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domingo, setembro 25, 2016

A propósito de selos da qualidade

A propósito de "Suinicultores criam selo de qualidade Porco.PT para promover carne nacional".
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Recordo esta figura retirada de "How to brand sand":


Há mais alternativas de diferenciação do que as baseadas na consistência. BTW, consistência não é excelência:
""A carne já tem qualidade, mas é preciso elevar a qualidade para a excelência. Queremos que o suinicultor pense que o caminho é a diferenciação, para que quando uma pessoa provar aquela carne de porco se sinta guloso, pela palatabilidade, para que amanhã lhe apeteça outra vez","
Será que o problema dos clientes da produção suinícola nacional está relacionado com a qualidade?
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O que cada produtor, ou grupos de produtores podiam, deviam?, fazer era pensar no mesmo exercício deste postal para o seu ecossistema. Que factores podem ser usados para diferenciar a carne de porco? Que diferentes grupos de clientes privilegiam cada um desses factores como prioritário?
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BTW, selos normalizadores costumam beneficiar o factor preço.

Será este um selo normalizador? "Porco-preto-alentejano é exportado para ficar com selo de origem espanhola"

quarta-feira, junho 08, 2016

No sentido certo

Esta iniciativa "Gala “Porcos de Ouro” estreia-se pela promoção dos suinicultores" vai no sentido certo.
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No entanto, tem de ser complementada para que os produtores possam tirar mais partido do evento.
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Que barreiras, que fricção, que interferências existem entre estes produtores e o consumidor final? Não, não é o consumidor final, é o consumidor final que aprecia e está a pagar algo mais por carne de porco superior?
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Têm marca própria? Têm prateleiras, canais distintos onde esses consumidores exigentes compram?
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Quando li "The weird prices at farmers markets, explained" escrevi no rodapé da página: "Info". Quanto mais informação que reforce a autenticidade, a interacção, a co-criação de valor ... maior o valor percebido, mais hipótese de uma melhor repartição em favor do produtor.
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Assim, ainda há muito por fazer mas é um sinal esperançoso de que algo pode mudar.
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Sinceros parabéns!

quinta-feira, junho 02, 2016

Curiosidade do dia

À atenção dos suinicultores portugueses:
“When pricing is delegated or — if worse comes to worst — left to the market, you will never get beyond mediocrity.”
Não, não é um convite a meter o Estado no assunto, é um convite a pensar estrategicamente.
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BTW, "A Spanish Delicacy Grazes in Texas"

Citação retirada de "Profitable Innovation" um e-book de Georg Tacke, David Vidal e Jan Haemer.

sexta-feira, maio 13, 2016

Por que é que os jornalistas só servem de megafone dos coitadinhos?

Há dias, um tweet do @nticomuna fez-me chegar a "Dutch pork exports hit record level, near one billion kilos". Depois, um outro do @veryhighalpha fez-me chegar a "Suíno: Últimas cotações e evolução".
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O que faz um anónimo da província? Pensa, reflecte e coloca questões: Como é que os produtores holandeses são tão competitivos? Será que pagam salários baixos aos seus trabalhadores? Será que misturam substâncias proibidas nas rações? Será que têm borlas na Segurança Social? Será que tratam mal os animais?
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Que acham? Acham que passa por aí?
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Ou será dumping? Que acham? Acham que passa por aí?
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O que faz um anónimo da província? Investiga!
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E encontra facilmente isto de 2012, "Holland pig farmers leading the way in providing animal welfare":
"Holland is double the size of New Jersey, and there are about 6,500 pork producers in all. Swine herds average 320 sows, with 10,000 sows representing the largest (4,000-head maximum on one site), and they produce about 25 million pigs annually. Like U.S. pork producers, Dutch hog farmers face high feed prices and low margins. Their numbers are declining and herds are getting larger — to a point.
...
Producers that continue to raise hogs will get bigger. That’s what Have-Mellema and her husband have done with their operation in northern Holland. Having adopted pen gestation with straw bedding 12 years ago, they are expanding the sow herd from 320 head to 600.
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The farmer has to learn to manage a new system. You have to build upon your knowledge and learn what works for your farm,” she says. “Management also is very important in a stall system.”"
Mais um bocadinho de pesquisa e chega-se a "Pig farming sector - statistical portrait 2014".
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Primeiro esta figura sobre o tamanho das explorações em cada país. Como é Portugal vs Holanda?
 Vejam, na Europa Ocidental, quantos países têm percentagens visíveis de "castanhos", explorações com até 10 porcos. BTW, a borla da TSU é para todos os produtores?
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Um anónimo começa logo a encontrar suporte material, provas, para o que suspeitava só com base em pensamento estratégico.
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Outra figura a revelar diferenças entre o perfil das explorações entre países:
Recomendo a comparação do perfil português com o perfil espanhol, holandês e dinamarquês.
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Em vez de se quererem meter na política externa da UE, em vez do tempo e atenção investido em obter apoios, subsídios e reivindicações junto da UE não deviam o governo e as associações sectoriais promoverem reflexão sobre esta realidade? Não deveriam questionar se o modelo actual seguido em Portugal é o mais adequado para ter sucesso no mercado actual? Não deveriam procurar alternativas com outros modelos de negócio, ou outros produtos, ou outros preços e mercados?
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Por que é que os jornalistas só servem de megafone dos coitadinhos?
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E qual deveria ser o papel de um ministro da Agricultura? Não metam a política partidária aqui, acredito que se no poder estivesse a PàF Cristas seria igual a Capoulas.

segunda-feira, maio 09, 2016

Qual a diferença?

"China is doubling down on efforts to keep unprofitable factories afloat despite for years pledging to curb excess capacity, adding to a glut of basic materials flooding the global economy.
...
According to a Wall Street Journal analysis of Chinese public companies, Chinese government support includes billions of dollars in cash assistance, subsidized electricity and other benefits to companies. Recipients include steelmakers, coal miners, solar-panel manufacturers, and other producers of other goods including copper and chemicals."
E o que se faz com a produção de leite e de carne de porco por cá?
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Qual a diferença?
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"Produtores de leite e suinicultores terão isenção de 50% das contribuições à Segurança Social"

Trecho retirado de "China Continues to Prop Up Its Ailing Factories, Adding to Global Glut"

quinta-feira, abril 21, 2016

Obrigado senhor ministro

A propósito de "Ministro apela à compra de carne de porco nacional para ajudar a resolver crise", eu consumidor saúdo a rotulagem com a indicação do país de origem. Porque eu consumidor, depois deste dia "Decoupling", e depois das imagens que vi dos desacatos de Alcobaça, tenho receio de que alguns produtores já estejam a fazer o que pediam, por sua conta e risco:
"a reutilização das proteínas animais nas rações"  
Sabendo qual é a carne produzida em Portugal posso optar por não a comprar, tenho medo.

domingo, abril 17, 2016

Uma espécie de "Lot"?

A propósito deste texto "Na Bolsa do Porco acerta-se o preço à porta fechada" um pedido a Ana Rute Silva que assina o texto:
- Por favor não perca a oportunidade e investigue melhor o negócio desse senhor António Gameiro. Não perca a oportunidade Descubra o significado de:
"Cada associação designa um representante. “Normalmente tenta-se que tenham representatividade no mercado pela sua dimensão ou, não tendo, que sejam respeitados pela sua experiência e conhecimento”, detalha Nuno Correia, dando como exemplo António Gameiro, que produz carne com a sua própria marca, a Ti António.
...
“Os matadouros vendem à grande distribuição relativamente barato. Não têm outra possibilidade, se não, ficam com a carne. E depois vêm à retaguarda, ao produtor e formam um preço consoante uma tabela de classificação, coisas que não há em Espanha. Além do peso, calculam a formação da carcaça, a isenção de gordura… tudo define o preço final”, detalha. António Gameiro, que decidiu produzir animais diferentes e “ligar-se ao consumidor”, lamenta a concentração na grande distribuição, que limita as hipóteses de venda a meia dúzia de cadeias de supermercados, pressionando ainda mais os preços. Mas também assume que houve falta de dinamismo dos próprios produtores. “Cometemos o erro grande, não evoluímos para a exportação”, refere."
Gostava de ouvir esta espécie de "Lot", gostava de conhecer a sua experiência, gostava de perceber se o seu caminho, mais em linha com o que propomos aqui no blogue e na nossa consultoria, o está a levar a ter melhores resultados, ou resultados menos maus. Além disso é sempre bom ouvir alguém com espírito de auto-crítica.
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Essa espécie de "Lot", o senhor António Gameiro, tem marca própria, escolheu produzir outro tipo de animais e optou por outros canais de distribuição

sábado, abril 09, 2016

Algum media tradicional em Portugal?

Há dias em "Campeões nacionais" referi este texto  "China faces struggle to recast steel workers for service sector".
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Foi dele que me lembrei ao ler o último parágrafo de "No, thank you":
"Located near busy Cardiff and Swansea, Port Talbot’s 4,300 workers are luckier than those in other declining industrial towns around Britain. But finding jobs in Cardiff’s thriving business-services sector, for example, will be difficult for former steelworkers. The government will need to spend serious money retraining them, helping them into new employment and improving transport links to big cities. Spending to keep the plant itself in business would just prolong the inevitable."
Algum media tradicional em Portugal, a começar pelos so-called jornais económicos, seria capaz de fazer um título e um artigo como este?
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Um artigo a defender que não se deve salvar um sector económico.
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Ainda me recordo de um texto de 1989 de Spender, convido à leitura sobre a cereja em "Apesar das boas intenções".
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BTW, aplicar o pensamento da cereja aos sectores do leite e da suinicultura.

quarta-feira, abril 06, 2016

Agricultura, decomoditização e código nisso

Para mim é tão claro!
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Os que estão mergulhados numa espiral de definhamento, os que estão prisioneiros da "race-to-the-bottom", muitas vezes não percebem que o negócio do preço não é para quem quer, é para quem pode:
"Nos 10 anos em análise [1999-2009] verificou-se um decréscimo acentuado do número de explorações com bovinos (-51%), enquanto o efectivo, pelo contrário, registou um ligeiro acréscimo (+1%), o que se traduziu no referido aumento do dimensionamento médio do efectivo por exploração."(fonte: INE, Recenseamento Agrícola 2009)
Encadeados pelo foco desse modelo, tudo é feito para reduzir os custos, inclusivé este tipo de proposta é lançada:
"a reutilização das proteínas animais nas rações"
 O que gerará a dúvida e o medo, depois, da crise das vacas loucas, dos nitrofuranos, da carne de cavalo, de ...
"Cada vez mais compradores especializados vão querer garantias de que o fornecedor não faz batota. E mesmo que as proteínas animais voltem às rações, será que os consumidores vão estar dispostos a consumi-las?"
A alternativa é mudar de modelo mental e apostar na decomoditização com a carta da proximidade e autenticidade.
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E numa espécie de bailado, esta necessidade crescente de autenticidade alimenta, e ao mesmo tempo é alimentada pela tecnologia...
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Sim, o "é meter código nisso", a internet das coisas, e a internet de x... para mim, com formação química, acho delicioso este pormenor digno da Star Trek:
"there will soon be a way to authenticate your artisanal olive oil before you buy it. Thanks to interconnected mobile phones, cameras, sensors, and spectrometers, you will soon be able to analyze virtually anything in the physical world. Forget the internet of things. This is the "internet of X."
...
The Israeli startup Consumer Physics has built an internet of ingestibles, using handheld molecular sensors embedded with a tiny spectrometer. Point one at an object, like a watermelon, and it breaks the light being reflected into a spectrum to show the object's chemical fingerprint. That information is then compared with a database of foodstuffs. Scan and search, the company says, to see if a watermelon has reached peak sweetness, or whether your medicine is real or counterfeit."
Pois:
"Besides unlocking information, the internet of X will create new demand for transparency. Imagine if every food had its own digital nutrition label that could be scanned to display its exact ingredients and nutrients. If I were a crooked "olive oil" peddler, I'd start worrying."
Quem estiver a descer o "escorrega" dos custos dificilmente poderá apanhar esta onda de valor acrescentado e, de nada valerá ser legal o que conta é a vontade dos consumidores.

Trechos retirados "Soon No One Will Sell Fake Products. Here's Why"

sábado, abril 02, 2016

Decoupling

Ontem, no noticiário das 19h da Renascença ouvi uma versão longa desta conversa "Suinicultores pedem “solidariedade” e querem fim de embargo à Rússia".
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Agora a sério, muito a sério, não há ninguém que pense posicionamento e estratégia do lado da suinicultura?
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Olhando para estes números percebe-se que a carne de porco fresca e refrigerada importada é paga a um preço superior ao da carne de porco fresca e refrigerada que exportamos. A mim, isto diz-me que o problema dos produtores nacionais não é o custo, é outra coisa qualquer mas não é o custo.
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Voltando ao texto da Renascença, uma parte da conversa que ouvi foi dedicada a aprofundar este tema no texto:
"a reutilização das proteínas animais nas rações"
Depois, da crise das vacas loucas, dos nitrofuranos, da carne de cavalo, de ... a tendência é para a autenticidade e transparência, não para o retorno ao passado.
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Quem está no modelo da competição pelo preço entra facilmente nesta espiral de redução de custos a todo o custo.
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Consequência? Cada vez mais compradores especializados vão querer garantias de que o fornecedor não faz batota. E mesmo que as proteínas animais voltem às rações, será que os consumidores vão estar dispostos a consumi-las?
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Julgo que há aqui um decoupling entre o rumo da transparência e autenticidade na alimentação e o dos manifestantes mediáticos... talvez por isso recorram à rua.

sábado, março 26, 2016

Decomoditizar (parte VII)

Parte VI.
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Uma linha de actuação que podia ser testada por alguns no sector leiteiro e na suinicultura, "Empresas ampliam iniciativas para informar origem de seus alimentos":
"A empresa americana colocou códigos especiais em suas embalagens que, quando digitados no site, fornecem informações sobre como cada ingrediente é produzido e as pessoas envolvidas. Alguns produtos embalados da Fishpeople, que são vendidos em 7.500 pontos de varejo nos Estados Unidos, agora mostram fotos do capitão e da embarcação que pescou o peixe.
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O que (os consumidores) estão mais interessados é nos lugares e nas pessoas”,
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Nos EUA, as dez principais empresas de alimentos processados perderam 4,3 pontos percentuais de participação de mercado nos últimos cinco anos, principalmente para concorrentes pequenas e médias, segundo Nicholas Fereday, analista do banco Rabobank.[Moi ici: BTW, por isso é que as grandes se andam a comprar umas às outras, para iludir esta pressão]
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As pequenas empresas se beneficiam da agilidade. Há cerca de dois anos, a Real Co., com sede no Estado de Nova York, começou a vender arroz mostrando, na embalagem, o nome da fazenda paquistanesa onde o produto foi cultivado. O arroz da cooperativa agrícola Al-Farid, da província de Punjab, agora é vendido em cerca de 800 supermercados nos EUA. O diretor-presidente, Belal El-Banna, expandiu os negócios para oferecer açúcar de uma fazenda na Costa Rica e sal rosa vindo de uma região dos Himalaias. A Real está desenvolvendo um adoçante com zero caloria que usa folhas moídas de estévia do Paraguai, em vez do extrato da planta.
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dá ao consumidor protagonismo. Ele entende que “há um impacto direto na vida dessa pessoa se eu comprar esse produto”, diz."

quinta-feira, março 24, 2016

Trump e decomoditizar (parte VI)

Parte IV e parte V.
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Quando olho, por exemplo, para a distribuição dos preços médios praticados por destino da carne de porco exportada:
E vejo a variabilidade existente, e penso logo na "positive deviance" e em Sternin.
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Em vez de começar com grandes teorias, começar com os exemplos positivos que sobressaem. Como se pode aumentar o preço médio exportado para Espanha?
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O que é que se exporta para Itália? Por que atinge aquele preço?
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E ao olhar para as importações e para os valores médios atingidos:

Em vez de começar a espingardar e a deixar a testosterona trumpista falar, por que não perguntar:
- Por que é que exportamos para França carne mais cara do que a que importamos de França?
- Por que é que exportamos para Espanha carne mais barata do que a que importamos de Espanha?
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Os compradores são compradores industriais, compradores menos irracionais. Logo, tem de haver uma justificação por trás. Qual é? Será que os suinicultores nacionais pensam que é o preço o factor-chave quando afinal os compradores industriais já estão nesta onda?
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Habituado aos copos menstruais e ao que eles significam acerca da capacidade de estudo dos políticos, olho para "Carne de porco vai ter rótulo obrigatório com informação de origem" e pergunto-me: Quanta da carne de porco importada é para acabar na distribuição? Quanta é para uso e processamento industrial?
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Acabo aqui esta série em que aprendi que cada vez sei menos sobre o leite e a carne de porco, e que cada vez há mais "lixo" a circular nos media e treta da parte dos políticos.


terça-feira, março 22, 2016

Trump e decomoditizar (parte IV)

Depois de Os Trump do leite e a preguiça dos media (parte III) e de Decomoditizar (parte III) a curiosidade acerca de Por isso, gostava de saber o porquê cresceu.
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Qual a diferença de preços entre o porco importado e o porco exportado?
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Em 2015 o preço médio de importação de carne de suíno fresca/refrigerada foi de 2,25 €/kg 2,7 €/kg.
Em 2015 o preço médio de exportação de carne de suíno fresca/refrigerada foi de 2,12 €/kg 2,2 €/kg.
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Tal como no leite!!!
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Acham que o problema do leite e do porco português é mesmo o preço?
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As medidas do governo, as reivindicações dos representantes dos sectores vão todas no sentido de reduzir os custos...
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Para quê?!?!?!
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Acaso o problema é de custos?
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Parece-me que o problema não são os custos. É a falta de estratégia, é a falta de posicionamento, é a falta de diferenciação.

ADENDA: Números corrigidos a 28.03.2016 após chamada de atenção nos comentários

segunda-feira, março 21, 2016

Decomoditizar (parte III)

Parte I e parte II.
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Recordar o que escrevemos na parte I:
"Ontem de manhã estive numa reunião onde, uma e outra vez se falou da importância, para os produtos agrícolas, criar marca associada ao território, às práticas seguidas e às estirpes utilizadas."
Entretanto, este fim de semana o @nticomuna mandou-me ler este artigo "Exportações da agricultura e floresta triplicaram nos últimos dez anos":
"vale a pena notar o desempenho de sectores como o vinho e, ainda mais, dos hortofrutícolas. No espaço de uma década (2004/2014), segundo dados do INE, a exportação de produtos hortícolas passou de 108 para 212 milhões de euros e, progresso ainda mais impressionante, o sector das frutas subiu as suas vendas ao exterior de 137 para 438 milhões de euros. “Em 2010 estávamos como estão hoje os suinicultores, com problemas de preços e de escoamento e decidimos criar a associação PortugalFresh para explorarmos os mercados externos”, diz Manuel Évora, que dirige a associação. Este ano, o conjunto de sectores que representa (hortícolas, frutas e flores) espera exportar 1200 milhões de euros e, nos próximos quatro anos, a expectativa é que esse valor suba para 2000 milhões. “Estamos a conseguir promover a imagem de um país com condições únicas para a produção hortofrutícola”, acrescenta, porque “entre a floração e a frutificação temos um tempo óptimo, o que permite a produção de fruta e legumes excelentes na cor, nos aromas e na textura”."
Claro que é mais fácil ir para a rua protestar e pedir ajudas e subsídios e culpar os estrangeiros e os importadores...

quinta-feira, março 17, 2016

Decomoditizar!

Ontem de manhã estive numa reunião onde, uma e outra vez se falou da importância, para os produtos agrícolas, criar marca associada ao território, às práticas seguidas e às estirpes utilizadas.
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Entretanto, já à noite o @veryhighalpha no Twitter faz-me chegar este tweet:
Recordar a confusão que por aí anda por causa da suinicultura e o excesso de oferta de um produto comoditizado.
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Pela leitura do artigo percebe-se que para os produtores alentejanos está tudo bem, ainda que deixem uma fatia tremenda de valor potencial ser capturado, e com justiça, por quem tem trabalhado e bem a narrativa do produto.
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BTW, também segundo o @veryhighalpha cheguei a "Spain offsets Europe’s pig herd decline" e julgo que dá algumas pistas sobre "Por isso, gostava de saber o porquê"

domingo, março 13, 2016

Por isso, gostava de saber o porquê

Mais uma semana, mais um artigo no Público, "Prejuízos diários dos suinicultores “são insuportáveis”", sobre a suinicultura e continuamos sem resposta ao mistério dos preços espanhóis.
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Por que é que os compradores grandes em Portugal preferem porcos espanhóis mais caros? (Recordar "Os compradores portugueses são burros?")
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Atenção, eu acredito na racionalidade dos compradores portugueses e defendo, mesmo no B2B, que o preço não é tudo. Por isso, gostava de saber o porquê.

sábado, fevereiro 27, 2016

Moral hazard (parte II)

Às vezes, estou em S. João da Madeira, tenho 2 horas livres entre reuniões, resolvo ir para o meu "escritório" em S. João, a área da alimentação do centro comercial Oitava Avenida. Mesa, ambiente calmo, wi-fi e tomada eléctrica... what else?
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Há dias, a caminho dessa zona, passo por uma banca do Barclaycard e uma senhora pergunta-me se estou interessado, faço um sinal de rejeição com a mão direita. É então que oiço a última tentativa de me convencer a parar:
-Ande lá, ajude-me a atingir os meus objectivos!
Continuei a minha caminhada mergulhando no que aquela frase queria dizer ...
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O mercado não é feito a pensar em satisfazer os fornecedores. O mercado é feito para chegar a um entendimento entre cliente e fornecedor. No entanto, se o mercado está a lidar com uma commodity e excesso de oferta, então, o mercado é todo como agradar e seduzir os clientes, ponto.
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Por que escrevo esta introdução? Por causa da conversa deste texto "Secretário de Estado reconhece que sector do leite atravessa "tempestade perfeita"":
"Luís Silva garantiu que tem sensibilizado as grandes cadeias de distribuição para terem "bom senso" na fixação dos preços na venda de leite. "É necessário que as nossas grandes cadeias de distribuição tenham em consideração que não é por apresentarem preços muito baixos que se ganha eficiência", começou por dizer."
E quem pensa nos consumidores?
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A propósito disto:
"Luís Vieira apontou "o fim das quotas leiteiras, o embargo russo, o abrandamento do desenvolvimento da China e de mercados emergentes como Angola e Venezuela, além da redução do consumo interno do leite, em contraponto com um aumento de produção", como principais factores para as dificuldades dos produtores do sector.
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"Vamos avançar com uma medida na rotulagem, onde temos um projecto para colocar um logótipo com origem do produto portuguesa, de modo a que os consumidores saibam que estão a comprar um produto de qualidade e possam ser solidários com os agricultores nacionais", partilhou o Secretário de Estado."
Pessoalmente, no que à compra do leite diz respeito, não me enquadro no perfil da maioria dos europeus. Se eu fosse espanhol fazia parte da enorme minoria de 5%:
"Milk is the ultimate low-involvement category, and it shows. Only 10% of the international sample (in Denmark, Germany and Spain the number is less than 5%) would expect the private label version to be of a lesser quality."
Há anos que só compra leite açoriano mas porque sou egoísta, porque só penso no que é melhor para mim como consumidor. Agora pedir que o critério de escolha seja a esmola...
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Aquele "Milk is the ultimate low-involvement category" significa que para a maioria esmagadora dos portugueses o critério da compra de leite é o preço, ponto.
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O que o Secretário de Estado, se é inteligente, já deve ter percebido, num dia ao fim da tarde na solidão silenciosa do seu gabinete, é a verdade que não pode ser revelada aos produtores... muitos terão de fechar.
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BTW no meio da "tempestade perfeita" aquele "aumento de produção" é, para mim, sintoma da grande doença que a deturpação do mercado pelo regime das quotas leiteiras provocou. Recordar "Moral hazard?"


domingo, fevereiro 14, 2016

Moral hazard?

O sistema descrito por esta figura:
Intitula-se em inglês "Tragedy of the Commons". Em português talvez se possa chamar de "Tragédia dos Baldios".
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Existe um recurso limitado, o terreno baldio de uma aldeia, que pode ser utilizado por todos os habitantes de uma comunidade. Em condições de sustentabilidade do baldio e equidade, cada habitante podia ter uma vaca a pastar. No entanto, não há nenhuma lei escrita que impeça ter duas ou três ou mesmo quatro vacas por habitante. Digamos que os habitantes têm uma vaca por tradição.
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Agora imaginem que o habitante A decide ter 2 vacas a pastar no baldio. Em resposta, a maior parte dos outros habitantes resolve também ter 2 vacas. Afinal, não são menos que o outro. Assim que todos percebem que ganham mais em ter 2 vacas em vez de uma, começa uma autêntica correria para ver quem põe mais vacas a pastar no baldio.
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Estão a ver onde é que isto nos leva?
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Até que se dá o PUM!
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A capacidade produtiva, a sustentabilidade do baldio colapsa... algumas vacas morrem de fome, alguns habitantes tentam vender as vacas ao desbarato... é o caos.
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Então, começam as movimentações dos habitantes da aldeia A para que os habitantes das aldeias vizinhas, B, C e D, sejam obrigados a deixar que vacas dos habitantes da aldeia A pastem nos baldios dessas outras aldeias onde os habitantes, arreigados à tradição, continuam com baldios sustentáveis e uma vaca por habitante. Moral hazard?
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Agora, analisemos o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas publicado em Janeiro de 2016 e com dados até Novembro de 2015.

  • Peso limpo de suínos abatidos para consumo público nos primeiros 11 meses do ano de 2014 - 326.543 toneladas
  • Peso limpo de suínos abatidos para consumo público nos primeiros 11 meses do ano de 2015 - 343.933 toneladas
  • Crescimento de 5% na produção 

  • Quantidade de leite de vaca recolhido nos primeiros 11 meses do ano de 2014 - 1709639 toneladas
  • Quantidade de leite de vaca recolhido nos primeiros 11 meses do ano de 2015 - 1773839 toneladas
  • Crescimento de 4% na recolha

O que acontece num sistema económico saudável quando a produção de um produto aumenta e o consumo estagna ou regride?
A seguir baixa a produção, para ir de encontro ao nível de consumo e recuperar o preço.
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Sanções russas, quebra angolana, quebra de preços e a produção continua a aumentar?
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Moral hazerd? Contribuinte fará sempre o bail out?

terça-feira, fevereiro 02, 2016

Cheira-me a crendice induzida pelo activismo político

Imaginem um negócio baseado no preço, um negócio que produz uma commodity.
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Imaginem que existe um excesso de produção dessa commodity e que a procura está a baixar - há um abaixamento brusco por causa de uma situação de crise no curto-prazo. No entanto, a tendência de longo prazo é a redução do consumo dessa commodity.
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Estamos, portanto, perante uma situação de sobre-capacidade. Lembro o que citei aqui recentemente, sobre o desafio dos preços numa situação de sobre-capacidade, da autoria de Hermann Simon, em "Pricing man (parte III) - para reflexão":
"“As long as this overcapacity remains, nothing will change.”
...
But as long as overcapacity remains in such markets, most of the efforts to obtain better prices will not be very effective. The answer here lies not in vain attempts to raise prices, but in cutting capacity. This means that the complex interplay between price and capacity is a top management issue of highest priority."
Agora, imaginem ainda que apesar da sobre-capacidade, apesar da quebra da procura e da erosão da procura no longo prazo, os agentes a operar no mercado resolvem continuar a aumentar a capacidade de produção.
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O que é que acham que vai acontecer aos preços?
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Estão recordados do pandemónio que anda por aí por causa do leite e da carne de porco?
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Ontem resolvi pesquisar o Boletim Mensal de Estatística - Dezembro de 2015 e ver como é que evoluiu a produção de carne e leite:
  • de Janeiro a Outubro de 2015 houve um crescimento homólogo de 5% em peso limpo de carne de suíno;
  • de Janeiro a Outubro de 2015 houve um crescimento homólogo de 4% no leite de vaca recolhido.
Produtores em competição desenfreada para aumentar a produção, procura em queda e, depois, juntam-se para protestar contra o abaixamento do preço?
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Cheira-me a crendice induzida pelo activismo político ou a actuação pouco séria. Estão à espera de quê? Que os contribuintes paguem os delírios?
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"England’s dairy farmers will see income fall by almost half this year, evidence that the global milk crisis is far from over.
...
Dairy farmers across Europe are struggling with a collapse in prices after a global oversupply of milk was compounded by slowing demand in China and Russia’s ban on EU dairy in retaliation for sanctions.
...
There’s too much milk in the world,” said Robbie Turner, head of European markets at Rice Dairy International, a risk management advisory firm in London. “There are people who are hard for cash,” and prices are likely to remain low for at least the next six months, he said.
...
Low prices are “decimating” the U.K. dairy industry and a large number of farmers will go out of business, the National Farmers’ Union said this week. Average farm-gate milk prices in the U.K. from March to November were 20 percent lower than in 2014, according to Defra.
...
Even though prices have fallen, farmers are still churning out more milk. One incentive: the end of quotas last year that carried fines for over-production.
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In England and Wales, milk output from March to November was 6 percent higher than a year earlier, according to Defra’s report. EU milk deliveries from January through November were 2.2 percent higher than the prior year, with the biggest increases coming from Ireland, the Netherlands and Belgium.
...
Earnings for pig producers are expected to plunge 46 percent from last year." 

sábado, janeiro 30, 2016

Pricing man (parte IV)

Interessante como Hermann Simon começa o seu último livro "Confessions of the Pricing Man: How Price Affects Everything":
"I grew up on small livestock farm shortly after World War II. When our hogs were ready for slaughter, my father would bring them to the local wholesale market, where they would be auctioned off to butchers or traders. The sheer number of farmers who brought their hogs to market, matched by the large number of butchers and traders on the “buy” side, meant that no individual buyer or seller had a direct influence on the price of the hogs. [Moi ici: Condição para a concorrência perfeita] We were at the mercy of the local cooperative, which cleared the transactions. They would tell my father the price he would receive, and thus determine how much money he could take home to our family.
The same applied to milk, which we would deliver to the local dairy. We had absolutely no influence on the price. The dairy, again part of a cooperative, told us what the price would be. The milk price would fluctuate based on supply and demand . In times of an oversupply, prices would plunge. We never had hard numbers on supply and demand, only the impressions we gained from observing the market itself. Who else delivered milk? How much did they have?
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In every market my father went to, we were “price takers.” We had to accept the set price, whether we liked it or not. It was an extremely uncomfortable position. As anyone with a similar experience will attest, money is tight on a farm; these sales were our only source of income.
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I absorbed all these impressions as a young boy and I must admit, I didn’t like them. Decades later, I would explain in interviews that these lessons taught me something which has guided me in running my own business and helping others improve theirs: never run a business in which you have no influence on the prices you charge.[Moi ici: Só possível praticando, em maior ou menor grau, a concorrência imperfeita]
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Prices determine how much money you make. That much is clear.