terça-feira, julho 02, 2013

Curiosidade do dia


Espiral recessiva ou, como a vida é complicada

O autor deste blogue é defensor de um Estado prudente nos seus gastos, para que não seja um peso excessivo sobre os ombros dos contribuintes. Por isso, não se veja o que se segue como uma defesa da subida de impostos para alimentar o Monstro.

"António Goulart disse que as empresas estão a contratar muito menos pessoas para trabalhar no verão do que em anos anteriores, lembrando que a época alta agora praticamente se resume aos meses de Julho e Agosto."
E a notícia da manhã:
"Os patrões culpam o subsídio de desemprego e a falta de vontade em ter um trabalho que dura dois ou três meses.
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O cenário não é novo, mas os empresários admitem que a saída de milhares de brasileiros ou imigrantes do Leste europeu está a agravar um problema que já existia no Algarve.
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O presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas,explica que este ano está a ser ainda mais dificil encontrar pessoal para limpezas ou arrumações.
Também a AHRESP, Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal., admite que a saída de imigrantes dificulta as contratações de Verão mas garante que essa dificuldade não aumentou.
Os patrões da restauração lamentam aquilo que diz serem benefícios do subsídio de desemprego e sublinha que muitos não querem trabalhar à noite ou ao fim-de-semana."

 Estes patrões podiam pagar mais... se não pagam mais, então, aumentem os preços.
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Pena que "Mesquita Nunes" não tenha estudado estratégia, proposta de valor, e outras cenas ... no curso para jurista.

Também se está a criar emprego por isto?

Impressionante!
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Já no século XXI, Robert Coase continua vivo e a espernear, apesar do avanço de Mongo!
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Por que existem empresas?
"In The Nature of the Firm (1937)—a brief but highly influential essay—Coase attempts to explain why the economy features a number of business firms instead of consisting exclusively of a multitude of independent, self-employed people who contract with one another. Given that "production could be carried on without any organization [that is, firms] at all", Coase asks, why and under what conditions should we expect firms to emerge?
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Coase noted, however, a number of transaction costs involved in using the market; the cost of obtaining a good or service via the market actually exceeds the price of the good. Other costs, including search and information costs, bargaining costs, keeping trade secrets, and policing and enforcement costs, can all potentially add to the cost of procuring something from another party. This suggests that firms will arise which can internalise the production of goods and services required to deliver a product, thus avoiding these costs. This argument sets the stage for the later contributions by Oliver Williamson: markets and hierarchies are alternative coordination mechanisms for economic transactions."
A atenuação do "efeito China", por causa do aumento dos salários chineses e da aposta noutras propostas de valor que não a do preço mais baixo, está a criar uma falta de capacidade instalada entre os vendedores de minutos, as empresas no escalão mais baixo dos ecossistemas sectoriais.
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Estas, para aproveitar ao máximo o momento, começam a deitar para o lixo os acordos estabelecidos, as regras éticas e a palavra dada e dão prioridade na produção a quem pagar mais.
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Hoje acordam com a empresa A entregar na data X ao preço Y.
Amanhã, sem dizer nada a A, acordam com a empresa B entregar na data X ao preço Y+1.
Depois de amanhã surgirá a empresa C...
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Resultado?
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As empresas vão começar a desconfiar dos seus subcontratados, dos seus fornecedores de minutos e vão ter de assegurar elas próprias a capacidade produtiva?
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Isto para já não falar das empresas que receiam da sanidade financeira dos seus subcontratados, o que representa outra ameaça.

"What is it you care about?"

Ontem, no postal ""a challenge to their identity, and mindset."" sublinhamos este trecho:
"I refrain from benchmarking against competitors. The only reason I benchmark against them is to look at “what not to do”. I then ask myself: what can we can do, that no one else is “willing to do”? The key word there is willing."
Foi dele que me lembrei ao ler "Your Brand Is the Exhaust Fume of the Engine of Your Life" e encontrei:
"The truth is this: The brand follows the work. Your brand is the exhaust created by the engine of your life. (Moi ici: A marca não é o objectivo, é a consequência, é o "sub-produto da vida, da operação, da relação) "It is a by-product of what happens as you share what you are creating, and with whom you are creating.
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It is a sign, yes. Significant, yes. But the real signal comes from being able to answer these two questions:
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What is it you care about? It takes courage to find and follow an individual path; finding our own path takes us off the path that others are following, in directions that can seem distinctly alone. Each of us is standing in a place no one else stands in as a function of our history, experience, vision and hopes. I call this onlyness, that thing that only you can bring to any situation."

Acima do padrão americano

No artigo "Sobrevivência de novas empresas é das mais baixas" pode ler-se:
"Os portugueses são dos que têm menos medo de falhar, empurrados, nomeadamente, pelo desemprego. Mas a taxa de mortalidade das empresas recém-criadas é das mais elevadas na União Europeia, atingindo os 70% a cinco anos. A falta de financiamento é uma das explicações Portugal tem uma das menores taxas de sobrevivência das empresas mais jovens - só três em cada dez sociedades criadas em 2004 estavam a funcionar cinco anos depois, o que indicia "debilidades competitivas". E a dinâmica de criação e encerramentos revela uma "maior turbulência empresarial" face ao padrão europeu. A conclusão é do estudo "25 anos de Portugal europeu", realizado pela consultora Augusto Mateus & Associados para a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Portugal só é ultrapassado pela Letónia."
Estes números são muito interessantes. Podemos estar abaixo do padrão europeu, que desconheço; contudo, estamos acima do padrão americano:
"Even though small businesses collectively generate $5 trillion in sales in the US, the biggest chalenge of an individual small business is "survival".
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80% of all new business start-ups are out of business within five years. And if that doesn't get your attention, 80% of the 20% that survive the first five years don't survive the second five!"
Trecho retirado de "Six Disciplines for Excellence" de Gary Harpst.

segunda-feira, julho 01, 2013

Curiosidade do dia

Os astros a alinharem-se, "Taxa de desemprego em Portugal caiu para 17,6%".
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Se com os critérios do Eurostat caiu... chamem-me bruxo.

"If you plan to be an exception, odds are you will be disappointed"

Relacionar este texto "Who's Behind the Sad, Anonymous Truth of 'My Startup Has 30 Days to Live'?", em particular:
  • "“Make feature X free”
  • “Stop focussing on revenue, someone else will pay the bills”
  • “Grow $VANITY_METRIC so you can show a hockey stick at demo day and look good”
  • “Cut out that pesky client that generates 80% of your revenue, they’re a distraction on the road to executing $OUR_BIG_VISION”"
Com a mensagem de "The Get-Big-Quick Fallacy":
"Is it better for a start-up to pursue profitability initially, or go for growth?
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A pure focus on growth carries risks. If you are a growth-obsessed startup and venture capital financing dries up and buyers grow scarce, you can run out of money. If you are inside a big company, profit-draining ventures are typically early sacrifices in corporate cost-cutting exercises.
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Growth is great, but profits are more convincing proof of long-term viability. Sufficient profits make a business self-sustaining, inoculating ventures against the need to pry money from tight-fisted venture capitalists or often-skeptical corporate investors.
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Harvard scholar (and Innosight co-founder) Clayton Christensen guides innovators to be "patient for growth, and impatient for profits." There are wonderful exceptions to this rule. The Apple iPad generated $10 billion in revenue in its first year (no patience required there!). Amazon.com has a massive market capitalization even though its thirst for investment seems unquenchable. Groupon went from nothing to $1 billion in revenue in two years.
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As wonderful as these events are, they are exceptions. If you plan to be an exception, odds are you will be disappointed. If you plan for the norm and it happens that fortune smiles on you, at least try to remember the role luck played in your outcome when a young entrepreneur comes knocking for advice."

Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província (parte VI)

Parte I, parte II, parte III, parte IV e parte V.
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A propósito de "O défice da gestão portuguesa" publicado no JdN da passada quinta-feira fiquei a matutar em alguns pontos.
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Depois de ler o artigo, e como sou um apreciador do trabalho de Bloom, um valioso aliado na minha pregação de que a produtividade das empresas poderá melhorar com melhores práticas de gestão, em vez de confiar em benesses concedidas pelos governos, resolvi ir à fonte referida, "The Radical Beauty of Three Simple Management Practices", e fiquei a pensar no que se segue.
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Na semana passada, numa conversa numa empresa, para recolha de elementos, para a elaboração de uma proposta sobre a implementação de um sistema de gestão baseado no balanced scorecard (BSC), colocaram a pergunta sacramental:
"- E quanto tempo será necessário?"
Respondi:
"- 3 a 4 meses para desenhar o mapa da estratégia, definir indicadores e construir as iniciativas estratégicas e o sistema de monitorização. Depois, a fase de comunicação e acompanhamento pode, ou não, ser incluída no projecto."
E, imediatamente comecei a pensar nos casos que lia há dez anos sobre a implementação de BSC, e sobre os anos que duravam... e, pensei na dimensão média dessas empresas dos casos estudados e na dimensão do seu mercado doméstico e fiz o confronto com a realidade das PMEs portuguesas.
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Há défice de gestão nas empresas portuguesas? Claro que há, basta pesquisar Bloom e Reenen neste blogue, basta recordar o gráfico daqui e o marcador "Distribuição de produtividades". No entanto, cuidado com a importação das práticas americanas para as empresas portuguesas.
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No artigo de Bloom e Reenen, citado pelo JdN pode-se ler:
"As part of our research, we partnered with the World Bank to offer manufacturers in Tarapur, India, (Moi ici: Um país com escassez de oferta face à procura e com produção nacional protegida da entrada de concorrentes) the opportunity to participate in an experiment. Fourteen plants got free, high-quality advice from consultants, who taught them about three management fundamentals: setting targets, establishing incentives, and monitoring performance. The consultants showed the companies how to support long-term goals with tough but achievable short-term performance benchmarks, how to reward high performers with promotions and bonuses while retraining or moving underperformers, and how to collect and analyze performance data to identify opportunities for improvement.
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The interventions transformed the plants. On average, the manufacturers cut defects by more than 50%, reduced inventory by 20%, and raised output by 10%. (Moi ici: Estes resultados são bons mas, para muitas empresas portuguesas, as que competem no sector dos bens transaccionáveis, seriam insuficientes para contrabalançar o efeito China. Estes resultados têm tudo a ver com olhar para dentro e tornar-se mais eficiente, têm tudo a ver com fazer bem as coisas, mesmo quando essas coisas deixaram de ser as coisas certas) They also became far easier for their CEOs to manage, which allowed for the addition of new facilities and the expansion of product lines."
Há défice de gestão nas empresas portuguesas? Claro que há!!! Agora, cuidado com o pensamento homogeneizador que parte do princípio que as práticas americanas e alemãs são transplantáveis para Portugal tout court. As práticas que são necessárias para gerir corporações ou empresas multi-site que operam ao nível de continentes e têm dezenas de milhares de trabalhadores não são as mesmas que as requeridas para gerir empresas com dezenas ou centenas de trabalhadores, operam em um ou dois sites e vêem o resto da Europa como mercado de exportações.
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BTW, esta parte final é deliciosa:
"como refere Ricardo Reis, "Portugal é pobre por ser pouco produtivo, a raiz deste problema está na má gestão das empresas portuguesas. Uma solução é melhorar a qualidade dos nossos gestores. (…) Uma maior qualidade de ensino produzirá também melhores gestores. Mas, para isso, é preciso também que estes melhores gestores possam competir, em termos justos, com os maus gestores instalados"."
Como é que os maus gestores instalados são protegidos?

  • Recordar esta curiosidade do dia 
  • Recordar este desabafo de Daniel Bessa "... faltou sempre o dinheiro que o "Portugal profundo" preferiu gastar na "ajuda" a "empresas em situação económica difícil"..."
  • Recordar a diferença entre o calçado e o têxtil  e a anedota da argumentação da revista Visão: "Se há uma guerra entre os sectores, o calçado terá tido o tempo a favor. Ao contrário dos têxteis, obrigados a enfrentar a liberalização do mercado apenas em 2005, os sapatos começaram a competir com os grandes asiáticos mais cedo, uma vez que não beneficiaram de um período de transição, com quotas de exportação para a Europa." (Moi ici: Anedota porque põe em causa os programas de transição e as ajudas, de resto estou de acordo com ela)





Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província.

"a challenge to their identity, and mindset."

"what does a competitive advantage look like?
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For me, it looks like separation. Not just in terms of profits, but in relevance. In the world of business, the goal of strategy is to shape the future and give an organization a difference that matters. And, enable it to do something of importance particularly well.
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Then there are companies that stumble upon a competitive advantage, not because of foresight and planning, but because of constant experimentation and learning from mistakes.
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 no one has an advantage at everything. This means that whatever you thought “is a competitive advantage”, is not. Get that into your head. Unless it really challenges your will, you can still play.
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I refrain from benchmarking against competitors. The only reason I benchmark against them is to look at “what not to do”. I then ask myself: what can we can do, that no one else is “willing to do”? The key word there is willing. As in it will test their will to do it. It is taking it a step further from simply thinking about what others cannot do.
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What others cannot do implies competence. What they will not do implies a different type of challenge: a challenge to their identity, and mindset."
Imaginem uma PME, ou uma startup, a resolver servir um pequeno nicho com uma oferta customizada, co-desenhada e co-produzida... como é que isso encaixa na mente de um incumbente habituado a trabalhar para a quota de mercado? Tal como Golias...
"O filisteu também se vinha aproximando de David; e o que lhe levava o escudo ia adiante dele.
 E, o filisteu, ao ver David, desprezou-o, (Moi ici: Os grandes estão habituados a fazer uso da sua força no terreno que lhes é mais propício. Assim, quando vêem uma PME a seguir um outro caminho, o caminho menos percorrido, quase sempre desprezam-nas. Desprezam-nas porque as PMEs concentram-se num nicho e protegem esse nicho com um mosaico de actividades repleto de sacríficios para quem, sendo grande, as quiser imitar) porquanto era moço, ruivo, e de gentil aspecto. (Moi ici: O que é que uma PME pode fazer contra a empresa-Golias… o Golias quase sempre nem lhe liga … Quando os gigantes deste mundo detectam a aproximação de um pigmeu normalmente desprezam-no, não lhe ligam. Acham que são de tal forma superiores… os Davids são como formigas num piquenique, um incómodo que pode ser espezinhado facilmente. Só que, “Aqueles que não ouvem a música, acham que o bailarino está maluco”)."
Trechos retirados de "Why is competitive advantage temporary?"

A partilha de experiências entre os pares

"No seu entender quais são, de uma forma genérica, os principais atributos e os principais defeitos dos gestores/empresários portugueses?.
O tecido empresarial português, na sua maioria, é constituído por micro e PME, o que me parece que demonstra bem o espírito empreendedor, e até a criatividade, que existe em Portugal. Os empresários portugueses são trabalhadores e capazes de fazer grandes sacrifícios pessoais pelas suas Companhias. A meu ver, no entanto, beneficiariam se se fechassem menos, se comunicassem mais entre si, se partilhassem experiências e melhores práticas. Isto permitiria não apenas o encurtamento de curvas de aprendizagem como também a agilização da defesa da iniciativa privada em Portugal."

  • "Em vez de se concentrarem em sacar subsídios e apoios do QREN para os seus associados, as organizações empresariais deviam apostar na recolha e divulgação destas histórias... não por consultores, não por funcionários, não por universitários, não por políticos, mas por pares." (Dezembro 2007)
  • "O melhor exemplo é o dos pares!" (Maio 2012) 
Trecho retirado daqui.

domingo, junho 30, 2013

Parabéns às Vánessas!!!

Lá foram campeãs no seu escalão, juniores, na Garci Cup.
 Mas não foi fácil a coisa esteve tremida, a 35 segundos do fim a bola estava na posse do Bartolomeu Perestrelo
 Mas ainda conseguiram ganhar por 24-26.
Parabéns às Vánessas do Académico do Porto!!

Curiosidade do dia

"3D Model Captured With Google Glass"

Não confundir quota de mercado com lucro (parte II)

Na sequência do postal "Não confundir quota de mercado com lucro" o Paulo Peres teve a gentileza de me remeter para este texto "O fim da venda de soluções" onde se pode ler:
"Hoje em dia, o aspecto mais difícil da venda de empresa a empresa, ou B2B, é que o cliente já não precisa de você como antes. Nas últimas décadas, o pessoal de vendas dominou a arte de descobrir o que o cliente precisava para poder vender “soluções” — em geral, combinações complexas de produtos e serviços. Isso funcionava porque  o cliente não sabia como resolver o próprio problema, ainda que tivesse uma boa noção de qual era esse problema. Mas agora, com equipes de prospecção cada vez mais sofisticadas e consultores de compras externos munidos de toneladas de dados, é fácil para uma empresa definir sozinha suas soluções."
O artigo desenvolve a ideia de que a actividade comercial tem de começar bem mais cedo, quando o cliente ainda não fechou a definição das especificações, para poder influenciar a sua escolha.
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Concordo que o artigo explique em parte a dificuldade crescente de vender soluções. E sublinho, em parte.
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Por exemplo:
"No método convencional de venda de soluções que reina desde os anos 1980, o vendedor é treinado para alinhar uma solução a uma necessidade reconhecida do cliente e demonstrar por que ela é melhor do que soluções da concorrência. Isso leva a uma abordagem muito prática: o vendedor começa por identificar clientes que reconhecem ter um problema que o fornecedor pode resolver e dá prioridade àqueles que já estão prontos para agir. Em seguida, com uma série de perguntas, o vendedor encontra um “gancho” que lhe permita vincular a solução da empresa ao problema em questão."
Sinto é que aquilo a que chamamos solução, se descrito desta forma, terá cada vez mais dificuldade em resultar em venda porque não há ping pong, porque o vendedor continua a vender o que a empresa produziu, porque a interacção é mínima. Interessante seria actuar como um alfaiate e genuinamente oferecer uma solução à medida do cliente, exclusiva para ele e fora de uma paleta de combinações.
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Ainda esta semana estive na empresa deste postal "Alfaiates de máquinas". Estavam a montar a cabeça que alimenta o reactor de uma máquina que vai para o México... às tantas o gerente diz-me:
- Sempre fizemos máquinas com uma linha de alimentação para o reagente X. Para este cliente ele vai poder usar até 5 referências diferentes do reagente X.
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E voltando ao postal inicial e à pergunta do caso de estudo da Harvard Business Review, voltando ao texto que o Paulo me enviou e, para o argumento mexicano no desafio da Bimbo:
"Se tivermos um produto competitivo com as marcas próprias, as pessoas vão-nos escolher porque a nossa qualidade é muito melhor"
Um comentário do João Miranda no Twitter fez-me recordar o Dilema do Inovador e daí, dei o salto para o problema da disrupção e fiz a conexão para "Perceber o que está a acontecer aos seus clientes?"
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Receio que o gestor mexicano da Bimbo não perceba o que quer dizer o argumento da qualidade (aqui como sinónimo de mais atributos e não de ausência de defeitos) para um cliente overserved.
No dilema do inovador, a concentração nas margens superiores cria a oportunidade para os disruptores estabelecerem uma testa de ponte para iniciar uma invasão que liquidará os incumbentes.
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No caso da Bimbo, a tentativa de salvar a quota de mercado aumentando a capacidade de produção, vai tornar a empresa refém dos grandes lotes dos items mais populares e das margens unitárias mais baixas.

Outro tipo de oração, e o mesmo resultado

Esta é a evolução aqui no blogue do tema checklists.
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Primeiro a curiosidade ("A introdução de uma checklist com 5 míseros passos... fez milagres!")

Depois, o desafio de reduzir os erros gerados pela experiência que gera o excesso de confiança:

"Comecei a pensar, como é que conseguimos pôr os trabalhadores a fazer o mesmo no início de cada intervenção? Como os pôr a realizar uma preparação?
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Como conseguir pôr um grupo de velhos lobos-do-mar, tarimbados por anos e anos de experiência, moldados na nossa cultura de desenrasque e facilidade, a "rezarem a sua oração" antes de iniciarem um trabalho?"
Depois, a descoberta de que as checklists podem ser a oração:

Entretanto, tive acesso a números, ainda confidenciais, que mostram o impacte do uso das checklists nos trabalhos dos "velhos lobos-do-mar". Enquanto a campanha durou a quantidade de erros baixou drasticamente, quando a campanha foi retirada, ou antes, deixou de ser falada pelas chefias, os erros voltaram em força. O interessante é que a campanha foi mal explicada pelas chefias, não foi percebida por muita gente, e não foi do agrado dos trabalhadores... e, no entanto os resultados foram muito bons. Apesar da checklist não ser perfeita..
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Ontem, ao continuar a leitura de "Turn the Ship Around" de David Marquet encontrei um capítulo dedicado a uma prática que produz um efeito semelhante ao da checklist. Semelhante porque actua da mesma maneira, retira o trabalhador do modo "velocidade cruzeiro" e obriga-o a racionalizar o que vai fazer, obriga-o a tornar deliberado o que podia, de outra forma, ser feito em "piloto automático". Pesquisando, encontrei o capítulo todo ou quase todo aqui: "“Deliberate action” improves teamwork, resilience, and safety — for free!":
"launched us into an exhaustive study of how to reduce these kinds of errors. After rejecting things like more training, and more supervisors, (Moi ici: No livro esta parte está mais desenvolvida e eu não pude deixar de recordar, como auditor, as milhares de respostas a pedidos de acção correctiva que são rapidamente despachadas com mais formação ou mais supervisão)  we realized the problem was that of engaging brain before acting.
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We decided that when operating a nuclear-powered submarine we wanted people to act deliberately, and we decided on “take deliberate action” as our mechanism. This meant that prior to any action, the operator paused and vocalized and gestured toward what he was about to do, and only after taking a deliberate pause would he execute the action. Our intent was to eliminate those “automatic” mistakes. Since the goal of “take deliberate action” was to introduce deliberateness in the mind of the operator, it didn’t matter whether anyone was around or not. Deliberate actions were not performed for the benefit of an observer or an inspector. They weren’t for show."
Por fim, o mesmo tipo de recepção que as checklists tiveram:
"I believe “take deliberate action” was the single most powerful mechanism that we implemented for reducing mistakes and making Santa Fe operationally excellent. It worked at the interface between man and machine: where petty officers were touching the valves, pumps, and switches that made the submarine and its weapons systems work. TAKE DELIBERATE ACTION is a mechanism for COMPETENCE.
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But selling the crew on this mechanism’s value was hard going.
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One problem in getting the crew to perform deliberately was the perception that deliberate action was for someone else’s (a supervisor’s, an inspector’s) benefit. Even though we continuously talked about how deliberate action was to prevent the individual from making silly mistakes, I would overhear sailors discussing deliberate action among themselves in this misperceived way."

O espírito de Mongo

Ontem, começámos o dia com o desafio da Bimbo. Hoje, via André Cruz, começamos com o espírito quase oposto, o espírito de Mongo.
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Bem vindos ao Estranhistão!!!
"A Tété, empresa agro-alimentar que actua no sector da produção e comercialização de produtos lácteos, acaba de lançar manteiga de vaca, cabra e ovelha.
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Recorrendo a processos artesanais, a empresa apresenta uma manteiga que incorpora sabores e qualidades de um produto tradicional, em que notas de flor de sal se conjugam com o sabor cremoso da manteiga.
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A empresa está actualmente a atravessar uma fase de crescimento. Fechou o primeiro trimestre com um aumento de vendas na ordem dos 10%."
Trabalhar para quem está fora da caixa, fugir do redemoinho anorexizador da competição pelo preço e pela quantidade, fugir dos oceanos tingidos de vermelho e, como David, seguir o caminho menos percorrido, o caminho da imperfeição dos mercados.
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É voltar aquele texto de Christensen em Novembro passado sobre o tipo de inovação e a criação de emprego.
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Trechos retirados de "Manteigas tradicionais dão trabalho a 100 pessoas".

sábado, junho 29, 2013

O maior espectáculo desportivo na Europa está de volta

Torço por Chris Froome e Mark Cavendish.
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As apostas estavam assim antes do começo "Tour de France odds 2013: Chris Froome of Team Sky the odds-on favorite".
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Pena o Lance não poder correr.

A lição dos nabateus

Descobri este texto "CRM – The Long View" há um bom par de meses e, volta e meia vem-me questionar. É uma espécie de lição dos nabateus, cuidado com a maximização.
"Our fearless leader began reciting this and that from a long list of exceptions that we found. Didn’t these people know anything about consumer compliance? Sheesh! As we moved on from these tedious topics the focust shifted to the financial stability of this 85 year old bank. This was in 1987 and things were still riding high in this part of the country. Yet, this bank was only generating like a 7-10% net profit – something like that. The examiner in charge had been apoplectic about this all week. “How could they stay in business when everyone else has got like 35% net profit margins?”
...
The 80 year old President, Chairman, CEO, COO (whatever) struck a match, applied it to the end of his cigar and began puffing until it was just right. He puffed, and puffed and puffed one last time. He then leaned over and blew smoke right in the face of the examiner in charge and said…
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Sonny, we’ve been in business for 85 years. What makes you think we won’t be in business another 85?
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This was the first underpinning in my business foundation. This bank provided it’s community a service they valued. Yes, they knew their customers – and these people were conservative with their money. They just wanted it to grow with as little risk as possible. This bank delivered. The next underpinning came the following year as we, the government, began closing bank after bank and then the S&L crisis hit too. This little bank in Kinderhook? Still going, with that really horrible return of 7-10% year after year after year."

Conformidade vs eficácia

"When it comes to processes, adherence to the process frequently becomes the objective, as opposed to achieving the objective that the process was put in place to achieve. The goal then becomes to avoid errors in the process, and when errors are made, additional overseers and inspectors are added. These overseers don't do anything to actually achieve the objective. They only identify when the process has gone bad after the fact."
Deu logo para recuar a 2006 e ao confronto entre conformidade e eficácia/resultados.
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Trecho retirado de "Turn the Ship Around" de David Marquet.

O desafio da Bimbo

Um artigo interessante "Bimbo baixa preços em Portugal para combater marcas próprias" no JdN de ontem. Primeiro qual é o problema da empresa:
"A Bimbo terá como uma das linhas estratégicas em Portugal, para combater as marcas próprias, a descida dos preços dos seus produtos.
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A garantia foi dada ao Negócios pelo director financeiro da multinacional mexicana, Francisco Avelar Casillas, como forma a evitar o ganho de quota de mercado que estes produtos estão a conquistar na Península Ibérica."
O problema  que a Bimbo sente, neste contexto particularmente recessivo na Península Ibérica, é o do crescimento das marcas próprias, o crescimento das marcas dos donos das prateleiras.
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Quem escolhe o que aparece nas prateleiras?
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O dono das prateleiras!
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E quem manda no dono das prateleiras?
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O agregado dos clientes do dono das prateleiras. O dono das prateleiras pode ter todo o interesse em ter nas prateleiras um certo produto por causa da margem que lhe dá ; contudo, se os clientes não lhe derem a rotação adequada, o dono das prateleiras tem de repensar a cena.
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O que é que a Bimbo vai fazer para combater as marcas próprias?
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Vai baixar os preços!
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Vai combater no terreno onde o dono das prateleiras tem vantagem...
"A subida de vendas das marcas próprias é evidente em várias áreas do sector alimentar e está a obrigar as empresas a reequacionar estratégias."Estamos a decrescer em termos de quotas de mercado por causa do crescimento das marcas brancas", assumiu Avelar Casillas"
O que é que é fundamental, o lucro ou a quota de mercado?
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Recordar o que acontece às curvas de isolucro, quando se entra no campeonato dos descontos para ganhar ou manter quotas de mercado, em "Pregarás o Evangelho do Valor". Houve um tempo em que a quota de mercado era uma condição necessária para ter lucro, a esse tempo chamo de "século XX" com a sua economia de Magnitogorsk ou Magnitograd, ou mesmo Metropolis. Só que hoje já existe mais gente fora da caixa "normal" do que dentro dela, hoje estamos a entranharmos-nos em Mongo, no Estranhistão.
"Em Portugal e Espanha, a Bimbo vai tentar cornbater o fenómeno [do crescimento das marcas brancas] de duas formas. "Uma das nossas estratégias é baixar os preços", avança Avelar Casillas. Mas como? "Através da criação de linhas de alto rendimento. (Moi ici: Ou seja através de produção em grandes quantidades e a um elevado ritmo, de um pequeno número de referências de baixo custo e baixo preço, para competir com as das marcas brancas num choque frontal) Outra das nossas apostas é a inovação. Acreditamos que só assim podemos combater as marcas brancas",explica o director financeiro do grupo Bimbo. Se os dois objectivos forem conseguidos, então Casillas acredita que terá uma consequência no público alvo. "Se tivermos um produto competitivo com as marcas próprias, as pessoas vão-nos escolher porque a nossa qualidade é muito melhor", sintetizou."
Esta última afirmação parece-me, com todo o respeito, algo ingénua. O palato do cliente que compra o produto mais barato está suficientemente trabalhado, é suficientemente exigente, para distinguir uma eventual diferença na qualidade? Se o cliente não distinguir essa diferença, ela até pode existir, admitamos de barato que sim, mas se ele não a distinguir, ou se ele der preferência ao factor preço mais baixo, a última palavra continua a ser a do dono das prateleiras. Aí, a forma de chegar às prateleiras seria "subornando" o dono das prateleiras dando-lhe condições muito boas, tão boas que ele não conseguiria melhor com os produtores das suas marcas brancas. Aí, a Bimbo estará a correr desalmadamente numa passadeira de ginásio, correrá, correrá mas não sairá do sítio. Terá quota mas não terá lucro decente. Resultado, anorexia.
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Pessoalmente, ouso especular, eu que não conheço nada do sector, que faria de outra forma. Não me preocuparia com a quota de mercado ponto. Olharia seriamente para o panorama competitivo e perguntaria internamente com o máximo de honestidade e clareza: Onde podemos fazer a diferença? Onde podemos ditar as regras? Onde podemos ter margens interessantes? Onde podemos continuar a crescer com margens que remunerem condignamente o negócio?
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Os mexicanos compraram o negócio da Bimbo à multinacional Sara Lee há cerca de 2 anos... por isso, aposto que este tipo de análise não tem tradição na empresa. Multinacional americana tem no seu ADN a vantagem competitiva da escala e não está habituada a competir em Mongo.
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Convidava os decisores da Bimbo a visitarem as prateleiras dos pontos de venda do azeite, do sal, das bolachas, das conservas, dos congelados, dos iogurtes... e a apreciarem a diferença.
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Convidava os decisores da Bimbo a identificarem os problemas e desafios de quem vive em Mongo, convidava-os a estudarem a explosão de gostos, a ligação à saúde, a identificarem algumas tribos que poderão ser seduzidas para o consumo de variedades mais caras, porque diferentes.
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Trabalhar em simultâneo nos dois extremos do mercado pode facilmente degenerar em stuck-in-the-middle... os argumentos da venda da inovação e do preço são muito diferentes... e vão ter os mesmos comerciais? Não? E como vão distribuir esses custos extra? E a equipa de gestão conseguirá às segundas, terças e quartas pensar em volume, para às quintas, sextas e sábados pensar em requinte e diferenciação?

Outra proposta de canvas

Via @pauloperes cheguei a mais esta proposta de canvas "Introducing the Happy Startup Canvas".
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Como não concordei com a ordem original propus umas alterações:
O autor escreve:
"To help with this use the value proposition designer (also by Osterwalder)." (Moi ici: Ver versão mais recente)
Será que faz sentido?
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BTW, a propósito da sequência que proponho:
"A (2)problem looks like a job that your (1)customer needs to get done at a specific time, in a specific situation and in the proper context. The problem looks like the important unmet needs your customer uses to measure how well the job gets done. It doesn’t get much simpler than that." 
Trecho retirado daqui.