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terça-feira, março 19, 2024

Cuidado como cresce

 Li no ECO "Parar de crescer é começar a morrer":

"Se uma empresa não cresce, definha e morre.

...

crescer é mais do que um objetivo, é um desígnio essencial. 

...

A internacionalização só contribui a sério para o fortalecimento, a valorização e a preservação a longo prazo do capital acionista se as empresas tiverem escala. Dos que não se lancem a sério, com coragem, em processos de crescimento ambiciosos não vai rezar a História, nem sequer no mercado doméstico."

Sabem qual o meu problema com este artigo? Crescer à custa da escala (volume).

As empresas podem crescer à custa da escala (volume), à custa do denominador da equação da produtividade a produzir mais do mesmo, ou podem crescer à custa da subida na escala de valor, à custa do numerador da equação da produtividade a produzir coisas diferentes, coisas com maior valor acrescentado.

O racional é o mesmo do agricultor que só consegue aumentar a produção trabalhando mais e mais terra, é a via cancerosa

Entretanto, já depois de escrever o que está para trás. Deparo com este tweet:


E termino com o bacalhau islandês e a cerveja Kirin.



 

quinta-feira, janeiro 04, 2024

Por causa de uns pastéis de nata (parte II)

 Parte I.

Primeiro, recomendo a visualização deste discuro de Milei:

Agora vamos à visão tradicional dos bens transacionáveis:

É tabu mexer no numerador porque se vê o numerador como um dado e não como uma variável.

Qual a lei da vida nos negócios? Recordar de 2010 The Knowledge Funnel (parte I)


Alguém vai olhar para o denominador e reduzi-lo, passando aquilo que era mistério, para um conjunto de regras heurísticas e, depois, para um algoritmo e, depois quiçá, transformando num conjunto de linhas de programação.

Além disso, mesmo não mexendo no numerador, a lei de Kano:
"Price is like gravity,it always goes down if you do nothing"
Como se reduzem os custos?
  • Reduzindo o custo dos factores de produção
  • Aumentando a eficiência
Numa economia aberta, as empresas que não mexem no numerador estão sempre sob a ameaça de "cair no abismo" quando os clientes as trocam por alguém mais barato:

Voltando ao esquema da parte I:


Sem mexer no que se produz, pode-se mexer no que chamei de "contexto" na figura acima para acrescentar valor através de atributos associados ao produto: rapidez, flexibilidade, ... (não coloco aqui a "marca" deliberadamente).

Mexer no "contexto" permite ser competitivo sem no entanto ser muito mais produtivo:

Foi isto que não vi quando escrevi "Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província". No entanto, continuo a não concordar com os economistas citados no postal: Aumentar a produtividade à custa de aumentos de volume e escala não é suficiente. Reparar na lição asiática, o que nos traz ao presente não nos pode levar ao futuro:


Voltando agora ao vídeo de Milei. Simpatizo com a teoria, mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura. Contudo, os governos fazem exactamente o oposto. Em vez de apoiarem o novo, apoiam os incumbentes, fica-se numa terra de ninguém tão bem descrita por Spender e Taleb.

domingo, dezembro 31, 2023

Por causa de uns pastéis de nata

Há dias o @romeu publicou este tweet: 

Pastéis de nata à venda em Nova Iorque a 4 dólares a unidade. E o comentário dele "os pastéis de nata também têm de pagar a renda".

Este tweet é, para citar FCF, paradigmático. 

No mesmo dia deste tweet a capa do JdN trazia:

Só aumentos de produtividade importantes podem garantir o aumento dos salários sem aumento do desemprego. Contudo, penso que esses aumentos de produtividade importantes não poderão ser feitos sem aumento da turbulência empresarial.

Voltemos aos pastéis de nata.

Comecemos pela nossa velha conhecida equação sobre a produtividade e o Evangelho do Valor:

Vivemos num país onde quando se fala de aumentar a produtividade fala-se em reduzir o denominador da equação acima porque se considera que o numerador é um dado e não uma variável. Por isso, no resto do postal vamos ignorar as mexidas no denominador. Recordo:
No resto do postal vou usar um significado para a palavra "Valor" diferente do que costumo usar aqui no blogue. Vou usar a palavra "Valor" como "Preço que uma empresa consegue praticar".

Vamos primeiro aos bens não transaccionáveis. Como aumentar a produtividade de uma empresa que produz bens não transaccionáveis?
  • Se os concorrentes nacionais alinharem, a forma mais simples é ... aumentar os preços.
Por isso, um motorista de autocarro deixa de trabalhar em Portugal e na semana seguinte está a trabalhar na Dinamarca a ganhar 6 vezes mais (os políticos portugueses acham que é por causa da formação).

Por isso, os pastéis de nata em Nova Iorque podem ser vendidos a 4 dólares a unidade.

Vejamos no próximo postal o caso dos bens transaccionáveis e a relação com alguns videos de Milei que circulam no Twitter.

domingo, dezembro 17, 2023

Acerca da produtividade

"A produtividade é uma medida da eficiência dos fatores usados numa economia para produzir os bens e serviços. Como o valor acrescentado dos bens produzidos é equivalente, ao rendimento dos fatores que produzem esses bens, a produtividade é, no fundo, também uma medida do rendimento dos fatores produtivos. 

Nesse sentido o Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre diversos países comparamos a produtividade dos fatores produtivos, como o trabalho, e o rendimento desses mesmos fatores.

Em termos agregados, a produtividade do trabalho é calculada como a relação entre o produto total e o trabalho utilizado para produzi-lo. [Moi ici: Tenho de escrever sobre isto. Por que é que se pede a uma empresa para quantificar a sua produtividade e ... ela não o consegue fazer. BTW, já leram o que se escreveu na semana passada acerca da produtividade e da experiência da semana de quatro dias? Leiam e façam um esforço para não rir/chorar. Tenho de escrever sobre isso] Há muitas formas diferentes de fazer esse cálculo, mas, em termos gerais, o objetivo é o mesmo. No fundo o bem-estar médio numa economia só pode subir se a produtividade do trabalho aumentar.

...

Aumentar a produtividade da economia é, a médio prazo, o único ingrediente para aumentar o bem-estar das pessoas na sociedade. Medidas como alterações no salário mínimo ou nas taxas de imposto podem ser populares e adequadas, por razões de equidade. Mas o seu impacto na produtividade pode ser nulo ou até negativo. [Moi ici: O seu impacte pode ser nulo ou até negativo porque não deixamos os zombies morrerem. Recordar o Chapeleiro Louco no país do absurdo] De igual modo sistemas fiscais que beneficiem as empresas de menor dimensão podem ser populares na perspetiva da opinião pública, mas são normalmente negativas em termos de produtividade. [Moi ici: Outra falha clássica na análise da produtividade: atrabuir as falhas às empresas/empresários existentes sem nunca pensar nos mastins dos Baskerville

...

para a economia portuguesa, os indicadores mais preocupantes são do seu baixo crescimento da produtividade relativamente às economias europeias de dimensão semelhante. A especialização setorial da economia portuguesa também pode ser prejudicial aos ganhos de produtividade. Por exemplo, a fileira do turismo tende a ter produtividades do trabalho relativamente baixas. Isso não significa que Portugal possa prescindir do Turismo, mas sugere que se o turismo crescer acima da média da economia a nossa produtividade do trabalho irá provavelmente baixar. Em termos empresariais o discurso da produtividade é normalmente impopular. Os trabalhadores sabem que esse discurso vem acompanhado de medidas de eficiência que são percebidos como cortes nos benefícios. [Moi ici: Este trecho faz-me recordar um postal clássico deste blog acerca dos engenheiro e da produtividade. Achar que a produtividade só aumenta à custa da eficiência] Em parte, isso explica porque no ambiente eleitoral os vários partidos fazem tanta questão de evitar falar na importância do crescimento da produtividade.

...

O crescimento da produtividade, em particular do trabalho, continua a ser o principal desafio da economia portuguesa. [Moi ici: Vamos chegar ao final deste texto e só vamos ficar com a ideia de que a produtividade só aumenta à custa de mexidas no denominador... nem uma pista sobre o Evangelho do Valor ] É aí que reside a chave da criação de empregos melhor remunerados. Condição necessária para evitar a saida do país de muitos jovens que procuram apenas salários suficientes para terem uma vida normal."

Trechos retirados de "A produtividade", publicado no Expresso desta semana.

quinta-feira, julho 27, 2023

Acerca da produtividade no Reino Unido

Li no FT, "Why productivity is so weak at UK companies" com o subtítulo "Longstanding problems of low investment and skills gaps exacerbated by overconfidence and lack of management time".

"But he is still in the vanguard of a collective UK effort to solve the puzzle of why British workers turn out less for every hour they work than their counterparts [Moi ici: Não gosto desta formulação. Como se os trabalhadores fossem os culpados ou a solução] in other advanced economies such as the US, Germany and France.

...

Productivity may be an abstract concept for many, but its consequences are real. Higher output  [Moi ici: Outra linguagem arcaica que não gosto de ver usada qunado se fala de produtividade porque me recorda a mentalidade dos engenheiros - foco no denominador] leads to better wages and a more prosperous economy. But UK productivity has grown by just 0.4 per cent annually in the years since the financial crisis, less than half the rate of the 25 richest OECD countries, according to think-tank the Resolution Foundation. UK household income, which used to be ahead of competitors such as France and Germany, now lags behind.

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suggests British companies are long on confidence but short on commitment when it comes to action and investment in becoming more productive.

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"Confidence can be a good thing - self-belief is powerful," says the report. "However, an alternative way of putting it is that we [the UK] are good at complacency." [Moi ici: Bom ponto!]

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Another potential drag on improving output per worker is a relative lack of business investment. "If UK business investment had matched the average of France, Germany and the US since 2008. ... our GDP would be nearly 4 per cent higher today, enough to raise average wages by around £1,250 a year," the Resolution Foundation said in its recent report "Beyond Boosterism", part of its Economy 2030 research on the UK's economic prospects.

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The proportion of UK businesses that have taken steps to improve or try regularly to measure and improve productivity is slightly down or unchanged since 2020. Some 37 per cent of businesses have discussed or planned improvements - up 8 percentage points between 2020 and 2022 - but not yet taken action.

...

That in turn feeds into concerns about the wider calibre of British managers, memorably voiced in 2017 by Andy Haldane, then Bank of England chief economist, who suggested "a (lack of management quality" was one reason for the UK's long tail of lagging businesses.

In fact, "our long tail doesn't seem to be much worse than others" , says Greg Thwaites, research director at the Resolution Foundation, and most businesses in the long tail are either too small or simply too unproductive for remedial measures to have a big macroeconomic impact. 

Be the Business chief executive Anthony Impey, who has first hand experience of starting and running technology businesses, also defends British managers. Although he acknowledges the cliche that too many small company leaders work "in" their businesses, rather than "on" their business, he points out that the obsession with day to day operations often reflects the ownership structures of such firms.

Many founders mortgaged their homes to launch or sustain their businesses and for those owners "there's a scale of jeopardy which is very often overlooked, because economists and those in big businesses don't have these sorts of stakes in their jobs", he says.

"If you have that kind of pressure, you're going to work in your business 12 hours a day", leaving little time or energy to plan investment or pause operations to implement improvements.

...

Nor do UK managers, accidental or otherwise, seem especially keen on asking for outside advice. The government's long-running survey of small businesses tracks how many leaders have sought "external advice or information" on their business (excluding "casual conversation"). That proportion dropped from almost a third to less than a quarter between 2018 and 2020 and was almost unchanged in 2021, according to the latest report available.

That is worrying because managers who do not take advice tend towards overconfidence, according to the Productive Business Index, which Be the Business has been compiling since 2021. Its latest edition found that business leaders who took no external advice were actually more confident about their leadership and management skills than those that did seek outside support. But managers without external advisers or non-executive directors were less likely to have a two- to five-year strategic plan or to feel they were prepared for unforeseen events.

...

If there were a single catch-all prescription for self-improvement, businesses would probably have applied it by now. Instead, recent analysis suggests companies need to apply a range of measures.

One would be developing and improving management skills and practices. US smaller companies top the ranking of G7 countries on management and leadership and operating efficiency, and are consistently higher than their UK equivalents in their plans to improve capabilities over the next 12 months."

sábado, julho 08, 2023

Trabalhar o denominador ou o numerador

A continuar a minha leitura de "Flawless consulting: a guide to getting your expertise used" de Peter Block encontrei este trecho:

"In the second edition of this book at the turn of the century, what was new in the discovery phase were the whole-system methodologies described in Chapter Eleven. Since then, probably the most interesting new development in discovery is the growing interest in looking at a system's gifts, capacities, and possibilities. This approach is used in addition to, or sometimes in contrast to, looking at problems - their causes and their solutions.

This approach goes under many names: asset-based community development, positive deviance, positive psychology, appreciative inquiry, future search, and more. Each of these is based on the premise that looking at what in our history we want to preserve, or what is working in a system now, or what a system longs to create in the future is a powerful way to build commitment and sustainability into any consultative or change process."

A abordagem tradicional a que o autor se refere é a de melhorar o que existe através do ataque às causas das falhas, a abordagem nova referida neste trecho é a de procurar os "system's gifts, capacities, and possibilities".

Entretanto, passei parte da semana a preparar uma acção de formação para introduzir um conjunto de pessoas à abordagem por processos para que participem num esforço de melhoria na senda da abordagem tradicional. 

A abordagem tradicional tem o seu lugar. No entanto, em algumas circunstâncias não é a mais adequada. Por isso, ao pensar no país escrevi em 2013: Redsigma - O fim da linha

Como exemplo da abordagem assente em "looking at a system's gifts, capacities, and possibilities" também de 2013: O repovoamento do interior também passa por isto.

De um lado lado temos o trabalhar o denominador (a abordagem tradicional), do outro o trabalhar o numerador (a abordagem dos gifts, capacities, and possibilities).

quinta-feira, junho 22, 2023

A concorrência "desigual" ou A evolução da produtividade (parte VII)

 Parte VI,  Parte VParte IVParte IIIParte II e Parte I.

A desglobalização em curso e as barreiras à entrada de emigrantes nos Estados Unidos geram este resultado inevitável. Por isso, é que o patronato é tão adepto da imigração.

O aumento dos salários na base da pirâmide não só beneficia as pessoas que o recebem, como promove a morte das empresas incapazes de os pagar, podendo contribuir para o aumento real da produtividade agregada do país (nos Estados Unidos ainda não está acontecer porque o numerador não está a crescer mais do que o denominador). Esta morte, como é natural, e não imposta por um governo, liberta recursos para outras empresas quando são precisos e sem que fiquem por aplicar. É, sem tirar nem pôr, ao vivo e a cores, o Flying Geese a funcionar.

Os responsáveis pelas empresas que vão morrendo argumentam como o actual governo de Portugal:

"A secretária de Estado da Promoção da Saúde admitiu esta quarta-feira dificuldades em contratar especialistas de obstetrícia e ginecologia para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), alegando a concorrência "desigual" do setor privado.

...

Segundo disse a governante, o "problema" na contratação destes especialistas para os hospitais públicos reside na "concorrência com os privados que é desigual"."

Havendo mão de obra barata ao preço da chuva ... Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”

Não há acasos, está tudo relacionado.

terça-feira, junho 20, 2023

A lente macro é tão ...

"When the world's business and political leaders gathered in 2018 at the annual economic forum in Davos, Switzerland, the mood was jubilant. Growth in every major country was on an upswing. The global economy, declared Christine Lagarde, then the managing director of the International Monetary Fund, "is in a very sweet spot." Five years later, the outlook has decidedly soured.

...

A lot has happened between then and now: A global pandemic hit; war erupted in Europe; tensions between the United States and China boiled. And inflation, thought to be safely stored away with disco album collections, returned with a vengeance. But as the dust has settled, it has suddenly seemed as if almost everything we thought we knew about the world economy was wrong. [Moi ici: Mas quem é que achava que estava tudo bem?]

The economic conventions that policymakers had relied on since the Berlin Wall fell more than 30 years ago - the unfailing superiority of open markets, liberalized trade and maximum efficiency look to be running off the rails. [Moi ici: Este blogue sempre achou errada a crença absoluta na maximização da eficiência, basta recordar os marcadores eficiência, eficientismo e denominador]

...

Globalization, seen in recent decades as unstoppable a force as gravity, is clearly evolving in unpredictable ways.  [Moi ici: Outra tema caro a este blogue, há mais de 17 anos que escrevemos aqui sobre as forças a minar a globalização. Recordo O regresso dos clientesEspeculação - um epílogo?] The move away from an integrated world economy is accelerating. And the best way to respond is a subject of fierce debate.

...

As the consulting firm EY concluded in its 2023 Geostrategic Outlook, the trends behind the shift away from ever-increasing globalization "were accelerated by the Covid-19 pandemic - and then they have been supercharged by the war in Ukraine."[Moi ici: Nunca esqueço de Maio de 2020 - El coronavirus actúa como acelerador de cambios que ya estaban en marcha]

...

Associated economic theories about the ineluctable rise of worldwide free market capitalism took on a similar sheen of invincibility and inevitability. Open markets, hands-off government and the relentless pursuit of efficiency would offer the best route to prosperity. [Moi ici: Recordo aquilo a que chamo a doença anglo-saxónica, recordo as críticas que fazemos há anos à automatização - Especulação sobre mais um falhanço da automatização, recordo o que escrevo sobre Kevin O'Leary]

...

The story of the international economy today, said Henry Farrell, a professor at the Johns Hopkins School of Advanced International Studies, is about "how geopolitics is gobbling up hyperglobalization. [Moi ici: O que me impressiona nestas análises é que me parecem demasiado macro. Há mais de uma década que a globalização está a recuar por causa de Mongo, por causa do fim do modelo do século XX, por causa de "We are all weird"]

...

"Ignoring the economic dependencies that had built up over the decades of liberalization had become really perilous," Mr. Sullivan, the U.S. national security adviser, said. Adherence to "oversimplified market efficiency," he added, proved to be a mistake." [Moi ici: O que me impressiona nestas análises é a crença de que a economia é como a física newtoniana, quando a economia é a continuação da biologia"]


Trechos retirados do artigo, "Failures of Globalization Shatter Long-Held Beliefs", publicado no NYT do passado Domingo. 

domingo, junho 11, 2023

A evolução da produtividade (parte IV)

Parte IIIParte II e Parte I.

Em Acerca do Evangelho do Valor uso esta equação:

A maioria das empresas trabalha para reduzir os custos, trabalha o denominador. Uma minoria valoriza acima de tudo o trabalhar o numerador. 

Quem mete todas as fichas no denominador acaba quase sempre na chamada race to the bottom (ver parte III):

No último livro de Seth Godin, "The Song of Significance: A New Manifesto for Teams" pode ler-se:
"The truth is simple: Widget production [Moi ici: Trabalhar o denominador] is fairly straightforward to measure and increase. But those metrics (and methods) don't work for human interactions, insight, or innovation. [Moi ici: Trabalhar o numerador]
...
When we consider the four kinds of work, we can lay them out in a two-by two grid with stakes and trust as the two axes.
High-stakes, low-trust work is the work assigned by the industrialist. [Moi ici: Trabalhar o denominador até mais não, solução para lidar com commodities] This is meeting spec. Test and measure. Surveillance. Traditional management lives in this quadrant. This is how you successfully run a fast-food franchise. Every customer is important, and every output needs to be identical.
Low-stakes, low-trust work is similar, except it's easily outsourced. This isn't work your organization needs to take seriously or personally.
...
The next quadrant is for work that is low stakes but high trust. This is the work of culture creation, of community, of people we care about showing up each day to contribute a bit to the whole. The work is consistent, but it's human, not industrial. The shifts caused by pandemic disruptions, outsourcing, work from home, and AI have disrupted this quadrant.
And the final quadrant, the most important one, is the work with high stakes and high trust. This is significant work, important work, work on the edge. This is the work that creates human value as we connect with and respect the individuals who create it.
It doesn't pay to industrialize this work or to create it under duress. Because then it becomes industrialized and once again joins the race to the bottom.
...
This is a race you don't want to run. Because you might win. Or worse, come in second.
This is the industrialist's race, the race of productivity. [Moi ici: Não esquecer esta frase "the race of productivity", voltaremos a ela numa próxima parte. Recordar Reinert e o Uganda. Por que não associamos produtividade a high trust? Talvez por causa da doença dos engenheiros] This is the challenge of more for less, of mass-market quality at scale.
The race to the bottom also offers low prices, average quality, and plenty of room for excuses about our lack of humanity and a focus on the short term. The race to the bottom is filled with shortcuts and with competitors who are willing to sacrifice integrity for a slight edge.
At first, heading to the bottom is thrilling, because a small head start feels like an extraordinary boon. The sales and profits quickly arrive.
But inevitably, when a competitor shows up, it becomes a race. And to win that race, all the elements that attracted you to the work quickly disappear."

Continua.

terça-feira, maio 02, 2023

Como é que ninguém fala disto?

Recordo o postal recente O que será utilizar bem os fundos comunitários?

O que será preciso para aumentar a produtividade num sector tradicional como o têxtil?

Não é preciso inventar, basta olhar para o sector têxtil alemão, sim alemão.

Recuo a 2015 e ao artigo citado em Diferenciação permite coabitação:

"Estive há tempos num congresso da indústria em Dresden [Alemanha] e quase não se falou de roupa. Falou-se sim da indústria automóvel, da aeroespacial ou da construção", nota Braz Costa, administrador do Citeve e do Centi, um centro de investigação nas áreas da nanotecnologia e dos materiais inteligentes com sede em Famalicão. Não admira por isso que o maior produtor e exportador têxtil da Europa seja a Alemanha. Não de peúgas ou de t-shirts, mas de materiais com que se fazem os painéis dos automóveis, próteses médicas, peças de motores ou asas de aviões."

Qual o salário médio de um trabalhador têxtil alemão? Em 2020 foi de 2971 euros de acordo com dados do Statista. Qual o salário médio de um trabalhador têxtil português? Em 2020 foi de 939 euros de acordo com dados do INE.

Como é que ninguém fala disto?

Cada vez mais vou-me convencendo que os fundos comunitários funcionam como algo que torna esta evolução mais, muito mais lenta.

Mais uma vez, não se chega lá trabalhando no denominador da equação da produtividade, mas no numerador.

sábado, fevereiro 04, 2023

Ilusões infantis

"Acrescentou ainda, que a evolução da produtividade em Portugal "tem sido muito lenta".

"Este é um drama também com que nos confrontamos e é uma questão que suscita inquietação, porque não há nenhuma resposta clara". Referiu ainda que "precisamos da modernização do nosso tecido produtivo" e para isso "o associativismo empresarial pode e deve ter aqui um papel muito importante, porque, por vezes, há falta de escala das empresas portuguesas".

"As pequenas e médias empresas necessitam de se associar para ganhar escala, indo de encontro, ao que a ACIB defende à décadas", afirmou."

Acreditar que o aumento da produtividade que Portugal precisa, o salto de produtividade necessário, será consequência de aumento da escala das empresas existentes é uma ilusão infantil. Basta fazer as contas. Quase ninguém faz contas. Basta fazer uma simulação, basta escolher uma empresa-tipo portuguesa e simular o que seria preciso para que a sua produtividade aumentasse 30/35%. A nível de preço final de venda ou a nível de redução de custos. Não estamos em 1923, estamos em 2023!!!

O que nós precisamos é de "gansos voadores":

Fundir duas empresas têxteis para que a empresa resultante tenha ganhos de escala não garante que o preço dos produtos vendidos suba, apenas garante que os custos de fabrico podem baixar, mas para quem segue este blogue ... o segredo é trabalhar o numerador e não o denominador da equação da produtividade.


Trecho retirado de "Francisco Assis alerta para "problemas sérios" da realidade portuguesa em conferência da ACIB"


quarta-feira, janeiro 25, 2023

Mais do que a redução do custo.

"A Purchase Is Always Based on Value and Never on Price! 

...

What I mean is that if a consumer perceives that they must give more than they get from a transaction, they will stop buying. Ergo, if the price is higher than the utility of the product, there will not be any exchange. In other words, the utility describes whether the value is positive. To obtain sales, one must therefore either increase the value or reduce the cost to sell the product.

...

Perceived value is the consumer’s overall assessment of the utility of a product based on the perception of what is received (benefits) and what is given (costs). This means that value is individual and personal. It is a compromise based on what you get versus what you give.

...

Price is defined as what one sacrifices (money, time, risk) to acquire a product. Price in this context is more than the money you pay for a product."

Aumentar o valor decorre de trabalhar o numerador e/ou de trabalhar o denominador. 

Há anos que escrevo aqui sobre a importância e impacte de aumentar o valor (produtividade) através do numerador, embora a acção mais comum das empresas se foque no denominador com a redução dos custos, para poder reduzir o preço. Aproveito para salientar que ao nível do denominador também se pode trabalhar o tempo e o risco.

Trechos retirados de "Pricing" de Ragnhild Silkoset.

terça-feira, janeiro 03, 2023

Aumentar a produtividade? No way!

Na passada segunda-feira, 2 de Janeiro de 2023, o JdN trazia este gráfico:

Conclusão?




PREOCUPANTE!!!

O que é a produtividade?
A produtividade é um rácio, a produtividade mede um efeito de alavanca.
Investimos numa série de entradas (custos) - o que representa um valor monetário A. 
Obtemos como resposta uma série de saídas que após venda (só após venda, pois isso é que prova que o produto tem valor para o cliente. Não conta produzir um artigo que vai "apodrecer" no armazém sem procura) - o que representa um valor monetário B. 
A produtividade é o rácio B/A. A produtividade mede o retorno do investimento em A?

Como temos escrito aqui no blogue ao longo dos anos, como é que se pode aumentar a produtividade?

Fácil!
Aumentar B ou reduzir A. A tal diferença entre trabalhar o numerador ou trabalhar o denominador.

Só que há um pormaior. A maior parte das pessoas quando pensa em aumentar a produtividade fixa-se em reduzir o A e mantém o B constante. Ora como referi, pela enésima vez, em E o burro era eu! o impacte de trabalhar o B é muito maior do que o impacte de trabalhar o A. 

Ou seja, voltando à aqui famosa pirâmide de Larreché:
A maioria das empresas concentra-se a melhorar a produtividade nas zonas onde o retorno do esforço é menor. 

Aumentar o B significa trabalhar na "Originação de valor", significa aumentar o preço do que se vende porque se cria mais valor para os clientes-alvo. Ou porque se melhora a qualidade do que se produz (aqui melhorar qualidade não é reduzir defeitos), ou porque se começa a trabalhar para clientes-alvo diferentes que dão mais valor à oferta específica que fazemos.

Voltemos ao gráfico do JdN:
  • Reduzir pessoal - trabalhar o A e, como se aprende com Marn e Rosiello, é a medida que menos retorno traz
  • Investir em tecnologia - presumo que seja trabalhar o A. A tecnologia é apenas uma ferramenta
  • Reorganizar os procedimentos e processos - trabalhar o A por excelência. Voltar aos anos 90 do século passado e à reengenharia. Michael Hammer de novo?
  • Flexibilizar o horário de trabalho - muito provavelmente trabalhar o A. O politicamente correcto tem horror a dizer que a produtividade é baixa porque os trabalhadores são preguiçosos. No entanto, os mesmos adeptos do politicamente correcto são os primeiros a defender que trabalhadores com horário mais flexível, ou com melhor salário, serão mais produtivos. Acho estranha esta contradição que mais ninguém refere. 
  • Investir na formação em liderança e gestão - Incógnita ... se continuarem com mentalidade de engenheiro é trabalhar o A
  • Redefinir cadeias de abastecimento - trabalhar o A
  • Não se aplica/não responde - ainda perdidos.
Chegado aqui, interrogo-me: por que deveria esperar um resultado diferente? Basta recordar o Forum para a Competitividade.





segunda-feira, setembro 26, 2022

Lerolero

A propósito de:
  • subida na escala de valor;
  • aumento da produtividade à custa de trabalhar o numerador;
  • the flying geese;
  • o exemplo irlandês;
  • os macacos não voam;
No último Dinheiro Vivo, o texto do presidente da CIP, "Em busca de um Acordo de Competitividade e Rendimentos" andamos sempre à volta do jogo do gato e do rato:
"Desde logo, porque a associação destes dois vetores - competitividade e rendimentos - pressupõe a necessidade de os conciliar numa dinâmica positiva. Como já assinalei neste espaço, a única forma de o fazer é conseguir que a produtividade aumente. [Moi ici: O jogo do gato e do rato]
...
precisamos de um enquadramento mais favorável ao investimento, desde logo no domínio da fiscalidade, mas também no acesso ao capital. Precisamos de mais emprego qualificado. Precisamos de libertar as empresas do excesso de custos de contexto que absorvem muito do seu tempo e dos seus recursos." [Moi ici: Acham que é por causa dos custos de contexto que as empresas não aumentam a produtividade?]
Entetanto, em "A Simple Theory of Economic Development at the Extensive Industry Margin" de Dario Diodato, Ricardo Hausmann e Ulrich Schetter, leio:
"It is well known that industrialized countries produce a larger variety and more sophisticated goods when compared to developing countries. This naturally raises the question of how countries can enter new industries and climb the ladder of development.
...
Growth at the extensive industry margin is conceptually very different from growth at the intensive margin. [Moi ici: Esta diferença é fundamental. Representa trabalhar o numerador ou o denominador. Representar trabalhar na criação de valor, ou jogar o jogo do gato e do rato] Crudely speaking, growth at the intensive margin involves doing more- or better-of the same, while growth at the extensive margin requires doing something different. To analyze what this implies for economic development, we present a tractable small open economy model that is centered on three core presumptions: First, industries differ in their input requirements of technologies, occupations, or tacit know-how, for example, not just at the intensive, but also at the extensive margin. Second, if an input is currently not used domestically, then an economy needs to build up the capability to provide this input first, and building up this capability is costly. Third, if firms invest in building up the capability to provide a certain input, this will eventually spill over to the rest of the economy. We show that these presumptions imply that countries are more likely to diversify into products that require fewer new inputs, and provide indirect evidence in support of our main mechanism. We then argue that this basic observation about economic diversification has potentially profound consequences for development.
...
[Moi ici: Os macacos não voam!!!] Crudely speaking, developing countries cannot jump from producing textiles to producing airplanes, but need to gradually climb the ladder of development by building up the capability to produce in ever more sophisticated industries
... Our set-up thus provides a simple framework that can rationalize (i) that countries diversify along the development path; and (ii) that they do so by preferentially entering industries which are similar to a country's current activities in terms of their occupational inputs."

O salto de produtividade que o país precisa nunca será obtido à custa de jogos do gato e do rato. Se os macacos não voam, uma forma de queimar etapas é atrair know-how e capital estrangeiro que já tem experiência e mercado nas novas áreas.

domingo, março 13, 2022

Olhar o touro de frente

Ontem dei uma vista de olhos a um semanário e encontrei um artigo de José Martino intitulado "Agros: que futuro?".

Entretanto, hoje pensei nele e numa perspectiva que não me ocorreu inicialmente. 

Olhar o touro de frente ... sem paninhos quentes, sem subterfúgios, olhar para o contexto, olhar para os números, olhar para os factos, e comunicar com verdade. Sim, é certo que sempre haverá quem acredite no Pai Natal, sempre haverá quem esteja contra a troika e o corte de salários:


Basta assistir a uma reunião de condomínio ... Ou recordar este tweet.

Há anos que escrevo aqui sobre o leite e não sou meigo para os produtores. Operam num sector onde ganha quem tiver o preço mais baixo. O leite é a commodity por excelência no sector alimentar. (Algo que aprendi no livro "Retailization - Brand Survival in the Age of Retailer Power":."Milk is the ultimate low-involvement category, and it shows. Only 10% of the international sample (in Denmark, Germany and Spain the number is less than 5%) would expect the private label version to be of a lesser quality.")

Operar num sector como o leite implica viver no mundo da Red Queen: “Here you must run faster and faster to get nowhere at all!”

Operar num sector como o leite implica viver num mundo como o das startups que procuram crescer desalmadamente. Quantas vacas tem uma exploração-tipo em Portugal? Não tenho números recentes. 60? 80? Pensem nos custos por litro de leite numa exploração com 30 000 vacas. Pensem nesta evolução nos EUA e pensem no que se passará na Alemanha, Holanda e Bélgica.


Primeiro, alguns recortes do artigo:

"Os produtores de leite bovino estão sob stress extremo na atividade agrícola que desenvolvem, porque, se antes já tinham deficiência financeira de 8 a 10 cêntimos por litro de leite produzido, agora, a seca severa a extrema que assola Portugal acarreta menores produções de forragens, menos alimentos produzidos nas explorações agrícolas, mais, com a guerra na Ucrânia têm combustíveis, energia e fatores de produção mais caros (fertilizantes, forragens, concentrados para alimentação animal, etc.), certamente que o valor do défice será maior e terá variações semanais porque o encarecimento dos inputs para a agricultura faz-se semana a semana.

Não há dúvida de que o valor que o produtor de leite necessita para equilibrar a sua conta de exploração terá de ser pago pela indústria de laticínios, sendo maioritária a detida pelo setor cooperativo.

...

A Agros foi fundada em 1949, emprega 195 pessoas e registou em 2020 mais de 3,2 milhões de euros de lucros. 

...

[Moi ici: Pelos vistos a cooperativa Agros está em processo eleitoral. Daí este trecho que se segue] Na minha opinião, está a ser muito interessante este processo eleitoral porque há um combate no terreno dos candidatos em conquistar delegado a delegado, voto a voto, no objetivo de vencer as eleições, uma oportunidade para colocar ao serviço dos produtores de leite "os milhões de euros que estão entre o produtor e a Lactogal

A Agros compra o leite aos produtores e vende-o à Lactogal.

Vamos olhar para números da Lactogal. Vamos trabalhar com dados de 2018:
  • A Lactogal processou 820 milhões de litros de leite
  • A Lactogal teve 43 milhões de euros de lucro
Como é que pensa o típico político português? Seja socialista de direita ou socialista de esquerda só tem uma receita na cartilha: distribuir!

Vamos pegar nos 4300 milhões de cêntimos de euro de lucro da Lactogal e distribuí-los por cada um dos 820 milhões de litros de leite: se fiz bem as contas dá um aumento de 5,2 cêntimos por litro de leite. Como é que José Martino começa o seu artigo? 8 a 10 cêntimos? E agora será mais ...

Esta política distributivista já vimos que não resulta, mas vamos admitir que ia ser parcialmente aplicada. Que quantidade dos 43 milhões de euros deve ser canalizada para os produtores?

Depois de contabilizados os custos do passado as empresas determinam o lucro, mas o lucro, ou parte dele não é verdadeiramente o que a opinião popular pensa dele, o Lucro: O custo do futuro.

Em casa sem pão todos ralham e ninguém tem razão! Como se sai disto? Olhando o touro de frente, apresentando os factos e propondo alternativas racionais. Como se sai disto? Seguindo o Evangelho do Valor! Acerca do Evangelho do Valor.

O sector leiteiro preciso que os custos em que incorre alavanquem mais valor criado, ou seja, precisa de aumentar a sua produtividade:
Como se faz? 
Ainda há uma terceira alternativa para os produtores. Ver o que ao longo de mais de 10 anos tenho escrito aqui no blogue sobre as explorações inglesas que vendem leite cru, as explorações americanas que ganham mais com o agro-turismo do que com a venda de leite, as explorações francesas que entram nestes esquemas

domingo, fevereiro 06, 2022

Fico dividido

Ontem no Jornal de Notícias li este artigo "Falta de maioria já não desculpa: indústria exige reformas a Costa" e fiquei dividido

Primeiro, os sublinhados que fiz:

"Governo não tem desculpa para adiar reformas estruturais. Querem também rapidez e eficácia no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e no Portugal 2030. [Moi ici: Nota 1]

...

o país reúne agora condições para encetar as reformas estruturais de que precisa e que os empresários diariamente e justamente reclamam." [Moi ici: O país precisa de reformas estruturais para ser atractivo para o investimento directo estrangeiro. Os empresários nacionais fariam melhor em concentrarem-se no que podem fazer por eles próprios para subirem na escala de valor. Subir na escala de valor é um trabalho interno. Boleias do exterior normalmente traduzem-se em descontos no preço final, quando o que precisamos é de subir os preços]

Considera "urgente uma estratégia clara e integrada, com medidas concretas para recuperar a atividade económica, melhorar a competitividade e relançar e reorientar o investimento". [Moi ici: Fico triste com esta mentalidade, com este locus de controlo no exterior. A competitividade para ser melhorada precisa de um empurrão do governo? Precisa de orientações exteriores. Come on!!! E volto a Erik Reinert e à diferença entre trabalhar o numerador ou o denominador. Todo o discurso dos representantes dos empresários assenta em aumentar a competitividade com base na redução do denominador, ou seja, à custa da redução dos custos de contexto]

...

Entre várias outras medidas, diz ser "absolutamente crucial" apoiar "a recapitalização das empresas e a requalificação dos ativos" chama a atenção para o envelhecimento da população e para a "rigidez laboral". [Moi ici: De que requalificação dos activos estarão a falar? Não consigo imaginar os representantes dos empresários alemães, nos anos 70 a protestarem com o governo federal ou estadual, porque não conseguiam arranjar pessoal para os sectores tradicionais?]

...

As indústrias de base florestal estão disponíveis para colaborar e continuar a aumentar as exportações. Não  acabem com a nossa floresta" , apelou. [Moi ici: palavras de Vitor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal]

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"A carga fiscal sobre as nossas empresas penaliza substancialmente a competitividade externa" [Moi ici: Primeiro, a competitividade em função do denominador. Segundo, falar em carga fiscal como penalizadora da competitividade externa quando o sector vive um tempo de muito, muito, muito trabalho... não abona em favor do opinador] e também "os custos de contexto, a nivel da energia, fiscalidade ou justiça, são altamente penalizadores" [Moi ici: Só conversa sobre custos...] [Moi ici: palavras de Paulo Gonçalves, director de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos

...

E o PS "vai certamente reforçar as medidas já delineadas para a recuperação economica", desde logo no PRR e no PT 2030, que "serão um motor de arranque para as empresas" "Os setores do textil e do vestuário precisam desta alavanca para se reposicionarem no mercado internacional"", [Moi ici: Ver Nota 1] [Moi ici: palavras de César Araujo, presidente da Associação Nacional das Industrias de Vestuário e Confecção]

Nota 1: À atenção dos empresários que põem esperança no exterior, percebam a mensagem desta figura:

Por que fico dividido? Por um lado esta conversa em que o aumento da produtividade é associado à redução de custos,  e depende do trabalho dos governos de turno. 

Por outro lado, imposto é roubo.

Por que é que os representantes empresariais olham para os governos como super heróis capazes de fazerem o trabalho que só cada empresário pode fazer, subir na escala de valor?

Back to Cavaco...



domingo, janeiro 16, 2022

Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas

Na passada sexta-feira fixei-me na mensagem desta imagem na capa do JdN:


No interior do jornal sublinhei esta frase do ministro da Economia:
"Não acreditamos que uma baixa de impostos pura e simplesmente ponha por magia a economia a crescer."

De que fala o ministro quando fala em competitividade? Recordo um postal publicado em Novembro último, com base num texto de Eric Reinert, "Competitividade, absurdo, lerolero e contranatura".

Reinert refere que há quem use a palavra competitividade para significar empresas mais competitivas pelo preço, e há quem use a palavra competitividade para significar empresas mais competitivas por causa do valor criado. Foquemos a nossa atenção naquela que aqui pregamos com o Evangelho do Valor, a segunda.

Queremos que aumente a competitividade que permite o aumento dos salários por causa do aumento do valor percepcionado pelos clientes. Ou seja, outra forma de dizer que queremos um aumento da produtividade à custa do valor criado e não da redução de custos (foco no numerador e não no denominador).

O que aprendemos com os finlandeses:
"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."
Mas, e como isto é profundo:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." Por favor voltar a trás e reler esta última afirmação.
E o grande finale:
"As creative destruction is shown to be an important element of economic growth, there is definitely a case for public policy to support this process, or at least avoid disturbing it without good reason. Competition in product markets is important. Subsidies, on the other hand, may insulate low productivity plants and firms from healthy market selection, and curb incentives for improving their productivity performance. Business failures, plant shutdowns and layoffs are the unavoidable byproducts of economic development."

Ou seja, para que a produtividade agregada do país cresça precisamos de empresas novas. Quem as vai criar? Quem tem o know-how para trabalhar nas zonas mais altas da escala de valor? Entra Nassim Taleb com:

"Systems don’t learn because people learn individually – that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game"[Moi ici: Isto é duro! Pensem nos Saraivas deste mundo, ou nos Fóruns para a Competitividade. Come on!]

Aprendam a receita irlandesa:

"Gostei de ouvir muitas das coisas que Alexandre Relvas disse, não todas. No entanto, saltou-me a tampa quando Alexandre Relvas disse que os empresários portugueses tinham muito a aprender com os empresários irlandeses.

Não acredito! - Pensei. Ele pensa que o salto de produtividade e PIB irlandês foi feito à custa dos empresários irlandeses? Come on! Esta gente não analisa os números?

Enquanto conduzia debaixo de chuva pensava em como mostrar o quão longe da realidade está o pensamento de Alexandre Relvas. Onde posso ir buscar tais números?

Lembrei-me de Hausmann e do seu trabalho no MIT acerca dos product spaces. Já em casa, depois de comer algo fui ao site do MIT (agora está em Harvard) e analisei a evolução do perfil de exportações da Irlanda e de Portugal entre 1995 e 2018. Entretanto, já hoje de manhã durante a caminhada matinal recordei-me deste artigo "A Tale of Two Clusters: The Evolution of Ireland’s Economic Complexity since 1995". 

Reparem nesta comparação entre as empresas de capital estrangeiro e as empresas de capital irlandês a operar na Irlanda (número de trabalhadores, facturação e número de empresas por sector)"

Portanto, para aumentar a competitividade/produtividade como eu defendo (através do numerador), temos de captar investimento estrangeiro. Agora reparemos no presente envenenado que queremos que os estrangeiros comam: No international Tax Competitiveness Index, quanto ao "Corporate Tax Rank" e ao "Cross-Border Tax Rules Rank" vêmos coisas que não lembram ao careca ... Portugal (35º lugar) é menos atractivo que a França (34º lugar) para as empresas. Quem diria!!!


Conclusão: Baixar o IRC pode não ser suficiente, mas é certamente necessário. Temos de trabalhar para melhorar o posicionamento no "Corporate Tax Rank". A mexida no IRC não é para melhorar a competitividade de empresas que venham para cá, mas é para tornar o país atractivo para os decisores dessas empresas que racionalmente procuram o melhor para elas.

Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas.

terça-feira, dezembro 28, 2021

"esta obsessão dos cêntimos"

No livro, "Strategy Pathfinder" encontrei esta imagem:
Ainda acrescentaria algumas entidades a este ecossistema. Por exemplo, os influenciadores, ou os prescritores.

Voltei a recordar-me desta imagem ao ler, "Fábricas cortam intermediários para chegar ao consumidor", um tema já tratado recentemente em "É preciso trabalhar na originação de valor.". Uma evolução positiva, mas que me deixa com algumas reticências. Sorrio porque esta gente está a seguir um conselho antigo deste blogue, "Outra forma de David bater Golias". 

No entanto, o tema que queria sublinhar neste postal é outro:
"“Como conseguimos mais do que vender produtos, vender conceitos, estatuto. Qualquer coisa mais que nos preencha, além do produto. E não tenhamos medo de falar do preço. Em Portugal há sempre um bicho papão quando chegamos a esse momento. Se andamos com esta obsessão dos cêntimos, não vamos sair do mesmo lugar. Portugal vive aprisionado no preço”, desabafa."

Sim, a concentração no denominador, na eficiência, no custo, em vez da concentração no numerador, no valor:

Enquanto esta revolução mental não for feita por uma massa crítica ...

BTW, não esquecer o conselho dos velhos estóicos, nunca apostar mais do que se pode perder sem arruinar o empreendimento, "Tail risks can screw you up".

sábado, novembro 27, 2021

Competitividade, absurdo, lerolero e contranatura

"The term `competitiveness' is also a product of end-of-history economics, coming into fashion in the early 1990s. At first the term was highly contested. `National competitiveness', wrote Robert Reich in 1990, `is one of those rare terms of public discourse to have gone directly from obscurity to meaninglessness without any intervening period of coherence.' Later Reich, a professor at Harvard's John F. Kennedy School of Government, was to become US Secretary of Labor under President Bill Clinton. Here he championed the idea that the United States should move into high-value sectors of the economy (a view consistent with our quality index of economic activities). In a paper published a couple of years later, MIT's Paul Krugman twice referred to Reich as a `pop internationalist' and somewhat unacademically condemned his Harvard colleague's notion of `high-value sectors' as `a silly concept'. But in the same paper Krugman also had a go at the term `competitiveness': `if we can teach undergrads to wince when they hear someone talk about "competitiveness", we will have done our nation a great service'. To Krugman the key insights were still those of David Ricardo.

...

Competitiveness may be defined as the degree to which, under open market conditions, a country can produce goods and services that meet the test of foreign competition while simultaneously maintaining and expanding domestic real income.

By this definition, competitiveness can be seen as a process where real wages and national income are jacked up by a system of imperfect competition, producing a `rent' to the nation. This is probably the reason why neo-classical economists opposed the term. This perspective, however, is compatible with our Other Canon view of how the rich countries got rich. Traditionally, when this development was not possible under market conditions, tariffs were established to protect the areas that experienced the most technological change, while competition was maintained. The more backward the nation, the higher the tariffs had to be in order to produce the desired effects.

...

Competitiveness, then, denotes a process that makes people and nations richer by increasing real wages and income. And yet, while visiting Uganda a few years ago, I experienced at first-hand how the term was used in order to argue for the opposite, for lower wages. The textile plants attracted to Uganda by the African Growth and Opportunity Act (AGOA) - a maquila-type set-up between the USA and Africa - could no longer compete internationally, and President Museveni argued that in order for Uganda to achieve 'competitiveness', workers' wages had to come down.

So competitiveness is a wonderfully flexible term, fitting a confused age of muddy thoughts and a need to explain away the utter failure of key economic theories. It can be used to describe a mechanism which makes everyone richer (the OECD definition), but it can also be used as a term describing the opposite, to convince workers that they must accept more poverty (Museveni's definition). The sad thing in Europe is that the term competitiveness is increasingly used in the Ugandan sense, coupled with `labour market flexibility' (which invariable means flexibility downwards). In order to be `competitive' we must lower our standards of living."

Em Portugal estamos com outra via, a via do absurdo.


Ou seja, "Governo volta a dar apoio aos patrões para compensar subida do salário mínimo". Vivemos no mundo do lerolero no poder

Pensam que os saltos de produtividade vão ser obtidos pelo grosso das empresas portuguesas? Num mundo de fronteiras abertas? Pensem outra vez:


Imagem retirada de artigo "A Tale of Two Clusters: The Evolution of Ireland’s Economic Complexity since 1995". Reparem nesta comparação entre as empresas de capital estrangeiro e as empresas de capital irlandês a operar na Irlanda (número de trabalhadores, facturação e número de empresas por sector). Imagem publicada inicialmente no blogue aqui.

Quem nasceu, quem se moldou a competir pelo denominador, dificilmente abraça o mindset de competir pelo numerador. Não é impossível, mas é contranatura. 

Trechos retirados de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert