrial.

Continua.

terça-feira, junho 16, 2015

E o burro era eu!

Aqui neste blogue escreve-se muitas vezes sobre a necessidade de subir preços, e  sobre a comparação do impacte de subir os preços vs o impacte de praticar descontos.
.
Quando aos 28 anos vi pela primeira vez o gráfico de Marn e Rosiello:
Estribado nas certezas que a minha ignorância alimentava, logo classifiquei os autores:
- BURROS!!!
Como é que é possível subir os preços e não perder clientes!!! Subir os preços é um bónus dado à concorrência.
.
Se na altura lesse "Newsonomics: Single-copy Newspaper Sales Are Collapsing, and It’s Largely a Self-Inflicted Wound" de certeza que utilizaria o seu conteúdo para corroborar aquela classificação.
"Single-copy newspaper sales — which not that long ago made up as much as 15 to 25 percent of sales — are obsolescent, dropping in double digits per year and, for many papers, 25 to 50 percent or more in just the past three years. Single copy is just one corner of a disappearing world, and it’s one we’ve paid little attention to. In its decline, though, we can see the print-to-digital transformation from another angle.
.
Why the drop? Of course, digital reading is a prime reason, propelled by the smartphone revolution; more than one billion smartphones were shipped for sale around the world last year, a mind-boggling number.
.
But it’s not the only reason. Right up there on the list would be newspaper company strategy, as expressed in its pricing decisions. Call it quarteritis — a piling on of quarters, raising single-copy prices from 50 cents to 75 cents and then to a dollar and more."
A esta hora, quem acompanha este blogue estará a murmurar:
- Então não é isso que tu propões ò caramelo?! Subir preços?! 
STOP!!!
.
Como é que fazem os governos? Aumentam os preços dos serviços e reduzem a qualidade dos mesmos. Pudera, são monopolistas!
.
Como é que os jornais fizeram?
"What’s happened in newspaper pricing is that too many publishers have doubled their prices while halving the size, and quality, of their products. I can’t think — nominations invited — of other industries that have done that with longer-term success."
Ou seja, fizeram o mesmo.
.
Recordar "Sonho? Tomo a nuvem por Juno? Ou será o jornalismo do Estranhistão?"
.
Hoje, olho para o gráfico de Marn e Rosiello e murmuro:
- O BURRO era eu!
.
Como é que numa sociedade capitalista:

  • em que há concorrência;
  • em que os clientes não estão condenados a comprar uma oferta em particular;
é possível aumentar os preços, não perder clientes e ganhar mais?
.
Fazendo um trade-off, mais caro por mais valor.
.
Julgo que, nestes tempos de tabletes e smartphones, o sucesso desta revista em papel deve fazer muita gente reflectir "Australia’s Popular New Philosopher Magazine Blurs the Line Between Indie and Mainstream:
"Why did you decide to start a printed magazine about philosophy?
When looking around at other publications there seemed to be a gaping hole for content that was intellectually stimulating. Existing publications seemed to seriously underestimate their readers’ capacity to reason and their curiosity about the world around them
...
New Philosopher has no ads; it’s funded entirely by subscriptions and newsstand sales. How have you managed to make this model viable?
Plenty of people are sick of the number of ads in the media and they’re prepared to pay a little more to avoid them. Given we have no advertising, we also had to look for other revenue streams."
Claro que fazer um produto insosso, que sirva para todo o tipo de leitor, não serve, não atrai ninguém, não faz a diferença, não gera paixão.

sábado, abril 18, 2015

Sraffa e a concorrência imperfeita

Na passada segunda-feira, durante uma caminhada, fui surpreendido pelo trecho que se segue:
"Thus, in Sraffa, abandonment of the hypothesis of perfect competition means abandoning a particular theory; that is, a theory that sees competition as a situation in which expansion of firms is halted by rising costs. Far from being restricted to very special circumstances, the hypothesis that firms should be regarded as single monopolies functions better than perfect competition, in accounting for the evidence; that is, that the expansion of firms is halted not by raising costs but by the limitation of demand. Sraffa's insight, "by showing how limited is the domain of applicability of perfect competition, and by breaking the spell, so to speak of the perfectly elastic demand that faces the perfect competitor"
E, parei de ler, repetindo de cor, inúmeras vezes, aquela frase:
"the expansion of firms is halted not by raising costs but by the limitation of demand"
E volto aquela figura da semana passada:
Em Mongo, não faz sentido medir a produtividade de uma empresa contando caudais de quantidades físicas produzidas por unidade de tempo. Em Mongo, faz todo o sentido medir produtividade com base nos resultados financeiros. Por exemplo, com base no rácio entre as vendas e os custos.
.
Na terça-feira passada, auditei uma empresa (sector transaccionável) que nos últimos anos aumentou os seus custos deliberadamente, acrescentando operações de fabrico que mais ninguém no seu sector faz, para se diferenciar e, conseguir preços unitários superiores. Recordar a lição de Rosiello no Evangelho do Valor. Entretanto, já mais que duplicou o emprego e a área ocupada. A expansão não é limitada pelos custos mas pela existência ou não de procura.
.
Em 2010, escrevi aqui no blogue acerca do truque alemão, para lidar com os custos elevados. Os custos são altos? Sim! Podem ser baixados? Não! Então, o que fazer? Correr o mundo à procura da procura que valoriza o que se produz.
.
Ainda outra lição alemã acerca dos custos "We are not cost cutters".
.
Em todo este racional, no qual baseio a minha vida profissional, há um senão.
.
Na próxima parte vamos desenvolver o ponto que pode pôr por terra toda este racional.
.
Continua.
.
Trecho retirado do capítulo "The First Imperfect Competition Revolution" de Maria Cristina Marcuzzo, de um livro que não consigo identificar.

quarta-feira, março 18, 2015

Descontos, outro veneno

"There’s a simple pricing mistake which could sink your company. The “D” word. Discounts.
...
Discounting is a slippery slope. However, if you never offer price discounts to anyone, you can resist all such requests by deferring to your company “policy.” You can also mitigate end-of-quarter price erosion by firmly communicating, early in the sales process, that your company is not subject to quarterly sales pressures.
.
Eliminating price reductions also denies mediocre salespeople their favorite crutch, while encouraging creative salespeople team to craft non-price incentives to spur purchases.
...
the importance of identifying, and communicating the full differentiated value to customers, rather than reflexively focusing on just price. The question isn’t which price is more or less, it’s which option provides the greatest economic value to the client and price is just one component of that conversation.”
Recordar os números do Evangelho do Valor para ter uma ideia do poder nefasto dos descontos.
.
Pena que, com ligeireza, os jornais económicos apontem o caminho mais fácil "Quer convencer polacos? Baixe o preço". Melhor seria que pregassem outra via, uma mais rebuscada, uma menos intuitiva, uma mais estratégica, uma com mais futuro, uma que ajudasse a criar valor e diferenciação.

Trechos retirados de "This Pricing Mistake Could Sink Your Company"

terça-feira, fevereiro 10, 2015

"the impact of pricing reductions on profit"

Um tema recorrente neste blogue mas que nunca é demais sublinhar, "Do you understand the impact of pricing reductions on profit?":
"In the study McKinsey worked with the Global 1200.  They found that a 1% price increase – if the demand remained constant – would result on average in an 11% increase in profits.  Not bad.  Think how many more units those companies and yours would need to sell to achieve an 11% increase in profits at your present pricing.
.
One moral of the story is – it is worthwhile to have an accurate assessment of the impact of price concessions on profit."

quarta-feira, janeiro 21, 2015

Acerca do evangelho do valor

Em sintonia com o que se escreve neste blogue, acerca da falta de paciência estratégica, acerca da doença americana, este trecho:
"U.S. companies typically march to the beat of quarterly earnings. This short-term focus often fosters a corporate culture of quick fixes, and an aversion to risk and experimentation. Since U.S. companies are rarely exposed to the need of looking at pricing as a growth component, pricing is often overlooked in favor of simply adding more customers and increasing market share. In fact, Atenga conducted a study in 2011 of American CEOs that found the vast majority, almost 90 percent,  saw market share gains as their most important profit improvement strategy, while a mere 4 percent said  optimizing price is the best way of increasing profitability."
Tanta gente que precisa de ser missionada no Evangelho do Valor.
.
Trecho retirado de "Why Do Europeans Do Pricing Better?"

terça-feira, janeiro 20, 2015

Sobre os descontos

No Twitter, via @wimrampen, cheguei a esta reflexão "Discounts and Cannibalization" de Edward Nevraumont.
.
Por instinto, receio e vejo com maus olhos a facilidade com que se recorre ao desconto. Recordar:
O ponto importante deste artigo é a explanação das várias opções e situações em que se podem fazer, ou não, descontos.


quarta-feira, janeiro 14, 2015

O impacte nos resultados

Em "How Lego Became the Apple of Toys" pode ler-se um resumo da história dos altos e baixos da Lego no mundo dos brinquedos.
.
Para mim, valorizo especialmente este trecho:
"Eight years ago, a Chicago architect named Adam Reed Tucker, who had been building impressive Lego models of iconic buildings, reached out to Lego, suggesting that the company might be interested in making official kits similar to his homemade creations. "Doing anything that wasn’t for the target group, which was boys between, say, 5 and 11, used to be almost a complete no-go," says David Gram, Future Lab’s head of marketing and business development. But a free-thinking Norwegian Lego exec named Paal Smith-Meyer—Holm admiringly describes him as "a true rebel"—saw value in AFOLs (Adult Fans of Lego) and came up with a stealthy, shoestring plan to prove their worth to the company. It came in the form of a counteroffer—which would help usher in the current era of innovation at Lego.
.
"We told him to do it," Gram says. "We provided him with the bricks and he sat in his kitchen in his two-bedroom flat, doing the first 200 boxes of the Sears Tower and the Hancock tower." In 2007, the homemade sets that would go on to become the wildly popular Lego Architecture line appeared in some local shops, and not only did they sell, they sold for way more money than a kids’ kit with the same number of pieces would have, because Lego could charge grown-up prices. "Seventy dollars instead of 30!" [Moi ici: E para quem conhece os números de Marn e Rosiello... percebe o impacte disto nos resultados] Gram adds. "That proved the case."

sexta-feira, janeiro 09, 2015

Treta e mais treta!

Apesar de não concordar com a ideia de que a seguir a uma falência, a austeridade deve ser evitada, li com interesse o que se escreve aqui "Welcome to the Hunger Games, Brought to You by Mainstream Economics".
.
Lentamente, muito lentamente, demasiado lentamente, lá vão surgindo brechas no pensamento único que defende que a culpa da situação actual na zona euro decorre dos "baixos"salários alemães.
.
Continuo a crer que o abaixamento de salários para tornar mais competitivos os sectores exportadores é conversa da treta. Contudo, continuo a crer que pode fazer a diferença entre mais ou menos desemprego nos sectores não-transaccionáveis.
.
Algo que sempre achei e continuo a classificar como absurdo é a ideia de que as economias da Europa do Sul competem de igual para igual com a economia alemã, mais treta da grande.
"The surge in imports created deficits on the trade balances of the Southern European economies, but these imbalances had nothing to with rising relative unit labor costs or “excessive” wage growth in the periphery."
Mesmo que os salários na Europa do Sul não tivesse subido um cêntimo, durante a primeira década do século XXI, mesmo assim, muita da indústria exportadora da Europa do Sul teria o mesmo destino, a falência às mãos da concorrência com a China. Interessante como no texto não há nem uma palavra sobre o impacte da China na competitividade das indústrias da Europa do Sul.
"First, Germany’s superior export performance has nothing to do with labor cost competitiveness. Demand for Germany’s exports has not been sensitive to changes in the cost of labor, as we show and as other studies (including ones by IMF, World Bank and ECB economists) confirm. German firms do not compete on “costs” but on factors other than price: things like product design, quality, high-tech content, and reliability."
E, por isso, é que a China não teve um impacte tão grande na Europa do Norte.
.
Há algumas passagens que me fazem duvidar da honestidade intelectual das pessoas:
"To illustrate, the ECB sent a letter to the Spanish government in August 2011 asking for wage cuts and the creation of “mini-jobs” to address the issue of youth unemployment in exchange for buying Spanish government bonds in the secondary market. These “mini-jobs” would pay salaries below the Spanish minimum wage. How to square this with the aim to turn Spain into a more competitive economy? I don’t know, unless one wants Spain to directly compete with China."
Qual a percentagem do PIB espanhol que está associado a sectores não-transaccionáveis?
.
Ou socialismo adepto do Grande Planeador:
"Europe needs a hand-on industrial policy with government investment in innovations like renewable energy systems, public transport and education and health. Countries like Greece in the periphery need help in the task of industrial restructuring and upgrading. Resources should be going from countries like Germany to them instead of the other way around."
Quem é que sabe que indústrias é que vão ter futuro?
A velha ideia, desmascarada tão bem por Spender, (recordar a série "Shift happens!") de que um negócio não está repleto de incerteza, de que não depende do contexto e da idiossincrasia de quem investe, de que basta escolher o negócio e obter os recursos. Treta!

segunda-feira, dezembro 01, 2014

"Pricing has a dramatic but frequently underappreciated effect on profits"

Em "Value-Based Pricing: The Driver to Increased Short-Term Profits", de Andreas Hinterhuber e Evandro Pollono na revista "Finance & Management" de Maio de 2014, esta figura sobre um tema muito importante para este blogue, o impacte do preço na rentabilidade:
"Pricing has a dramatic but frequently underappreciated effect on profits. A study of a sample of Fortune 500 companies showed the impact of pricing exceeded the impact of other elements of the marketing mix on profitability. 
An increase in average selling prices of 5% increases EBIT by an average of 22%, while other activities, such as revenue growth or cost reduction tend to have a much smaller impact.
...
Value-based pricing is especially appropriate for highly differentiated products. But it would be a mistake to assume it is only appropriate for products with a clear competitive advantage, such as branded tablet PCs or life-saving pharmaceuticals. Value-based pricing should guide pricing decisions for apparent commodity products as well."

domingo, novembro 16, 2014

Os consultores falam mas quem tem de decidir são os empresários

Esta semana, empresa que apoiei na implementação do seu sistema de gestão da qualidade, convidou-me para analisar a acta da última revisão do sistema pela gestão.
.
A certa altura, encontro algo deste género:
  • Objectivo da qualidade para 2014 - aumentar o volume de vendas em 8%
  • Desempenho real até ao final de Outubro de 2014 - aumento do volume de vendas em 3%
  • Objectivo da qualidade para 2015 - aumentar o volume de vendas em 5%
Disparei logo, por instinto, aquilo que me vem à cabeça quando vejo um objectivo proclamado:
- O que é que vão fazer de diferente face a 2014? Qual é o Vosso plano para chegar aos 5% se este ano chegaram apenas aos 3%?
Resposta à queima-roupa do sócio-gerente:
- Vamos aumentar preços!
Perante esta resposta, que há um ano era impensável ouvir, mentalmente, disse:
- Aleluia!!!
Este ano, vários acontecimentos permitiram à empresa perceber... ganhar confiança sobre a sua percepção acerca da sua vantagem competitiva. Os consultores falam mas quem tem de decidir são os empresários.
.
E, para cúmulo, o sócio-gerente, até ensaiou uma descrição de quem são clientes-alvo da empresa e porquê.
.
Estão a imaginar o que vai acontecer aos lucros da empresa? Basta recordar Rosiello.

quarta-feira, setembro 17, 2014

A habitual conversa da treta

Ainda não li o artigo mas o título é tão verdadeiro "Produtividade: todos falam mas ninguém sabe o que é":
"A produtividade tem sido apresentada como a chave para o aumento de salários em Portugal. Mas de que estamos a falar? Governo não responde e parceiros dizem que a discussão em concertação social tem sido "abstracta"."
Aquele "a discussão em concertação social tem sido "abstracta" é tão típico!!!
.
Conversa de café, cheia de generalidades, palco de oratória e retórica... a conversa da treta, capaz de provar por a+b que a água do mar é doce e que é inconstitucional não o ser.
.
Aqui no blogue, o marcador produtividade tem sido muito utilizado ao longo dos anos. Já sabem o que penso sobre trabalhar o numerador versus trabalhar o denominador.