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domingo, dezembro 09, 2018

Ligas, competitividade e produtividade


Considerem uma equipa que joga na primeira liga de futebol, a equipa A.

Considerem uma equipa que joga na segunda liga de futebol, a equipa B.

A equipa A pode ser algo competitiva e ocupar um lugar a meio da tabela classificativa.

A equipa B pode ser muito competitiva e ocupar o primeiro lugar da tabela classificativa.

A equipa A será muito mais produtiva que a equipa B em termos de capital movimentado. No entanto, a equipa B poderá viver para sempre na segunda liga e recomendar-se.

Há muito que menosprezo os rankings globais, porque acredito que foram criados para avaliar um mundo que já não existe. Um mundo em que todos competiam na mesma liga e queriam chegar ao único pico:
Em Mongo, com uma paisagem assim:
Não faz sentido usar números médios para descrever uma realidade tão heterogénea.






Imagem retirada daqui.




sábado, dezembro 08, 2018

"não podem falar do futuro"

"É impossível que os dirigentes políticos europeus não saibam que o mundo mudou. O problema é que os responsáveis políticos europeus sabem que os eleitorados europeus não querem aceitar as implicações dessa transformação. Não se mobilizam para participar numa mudança do mundo que os expulsa do conforto das políticas distributivas e os atira para um novo campo de possibilidades em que ganham os que têm capacidade competitiva em mercado aberto, mas perdem os que dependem das políticas distributivas e precisam da protecção do Estado nacional em mercados alfandegados fechados. Os dirigentes políticos europeus estão a exercer o poder num contexto de duplo constrangimento: sabem que o mundo mudou e que é isso que determina o futuro, mas também sabem que uma parte maioritária do eleitorado não quer essa mudança do mundo e que prefere continuar nas condições do passado. É este duplo constrangimento que produz o vazio em que o poder se exerce.
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Para conquistarem o poder, os dirigentes políticos europeus não podem falar do futuro. Mas o passado, a que os eleitores europeus querem que os candidatos ao poder lhes indiquem como podem regressar, já não existe."
Trecho retirado de "O poder no vazio"

quinta-feira, novembro 29, 2018

Acerca do poder do optimismo


Vamos sendo aquilo que vamos construindo-nos e não adianta sonhar em alterar o passado. No entanto, há algo que muitas vezes me assalta como um sentimento de culpa.

Trabalho por conta própria desde 1994, depois de ter começado por trabalhar durante quase 8 anos por conta de outrem. O que estes quase 25 anos de trabalho por conta própria me deram, ou me potenciaram desenvolver, foi um optimismo que creio que nunca seria capaz de respirar se fosse funcionário.

É claro que nem tudo depende de mim, é claro que a vida não é um mar de rosas, é claro que a incerteza está sempre presente, é claro que os loucos que influenciam a macroeconomia têm cada vez mais poder para me afectar, para me roubar, para me impor barreiras, mas no essencial sou eu que vou ao volante, sou eu que respondo pelo que me acontece e não posso culpar mais ninguém.

E culpo-me de não ter passado mais optimismo para os meus filhos. Uma está a trabalhar no CERN na Suíça e o outro estuda cinema (quem me conhece provoca-me, prevendo que será mais um maluco do BE) e julgo que estão bem e terão futuro. No entanto, quando nos reunimos à mesa sinto que há muito cinismo acerca do mundo e menos optimismo.

Este sentimento de culpa arranjou uma âncora quando descobri este artigo já há algum tempo "Why Encouraging Optimism Should Be Your First Business Strategy":
"When Bert and John Jacobs were growing up in a large family with little money, their family didn't dwell on their problems or what they didn't have. Each time they sat down at the dinner table, Bert and Jacob's mother would cut through the noise and say, "Tell me something good that happened today." By focusing on the good things that happened each day, their mother changed the energy in the room--and their family.
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I apply a similar philosophy at my meetings. We start each meeting with asking, "What's up, what's down, and what's stuck?" I've found that by starting with the phrase "What's up?" as in what's going well, my team immediately focuses on the positive work that is being accomplished in our department. What could have easily become a bitch fest, complaining about problems and coworkers, instead becomes mutual praise and celebrations of accomplishments. The positive energy carries over into problem solving and we get more done.
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Focus on the positive in your team to build the energy in the group. Focusing on the positive give people the confidence to tackle anything that comes their way."
E reforçou-se quando li recentemente em "Reinventing Organizations: An Illustrated Invitation to Join the Conversation on Next-Stage Organizations" de Frederic Laloux:
"At Sounds True, every meeting starts with a minute of silence. FAVI, for many years, had the practice of starting every meeting with all participants sharing a brief story of someone they had recently thanked or congratulated. The practice creates a mood of possibility, gratitude, celebration, and trust in other people’s goodness and talents. It helps to shift the focus away from self-centered goals and toward reconnecting with the broader needs of the organization."
E materializou-se neste postal quando ontem à noite vi um episódio do Masterchef Austrália e dei comigo a reflectir sobre a dose, sobre a cultura de saudável optimismo, de agradecimento, de relação que existe no programa, faz salientar e desenvolver o que as pessoas têm de melhor e dá-lhes energia para explorar os seus limites

E concluí que em Mongo, um universo económico em que os empreendedores, as micro e pequenas empresas abundam, o optimismo será um factor fundamental porque o emprego do século XX vai encolher, e só gente optimista, (mas também desesperada), se mete a montar um negócio. (Ou, na opinião dos bloquistas, gente burra, mas adiante). E Mongo vai ser bom para os negócios pequenos.

sexta-feira, fevereiro 09, 2018

Respeitar é ser transparente (parte IV)

Parte I, parte II e parte III.

Quando trabalho com o balanced scorecard apresento um "template" para uma empresa que quer servir clientes que valorizam a novidade, seja ela tecnológica ou design, e tenho o cuidado de falar da importância da atenção para com a falha junto do cliente.

Uma falha num produto/serviço maduro entregue a um cliente tem uma conotação diferente de uma falha num produto/serviço inovador e deve ser tratada de forma diferente.
"Why, all of a sudden, are so many successful business leaders urging their companies and colleagues to make more mistakes and embrace more failures? [Moi ici: Por isto é que deixei de usar a palavra qualidade e uso atributos ou conformidade. Atributos para: mais qualidade é mais cara  porque tem mais atributos, mais funcionalidades. Conformidade para: mais qualidade é mais barata porque tem menos defeitos, menos retrabalho. Ninguém está a pedir que as pessoas cometam mais erros naquilo que é padrão. Recordar as OPL]
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In May, right after he became CEO of Coca-Cola Co., James Quincey called upon rank-and-file managers to get beyond the fear of failure that had dogged the company since the “New Coke” fiasco of so many years ago. “If we’re not making mistakes,” he insisted, “we’re not trying hard enough.” [Moi ici: Não está a pedir mais erros a produzir o padrão, o maduro. Está a pedir menos medo de cometer erros ao experimentar o novo]
...
Even Amazon CEO Jeff Bezos, arguably the most successful entrepreneur in the world, makes the case as directly as he can that his company’s growth and innovation is built on its failures. “If you’re going to take bold bets, they’re going to be experiments,” he explained shortly after Amazon bought Whole Foods. “And if they’re experiments, you don’t know ahead of time if they’re going to work. Experiments are by their very nature prone to failure. But a few big successes compensate for dozens and dozens of things that didn’t work.”"
Este é o lado da falha que as empresas grandes tentam fomentar para vencer o medo e experimentar o algo que gere o futuro, os novos produtos e serviços. E o outro lado, o lado relacionado com aquilo que já se faz? Aí não se procura cometer erros deliberadamente, eles simplesmente acontecem. Quando acontecem têm sempre um custo. O desafio é fazer desse custo um investimento, transformando-o em aprendizagem para fazer melhor da próxima vez, ou para reduzir a probabilidade dessa falha voltar a acontecer. Esta semana foi muito rica. Chegar a uma empresa para falar com os chefes de secção individualmente e dizer: não quero que me fale sobre o que corre bem, esta empresa está aqui há tantos anos que tem de ter muita coisa boa. Fale-me daquilo que o aborrece, daquilo que lhe estraga a vida, daquilo que destrói a produtividade do seu sector.

E as pessoas falam e falam e falam, e não dizem baboseiras.

E eu interrogo-me... por que é que nunca ninguém parou para conversar sobre estes problemas? Por que é que não existe um forum em que se fale disto sem ser visto pelos clientes internos e fornecedores internos como um ataque pessoal? Porquê? Porque é preciso produzir, porque é preciso pôr as pessoas a trabalhar. E recuo ao final dos anos 90 do século passado e a uma empresa em que, segundo um dos sócios, quem não estivesse na linha de montagem da empresa a montar XXXXX era malandro.

Trechos retirados de "How Coca-Cola, Netflix, and Amazon Learn from Failure"

domingo, outubro 01, 2017

"Você tem que imaginar possibilidades para o futuro"

"Valor: Na sua opinião, estamos ensinando as pessoas a serem mais criativas nas escolas de negócios?
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Martin: Não. Acredito que as escolas de negócios ainda são científicas. Estamos ensinando às pessoas técnicas para analisar dados existentes, ao invés de ensinar como pensar criativamente sobre os negócios e imaginar outras possibilidades. Você alguma vez foi a uma escola de design? As pessoas lá passam quatro anos na escola buscando saídas para um problema de um cliente. As classes discutem, é uma longa jornada imaginando soluções. Nas escolas de negócios, você aprende técnicas para analisar o que já existe. Se você pensar que toda análise requer dados, as respostas estarão sempre no passado, você não tem dados sobre o futuro. Você não pode ser só analítico ou só inovador. Você tem que imaginar possibilidades para o futuro e a melhor maneira de diminuir o risco é criá-lo, já dizia Peter Drucker."
Trecho retirado de ""Se você for atirar, vai preferir um alvo móvel ou um parado?""

sábado, setembro 30, 2017

Cuidado com os apoios envenenados

"O que seria aconselhável, então, para empresas que estão começando e têm que entrar nessa disputa? Focar em expansão internacional?.
Eu tentaria o máximo possível fazer sem subsídios. A Itália, por exemplo, é uma economia muito incomum. Na maioria dos países, as exportações são feitas por um pequeno número de companhias muito grandes. Na Itália, a maioria das exportações é feita por pequenas empresas. Lá, existe uma brincadeira que diz que, quando você se torna uma grande empresa, o governo decide que vai te ajudar. E quando o governo começa a te ajudar, tudo fica burocrático e pára de ser efetivo e competitivo. Eu não ficaria surpreso se o Brasil se tornasse um país semelhante à Itália. No fim, as empresas estarão melhores trilhando seus próprios caminhos em vez de usar dinheiro do governo [Moi ici: Dos contribuintes passados ou futuros]. Embora soe vantajoso obter dinheiro grátis, não é necessariamente bom sempre."
BTW, não perder as bicadas às campeãs nacionais.

Trecho retirado de "Martin, da Rotman: “empresas precisam crescer sem subsídio”"

terça-feira, setembro 05, 2017

Produtividade - enfim

Com algum atraso, recupero este artigo publicado em Agosto último no Público, "Mais produtividade = melhor nível de vida".

Será que mais produtividade é realmente igual a um melhor nível de vida?

Durante mais de 20 anos morei em Estarreja. Durante mais de metade desses anos passava diariamente pela portagem de Estarreja na A1. Habituei-me a associar o regresso a casa, depois de um dia de trabalho, a uma pequena conversa com os portageiros da Brisa. Simpatizava especialmente com três deles. Sem esforço, nem propósito, o contacto diário criou entre nós proximidade e cumplicidade. Até ao dia em que a Brisa, em nome do aumento da produtividade, tomou a legítima decisão de acabar com os portageiros e instituir o pagamento via máquina.

A produtividade aumentou mas a qualidade de vida daqueles portageiros não aumentou, até regrediu. É preciso ter cuidado com estes slogans herdados do tempo em que a procura era superior à oferta e, por isso, um aumento da produtividade não punha em causa o emprego.

Mergulhemos no texto:
"Portugal é um país desenvolvido mas com um nível de produtividade baixo. O crescimento da produtividade em Portugal nos últimos 20 anos foi inferior ao verificado nas maiores economias desenvolvidas (G7), o que significa que não convergimos em nível de vida.
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Alemães, ingleses ou norte-americanos já trabalhavam melhor do que nós e produziam mais bens e serviços numa hora de trabalho."
Aquele "e produziam mais bens e serviços numa hora de trabalho." causa-me arrepios porque associa mais produtividade a mais quantidade produzida. Como se o nosso desafio fosse o de produzir mais rapidamente. Nunca chegaremos ao nível de produtividade dos "alemães, ingleses ou norte-americanos" continuando a produzir o que já produzimos só que mais depressa. Precisamos de produzir coisas diferentes, coisas com maior valor acrescentado. Cuidado com a armadilha da produtividade quando se pensa à engenheiro: "Actualizem o documento por favor.".

A armadilha da produtividade é considerar aquilo que se produz como um dado do desafio e não como uma variável. Recordo sempre a anedota do embaixador do Luxemburgo que achava que os portugueses a viver no Luxemburgo, porque produziam até meio de terça-feira o que cá produziam até sexta-feira, eram mais produtivos por causa da saudade. A saudade impelia-os a produzir mais.

Voltemos ao texto:
"Se aplicados ao ensino, por exemplo, o nível de produtividade significa que um professor alemão ensina em uma hora o que um professor português ensina em duas horas."
Outro absurdo! Qual é o valor de mercado do trabalho de um professor? Qual é o valor de mercado de um funcionário público? Como não é possível calcular esse valor faz-se uma simplificação, assume-se que esse valor é o valor do salário pago. Assim, sempre que a função pública é aumentada, aumenta a produtividade do país. Se um professor alemão der metade da matéria que um português dá, só porque tem um salário superior tem uma produtividade superior.

Outro trecho do texto que nos remete para a armadilha da produtividade. Consideremos então uma multinacional que produz o mesmo artigo em Portugal e na Alemanha. Em que país é que a produtividade será superior?
"Mas os portugueses demonstram diariamente serem bastante produtivos quando o enquadramento é adequado. Basta pensar em fábricas de multinacionais instaladas em Portugal que são mais produtivas do que as instaladas em alguns daqueles países."
A produtividade calcula-se através da equação:
Se o produto é o mesmo e a quantidade produzida é a mesma, ditada pelo ritmo a que trabalham os autómatos e os set-points das máquinas. Então, o Valor produzido unitariamente cá e lá é idêntico.

E o que acontece aos custos? Os custos de mão de-obra em Portugal são inferiores aos alemães, como as matérias-primas são compradas no mercado internacional... os Recursos consumidos unitariamente em Portugal são menores em termos monetários que os consumidos na Alemanha. Logo, a produtividade é facilmente superior por cá. E não é por cá trabalharem mais depressa do que na Alemanha.

Voltemos ao texto:
"As soluções para aumentar a produtividade são conhecidas mas é necessário que haja vontade e pressão na sociedade para que sejam implementadas. Isso só acontecerá se os portugueses perceberem que estas políticas são benéficas para a sua vida. Para além disso, a avaliação de políticas públicas na perspetiva da produtividade torna-se essencial para assegurar políticas apropriadas e corretamente focadas."
Duvido deste parágrafo quase todo. Primeiro, os portugueses não existem. Não existe um grupo homogéneo com interesses e prioridades homogéneas. O que o taxista quer é que não permitam a concorrência da Uber, o que o hoteleiro quer é que não permitam a concorrência da AirBnB. O que o produtor de leite quer é que não permitam a entrada de leite estrangeiro. O que funcionário público não quer é que o novo software seja aplicado com todo o rigor e lhe roube o posto de trabalho. O que o jornalista quer é impedir que as pessoas acedam às notícias na internet. O que o merceeiro sempre quis foi acabar com o hipermercado. O que o livreiro quer é que acabem com a Amazon. Genericamente acredito que a única força adequada para impor o aumento da produtividade, minimizando distorções durante o processo, é deixar a concorrência operar. Quantos portugueses são realmente a favor de uma concorrência que possa acabar com a empresa onde trabalha?

Por fim:
"Uma opção é a constituição de um conselho de produtividade independente, que avalie de uma forma transparente as políticas implementadas no sentido de identificar e destacar os benefícios das opções pró-produtividade."
Como se o problema da produtividade fosse sobretudo do contexto. É claro que o contexto conta, é claro que uma tradição multi-centenária de instituições extractivas conta. É claro que aquilo que favorece a produtividade dos grandes é o que prejudica a produtividade dos pequenos. Por isso, é que as empresas grandes aprenderam a povoar os grupos de estudo e criação de normas técnicas, para criar barreiras à entrada ou à manutenção dos pequenos. Ou seja, qualquer política de produtividade não é neutra, ao favorecer uns prejudicará outros. Uma prática tradicional em Portugal: picking-winners.

Uma das coisas que aprendi em 2008 foi a da variabilidade da distribuição de produtividades. Existem mais variabilidade da produtividade entre as empresas de um mesmo sector de actividade económica do que entre sectores de actividade económica. Percebem as implicações disto? No mesmo país, com as mesmas leis, com o mesmo povo, dentro de um mesmo sector, a variabilidade da produtividade é enorme. E isto quer dizer que o factor mais importante para a produtividade é o ADN que está numa empresa. Esperar que seja um conselho de produtividade independente... como se alguma vez houvesse independência. Ainda há bocado li o que é que as golden-share na PT, supostamente para o poder político proteger a empresa do poder económico, permitiram fazer.

domingo, abril 02, 2017

A realidade existe mesmo?

Esta semana, durante uma viagem de comboio ou metro, ao ler umas linhas de Liozu veio-me à mente o bispo Berkeley e o seu imaterialismo.

Ontem à noite, durante o relato da bola, a coisa concretizou-se assim:

Esta imagem aborda um tema recorrente aqui no blogue, o tema da distribuição de produtividades, o tema de se encontrar mais variabilidade no desempenho entre empresas do mesmo sector económico do que entre empresas de diferentes sectores económicos. A variabilidade intersectorial é menor que a variabilidade intrasectorial.

Então, escolhendo um sector:
Como é que os líderes de cada uma das empresas que ocupam os extremos da distribuição vêem o mundo? Como é que analisam a sua realidade à luz da metodologia de Porter, por exemplo?

A realidade existe mas o que interessa é o que cada um percepciona dessa realidade. Se um olha para a realidade como claustrofóbica ela será claustrofóbica, se um olha para a realidade como esperançosa ela será esperançosa.

Será que posso dizer que a realidade existe? Será que a única realidade real é a que a mente de cada um permite ver? Por exemplo, quando na oposição o deputado Galamba olhava para os números do desemprego e diziam que eram enganadores porque o desemprego real era bem maior aos relatados.

Agora como deputado da situação o mesmo olha para os números do desemprego:

Acrescento que o INE continua a calcular o desemprego agora como calculava dantes.

Nas empresas, o que me acontece muitas vezes é agir como um outsider com outro modelo mental e que vê a realidade de outra maneira. Alguém que sabe que existe uma alternativa, quase sempre. E quase sempre os empresários subestimam-se. Recordo empresa que estava quase a aceitar oferta de compra quando eu entrei e lhes fiz ver que valiam muito mais e tinham um potencial de crescimento muito superior. Declinaram a oferta que se tornou, dois anos depois, numa oferta mais valiosa por parte minoritária na empresa.

Ou a empresa que estava mesmo à beira de fechar e que não fechou e hoje está bem e recomenda-se.

Pena que os professores de Filosofia apresentem as ideias de certos filósofos como caricaturas do seu pensamento.

quinta-feira, janeiro 12, 2017

Anónimo da província humilha gurus

Pela primeira vez vejo, preto no branco, num artigo publicado pelos media tradicionais, um texto a corroborar a opinião de muitos anos deste blogue: o salientar que afinal são as PME as grandes dinamizadoras das exportações portuguesas. Recordar, por exemplo, o recente Acerca das exportações (parte II) ou a série Acerca das exportações dos primeiros 8 meses de 2016 ou ainda No meu campeonato as exportações do 1º trimestre correram bem!

Em "PME estão mais exportadoras, mas é difícil encontrar clientes" [BTW, mas que raio de título... em que sector é que não é difícil encontrar clientes?] pode ler-se:
"“Sempre que saem as estatísticas das exportações justificamos os números com a Autoeuropa ou com a refinaria da Galp. Mas para perceber se existe aqui uma força transformadora, pareceu-nos mais viável olhar para as PME.” São elas o motor invisível das exportações nacionais, num país onde “um número muito pequeno, cerca de 500, faz a quota de leão das vendas ao exterior – um somatório de muitos micros que fazem o macro”."
Uma coisa que me entristeceu no artigo foi este gráfico:
Pena ainda não aparecer como razão para a internacionalização: a procura de margens superiores para o negócio.

Uma coisa que me fez rir e começar o dia bem disposto foi olhar para este outro gráfico:

Pensem bem no que aqui defendemos ao longo dos anos. Por exemplo, em Outro testemunho, outra prova do tempo, de Fevereiro de 2016 refere textos do blogue de antes da chegada da troika e de 2012 a ridicularizar a ideia tão presente nos discursos de políticos, académicos e comentadores económicos (a tríade) de que exportamos por causa dos nossos custos baixos.

Reparem no último factor deste segundo gráfico: o aumento dos custos de produção é o factor que menos preocupa as PME exportadoras.

Impressionante como este anónimo da província bateu os gurus todos, todos mesmo, nesta cena das exportações. Como não recordar esta mentalidade: Político, socialista e ignorante




terça-feira, dezembro 27, 2016

Curiosidade do dia

"No mundo, a globalização trouxe a liberdade de circulação dos factores económicos, mas não se aceitou fazer o ajustamento nos modelos de sociedade – a perda das posições sociais protegidas gerou naturais reacções populistas defensivas que pretendem reconstituir um passado que já não existe.
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A fadiga da globalização no centro hegemónico que são os Estados Unidos está a fazer nascer um mundo novo, para o qual não há mapas nem bússolas porque são as correntes da tecnologia que estão a transformar os modelos de sociedade e os modelos de desenvolvimento. Os fluxos vão dominar os espaços, os competitivos vão dominar os distributivos, os globalistas vão vencer os nacionalistas – mas não se sabe o que tem de ser ajustado para passar do velho para o novo."
Esta é a minha grande conclusão quando reflicto no desempenho competitivo do Portugal industrial:
Recordar "Competitividade? I rest my case!" e "Façam as contas comigo".

Portugal é um país que soube recuperar a sua competitividade depois do choque chinês, as empresas aprenderam a viver com o euro e estamos a caminho das exportações representarem 50% do PIB.

Então, por que é que o Estado continua sempre à beira do abismo financeiro?

Por que os políticos ainda não aprenderam a fazer o ajustamento da sua cartilha. Continuam a pensar como no tempo do escudo em que todos os erros de gestão recaíam sobre os portugueses mas de uma forma camuflada através da inflação e da ilusão monetária. Agora isso desapareceu e o ajuste dos erros é mais doloroso. No entanto, o problema não é do euro nem da globalização é dos políticos que elegemos, ou nem elegemos, e de sermos uma cambada de ignorantes que aceita sem questionar as "verdades" que nos impingem.

quinta-feira, dezembro 22, 2016

Desligados da realidade

Ainda esta semana numa empresa falei sobre este tema para demonstrar como os políticos estão desligados da realidade porque, quando falam em desemprego, pensam logo em fábricas fechadas, ou seja, desemprego industrial. A realidade, como já descrevi aqui no passado, é bem diferente:
"No que respeita à atividade económica de origem do desemprego, dos 405 933 desempregados que, no final do mês em análise, estavam inscritos como candidatos a novo emprego, nos Serviços de Emprego do Continente, 68,6% tinham trabalhado em atividades do sector dos “serviços”, com destaque para as “Atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio”; 25,8% eram provenientes da “indústria”, com particular relevo para a “Construção”; ao sector “agrícola” pertenciam 4,6% dos desempregados."
Outro exemplo do desligamento da realidade, por a considerarem um bloco monolítico que é apenas o que vemos nos media:
"O aumento do salário mínimo nacional (SMN), dos 530 para os 557 euros, terá reflexos diretos e indiretos em "cerca de 40%" dos trabalhadores das IPSS, cerca de 100 mil pessoas - num universo de 250 mil -, disse ao DN Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS). A "ameaça [de despedimentos], no futuro, existe sempre", admitiu."
Trecho retirado da Informação Mensal do Mercado do Emprego, publicado pelo IEFP, relativo ao mês de Novembro de 2016.

BTW, apesar da descida do IVA, o desemprego no sector "Alojamento, restauração e similares" cresceu 14,3% em cadeia. E as promessas da AHRESP?

BTWII, o texto sobre as IPSS e o SMN é um caso clássico de uma mentalidade que felizmente muitas PME já ultrapassaram, nem uma palavra sobre produtividade.

sábado, dezembro 03, 2016

Converse sobre isto

O desempenho continua "Tupperware com crescimento superior a 10% em 2015":
"A Tupperware Ibéria anunciou hoje um crescimento superior a 10% no volume de negócios em Portugal em 2015, pelo quinto ano consecutivo, tendo destacado que a Tupperware Portugal é "uma das empresas que mais cresceu nestes anos de crise".
...
A Tupperware possui uma fábrica em Montalvo, Constância, que emprega 400 trabalhadores e foi fundada há 37 anos."
37 anos! Façam comigo as contas, 2016-37 dá 1979.

Quantas multinacionais por essa altura, e mesmo depois, instalaram unidades fabris em Portugal e, por volta do ano 2000 fecharam-nas?

A Tupperware tem os preços mais baixos? Não!

E acham que eles classificam isso como um ponto fraco da empresa?

Como é que acham que @s distribuidor@s Tupperware respondem às críticas sobre o preço no final das demonstrações?

Lembram-se do ano mais negro do tempo da troika? 2013.

O que aconteceu em 2013? "Outro exemplo, outra lição":
"o aumento das vendas da Tupperware em Portugal, que registou um crescimento de vendas de 19% no ano passado face a 2012.
O bom resultado foi emulado no início deste ano com um aumento de 21% nas vendas face ao mês de Janeiro de 2013, anunciou a empresa esta quinta-feira."
E a sua empresa?

Também parte já derrotada? Também acha que não ter o preço mais baixo do mercado é um ponto fraco?

Exemplos como a Tupperware deviam ser mais conversados nas PME. São uma ilustração clara de que existe um potencial à espera de ser accionado por produtos superiores e/ou por um modelo de negócio adequado e, que o choradinho do preço por parte dos comerciais não devia ser permitidos (recordo um tempo em que fui director da qualidade e desenvolvimentos numa empresa e institui uma multa de 10$00. Sempre que algum elemento da minha equipa dizia mal de um cliente: multa! Quantas empresas ganhariam com multas a comerciais e outros sempre que falassem do preço como argumento de venda, quando a estratégia não passa por aí)

BTW, as multinacionais que saíram de cá quando a China abriu ... não tiveram necessidade de desenvolver esta arte que a Tupperware domina, a de não se basear no preço mais baixo. Agora que a China está a ficar cara, andam a tentar o Camboja, o Laos, o banhista gordo vai dar-lhes um murro valente.

BTW II, Ò minha amiga, depois da conversa telefónica de ontem ... por que é que poucos dizem: vamos copiar a Tupperware no nosso sector?

domingo, setembro 11, 2016

Curiosidade do dia

"O passado só existe quando deixa saudade e o futuro é sempre qualquer coisa que vendedores de banha da cobra como os políticos nos querem impingir. Por cá não há responsabilidade colectiva pelo passado nem vontade colectiva para o futuro. Metade (ou mais) dos portugueses ainda acredita que a Troika e os cortes na Função Pública se resumiram a um capricho do Governo Sócrates ou a um devaneio de Passos Coelho e seus pares. A Suécia fez há anos uma política de reformas e de poupança apoiada pelos principais partidos, a Lituânia sofreu o duríssimo abalo de cortes salariais e de despedimentos no Estado, a Irlanda seguiu um caminho idêntico num admirável espírito de união e todos estes países foram capazes de assumir colectivamente o seu destino. Para muitos de nós, encarar a realidade e aprender com ela é um exercício improvável – ainda ontem José Pacheco Pereira escrevia no PÚBLICO que a necessidade do ajustamento era uma invenção de “argumentos conservadores, [Moi ici: Impressionante] destinados a impor às democracias uma noção da história que não depende da vontade e da escolha humana no presente”."

Trecho retirado de "Portugal não é a Irlanda"

domingo, agosto 21, 2016

Confundir o Estanhistão com Comoditização... suspeito

Escrevo aqui há muitos anos que o século XX foi o século do Normalistão. O século das linhas de montagem, o século do eficientismo, o século das mega-empresas, o século da massa - da produção e do consumo.
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Escrevo também que o século XXI será o século do Estranhistão, o oposto do século XX.
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Enquanto o Normalistão tudo comoditizou, elevando a interacção zero ao altar supremo (Grab & Go; automatização; compra online; ...), no Estranhistão quanto mais interacção melhor. Sem interacção como criar uma experiência e um negócio excepcional?
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Mentes formatadas durante o Normalistão terão sempre tendência a vê-lo como a referência. Por isso, não estranho um texto como este "Commodification". 
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É claro que muitos olham para hoje e vêem as Uber e as AirBnB e adivinham um futuro dominado por essas mega-plataformas. Prefiro considerá-las como entidades transitórias, úteis para dinamitar as grilhetas criadas pelos governos para proteger os incumbentes do Normalistão. Depois? Depois, virão as plataformas de 2ª geração ou cooperativas, porque existe estratégia em todo o lado, às vezes é só uma questão de tempo.
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Voltando ao texto de Branko Milanovic é impressionante como a economia do século XXI pode ser confundida como um caminho para a comoditização... como se não existissem tribos, como se não se aposte cada vez mais na interacção, na co-criação, nas experiências. Só esta semana escrevi aqui:
Ontem ao final da tarde encontrei "Scale and the Dilution of Quality". Um texto que parece retirado daqui do blogue só que mais bem escrito. E confundir o Estranhistão com comoditização?!!! Eu sei que Milanovic é muito político mas há limites.
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Adiante, apreciar estes trechos:
"The act of scaling beyond a certain point is a dilution of quality.
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Scale is the decision to serve more people. This means swapping “by hand” for more efficient means. Efficiency is the choice of speed over quality. It’s trading exceptional, exquisite, and excellent for “good enough. Scale doesn’t mean that something isn’t good, useful, or even that it isn’t worth buying. But it does mean that trade-offs were made.
...
To retain exceptional, exquisite, and excellence, you have to make greater investments, investments that kill efficiency. You have to hire more people to create high touch, high value, and high caring. You have to keep slack in the system when your competitors are working on becoming leaner. The decisions you make because of your choice of strategy must look like madness to your competitors.
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Exceptional takes more investments in time, money, and caring. Good enough is about being efficient."
BTW, parece que o Milanovic não conhece os sistemas de avaliação mútua que as plataformas usam, melhor que qualquer sistema usado nos táxis. Como se não fosse no Normalistão que os clientes eram tratados como plancton

quinta-feira, maio 26, 2016

Desemprego, legislação laboral e o anónimo da província

Quem sou eu? Um mero anónimo engenheiro da província com formação de base em química e quase 30 anos de experiência de contacto em primeira mão com a realidade económica portuguesa (mais de 20 anos como consultor).
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Quando leio artigos como este "Réformes du marché du travail au Portugal : les derniers seront-ils les premiers?", fico a pensar, qual a granularidade com que os investigadores olham para a realidade?
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Eu sei que o desemprego em Portugal está alto, muito acima da média da UE, basta olhar para os marcadores deste postal. No entanto, a pergunta que me assalta é: até que ponto poderia ser diferente? Até que ponto a legislação laboral poderia ter ajudado a não inflacionar o valor?
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De onde vem o desemprego que existe actualmente? Qual o peso da legislação laboral?
"La faiblesse du modèle productif portugais a entrainé, dès les années 2000, un ralentissement de la croissance et une hausse du taux de chômage. De 4,2 % en 2000, le taux de chômage a plus que doublé en 2007 (8,5 %), et a atteint un pic de 17,4 % au premier trimestre 2013.
Phénomènes indéniablement corrélés, on assiste à la même période à des destructions massives d’emplois, touchant principalement les secteurs de la construction, de l’industrie, de l’administration publique et des activités de commerce et de réparation. [Moi ici: Pena que o texto misture tudo e não ponha uma ordem cronológica nesta destruição. Pena que o texto não identifique grandes vectores que estiveram por trás desta destruição e a sua evolução ao longo do tempo. Recordo este postal sobre o imobiliário e o desemprego. Pena que o texto não chame a atenção para a transformação na indústria portuguesa, recordar este postal ""Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?" O número que aparece é do calçado, fábricas mais pequenas com produtos mais caros, (recordar aquela fábrica que não conseguia sobreviver a vender produtos a 20€ e passou a ter sucesso a vender produtos a 230€), mas o mesmo fenómeno se passou no ITV, no mobiliário, em todo o lado] La dégradation du marché de l’emploi a touché les jeunes en priorité : de 21,4 % en 2007, le taux de chômage des jeunes passe à 34,7 % en 2014. Triste singularité du modèle portugais, le diplôme n’y a pas le rôle protecteur qu’il peut avoir dans la majorité des pays européens : en 2008, 26,9 % des jeunes diplômés sont au chômage, contre 16,2 % des non diplômés."[Moi ici: Este número também considero importante porque revela, IMHO, a existência de fortes barreiras à criação de novas empresas, por exemplo, por causa da protecção dos incumbentes]
Recordando esta série ""despedir é sempre resultado de uma maldade ou de preguiça da gestão" (parte V)" (sobretudo a parte I), quando um choque obriga a mudar de paradigma estratégico, a maioria das empresas tem de encolher. Recordar o que começou a acontecer à construção civil em 2001 e à obra pública em 2011. Recordar o choque chinês no país que era a "china da Europa" antes de haver China e que dizimou a indústria transaccionável. Recordar o choque da troika nos serviços do mercado não transaccionável.
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Uma outra legislação laboral teria minorado o desemprego mas em pouca extensão, acredito eu. O país tinha de passar por esta fase. IMHO o ponto para o futuro é, como criar condições para que se reduzam as barreiras à entrada de novas empresas, sobretudo PME.
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Recordar esta reflexão de 2011 confirmada pelo famoso relatório sobre o desemprego em 2012 e pelo Banco de Portugal em 2016.
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Claro que ainda falta outro choque, adiado por enquanto pela CRP, o emagrecimento da Administração Pública. Basta ver o que aconteceu com os agrupamentos de escolas, quantos funcionários foram dispensados com a concentração de tarefas de back-office?

domingo, maio 15, 2016

Para reflexão!

Há dias conversava com o gerente de uma PME que apoiei na implementação do seu sistema de gestão da qualidade. Durante o projecto estava sempre a picá-lo porque achava que a empresa tinha uma actividade comercial quase inexistente, muito reactiva.
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Pessoas apaixonadas, faziam o seu trabalho e os clientes passavam palavra e a facturação crescia com mais serviços e mais clientes novos. O meu "picanço" teve pouco sucesso. Se tudo corria bem, porquê mudar?
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O teor desta última conversa foi diferente, fez-me lembrar as muitas fábricas de calçado a quem a vida corria bem, cheias de clientes satisfeitos e que ... tiveram de fechar porque os seus clientes, as muitas sapatarias de rua do país, não superaram o desafio dos centros comerciais.
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Os seus clientes, apesar de muito satisfeitos, porque evoluíram para servir sector automóvel, são obrigados pelos seus, deles, clientes a recorrer aos serviços das multinacionais reconhecidas pelas marcas.
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Como é que um sistema de gestão da qualidade certificado pode proteger uma empresa de uma situação como esta?
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Se uma empresa se limitar a cumprir e muito bem o que vem na norma não escapa a um problema como este. A norma implica olhar para dentro e assegurar que se trabalha bem. [E trabalha-se bem, e tem-se qualidade, e é-se eficiente] A norma propõe que o fornecedor procure junto dos clientes avaliar a sua percepção quanto à relação. [E os clientes estão satisfeitos e elogiam a qualidade do serviço da empresa e a relação]
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O que é que a ISO 9001 propõe relativamente à conquista, à procura de novos clientes?
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Não diz nada!
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Olha-se para os indicadores da facturação e do nível de actividade e reconhece-se que existe um problema. Aborda-se um ou outro cliente para saber porque não vem tão assiduamente ...
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OK! É preciso uma actividade comercial proactiva!
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Qual é a vossa proposta de valor, quem são os clientes-alvo? O que faz sentido comunicar aos potenciais clientes-alvo? Onde estão?
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A diferença entre market-driven e market driving

terça-feira, abril 19, 2016

Estratégia não é matemática nem física newtoniana (parte II)

Parte I.
Se uma estratégia não é matemática nem física newtoniana, se uma estratégia é contextual, transitória, pessoal e subjectiva, duas pessoas perante os mesmos factos podem tomar decisões bem diferentes.
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Por isso, diferentes empresas a operarem no mesmo país com as mesmas leis têm desempenhos tão diferentes. Por isso, a variabilidade dentro de um sector de actividade é sempre maior que a que existe entre sectores de actividade.
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Estratégia é uma escolha pessoal, muitas vezes solitária, que o líder de uma empresa assume, para o bem ou para o mal.
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Assim, ao ler títulos destes "“Falta uma estratégia, uma visão de futuro para Portugal”" só me apetece dizer:
Por favor, deixem-me ser humano, deixem-me errar, deixem-me fazer as minhas escolhas, deixem-me ser responsável ou irresponsável e arcar com as consequências.
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Portugal não é um ser não é uma pessoa, Portugal não é uma criação top-down, por muito que custe às elites. Portugal é um substantivo colectivo que é tanto mais feliz e tanto mais antifrágil quanto mais bottom-up conseguir ser, quanto mais estratégias diferentes albergar, quanto mais diversidade permitir.

domingo, fevereiro 14, 2016

Moral hazard?

O sistema descrito por esta figura:
Intitula-se em inglês "Tragedy of the Commons". Em português talvez se possa chamar de "Tragédia dos Baldios".
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Existe um recurso limitado, o terreno baldio de uma aldeia, que pode ser utilizado por todos os habitantes de uma comunidade. Em condições de sustentabilidade do baldio e equidade, cada habitante podia ter uma vaca a pastar. No entanto, não há nenhuma lei escrita que impeça ter duas ou três ou mesmo quatro vacas por habitante. Digamos que os habitantes têm uma vaca por tradição.
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Agora imaginem que o habitante A decide ter 2 vacas a pastar no baldio. Em resposta, a maior parte dos outros habitantes resolve também ter 2 vacas. Afinal, não são menos que o outro. Assim que todos percebem que ganham mais em ter 2 vacas em vez de uma, começa uma autêntica correria para ver quem põe mais vacas a pastar no baldio.
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Estão a ver onde é que isto nos leva?
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Até que se dá o PUM!
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A capacidade produtiva, a sustentabilidade do baldio colapsa... algumas vacas morrem de fome, alguns habitantes tentam vender as vacas ao desbarato... é o caos.
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Então, começam as movimentações dos habitantes da aldeia A para que os habitantes das aldeias vizinhas, B, C e D, sejam obrigados a deixar que vacas dos habitantes da aldeia A pastem nos baldios dessas outras aldeias onde os habitantes, arreigados à tradição, continuam com baldios sustentáveis e uma vaca por habitante. Moral hazard?
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Agora, analisemos o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas publicado em Janeiro de 2016 e com dados até Novembro de 2015.

  • Peso limpo de suínos abatidos para consumo público nos primeiros 11 meses do ano de 2014 - 326.543 toneladas
  • Peso limpo de suínos abatidos para consumo público nos primeiros 11 meses do ano de 2015 - 343.933 toneladas
  • Crescimento de 5% na produção 

  • Quantidade de leite de vaca recolhido nos primeiros 11 meses do ano de 2014 - 1709639 toneladas
  • Quantidade de leite de vaca recolhido nos primeiros 11 meses do ano de 2015 - 1773839 toneladas
  • Crescimento de 4% na recolha

O que acontece num sistema económico saudável quando a produção de um produto aumenta e o consumo estagna ou regride?
A seguir baixa a produção, para ir de encontro ao nível de consumo e recuperar o preço.
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Sanções russas, quebra angolana, quebra de preços e a produção continua a aumentar?
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Moral hazerd? Contribuinte fará sempre o bail out?

terça-feira, janeiro 26, 2016

A lição dos vinhos para Mongo

Este texto, "O duelo Portugal-Espanha tem dois vencedores", é sobre os vinhos portugueses e espanhóis. No entanto, a sua mensagem é para todos os que ou já se encontram no Estranhistão ou querem fugir do Normalistão:
"Dizer que o vinho de um país é melhor do que o de outro será sempre uma questão de gosto pessoal, embora também possa revelar alguma ignorância. Dizer que o vinho de um país é igual ao de outro, isso já só pode ser ignorância. Para mais, e falando de Portugal e Espanha, dois países produtores com tradição vinícola, as generalizações serão sempre grosseiras: não existe um vinho português e um vinho espanhol; existem regiões, estilos, castas. Estamos no reino da diversidade."
Não viva obcecado com a concorrência, não viva a ver passar os "motards" assuma uma identidade e procure diferenciar-se.

terça-feira, novembro 10, 2015

"Estávamos cheios de encomendas e... a empresa fechou

A propósito da argumentação usada neste artigo "Sindicato da Hotelaria denuncia fecho de hotéis a norte sem "nenhuma razão"":
"O Sindicato da Hotelaria do Norte denunciou hoje um agravamento da situação social no setor, com diversos despedimentos coletivos e encerramentos na região, considerando não haver "nenhuma razão" para tal porque a atividade "vive uma boa situação económica".
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 "requereu insolvência e mandou para o desemprego seis trabalhadores, quando o hotel mantinha uma boa ocupação".
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Para o sindicato, não há, contudo, "nenhuma razão" para esta situação, "já que o setor vive uma boa situação económica: 2013 foi o melhor ano turístico de sempre para Portugal, 2014 foi ainda melhor e todos os indicadores apontam que 2015 será melhor que 2014"."
Recordar:

Recordar que existe mais variabilidade de rentabilidade dentro de um sector económico do que entre sectores económicos (aqui, aqui e aqui por exemplo). Por exemplo, neste documento do Banco de Portugal de Outubro de 2014, "Análise do sector do turismo", pode encontrar-se esta figura:

Em 2013 30% das PME do sector do turismo com EBITDA negativo...