quinta-feira, maio 25, 2023

Porque é difícil mudar de vida

Quando os "experts" proclamarem que as empresas são viciadas em salários baixos talvez fizesse sentido que reflectissem nas dificuldades da mudança. Parece que Aristóteles terá dito "A quem os deuses querem destruir, eles enviam previamente quarenta anos de sucesso".

"Imagine that you are running a large, mature business with a well-known technology and proven business model. Furthermore, let's assume that because the business is mature and competition is intense, the strategy of the business is to compete on low costs. Imagine, for example, a semiconductor plant at Intel or a manufacturing plant at Toyota. In these instances, the key success factors are around efficiency and productivity, driving costs down (maybe through quality improvement and lean manufacturing), and incremental innovation (faster, cheaper). The skills needed for this include great operational expertise, a disciplined approach, rapid problem solving, and a short-term focus. The formal organization to promote increased efficiency and productivity typically emphasizes a functional organization (manufacturing, engineering, product development, sales, R&D with clear metrics and rewards for incremental improvement and short feedback loops to promote fast learning and the implementation of improved methods. ... this is about exploitation with an emphasis on efficiency, control, certainty, and variance reduction. [Moi ici: "variance reduction" ... como não recuar a Redsigma - O fim da linha] Improvement is a function of ever increasing alignment. With a low cost strategy, the winners are those organizations that are best able to drive out inefficiencies.

...

Now consider the challenge facing the leader of an emerging organization where the future of the business or technology is uncertain - perhaps Twitter or other social media companies. The overarching strategy is to scale quickly based on innovation and flexibility. Here the key success factors are growth, flexibility, and rapid innovation. What types of skills are needed? Clearly technical skills are important, but so is the ability to adapt and move quickly. Given the uncertainty in the technology and the market, the structure of the organization needs to be flat and able to respond quickly to new initiatives. ... The standardization and processes that help a mature organization can be deadly here.

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To promote speed and flexibility, the culture needs to emphasize norms and values like initiative, experimentation, and speed. ... this is the alignment that promotes exploration. It's about search, discovery, autonomy, and innovation.

A couple of things are worth noting about these examples. First, although the alignments are very different, each is necessary for the successful execution of a particular strategy. When competition is based on efficiency and cost, the winner will most often be the organization that is most successful at reducing variance and promoting incremental innovation. When the market is changing rapidly, the alignment needed to succeed is one that is best able to experiment and adapt quickly. Second, attaining alignment is the primary role of the manager and it isn't easy. Setting up the systems and processes, structuring the work, motivating people and holding them accountable, and promoting constant improvement is a challenge. Third, the alignment that promotes success for one strategy may be toxic for another. And here is the rub: the alignment that makes a mature organization successful can kill an emerging business. And in the same way, the alignment that makes an emerging business work can make a mature business inefficient."

Pois, voltamos a Aristóteles::

"the alignment that has made an organization successful at one point may put it at risk in another. Great companies - those with a proud tradition - are potentially the most vulnerable to what we have labeled the success syndrome"

Não é impunemente que se tem sucesso. Por isso, não é fácil mudar. 

Trechos retirados de "Lead and disrupt: how to solve the innovator's dilemma" de Charles A O' Reilly III and Michael L. Tushman. 

quarta-feira, maio 24, 2023

Curiosidade do dia

Ah! Genebra...



Fora do mainstream

Este postal foi escrito antes de ter publicado Consultor de empresas versus consultor do governo. Por isso, alguns links são repetidos em dias seguidos.

Há vários anos li James March sobre exploitation versus exploration, (recordo de 2008, Jongleurs (parte II) ), sobre a necessidade das empresas serem ambidestras. Lidar bem com as duas caixas na base da figura:

Agora leiam um pouco do mainstream sobre os salários baixos. No Sábado passado no Dinheiro Vivo podia ler-se em "Um país viciado em salários baixos":
"posso também afirmar que o nosso país é viciado em salários baixos. [Moi ici: Acho a afirmação incorrecta e injusta. As empresas no terreno só fazem o que lhes permitem fazer, se não fazem mais é porque não são obrigadas a isso, se não fazem mais é porque não sabem] Estamos todos acomodados a níveis de remuneração ridículos face ao potencial de criação de riqueza: as empresas estão acomodadas, [Moi ici: As empresas, como os outros seres vivos, estão sujeitas às pressões evolutivas, um bailado entre os factores internos e externos. Recordo, a economia é uma continuação da biologia. Se as condições externas o permitirem, podemos encontrar "crocodilos" que já existiam antes dos dinossauros e ainda cá estão, se as condições externas o permitirem as empresas não sentem pressão para evoluir, praticam exploitation e nenhuma exploration.] o Estado idem aspas e os trabalhadores também.
...
A verdade é que com o nível atual de criação de riqueza a margem para aumentar os salários é diminuta. 
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A solução não passa por aumentar salários à custa dos lucros de hoje - até porque ninguém nos garante que esses lucros se mantenham no futuro. O desafio passa por aumentar de forma sustentável a geração de riqueza, aproveitando todo o potencial que possuímos. E isso não se consegue com decretos (do governo), greves (dos sindicatos) e oportunismo (das empresas).
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Consegue-se, sim, com mais produtividade dos serviços públicos e maior competitividade das empresas. [Moi ici: A maior contribuição do Estado para o aumento da produtividade, e esta é uma opinião completamente fora do mainstream, passaria pelo fim dos apoios estúpidos que se limitam a subsidiar os custos de operação de empresas que de outra forma morreriam. Por exemplo, quando uma empresa recebe um apoio por dar formação aos seus trabalhadores essa formação na maioria das vezes é para apoiar a estrutura de custos da empresa. Há outros apoios ainda mais estúpidos, "No país do Chapeleiro Louco". A maior contribuição do Estado seria "deixar as empresas morrer". Claro que deixar as empresas morrer pressupõe criar as condições para que outro tipo de empresas apareça, aquilo a que chamo a receita irlandesa. Não criar estas condições e pressionar as empresas existentes a subirem para níveos de produtividade que nunca conseguirão atingir é suicídio tipico da mentalidade socialista]
...
Por outro lado, às empresas pede-se que sejam mais eficazes, acrescentando mais valor aos produtos e serviços que vendem, [Moi ici: Não esqueçam esta frase acabada de sublinhar. Olhem primeiro para a figura abaixo. Acham que conseguimos dar o salto que é preciso, na produtividade agregada do país, acrescentando mais valor aos produtos e serviços que já vendemos? Reparem neste título "Subida de salários superior à produtividade retira competitividade às empresas" retirado da capa do semanário Vida Económica da passada semana (imagem abaixo). Acham que o sector do calçado não tem trabalhado para acrescentar mais valor aos produtos e serviços que vendem? Claro que o têm feito e bem, não sei se alguém conseguiria fazer melhor. Agora pensem no preço máximo que estariam dispostos a dar por um par de sapatos de couro? E aí chegamos ao tecto de vidro da produtividade portuguesa. De vidro porque ninguém fala dele, não faz parte do mainstream. O problema não são as empresas que já existem e que dão o seu melhor para lidar com o ambiente. O problema são os mastins de Baskerville!!! O problema são as empresas que faltam, que não estão presentes no mercado. O problema são as empresas que se seguem na pirâmide dos Flying Geese não estarem por cá] assegurando níveis de produtividade que tirem partido efetivo da evolução tecnológica e, last but not least, adotando estratégias de marketing que conduzam à criação de marcas internacionalmente fortes."


 

Em Depois do hype: O mastim dos Baskerville! recordo as palavras de Ferreira do Amaral ... como é possível?

A sério, gostava que alguém fizesse um traçado com uma corda oferecida por Ariadne que mostrasse como é que com as empresas existentes seria possível fazer a transição.

BTW, como é que começam os bons livros sobre "pricing"? O preço não tem nada a ver com os custos, mas com o valor para o cliente-alvo.

Uma empresa em particular tem de pensar: quem são os meus clientes-alvo? O que é valor para eles? Quanto é que estão dispostos a pagar pela entrega dos meios que permitem ao cliente criar e percepcionar esse valor na sua vida? Qual é a dimensão potencial do mercado? Esse preço e esse volume sustentam que tipo de empresa e com que dimensão?

terça-feira, maio 23, 2023

Consultor de empresas versus consultor do governo

Sou consultor de empresas.

Quando trabalho para uma empresa o propósito é ajudá-la a atingir os seus objectivos. Por exemplo, para uma empresa que precisa de aumentar a sua produtividade a ideia é levá-la a ver qual a melhor opção para a sua realidade concreta e contextual.

Por exemplo:

A - Usar as forças actuais para servir um novo mercado.
B - Desenvolver capacidades novas para servir um novo mercado.
C - Desenvolver capacidades novas para servir o mercado existente.

Por exemplo, o calçado fugiu do rolo compressor chinês usando as capacidades que tinha como forças para servir um novo segmento do mercado qe valorizava a rapidez, a flexibilidade e as pequenas séries.

E se eu fosse consultor do governo? (vade retro)

Como consultor do governo a minha preocupação seria o aumento da produtividade agregada do país, não o sucesso de uma empresa em particular. Por isso, como consultor do governo estaria preocupado, um aumento da produtividade agregada que se visse, com impacte sério nos números, provocaria um choque nas empresas incumbentes e na sua rede de amizades políticas (recordo esta imagem). Como consultor do governo não promoveria a morte deliberada de empresas, mas deixaria as empresas morrerem, não vacilaria na execução estratégica nem promoveria absurdos loucos. Como consultor do governo focaria a atenção no aumento da produtividade agregada pela entrada de novas empresas com níveis de produtividade superiores, não pela sua escolha, mas pela criação de condições para tornar o país atraente para elas.

Essas empresas novas além de serem mais produtivas, seduziriam as pessoas empregadas nas empresas incumbentes a mudarem de emprego para elas. As empresas incumbentes acabariam na maioria por terem de morrer ou deslocalizar-se, outra forma de aumentar a produtividade. Isto explica o fenómeno dos Flying Geese.

É incrível como o mainstream acredita que são as empresas existentes as culpadas pela baixa produtividade do país. Como consultor do governo nunca criticaria as empresas existentes, cada empresa existente é um milagre que merece ser celebrado. Como consultor do governo focaria a minha atenção nos mastins dos Baskerville, as empresas que não existem.

Nota das 06h57: Recomendo a leitura da crónica de Joaquim Aguiar no JdN de hoje sobretudo o terço final sobre a relação entre a República dos Garotos, a crença no distributivismo e a rede de amizades.

segunda-feira, maio 22, 2023

Acerca dos ecossistemas (parte II)

Ainda na sequência de Acerca dos ecossistemas temos:

"companies that focus only on the value they create, and not the value they bring, will set themselves up for disappointment.

...

getting things done in ecosystems requires being nimbler and more responsive to everything from customer needs to managing tricky relationships with partners that might otherwise be competitors. 

...

To be sure, competing in ecosystems won't come easily to top leadership teams that are used to static industry boundaries and traditional, zero-sum- game forms of competition. But they had better learn fast. As ecosystems become more of a differentiating factor that separates out high performance, companies that already have an edge will be well placed to extend it."

Trechos retirados de "Tapping ecosystems to power performance


sábado, maio 20, 2023

Vergonha alheia…

Vergonha alheia!

Tanta conversa sobre marca, preço de venda, design … mas afinal corremos o risco de deslocalização quando o aumento dos salários é superior ao da produtividade.

Wait! Em que gama de valores é que os salários têm crescido mais do que a produtividade?

Há tempos tive a conversa sobre o salário do motorista de autocarro que sai de Lago na Nigéria para fazer o mesmo em Oslo, ou sobre o barbeiro tuga que vai para Londres fazer o mesmo. A sua produtividade física mantém-se, mas a sua produtividade efectiva aumenta drasticamente porque as comunidades em que ficam inseridos podem suportar serviços pagos a um preço muito superior.

Como é que num mesmo país isto pode acontecer? Quando as pessoas migram de uma ocupação numa área para outra ocupação numa outra área?

Esta conversa parece retirada do guião de Ferraz da Costa… o que não é propriamente um elogio.

Representa uma mudança no discurso …

Continua

sexta-feira, maio 19, 2023

Quem vai voltar a ser a China da UE?

"Schneider Electric, one of the world's largest makers of electrical and automation products, is shifting some manufacturing closer to the U.S. from factories in Asia and Europe as it pushes ahead with a regional manufacturing strategy.

The moves are meant to position the France-based company, which makes goods such as light switches, electric-vehicle chargers, home-automation systems and data-center equipment, to meet growing demand in North America and to compete for federal subsidies aimed at expanding manufacturing in the U.S.

The company said it has started working with North American suppliers and is encouraging some of its suppliers elsewhere to set up factories in the region as it builds a local supply chain for materials such as nickel and lithium.

The company said it makes more than 80% of the products it sells in the U.S., Mexico and Canada in North America, with the rest made in factories across China, India, Southeast Asia and Europe. It will continue manufacturing in Asia and Europe but aims to have the finished goods go to customers in those regions instead of shipping the products around the world.

The company is restructuring its supply chain at a time when many businesses are looking to bring manufacturing closer to the U.S. after disruptions, stockouts and shipping delays during the Covid-19 pandemic highlighted the fragility of far-flung supply chains, said Kamala Raman, an analyst at research firm Gartner. Geopolitical tensions between the U.S. and China have also prompted concerns from government and business officials about the national-security risks of manufacturing crucial and highly technical items such as semiconductors overseas”

Trechos retirados do WSJ no artigo "Schneider Electric Expands Its North American Manufacturing"

quinta-feira, maio 18, 2023

Por que engonhamos tanto? Sim, sobre a farmácia do futuro.

Ontem dei de caras com este artigo, "Reino Unido quer dar mais poder a farmácias para aliviar centros de saúde. Seria possível em Portugal?"
"As farmácias britânicas poderão vir a fazer diagnósticos e prescrever medicação. Em Portugal, os farmacêuticos veem com bons olhos medidas semelhantes, mas os médicos dizem que seria "retrocesso"."

Meu Deus... uma autêntica viagem no tempo a Abril de 2008, "Um caminho para a farmácia do futuro?" ou mesmo a Abril de 2007 com "Estava escrito nas estrelas".

Um tema que revisito ao longo dos anos, A farmácia do futuro (parte VII) (Janeiro de 2018).

Em Janeiro passado, Por que engonhamos tanto?


quarta-feira, maio 17, 2023

Confundir efeito com causa (parte II)

Confundir efeito com causa (parte I) 


Por causa do fácil versus o difícil temos:

Há dias escrevemos este postal, Emprego, marketing e subida na escala de valor, onde abordamos o tema da destruição de emprego qualificado e o crescimento do emprego não qualificado. Nestes postais, Tudo vai depender do tal jogo de forças (parte V), e Turn, turn, turn - versão de 2023, abordo o impacte da saída da produção industrial na China.

Ontem, no WJS encontrei "The Disappearing White-Collar Job" onde li:

"For generations of Americans, a corporate job was a path to stable prosperity. No more.

The jobs lost in a monthslong cascade of white-collar layoffs triggered by overhiring and rising interest rates might never return, corporate executives and economists say.

...

"We may be at the peak of the need for knowledge workers," [Moi ici: Típico pensamento anglo-saxónico] said Atif Rafig, a former chief digital officer at McDonald's and Volvo. "We just need fewer people to do the same thing."

Long after robots began taking manufacturing jobs, artificial intelligence is now coming for the higher-ups-accountants, software programmers, human-resources, specialists and lawyers-and converging with unyielding pressure on companies to operate more efficiently.

...

During past periods when higher interest rates pitched the U.S. economy into recession, job losses were often led by industries most sensitive to rate changes, such as manufacturing and construction.

...

Layoffs in the information sector were up 88% in March from a vear earlier and up 55% in finance and insurance, the data show. For manufacturing, they were up 25% ever the same period.

Companies are for the moment focused on keeping bluecollar employees-restaurant servers, warehouse workers, drivers and the like-who remain in short supply, according to economists and humanresources specialists.

...

Whole Foods and Disney announced layoffs in recent weeks that largely hit corporate staff while sparing such customer-service jobs as grocery clerk and hourly theme park attendant. 

...

Payroll data from more than 300,000 small- and medium-size businesses showed that wages for new hires had generally declined in April from a year ago but fell most rapidly in white-collar professions, such as finance and insurance"

O desconhecido difícil para os agentes portugueses é conhecido fácil para agentes estrangeiros - daí  Tamanho, produtividade e a receita irlandesa.

Já há uns tempos que sinto que estamos a ficar maduros para uma revolução semelhante à que Cavaco encabeçou quando libertou a economia à iniciativa privada (bancos, televisões, jornais, empresas nacionalizadas com o 11 de Março...) pena que alguns se distraiam com a engenharia social.

terça-feira, maio 16, 2023

Acerca de custos de oportunidade

Volta e meia aqui no blogue recordo as tontices de Paulo Portas e muitos outros que querem substituir importações por produção nacional, como o bicicletas.

A explicação do problema da substituição das importações por produção nacional faço-a aqui em Live and let live (Fevereiro de 2022) e em Como se pode ser tão burro e cometer sempre os mesmos erros??? (Agosto de 2020).

Por que volto ao tema? Por causa de um artigo publicado ontem no Correio da Manhã, "País compra cada vez mais peixe e conservas lá fora":

De acordo com os dados do INE:

  • as exportações homólogas de peixe no 1º trimestre deste ano cresceram 17%, e as de conservas cresceram 20%
  • as importações homólogas de peixe no 1º trimestre deste ano cresceram 6%, e as de conservas cresceram 15%

Nunca esquecer que exportamos produtos de gama superior aos que importamos. Se ocupamos capacidade produtiva com margens baixas, não a temos para produzir gamas mais altas.

As primeiras semanas de lockdown em 2020 mostraram o quanto o peixe da gama alta vai para fora a bom preço, preço que os tugas nunca poderão suportar.

segunda-feira, maio 15, 2023

Fugir da esquizofrenia

Há muitos anos que aqui no blogue escrevo sobre a esquizofrenia analítica, independentemente do governo de turno ser de direita ou de esquerda. Recordo, por exemplo:

Mão amiga fez-me chegar este tweet:

Não por acaso, no final de Abril último tirei uma foto ao título de uma coluna do JN:


Agora, analisei os dados do Pordata e resolvi fazer as cartas de controlo para os valores individuais e para a amplitude móvel:


E o que as cartas revelam é que a mortalidade infantil subiu de um ano para o outro por mera flutuação estatística. Nem o Pordata nem a ordem dos Médicos conseguem fugir da esquizofrenia na análise dos resultados (nem Câncio, se o governo fosse de direita). Só os deuses fogem da Conversa de humano.

domingo, maio 14, 2023

Confundir efeito com causa (parte I)

Há dias, neste postal, Emprego, marketing e subida na escala de valor, escrevi algo que me tem martelado o cérebro:
"Parece que o ministro da Economia não percebe a pirâmide dos Flying Geese: "A questão dos salários é decisiva para o futuro dos trabalhadores e das empresas. Se tivermos salários baixos, a economia nunca se vai desenvolver. Esse problema está umbilicalmente ligado com algum esforço que tem vindo a ser feito para aumentar os salários""
Este trecho: "Se tivermos salários baixos, a economia nunca se vai desenvolver" ...

Será que ele pensa que se os salários aumentarem a economia desenvolve-se? Julgo que ele está a confundir efeito com causa. Por que a economia não se desenvolve, não evolui, os salários continuam baixos porque não há produtividade que sustente o seu aumento. Os salários baixos são mais um sintoma de uma economia subdesenvolvida do que a causa direta de sua falta de crescimento.

Qualquer empresa tem uma estratégia, mesmo que a própria gestão de topo não tenho consciência dela. Uma estratégia bem sucedida assenta num alinhamento interno. Recordo: Alinhamento das operações com a estratégia (Março de 2011).

Recordo também o tema da competitividade, uma empresa pode ser competitiva e estar a empobrecer progressivamente, Não, não pode ser uma repetição do que já se faz (Agosto de 2022).

O que acontece quando o contexto muda?
O que acontece quando se tem de aumentar a produtividade? Recordo Marn e Rosiello e Simon e Dolan e o Evangelho do Valor.
A empresa portuguesa-tipo, do sector transaccionável, não tem hipóteses se se põe a competir pela eficiência e essa é a reacção fácil e instintiva.

Subir na escala de valor implica apostar na "exploration"

Continua.

sábado, maio 13, 2023

Diferenciação, lucro e PMEs

"This article explores the nature of differentiation in microenterprises... Using a combined sample of nearly 10,000 microenterprises across eight developing countries, I estimate that a standard deviation increase in differentiation is associated with approximately an 11 percent increase in revenues and an eight percent increase in profit, [Moi ici: Acerca da importância da estratégia ... gente preocpada com os outputs, em vez de dar primazia aos inputs ou outcomes] relative to the sample mean. ... Finally, I estimate the impact of common policy interventions on microenterprise differentiation. The results suggest that standard business skills training interventions have little effect on differentiation [Moi ici: Sintomático... faz-me lembrar a conversa do excel. BTW, ainda esta semana visitei a Viarcoand that access to individualliability microfinance may actually decrease it

...

Due to the difficult conditions under which many microenterprises operate, it is broadly assumed differentiation will be difficult to achieve, as proprietors cope with constraints on financial and cognitive resources.

...

The goal of the empirical exercise is to shed light on which constraints are most crucial in limiting microenterprises' ability to differentiate, and whether or not these constraints can be released. The results provide clarity on the shape of the relationship between differentiation and performance in microenterprise, which types of microentrepreneurs are most likely to differentiate, and what impacts existing policy interventions have on differentiation outcomes.

...

I find that propensity to differentiate decreases with age in a strikingly linear relationship. Differentiation also increases with years of education, with a particular boost after secondary school. 

...

From a practitioner standpoint, this work aims to demonstrate the relevance of strategic positioning in microenterprises. [Moi ici: Algo que procuramos fazer neste blogue desde o primeiro momento. Infelizmente todas as semanas encontro exemplos de PMEs que querem ser tudo para todos] While strategy and management researchers have posited that differentiation could be an effective source of competitive advantage in this population of businesses, these constructs are not salient in most policy-adjacent work. Indeed, the words "differentiation", "strategy", or "positioning" cannot be found in any of several excellent research summaries of policy programs directed at microenterprises. [Moi ici: Tão interessante!] While this analysis does not demonstrate a causal relationship, the robust association between differentiation and performance described in the results warrants an examination of a) whether an cost-effective interventions can successfully help microentrepreneurs achieve a more differentiated offering, and b) if such differentiation then translates causally to improved performance. The results of this analvsis provide suggestive evidence as to what tvpes of interventions mav prove impactful and which population of microentrepreneurs might be most effective to target."

Trechos retirados de "Differentiation in Microenterprises"

sexta-feira, maio 12, 2023

Emprego, marketing e subida na escala de valor

Ontem escrevi Momento, preço, valor, modelo de negócio e futuro sobre o quanto em Portugal se patina quando o tema é subir na escala de valor.

Ontem no JdN em "Emprego de licenciados com destruição recorde" podia-se ler:

"Num ano, desapareceram 105 mil empregos de licenciados.

...

O emprego só atingiu novo máximo no primeiro trimestre - crescendo menos do que o desemprego - por ter sido puxado por sectores como o alojamento e restauração ou a construção. Em ocupações mais qualificadas, pelo contrário, o emprego recuou.

...

nos dados mais detalhados, surgem assimetrias em função do nível de escolaridade. O emprego até cresce para menos qualificados, mas destaca-se a quebra de 6,1% entre quem tem o ensino superior. Apesar disso, o desemprego entre os licenciados não aumenta tanto (+2.7%). É que tanto na população ativa como na população total, os licenciados sofrem quebras próximas de 6%.

...

"Aquilo que temos visto é a subida dos salários de sectores menos qualificados, pelo salário mínimo e pela própria dinámica de procura de emprego do turismo, dirigida a pessoas menos qualificadas, que tem aumentado o salário. Por outro lado, os salários reais dos qualificados com formação superior, têm vindo a cair. O prémio salarial associado à escolaridade caiu para os mais jovens de forma muito significativa nos últimos anos. E um incentivo adicional à emigração". Há, segundo economista. uma "recomposição do mercado de trabalho" Torna-se mais atractivo para imigrantes não qualificados - os salários dos não qualificados estão a subir e há oportunidades de emprego -e torna-se menos atractivo para os mais qualificados".

No ECO o meu lado cínico foi despertado em "Calçado entra em 86 escolas para atrair jovens para as fábricas". Como é que o marketing abalroará a experiência que os jovens têm com os familiares que trabalham ou trabalharam no sector do calçado?

"preço médio de venda dos sapatos portugueses para os mercados internacionais ascendeu a 26,40 euros em 2022. Um crescimento de 8,7% em relação ao ano anterior"

Quanto é que aumentaram as matérias-primas e a energia? Quanto sobrou para o aumento dos salários? Quanto maior o sucesso das empresas a captarem os futuros trabalhadores para estes sectores, menos haverá para os outros sectores com mais valor acrescentado bruto.

Recordar:

  • "Falta de mão-de-obra dificulta resposta à procura crescente da produção nacional. Salário médio no setor cresceu 40% numa década, situando-se nos 871 euros em 2019" (fonte)
  • "Há empresários preocupados com o efeito do aumento do salário mínimo na competitividade na indústria portuguesa" (fonte)
Ainda de ontem:
  • "Key to artisanship is there being few artisans. Specifically, the existence of scarcity." (fonte)
Parece que o ministro da Economia não percebe a pirâmide dos Flying Geese:
"A questão dos salários é decisiva para o futuro dos trabalhadores e das empresas. Se tivermos salários baixos, a economia nunca se vai desenvolver. Esse problema está umbilicalmente ligado com algum esforço que tem vindo a ser feito para aumentar os salários", apontou Costa Silva, em resposta ao PCP, na comissão parlamentar de Economia." (fonte)


quinta-feira, maio 11, 2023

Momento, preço, valor, modelo de negócio e futuro

O que se segue é-me doloroso. Amanhã escreverei sobre emigração qualificada, marketing gerador de cinismo e sucesso de uns inocentes como sinal de fracasso da comunidade.

"With the economy at a turning point, companies should be thinking more critically about growth—concentrating on growing better rather than simply getting bigger. [Moi ici: Como bebi por volta de 2007 em "Manage for profit, not for market share" e depois demorei a refinar com Marn e Rosiello para seguir a máxima "Volume is Vanity, Profit is Sanity" desde 2006]

...

As inflation and costs have risen, it has become harder for most businesses to grow.

Yet that is exactly what makes this the right moment to think critically about growth

...

If you want to find growth in a world where costs are rising, the key is to understand what customers really value today and what they will value in the future.” [Moi ici: Que tempo, que espaço, que paz de espírito é guardada para esta reflexão profunda e de longo prazo? Então com empresas familiares é muitas vezes doloroso ... A única pessoa que pode dedicar tempo a isto está a conduzir um empilhador para arrumar paletes, ou está a substituir um operário especializado que está de baixa... e quem pensa no futuro da empresa? Quem encara de frente o monstro da erosão competitiva?]

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Understanding how to identify and unlock better growth is the key to sustainable success in business.

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If value is key, we need to ask what value really means.

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you can’t even begin to form your growth strategy until you stand in the customer’s shoes and understand how people make trade-offs between price and something much more subtle which is perceived value.” [Moi ici: Claro que isto implica escolher, conhecer quem são os clientes-alvo. Claro que isto implica pôr o output nos bastidores e dar primazia aos outcomes ou inputs e isso é areia demais para muita camioneta]

Some companies tend to confuse value with price, although they are very different concepts. The problem is that price is easy to state, but value is harder to calculate. 

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“Firms need to understand that pricing should be a strategy, not a tactic,”  [Moi ici: Citação poderosa. Muitas vezes, demasiadas vezes usamos o preço como táctica, como resposta ao próximo desafio imediato e não como estratégia. Ainda recentemente vi este trecho como exemplo do preço como estratégia]

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You need to think about what information you are trying to convey with price, because price not only captures value for the consumer, it can also create value for the firm.” [Moi ici: "also create value for the firm" nem comento. Não posso comentar... demasiados casos de destruição de valor, de desperdício de recursos, de irresponsabilidade infantil]

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Many things influence value—including brand, quality and not just what is offered to the customer, but how it is offered and when. [Moi ici: Também relacionado com o o tema da primazia dos outcomes sobre os inputs, porque o foco deixa de ser o produto acabado e passa a ser a situação do cliente-alvo, o seu contexto, os seus objectivos]

...

Growth for growth’s sake is a recipe for staff burnout and overall corporate exhaustion: sustainable growth should be about creating opportunities for everyone.

Knowing how to explain value to your customers and understanding how your customer data can tell you exactly what value people are prepared to pay for and what to forego is the essence of a balanced strategy for sustainable growth

...

The trade-offs that underlie growth strategy go to the heart of a company, shaping the kind of business it wants to be. “Better growth is about finding a growth model that treats volumes and margins in a way that keeps stakeholder interests in balance and reduces the pressure in the business,” 

...

“What we find with companies that adopt a pure volume mindset and market-share mindset is that they often fail to see the real implications for growth,” adds Dr. von der Gathen. “It is what we call getting ‘too hungry to eat.’ Sales are growing, but the company doesn’t have enough inherent revenue stability or profitability, and eventually their business model runs out of juice.” [Moi ici: Que sina!!!]

Creating better growth opportunities

Better growth, therefore, is about building business models with long-term, sustainable revenues and the headroom for innovation. It is about going beyond the math of market share and sales volumes, and finding a growth model designed to nurture the business as a real value-provider."

Entretidos e amparados pelas esmolas dos apoios comunitários, as dores de parto necessárias para a ascensão a um novo nível do jogo não passam de picos de urtigas mansas. 

Trechos retirados de "How businesses can unlock better growth


quarta-feira, maio 10, 2023

Acerca dos ecossistemas

Parece que o tema dos ecossistemas de partes interessadas continua a bombar.

"Ecosystems for the rest of us"

"Digitally enabled ecosystems are a vital part of the modern business landscape. They open the door to new customers and markets, and broaden and enhance a firm’s value proposition through the seamless bundling and integration of goods and services. Last but not least, ecosystems help companies become more innovative. It’s little wonder so many want to get involved."

"Ecosystems"

"Participating in ecosystems allows organizations to reach new customers by complementing (or even replacing) traditional value chains with environments in which companies work with multiple partners in different ways to create value."

"How to Create a Stakeholder Strategy"

"firms can use data—which is increasingly accessible and rigorous—to craft and implement effective growth strategies that recognize the complex interdependencies among stakeholders, create mutual benefits for them, and increase the net value generated collectively for their constituents."

Recordo um dos primeiros postais sobre o tema aqui no blogue em 2007, Subir na escala de valor e este resumo de 2016, Balanced Scorecard (parte V)

terça-feira, maio 09, 2023

De volta a alguma racionalidade (parte II)

De volta a alguma racionalidade ... (parte I) 

"For many direct-to-consumer brands, e-commerce marketplaces and resale platforms, the path to profitability is less of a marathon and more of an Indiana Jones-style sprint to stay ahead of the giant boulder threatening to crush any stragglers. Most of the fashion and beauty start-ups that went public in the last few years are struggling to convince investors they have what it takes to weather the current period of sluggish growth and elusive profitability. Patience is wearing thin for some of the worst-off names, and a few, like Poshmark, have already been acquired at a discount."

Trecho retirado de Which Start-Up Will Win the Race to Profitability? 

Interessante, em menos de uma semana mais um artigo sobre o tema da importância do lucro logo no arranque de uma marca, em vez do volume como critério de sucesso.

Uma mudança importante nos critérios de decisão e gestão.

segunda-feira, maio 08, 2023

Clientes em vez dos concorrentes


 "Ten major changes characterize the transition from industrial-era strategy practices to today.

1. The Shift In Focus From Competitors To Customers

The practice of business strategy is often said to have begun with Michael Porter’s 1979 HBR article, “How Competitive Forces Shape Strategy.” The article opened with the fateful sentence, “The essence of strategy formulation is coping with competition.” [Moi ici: Recordar Dick Dastardly - Live and let live]

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Porter’s main mistake was his concept of “the essence of strategy.” The essence of strategy is not coping with competition—a contest in which a winner is selected from among existing rivals. The essence of business strategy is to add value for customers. [Moi ici: Desde o princípio deste blogue temos focado a nossa atenção na  determinação dos clientes-alvo, em deixar de ver os clientes como "miudagem no recreio" - Sem uma estratégia clara, come on... BSC? (parte I) ] Porter’s five-force model of strategy misses the basic point that ultimately customers are the determinant of business success."

Trechos retirados de "What's New About Strategy In The Digital Age"


domingo, maio 07, 2023

O que aconteceu? (com as calças na mão)



Auditar uma empresa e perceber que não alteraram a análise do contexto feita em 2022. Segundo a empresa não há mudanças relevantes.

O que podemos pensar disto?

Primeiro, deste artigo de Abril passado, "Building optionality: Balance sheet discipline is both timely and timeless", sublinho:
"The macroeconomic outlook might be even more uncertain now than it was a year ago, which is saying something. Geopolitical risks, strong labor markets, persistent inflation, yo-yoing consumer sentiment, and a host of other confused signals have left business leaders with little certainty about the future. [Moi ici: Mais incerteza significa mais riscos e mais oportunidades] As central banks lift rates, external financing is becoming more difficult for companies across sectors."

Segundo, também de Abril passado, este postal, "Understanding the growth opportunity presented by volatile times", sublinho:

"Today, many companies are experiencing a global economy that feels different to anything they have ever encountered before. It is not just that firms are cutting forecasts, cutting headcount and beset with uncertainty. It is that uncertainty has become the default.

"Businesses are facing all sorts of volatility," says Brad Soper, Partner and Head of Industrials at the commercial growth specialist Simon-Kucher. "There is geopolitical uncertainty, there is banking volatility, there is demand volatility. This is systemically different to what has gone on before, in terms of the frequency and the amplitude of the ups and downs. And there is no doubt that makes it very difficult to sit down and just run a business."

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"When you have periods of great volatility, that's when a company should be looking at what made them competitive in the first place," says Prof. Kavadias. "Look at what has added value. You can't cut your way out of a downturn, you can only innovate your way out. Cutting without innovating only sets you up for bigger failures in the future.""

Terceiro, também de Abril passado, esta reflexão, "Why uncertainty is your friend if you're looking for big returns", sublinho:

"It's tempting to invest in areas that promise certain returns for a given investment. Unfortunately, by the time an opportunity has become so well understood that anyone could pursue it, it is well on the way to commoditization. To find big payoffs, you must be willing to explore high uncertainty bets.

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So yes, the transformational space is where the big returns are to be made. But only if you manage them as options on a transformational outcome, not as tweaks to an existing process you understand well.

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And if you don’t invest in transformation? The commodization monster awaits." 

Os que abraçam a mudança em vez de lhe resistir são os que ganham um lugar no futuro. 

Recuo a 2007 e a "Perceber o futuro" onde escrevi:

"A frase é conhecida "Uns cheiram, percebem o que vem aí e perguntam: "O que vai acontecer?". Outros perguntam: "O que está a acontecer?". Por fim, outros, admirados, confundidos, perguntam: "O que aconteceu?""