terça-feira, maio 23, 2023

Consultor de empresas versus consultor do governo

Sou consultor de empresas.

Quando trabalho para uma empresa o propósito é ajudá-la a atingir os seus objectivos. Por exemplo, para uma empresa que precisa de aumentar a sua produtividade a ideia é levá-la a ver qual a melhor opção para a sua realidade concreta e contextual.

Por exemplo:

A - Usar as forças actuais para servir um novo mercado.
B - Desenvolver capacidades novas para servir um novo mercado.
C - Desenvolver capacidades novas para servir o mercado existente.

Por exemplo, o calçado fugiu do rolo compressor chinês usando as capacidades que tinha como forças para servir um novo segmento do mercado qe valorizava a rapidez, a flexibilidade e as pequenas séries.

E se eu fosse consultor do governo? (vade retro)

Como consultor do governo a minha preocupação seria o aumento da produtividade agregada do país, não o sucesso de uma empresa em particular. Por isso, como consultor do governo estaria preocupado, um aumento da produtividade agregada que se visse, com impacte sério nos números, provocaria um choque nas empresas incumbentes e na sua rede de amizades políticas (recordo esta imagem). Como consultor do governo não promoveria a morte deliberada de empresas, mas deixaria as empresas morrerem, não vacilaria na execução estratégica nem promoveria absurdos loucos. Como consultor do governo focaria a atenção no aumento da produtividade agregada pela entrada de novas empresas com níveis de produtividade superiores, não pela sua escolha, mas pela criação de condições para tornar o país atraente para elas.

Essas empresas novas além de serem mais produtivas, seduziriam as pessoas empregadas nas empresas incumbentes a mudarem de emprego para elas. As empresas incumbentes acabariam na maioria por terem de morrer ou deslocalizar-se, outra forma de aumentar a produtividade. Isto explica o fenómeno dos Flying Geese.

É incrível como o mainstream acredita que são as empresas existentes as culpadas pela baixa produtividade do país. Como consultor do governo nunca criticaria as empresas existentes, cada empresa existente é um milagre que merece ser celebrado. Como consultor do governo focaria a minha atenção nos mastins dos Baskerville, as empresas que não existem.

Nota das 06h57: Recomendo a leitura da crónica de Joaquim Aguiar no JdN de hoje sobretudo o terço final sobre a relação entre a República dos Garotos, a crença no distributivismo e a rede de amizades.

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