segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Live and let live

No sector de bens transaccionáveis as PMEs portuguesas exportadoras praticam preços mais elevados para o mercado interno ou para o mercado externo?

Os consumidores do mercado interno são iguais aos do mercado externo? Não! Têm poder de compra diferente.

ME - mercado externo
MI - Mercado interno

Muitas PMEs exportadoras ou não trabalham para o mercado interno, ou produzem produtos diferentes, mais baratos para ele. 
Muitas PMEs exportadoras nunca sobreviveriam a trabalhar só para o mercado interno. O mercado interno é pequeno e não aguenta margens elevadas.
Muitas PMEs exportadoras nem perdem tempo a trabalhar para o mercado interno. 

O que defendo aqui neste espaço desde o início deste blogue em 2004?
  • As empresas devem ter uma estratégia! 
  • Ter uma estratégia passa por escolher os clientes-alvo, os clientes que podem ser servidos com vantagem competitiva.
  • O objectivo das empresas é o lucro, não a quota de mercado.

Alguns exemplos:
Por isto, o que penso sobre a ideia de focar as PMEs exportadoras na redução das importações, em vez de continuarem a fazer o trabalhar de ganhar mercado no exterior, está bem descrito em Produtividade e tretas académicas.

Tudo isto por causa de mais uma exibição de falta de pensamento estratégico em "Madeira e mobiliário com vendas recorde ao exterior de 2587 milhões" no DN de ontem:
"Apesar da pandemia, 2021 foi um bom ano para as exportações da fileira nacional da madeira e mobiliário, que atingiram os 2587 milhões de euros, ultrapassando em 1,6 milhões o máximo histórico que havia sido alcançado em 2019. O presidente da Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) mostra-se "muito satisfeito" com esta performance, mas alerta para o crescimento de 21% nas importações, que levaram a uma "queda abrupta" do saldo da balança comercial, para 440 milhões de euros. [Moi ici: O artigo começa com uma descrição positiva]
...
Mas nem tudo são boas notícias, já que as importações da fileira de madeira e mobiliário, que haviam abrandado em 2018 e 2019 e caído em 2020, cresceram 21% em 2021, ou seja, a uma taxa superior à das exportações, arrastando o superávite do setor para 440 milhões de euros, valor que equivale aos níveis de 2011. "Um absoluto desastre", diz o presidente da AIMMP. "O país precisa de aumentar as exportações, sem agravar as importações, caso contrário não teremos crescimento económico, mas apenas um empobrecimento gradual e coletivo", defende, sublinhando que "na situação económica e empresarial em que nos encontramos, os incentivos ao consumo não constituem fonte de crescimento, mas de agravamento do endividamento externo"."

Querem aumentar a produtividade e os salários ao mesmo tempo que se dedicam a produzir baratos, com margens baixas e em pequenas quantidades? 

Live and let live.

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