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domingo, fevereiro 06, 2022

Fico dividido

Ontem no Jornal de Notícias li este artigo "Falta de maioria já não desculpa: indústria exige reformas a Costa" e fiquei dividido

Primeiro, os sublinhados que fiz:

"Governo não tem desculpa para adiar reformas estruturais. Querem também rapidez e eficácia no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e no Portugal 2030. [Moi ici: Nota 1]

...

o país reúne agora condições para encetar as reformas estruturais de que precisa e que os empresários diariamente e justamente reclamam." [Moi ici: O país precisa de reformas estruturais para ser atractivo para o investimento directo estrangeiro. Os empresários nacionais fariam melhor em concentrarem-se no que podem fazer por eles próprios para subirem na escala de valor. Subir na escala de valor é um trabalho interno. Boleias do exterior normalmente traduzem-se em descontos no preço final, quando o que precisamos é de subir os preços]

Considera "urgente uma estratégia clara e integrada, com medidas concretas para recuperar a atividade económica, melhorar a competitividade e relançar e reorientar o investimento". [Moi ici: Fico triste com esta mentalidade, com este locus de controlo no exterior. A competitividade para ser melhorada precisa de um empurrão do governo? Precisa de orientações exteriores. Come on!!! E volto a Erik Reinert e à diferença entre trabalhar o numerador ou o denominador. Todo o discurso dos representantes dos empresários assenta em aumentar a competitividade com base na redução do denominador, ou seja, à custa da redução dos custos de contexto]

...

Entre várias outras medidas, diz ser "absolutamente crucial" apoiar "a recapitalização das empresas e a requalificação dos ativos" chama a atenção para o envelhecimento da população e para a "rigidez laboral". [Moi ici: De que requalificação dos activos estarão a falar? Não consigo imaginar os representantes dos empresários alemães, nos anos 70 a protestarem com o governo federal ou estadual, porque não conseguiam arranjar pessoal para os sectores tradicionais?]

...

As indústrias de base florestal estão disponíveis para colaborar e continuar a aumentar as exportações. Não  acabem com a nossa floresta" , apelou. [Moi ici: palavras de Vitor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal]

...

"A carga fiscal sobre as nossas empresas penaliza substancialmente a competitividade externa" [Moi ici: Primeiro, a competitividade em função do denominador. Segundo, falar em carga fiscal como penalizadora da competitividade externa quando o sector vive um tempo de muito, muito, muito trabalho... não abona em favor do opinador] e também "os custos de contexto, a nivel da energia, fiscalidade ou justiça, são altamente penalizadores" [Moi ici: Só conversa sobre custos...] [Moi ici: palavras de Paulo Gonçalves, director de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos

...

E o PS "vai certamente reforçar as medidas já delineadas para a recuperação economica", desde logo no PRR e no PT 2030, que "serão um motor de arranque para as empresas" "Os setores do textil e do vestuário precisam desta alavanca para se reposicionarem no mercado internacional"", [Moi ici: Ver Nota 1] [Moi ici: palavras de César Araujo, presidente da Associação Nacional das Industrias de Vestuário e Confecção]

Nota 1: À atenção dos empresários que põem esperança no exterior, percebam a mensagem desta figura:

Por que fico dividido? Por um lado esta conversa em que o aumento da produtividade é associado à redução de custos,  e depende do trabalho dos governos de turno. 

Por outro lado, imposto é roubo.

Por que é que os representantes empresariais olham para os governos como super heróis capazes de fazerem o trabalho que só cada empresário pode fazer, subir na escala de valor?

Back to Cavaco...



quinta-feira, janeiro 20, 2022

Criar as condições para que as empresas do futuro surjam

A falta de trabalhadores é também um sinal de que muitas empresas terão de fechar. Terão de fechar porque não geram a rentabilidade suficiente para serem atraentes.

O mesmo que aconteceu na Alemanha e na França dos anos 70 do século passado, quando as suas fábricas nos sectores tradicionais fecharam para abrir em Portugal e noutros países mais baratos.

Anotei isto na semana passada. E agora recordo alguém que numa fábrica de calçado há cerca 4 anos me dizia: “Dentro de 10 anos mais de metade das pessoas que trabalham aqui não vão cá estar, vão estar reformadas. Quem as vai substituir?”

Ontem li "Valérius afasta para ¡á produção da Dielmar em Marrocos":

"Anotícia surgiu na semana passada no Jornal Têxtil: a Valérius, o grupo que quer pegar na Dielmar – empresa do mesmo sector que se encontra em processo de insolvência – admitia a deslocalização da produção da empresa de Castelo Branco para Marrocos, ficando em Portugal a parte do design. Mas em conversa com o Jornal Económico, a CEO da Valérius, Patrícia Ferreira, diz que a questão não se põe neste momento, apenas se colocará em dez a 15 anos.

...

“Segundo avançam todos os estudos sectoriais sobre o tema, o têxtil nacional vai confrontar-se com a evidência de “em dez, 15 anos”, deixar de ter mão-de-obra especializada disponível."

Ontem também tive oportunidade de ler a entrevista de Teixeira dos Santos no JdN do dia 17:

"Os salários são uma questão política importante, delicada, e por isso têm estado presentes no debate político mais recente. Mas são também uma questão essencialmente económica e não podemos retirar a economia do tema. É importante não ignorar que tem de haver um alinhamento muito grande entre a evolução dos salários e da produtividade. Isto em termos de salários reais. Em termos de salários nominais, alinhar o salário nominal com a evolução da inflação mais a produtividade. Ir para além disto é comprometer a competitividade das empresas."

Ao ler isto, recordei Avelino de Jesus e pensei: "Deve ter sorrido"

Por fim, recordei Jorge Marrão:

"Se nós eliminarmos a empresa mais improdutiva, a produtividade do sector sobe muitíssimo"

Tudo relacionado. Sem dramas, à la finlandesa, devíamos evitar os presentes envenenados e criar as condições para que as empresas do futuro surgissem:

No JdN de hoje a coluna de Nogueira Leite é sobre transições energéticas mal preparadas e suas consequências. Também aqui estamos a cozinhar uma transição do perfil da economia mal amanhada. Forçamos a velocidade de encerramento das empresas do perfil antigo, mas ao mesmo tempo não criamos as condições para que as empresas do perfil novo se instalem em quantidade suficiente.

domingo, janeiro 16, 2022

Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas

Na passada sexta-feira fixei-me na mensagem desta imagem na capa do JdN:


No interior do jornal sublinhei esta frase do ministro da Economia:
"Não acreditamos que uma baixa de impostos pura e simplesmente ponha por magia a economia a crescer."

De que fala o ministro quando fala em competitividade? Recordo um postal publicado em Novembro último, com base num texto de Eric Reinert, "Competitividade, absurdo, lerolero e contranatura".

Reinert refere que há quem use a palavra competitividade para significar empresas mais competitivas pelo preço, e há quem use a palavra competitividade para significar empresas mais competitivas por causa do valor criado. Foquemos a nossa atenção naquela que aqui pregamos com o Evangelho do Valor, a segunda.

Queremos que aumente a competitividade que permite o aumento dos salários por causa do aumento do valor percepcionado pelos clientes. Ou seja, outra forma de dizer que queremos um aumento da produtividade à custa do valor criado e não da redução de custos (foco no numerador e não no denominador).

O que aprendemos com os finlandeses:
"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."
Mas, e como isto é profundo:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." Por favor voltar a trás e reler esta última afirmação.
E o grande finale:
"As creative destruction is shown to be an important element of economic growth, there is definitely a case for public policy to support this process, or at least avoid disturbing it without good reason. Competition in product markets is important. Subsidies, on the other hand, may insulate low productivity plants and firms from healthy market selection, and curb incentives for improving their productivity performance. Business failures, plant shutdowns and layoffs are the unavoidable byproducts of economic development."

Ou seja, para que a produtividade agregada do país cresça precisamos de empresas novas. Quem as vai criar? Quem tem o know-how para trabalhar nas zonas mais altas da escala de valor? Entra Nassim Taleb com:

"Systems don’t learn because people learn individually – that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game"[Moi ici: Isto é duro! Pensem nos Saraivas deste mundo, ou nos Fóruns para a Competitividade. Come on!]

Aprendam a receita irlandesa:

"Gostei de ouvir muitas das coisas que Alexandre Relvas disse, não todas. No entanto, saltou-me a tampa quando Alexandre Relvas disse que os empresários portugueses tinham muito a aprender com os empresários irlandeses.

Não acredito! - Pensei. Ele pensa que o salto de produtividade e PIB irlandês foi feito à custa dos empresários irlandeses? Come on! Esta gente não analisa os números?

Enquanto conduzia debaixo de chuva pensava em como mostrar o quão longe da realidade está o pensamento de Alexandre Relvas. Onde posso ir buscar tais números?

Lembrei-me de Hausmann e do seu trabalho no MIT acerca dos product spaces. Já em casa, depois de comer algo fui ao site do MIT (agora está em Harvard) e analisei a evolução do perfil de exportações da Irlanda e de Portugal entre 1995 e 2018. Entretanto, já hoje de manhã durante a caminhada matinal recordei-me deste artigo "A Tale of Two Clusters: The Evolution of Ireland’s Economic Complexity since 1995". 

Reparem nesta comparação entre as empresas de capital estrangeiro e as empresas de capital irlandês a operar na Irlanda (número de trabalhadores, facturação e número de empresas por sector)"

Portanto, para aumentar a competitividade/produtividade como eu defendo (através do numerador), temos de captar investimento estrangeiro. Agora reparemos no presente envenenado que queremos que os estrangeiros comam: No international Tax Competitiveness Index, quanto ao "Corporate Tax Rank" e ao "Cross-Border Tax Rules Rank" vêmos coisas que não lembram ao careca ... Portugal (35º lugar) é menos atractivo que a França (34º lugar) para as empresas. Quem diria!!!


Conclusão: Baixar o IRC pode não ser suficiente, mas é certamente necessário. Temos de trabalhar para melhorar o posicionamento no "Corporate Tax Rank". A mexida no IRC não é para melhorar a competitividade de empresas que venham para cá, mas é para tornar o país atractivo para os decisores dessas empresas que racionalmente procuram o melhor para elas.

Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas.

terça-feira, dezembro 07, 2021

O presente envenenado

Ontem, ao divulgar o postal "Emprego, preços e desglobalização" nas redes sociais acrescentei o comentário: "Um presente envenenado".

Esta figura descreve o que poderia ser um ciclo virtuoso que poderia elevar os padrões de vida em Portugal:

Com o aumento da desglobalização, aumenta a procura por produtos fabricados em Portugal, o que significa mais procura de mão de obra, o que significa mais emprego. Porque a mão de obra é escassa (demografia, salários, educação, escolaridade, emigração …) têm de se pagar melhores salários. Ora, produtos básicos não suportam de forma sustentável salários elevados. A competitividade baseada no custo não teria futuro. Assim, as empresas teriam de trabalhar o nuimerador da equação da produtividade. Num mundo anterior teríamos montadas as condições para uma eventual destruição criativa. As empresas incapazes de pagar melhores salários fechariam e o capital, o know-how, e as pessoas seriam empregues em actividades com maior valor acrescentado.

Além disto, podia-se fazer batota e aliciar capital, know-how e empreendedorismo externo a entrar e acelerar o ciclo virtuoso:


Contudo, no mundo actual, basta ver o discurso dos empresários têxteis ou este exemplo da Construção no jornal i de ontem:
"Sindicato diz que setor precisa de 80 mil trabalhadores e face à escassez da mão-de-obra há quem recorra a trabalhadores estrangeiros que chegam ao país através de redes ilegais.
Estes trabalhadores recebem metade do salário ou nem recebem nada."[Moi ici: E vocês perguntam e não é ilegal? Como é possível? É o modelo dos trabalhadores agrícolas de Odemira. Não esquecer as bofetadas!!!]
Assim, o que teremos será este ciclo, o presente envenenado:



Voltar a ser a china da Europa, como antes de haver China. Como tantas vezes repete Seth Godin, o pior que pode acontecer a quem está numa race to the bottom é ... ganhá-la.

sábado, novembro 27, 2021

Competitividade, absurdo, lerolero e contranatura

"The term `competitiveness' is also a product of end-of-history economics, coming into fashion in the early 1990s. At first the term was highly contested. `National competitiveness', wrote Robert Reich in 1990, `is one of those rare terms of public discourse to have gone directly from obscurity to meaninglessness without any intervening period of coherence.' Later Reich, a professor at Harvard's John F. Kennedy School of Government, was to become US Secretary of Labor under President Bill Clinton. Here he championed the idea that the United States should move into high-value sectors of the economy (a view consistent with our quality index of economic activities). In a paper published a couple of years later, MIT's Paul Krugman twice referred to Reich as a `pop internationalist' and somewhat unacademically condemned his Harvard colleague's notion of `high-value sectors' as `a silly concept'. But in the same paper Krugman also had a go at the term `competitiveness': `if we can teach undergrads to wince when they hear someone talk about "competitiveness", we will have done our nation a great service'. To Krugman the key insights were still those of David Ricardo.

...

Competitiveness may be defined as the degree to which, under open market conditions, a country can produce goods and services that meet the test of foreign competition while simultaneously maintaining and expanding domestic real income.

By this definition, competitiveness can be seen as a process where real wages and national income are jacked up by a system of imperfect competition, producing a `rent' to the nation. This is probably the reason why neo-classical economists opposed the term. This perspective, however, is compatible with our Other Canon view of how the rich countries got rich. Traditionally, when this development was not possible under market conditions, tariffs were established to protect the areas that experienced the most technological change, while competition was maintained. The more backward the nation, the higher the tariffs had to be in order to produce the desired effects.

...

Competitiveness, then, denotes a process that makes people and nations richer by increasing real wages and income. And yet, while visiting Uganda a few years ago, I experienced at first-hand how the term was used in order to argue for the opposite, for lower wages. The textile plants attracted to Uganda by the African Growth and Opportunity Act (AGOA) - a maquila-type set-up between the USA and Africa - could no longer compete internationally, and President Museveni argued that in order for Uganda to achieve 'competitiveness', workers' wages had to come down.

So competitiveness is a wonderfully flexible term, fitting a confused age of muddy thoughts and a need to explain away the utter failure of key economic theories. It can be used to describe a mechanism which makes everyone richer (the OECD definition), but it can also be used as a term describing the opposite, to convince workers that they must accept more poverty (Museveni's definition). The sad thing in Europe is that the term competitiveness is increasingly used in the Ugandan sense, coupled with `labour market flexibility' (which invariable means flexibility downwards). In order to be `competitive' we must lower our standards of living."

Em Portugal estamos com outra via, a via do absurdo.


Ou seja, "Governo volta a dar apoio aos patrões para compensar subida do salário mínimo". Vivemos no mundo do lerolero no poder

Pensam que os saltos de produtividade vão ser obtidos pelo grosso das empresas portuguesas? Num mundo de fronteiras abertas? Pensem outra vez:


Imagem retirada de artigo "A Tale of Two Clusters: The Evolution of Ireland’s Economic Complexity since 1995". Reparem nesta comparação entre as empresas de capital estrangeiro e as empresas de capital irlandês a operar na Irlanda (número de trabalhadores, facturação e número de empresas por sector). Imagem publicada inicialmente no blogue aqui.

Quem nasceu, quem se moldou a competir pelo denominador, dificilmente abraça o mindset de competir pelo numerador. Não é impossível, mas é contranatura. 

Trechos retirados de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert   

domingo, novembro 21, 2021

"também eu sou vítima de ideologias" (parte II)

Parte I.

O que escrevi aqui no blogue em Novembro de 2009:

"Há anos, fiz uns trabalhos para empresas produtoras de materiais para a construção situadas no centro do país. Assim que abriu a A24 abriu-se, naturalmente um novo campo de combate, um novo mercado... Vila real e Chaves. Como os produtos de que estamos a falar eram/são commodities o efeito da escala tornava as pequenas fábricas dessa zona presas fáceis para os predadores habituados a mercados mais competitivos e com uma dimensão várias vezes superior.

Portanto, os autarcas que se regozijam com a abertura de auto-estradas em Trás-os-montes e Alto Douro são como os jogadores de bilhar amador, só vêem a próxima jogada, não vêem as consequências das jogadas seguintes... mais desemprego na indústria local e mais desertificação."

O que escreve Reinert?

"One key feature of technological change during the last century has been the decrease of this transport resistance - sometimes called `the death of distance'. This has clearly made catching up - getting the national economies into increasing return activities - in peripheral countries more difficult."

Na semana passada escrevi em "Cínico":

"Quando me vierem falar de inovação e Indústria 4.0, por favor, foquem-se numa coisa apenas: a margem cresce, sim ou não? E se cresce, como ou porque cresce? E claro, quanto cresce?

...

Há aqui alguma coisa que ajude a aumentar preços?"

O que escreve Reinert?

"Innovations are generally divided into two categories. Microsoft products provide product innovations, produced under huge increasing returns, huge barriers to entry, huge profits, and an ability to pay very high wages. This same innovation hits the hotel industry in Venice as a process innovation, affecting how people book hotels. More perfect information available on the net increases price competition among hotels in Venice and puts pressure on profit margins and the ability to pay high wages. The same process innovation in the airline industry produces similar results. While IT increases wages around Microsoft's headquarters, the same technology puts downward pressures on the wages of air hostesses in Europe.[Moi ici: É a diferença entre trabalhar o numerador ou o denominador, seguir o Evangelho do Valor. É a diferença entre a treta e a realidade]

Although it is well known in innovation economics that product innovations and process innovations often have different effects on employment, not enough emphasis has been given to the fact that innovations may actually reduce value added in certain industries and geographic areas."


domingo, outubro 31, 2021

Mea culpa

O postal de ontem, "Subam os preços!", gerou alguma troca de comentários no Facebook. A certa altura prometi este postal com alguma dose de "mea-culpa".

Existe a Microeconomia e a Macroeconomia.

O meu mundo é o mundo da Micreconomia, é nele que trabalho a apoiar empresas e, ao desenvolver esse trabalho, quase sempre visto a camisola e sinto-me parte da equipa. Nutro simpatia por quem não se encosta, por quem não opta pelo mais fácil e luta pela sua independência. Como a larga maioria dos licenciados e doutorados não empreende, quem está à frente destas empresas é, normalmente, alguém que deixou os estudos cedo e começou a trabalhar e algures avançou para a criação de uma empresa. 

O meu mundo é, muitas vezes, o mundo dos sectores tradicionais. Um mundo sistematicamente condenado à morte pela Academia, pelos jornalistas e comentadores económicos, mas que teima em resistir. PMEs que segundo as sebentas das universidades deviam estar mortas, mas que continuam vivas e a maioria não são zombies, para ser zombie é preciso ter acesso aos corredores e carpetes do poder. Julgo que a Academia falha nas suas previsões porque parte do principio que para ser competitivo há que ser produtivo, ideia que vem da economia do século XX. No entanto, porque existe a concorrência imperfeita, é possível ser competitivo, ainda que pouco produtivo.

Porque acredito na concorrência imperfeita, porque estou solidário com esta raça de gente, sempre aqui combati os que nos media dizem que estas empresas "são de segunda".

No entanto, nos últimos anos alguns factores têm-se conjugado para aumentar a minha preocupação acerca das PMEs:

  • o aumento do salário mínimo 
  • a pressão demográfica
  • a sereia da emigração

Neste postal de Dezembro de 2018 escrevi sobre o uso do salário mínimo para matar as empresas competitivas, mas não produtivas. Quanto mais PMEs competitivas mas não produtivas morrerem mais cresce a produtividade agregada do país. E foi no final de 2018 que comecei a ler nos media tradicionais uma versão diferente do jogo do gato e do rato, o jogo da produtividade e salários. Até aí o canon era o citado pelo então ministro Teixeira dos Santos:

"Temos de melhorar a produtividade do trabalho (com formação, inovações, melhoria na gestão), mas também a disciplina salarial com a fixação dos salários para que acompanhe a produtividade”, resumiu o titular da pasta das Finanças."(Junho de 2010)

A partir de 2018, comecei a ler, sobretudo via Avelino de Jesus, uma outra versão:

"A melhoria da produtividade (de que depende o crescimento da economia) está muito dependente da melhoria dos salários, pelo impulso que imprimem à eliminação das empresas e sectores menos produtivos e ao triunfo dos mais eficientes. Nas economias dinâmicas são os salários que empurram a produtividade e não o contrário como - com demasiada frequência - se ouve dizer.

...

A ideia de que há um bolo que se produz e que depois se distribui (sendo que o salário está rigidamente limitado pelo tamanho do bolo produzido) pulula com vigor esmagador pela economia vulgar; é a alquimia que se apresenta para justificar a moderação das exigências salariais.

Mas, na verdade, o salário e o produto mantêm uma relação dinâmica. O salário determina a formação do produto, tanto na sua dimensão como na estrutura. A pressão salarial tem importantes e virtuosos efeitos sobre a produtividade e o crescimento, criando estímulos imprescindíveis para os empresários efectuarem as escolhas mais virtuosas sobre as tecnologias e os sectores de investimento."

Isto na altura senti como um virar da maré. Por isso, na passada sexta-feira quando ouvi as palavras do presidente da CIP sobre salários e produtividade na rádio Observador confesso que sorri com a ingenuidade dele perante esta corrente. Ainda está em 2010 e com Teixeira dos Santos. Será que não se apercebeu da nova fase?

Claro que a teoria de Avelino de Jesus tem um ponto fraco: "nas economias dinâmicas". A economia portuguesa não é dinâmica. Lembram-se da chapada? E volto ao pensamento sistémico e ao arquétipo da "corrida ao armamento". Aumenta-se o salário mínimo? Recorre-se à contratação de serviços ao Bangladesh!!! Viva Odemira.

Por um lado, esta pressão do salário mínimo e, por outro lado, a crescente pressão emigratória em busca de melhores salários (vejo-a todas as semanas num local de pleno emprego como é Felgueiras. Agora até a França está com"labour supply bottlenecks" o que é um sorvedouro para quem tem familiares por lá), tornam o desafio do aumento da produtividade cada vez mais importante e urgente. O impacte da Macroeconomia.

No entanto, o desafio do aumento da produtividade não passa pelas lições das sebentas de Economia, baseadas no século XX, como tão bem escreveu Esko Kilpi em 2015 e registei aqui. Por isso, não concordei com os economistas do encontro na Junqueira, pregados à sebenta do século XX. Aumentar a produtividade com a receita do século XX é possível? Sim, é seguir a lição irlandesa para captar investimento estrangeiro e queimar etapas, porque "os macacos não voam" e não têm capital.

Não subir preços é acelerar o encerramento das empresas dos sectores tradicionais. Agora trata-se de aproveitar a conjuntura, mas é preciso trabalhar para os aumentar de forma estrutural, sob pena de não conseguir contratar ninguém daqui a 10 anos, a não ser operários bangladeshis ao serviço de empresa bangladeshi a prestar serviço numa empresa portuguesa.

Entretanto, Reinert veio chamar-me a atenção para isto tudo de uma forma pragmática:

"As private citizens, economists realize that the choice of economic activity will largely determine the living standard of their children. On an international level, the same economists are unable to sustain that same opinion because their toolbox is pitched at such a high level of abstraction that virtually no tools are available to distinguish qualitatively between economic activities. At this level, standard economic theory `proves' that an imaginary nation of shoeshine boys and people washing dishes will achieve the same wealth as a nation consisting of lawyers and stockbrokers."

Não precisamos de fazer destas PMEs párias a abater, como tantas vezes académicos sem skin-in-the-game proclamam, mas temos de perceber que a produtividade vai ser fundamental para a sobrevivência. Não por causa do mercado, mas dos governos, da demografia e da emigração.

Trecho retirado de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert.

sexta-feira, outubro 08, 2021

Como tornar Portugal mais competitivo (parte II)

"Com este modelo económico, suportado no turismo, restauração, comércio e serviços de baixo valor acrescentado e o modelo político suportado no eleitorado crescente de funcionários públicos e nas PME de sobrevivência, o caminho para nos tornarmos, a muito curto prazo, o país mais pobre da Europa está traçado. 

E, infelizmente, de forma irreversivel."

Na frase acima só não estou de acordo com o último parágrafo. Nada é irreversível! Como diz Joaquim Aguiar: numa democracia o povo tem sempre razão, mesmo quando não a tem. Assim, quando o povo estiver maduro a revolução faz-se. O único ponto é que o povo pode demorar muito tempo a amadurecer, como tão bem demonstra o caso da Venezuela.

"A falácia de que as PME inovam de modo significativo, caiu, finalmente, por terra. 

As PME não tèm recursos financeiros, tecnológicos e de conhecimento, para inovarem, a não ser que se classifique como inovação a produção dum novo rótulo!

Quando defendo a urgencia dum processo robusto de fusões e aquisições, para aumentarmos o numero de empresas, de bens transacionaveis, com uma vertente exportadora significativa, que facturem mais de 50 milhões de euros, por ano, o rationale é simples:"

Nos trechos acima só não estou de acordo com a crença nas fusões e aquisições. Se olharmos para o canvas de Alex Osterwalder:


Após uma fusão ou aquisição, a empresa resultante, maior, não pode competir da mesma forma e servir os mesmos clientes-alvo. É preciso seduzir outro tipo de clientes-alvo, é preciso apresentar uma proposta de valor diferente, é preciso frequentar outros canais e desenvolver outro tipo de relacionamentos. E onde estará o know-how para fazer essa transição? 

E recordo toda uma série de temas deste blogue, basta recordar o recente "Como tornar Portugal mais competitivo".



domingo, setembro 26, 2021

Conversas, chapadas, "o problema é do governo" e o problema do locus de controlo

Na sexta-feira passada, a trabalhar com uma empresa de calçado, comentei que apreciei a análise do contexto interno e externo que fizeram (requisito da ISO 9001). Em vez do habitual extenso rosário de banalidades concentraram-se em poucos tópicos, mas bons.

Depois do elogio disse algo como: Conhece aquela frase, no longo prazo estamos todos mortos?

Talvez ainda não seja um problema para a empresa agora, mas de onde virão os trabalhadores que vão operar esta fábrica daqui a 10 anos?

Anuíram com a cabeça, falaram na falta de subcontratados, falaram na remota possibilidade de importação de gáspeas da Índia ou do Brasil.

Este é um tema que vagueia pela minha mente há algum tempo: 

  • Por que é que um jovem no futuro há-de querer ir trabalhar para uma fábrica de sapatos?
  • A pressão do salário mínimo vai ser cada vez maior
  • Qual a rentabilidade que é possível retirar do negócio dos sapatos?
  • Como competir pelos futuros trabalhadores?
Claro que também convém não esquecer as chapadas que se podem apanhar. Se lerem este link pensem no que se esconde de "esquisito" nas Odemiras de Portugal.

Há uma técnica de busca de soluções chamada programação linear, onde diferentes condicionantes são representadas por rectas que vão limitando o campo de escolha (cada recta representa uma limitação diferente):

Uma empresa de calçado para atrair um jovem tem de considerar:
  • o aumento do salário mínimo
  • a falta de gente para trabalhar (por exemplo, na semana passada numa empresa cheia de trabalho contaram-me que quatro, sim quatro trabalhadores tinham-se despedido para ir trabalhar para a Suiça)
  • a falta de atracção por trabalhar numa fábrica para um jovem, ainda para mais agora que é obrigado a estudar até ao 12º ano
  • a crescente competição de concorrentes em países mais baratos e também próximos do centro da Europa (recordar a Turquia e a Albânia, por exemplo) 
Algo que reduz a velocidade a que o problema para as empresas de calçado se manifesta é a incapacidade de Portugal competir com a Europa de Leste na atracção de empresas de produtividade elevada. Se não fosse esse travão, as empresas de calçado portuguesas estariam perante o mesmo problema que as empresas de calçado alemãs nos anos 60 e 70, obrigadas a fechar ou a deslocalizar-se para um Portugal qualquer por ficarem incapazes de pagar os salários que a concorrência de outros sectores mais produtivos conseguia pagar.

Agora vejamos o que é que algumas empresas de calçado pensam sobre o tema, a partir deste artigo "Fábricas de calçado querem contratar e não arranjam mão-de-obra": 
"Há uma série de empresas a precisar de contratar, para dar resposta aos clientes, mas sem sucesso. Luís Onofre, presidente da associação do calçado, pede ao governo que crie apoios à deslocalização, que fomente a transferência de famílias para distritos onde haja falta de mão-de-obra. [Moi ici: Portanto, o problema é para ser minimizado pelos contribuintes]
...
Por exemplo, sugerimos também que pudéssemos ter uma mão solidária com os refugiados, dando-lhes emprego nas nossas fábricas, mediante algum controlo obviamente" [Moi ici: Truque de Odemira ou pagar o salário mínimo? Se for o truque, é uma race to the bottom, se for o salário mínimo, só resulta enquanto o negócio gerar rendimento para o pagar. Também podem trazer a Ásia para a Europa à custas das bofetadas lá de cima, veja o exemplo italiano]
...
[Moi ici: Agora reparem na argumentação que se segue, faz-me recuar aos delírios de argumentação de um presidente da câmara de Guimarães em 2008] "a indústria só consegue ser atrativa através do salário, mas compete com países onde o custo salarial é metade, ou menos". Para o empresário, compete ao governo encontrar uma solução, mas sempre vai dizendo que "tem que haver uma forma de subsidiar os setores tradicionais, que empregam muita gente, já que ajudam a diminuir os níveis de desemprego do país"". [Moi ici: Oh boy!!! Portanto o problema é do governo ... Reparar, o artigo começa com a dinâmica de crescimento, com a dinâmica de encomendas e retoma e, mesmo assim, é preciso subsidiar. O mindset é que o problema não é de cada empresário, ou das associações do sector ... é do governo. E depois o remate final à presidente da câmara de Guimarães em 2008: Por que o desemprego é alto é preciso subsidiar a criação de emprego em empresas que querem empregar. BTW, oficialmente o desemprego está baixo!

Este artigo exemplifica bem o tema que abordei várias vezes esta semana aqui no blogue. Por exemplo em ""Como serão as conversas que decorrem nas empresas?"":

Estamos com conversas de empresas no quadrante de elevada competitividade, mas baixa produtividade.

A cultura portuguesa é uma cultura que evita o choque, que prefere esconder as verdades nuas e cruas, que assume a esperança como a principal estratégia. Trabalhar no quadrante de elevada competitividade, mas baixa produtividade é trabalhar sem autonomia estratégica, as empresas sobrevivem mais ou menos tempo em função da velocidade de aumento do salário mínimo, em função da velocidade da hemorragia demográfica, e da competição de outros sectores.

Se a nossa economia estivesse saudável e fosse capaz de atrair empresas produtivas, o destino das empresas de calçado no quadrante de elevada competitividade, mas baixa produtividade, seria o inevitável encerramento a curto prazo. As conversas dentro destas empresas devia ser sobre o que podem fazer para contrariar o destino normal e saltar para o quadrante da elevada competitividade e elevada produtividade

Ah! O velho problema do locus de controlo... uma doença tuga.

sexta-feira, setembro 24, 2021

"Como serão as conversas que decorrem nas empresas?"

Primeiro comecei por ler:
"The important point in these otherwise commonplace changes is that organizing keeps being reaccomplished. The organization keeps drifting toward disorganization and organizing keeps rebuilding it."
É tão fácil esquecermos isto... somos iludidos a acreditar numa realidade estável quando ... a estabilidade é uma ilusão, mesmo!

Depois recordei o Argus da Grécia Antiga e as empresas que não são, vão sendo! Tal como Ortega Y Gasset escreveu: não somos, vamos sendo. Só somos quando morremos.

Há dias escrevi "Como tornar Portugal mais competitivo?" onde usei esta figura:
Vamos admitir que as empresas não competitivas não têm futuro. Por isso, concentremo-nos nas empresas competitivas e analisemos a questão da produtividade.

Competitividade associada a baixa produtividade significa a sobrevivência das organizações no curto-prazo, mas a incapacidade de subir na escala de valor e, por exemplo, acompanhar o aumento do salário mínimo, ou ser capaz de atraír novos trabalhadores. 

Competitividade associada a alta produtividade significa subida na escala de valor.

Também esta semana escrevi "As organizações são as conversas que decorrem dentro delas". Como serão as conversas que decorrem nas empresas que se revêem nas palavras do presidente da CIP? Parece que a produtividade só pode crescer se o governo actuar. Talvez por isso, aprendi há muitos anos com Maliranta e o exemplo da Finlândia. A produtividade do agregado cresce sobretudo porque as empresas menos produtivas desaparecem, e não porque façam um esforço de melhoria. Recordar o exemplo para Jorge Marrão das 3 empresas e do impacte da que morre no agregado.

Por que é que Maliranta infelizmente tem razão? Por que a maioria das empresas, pelo menos a nível de gestão, tem as conversas alinhadas com a lista do presidente da CIP. E mesmo quando a vida lhes corre bem optam pelo satisficing, têm medo da instabilidade do desassossego, ou têm lacunas que não conseguem colmatar. Vender um produto a 10 com base no preço e nas especificações, não é o mesmo que vender um produto a 20 com base no potencial de valor que pode ajudar o cliente a criar. E esse produto a 20 e os seus clientes não são os mesmos que os que compram a 10, nem compram nas mesmas prateleiras.

Sem mudar as conversas não se começa contrariar Maliranta.

Mas então os impostos são baixos? Não!!! São altos, basta olhar para isto:
No entanto, acredito que não é por causa da incapacidade de acumular capital que a produtividade não cresce, ou que essa seja a principal restrição.

Trecho retirado de "Managing the Unexpected - Resilient Performance in an Age of Uncertainty" de Karl E. Weick e Kathleen M. Sutcliffe.

quarta-feira, setembro 22, 2021

Como tornar Portugal mais competitivo?

Neste artigo, "Como tornar Portugal mais competitivo?", podem encontrar uma longa lista de propostas de acções, quase todas da responsabilidade do governo de turno, para tornar Portugal mais competitivo.

Atenção eu sou empresário, não tenho rede nem contactos políticos.

Reparem nas propostas do presidente da CIP:

"- Lançar urgentemente soluções, há muito prometidas, que promovam a capitalização das empresas e facilitem o acesso ao financiamento.  [Moi ici: Não me pronuncio porque isto pode ter uma interpretação benéfica, como ser um pedido de mais facilidade no acesso a crédito]

- Inverter a tendência de aumento da carga fiscal e corrigir os aspetos em que o sistema fiscal português se mostra mais desfavorável, tornando-o mais competitivo, mais previsível e simples.  [Moi ici: Lerolero para adormecer boi! A diminuição da carga fiscal é boa para aumentar lucros que podem ser canalizados para investimento. Aproveitar dominuição da carga fiscal para ganhar competitividade à custa de preços mais baixos é ... sem classificação]

- Apostar na qualificação e requalificação da força de trabalho e na sua permanente adequação às necessidades das empresas, com base no reforço e modernização do sistema de formação profissional. [Moi ici: Lerolero para adormecer boi! As empresas podem e devem apostar na qualificação e requalificação da sua força de trabalho, mas isso terá um impacte marginal na competitividade. Recordar a caridadezinha de 2008]

- Travar o contínuo surgimento de novas obrigações legais que implicam mais encargos para as empresas e libertá-las dos custos de contexto que constituem ainda um evidente fator de perda de competitividade. [Moi ici: Existirão obrigações legais absurdas e outras justas. No entanto, travar não significa tornar mais competitivo, apenas significa travar a erosão de competitividade por essa via]

- Promover um enquadramento sócio laboral que contribua para a melhoria da produtividade e competitividade da economia portuguesa, num clima de paz social." [Moi ici: Terá um impacte marginal na competitividade. Ainda me fez lembrar a grande esperança de Ricardo Salgado, à espera de boleias do governo para fazer o trabalho que ele não sabia promover]

Tudo isto são peaners. 

As propostas do presidente da CIP mantêm, quando muito, as empresas no quadrante inferior direito:


É possível ser pouco produtivo e competitivo (quadrante inferior direito), mas temos de evoluir para o quadrante superior direito.

Para tornar Portugal mais competitivo e muito mais produtivo vai ter de haver "sangue" (em sentido figurado). Muitas empresas terão de fechar para que os seus recursos, nomeadamente trabalhadores, sejam canalizados para empresas novas onde eles possam ganhar mais dinheiro porque essas empresas são mais competitivas e mais produtivas. Claro que essas empresas não competirão pelos clientes das empresas portuguesas, simplesmente estarão noutros segmentos de clientes e noutros sectores económicos. Que empresas serão essas? Sublinho do mesmo artigo as palavras de Pedro Braz Teixeira:

"Para aumentar a competitividade do país, é necessário criar condições para atrair Investimento Directo Externo (IDE)"

Recordo:

quinta-feira, março 14, 2019

Boas notícias, Portugal a ser abandonado pelo negócio do preço (parte II)

Parte I.

Ontem no Jornal de Notícias, "Associações anunciam nova crise do têxtil", com pérolas extraordinárias:
"Ontem, em Guimarães, os dirigente da Confederação Portuguesa da Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME), António Monteiro, pôs o dedo na ferida: "A situação é de tal ordem preocupante que há muita gente em desespero. Prevejo o encerramento de dezenas de empresas nos próximos dias"
...
Entre as medidas a tornar, António Monteiro defende a criação de um fundo de segurança à subcontratação para compensar desistências de encomendas, a criação de um contrato obrigatório entre multinacionais e subcontratados, a criação de uma comissão arbitral para a resolução de conflitos e a criação de um fundo de formação profissional para a formação de costureiras."
Que falta de noção!!!

Prefiro a evolução deste senhor, quem o lia há 10 anos e quem o lê hoje:
"Não é pelos preços que iremos encontrar a nossa competitividade e o que está a acontecer com a Inditex poderá ser pedagógico para muitas empresas, que se acomodaram, e um sinal importante para a nossa indústria de que o preço não é a resposta", afirmou o diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) em declarações à agência Lusa.
...
"A grande questão é que as empresas aprendam de vez a lição de nunca ficarem com excesso de dependência relativamente a um cliente ou a um mercado em particular. Mais uma vez, a história repetiu-se com algumas delas, sobretudo as mais pequenas, que tiveram de encerrar, mas a minha convicção é que não é isso que vai afetar de uma forma violenta, ou pelo menos dramática, um setor que hoje em dia tem outros argumentos, alternativas e mercados e outra forma de reagir na procura de outros clientes", considera.
.
Quanto às exportações para Espanha, Paulo Vaz acredita que "têm ainda potencial para crescer", até porque este mercado "está a ser berço de um conjunto de novas marcas muito orientadas para a sustentabilidade", em oposição ao "excesso de homogeneização que se encontrou em modelos de 'fast fashion' como a Inditex"."
ADENDA: Vão ver como começou a primeira loja Zara... um subcontratado a quem não desistiram de colocar encomendas, mas desistiram de comprar encomenda produzida. O homem teve de minimizar o prejuízo. Alugou um espaço em La Coruña, e começou a vender ... e nunca mais parou.
Há os que apesar de empresários nunca deixarão de ser funcionários e há os outros.

sexta-feira, janeiro 11, 2019

Vai ser lindo... schadenfreude

É nestas alturas que o meu lado cínico vem ao de cima e me encho de um profundo sentimento de schadenfreude.

Vivemos num país onde os políticos vivem numa redoma e não têm qualquer noção do que é viver e competir num mercado mundial. Nunca queimaram pestanas a pensar como arranjarão dinheiro para pagar salários, ou para comprar matérias-primas. São capazes de legislar que a força da gravidade é inconstitucional, já que para eles a transmutação é uma coisa corriqueira.

Os políticos, engenheiros sociais incapazes de prever as consequências dos seus actos, tomam decisões e, depois, perante os resultados, ou inventam inimigos, ou começam a tremer das pernas.

Em "Patrões do têxtil: “Setor paga o que pode pagar para se manter competitivo”" pode ler-se:
"A indústria portuguesa do têxtil e de vestuário exportou 4.935 milhões de euros nos 11 primeiros meses de 2018, registando assim um crescimento de 1,8% face ao mesmo período do ano passado, deixando antever um novo recorde nas vendas ao exterior.
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Estes valores levaram a deputada comunista, Carla Cruz, citada pela Lusa, a insistir que "o país não pode continuar a apostar num modelo de baixos salários" e que "os trabalhadores, aqueles que realmente produzem a riqueza, veem sucessivamente adiados os aumentos reais de salários".
...
O porta-voz dos patrões desta indústria ... respondeu ... "o sector pagou e paga aquilo que pode pagar para se manter competitivo"
...
"Os aumentos do salário mínimo nos últimos quatro anos obrigaram a maioria das empresas a crescimentos de mais de 20% na massa salarial, sem sequer verem compensado este incremento com a produtividade""
Agora reparem em "Dona da Zara encolhe confecções no Vale do Ave" no mesmo dia, no mesmo jornal lê-se que a Inditex está a retirar encomendas para produção em Portugal, que há empresas a fechar nos concelhos de Fafe, Guimarães e Vizela, que há fornecedores de primeira linha da Inditex que em vez de subcontratar em Portugal subcontratam em Marrocos. Então, entra o PCP:
"Este retrato na confecção Já levou o PCP a interpelar o ministro da Economia. Ao Negócios, o deputado Bruno Dias argumentou que nesta relação com os grupos da moda "não pode [vigorar] simplesmente a lei do mais forte" e sugeriu, "do ponto de vista regulamentar e de organização do sector, colocar algum equilíbrio e critério"."
Atentemos neste exemplo internacional, "Sneakernomics: All change in the trainer business":
"According to his calculations, the final sale price is made up of:
manufacturing costs: 22%
staff, warehousing, office rents and patents: 11%
marketing and advertising: 5%
freight and insurance: 5%
taxes: 2%
shoemaker's profit: 5%
retailer's share: 50%"

Produzir é o mais fácil! Quem manda na cadeia de valor é o dono da prateleira onde os clientes/consumidores compram e ponto.

E volto a "Admiram-se de quê?" uma multinacional que compete legitimamente pelo preço, o grupo Inditex, está a deixar de colocar encomendas em Portugal porque arranja alternativas de produção mais baratas. E depois? O que é que o PCP quer, obrigar a Inditex a comprar em Portugal? Então não é o PCP que diz "o país não pode continuar a apostar num modelo de baixos salários"? Então, devia alegrar-se com a saída de uma empresa que compete pelo preço e que não permite praticar salários mais baixos. Já lhes começam a tremer as pernas!!!

Outra cena, o porta-voz dos patrões, como o apelida o Jornal de Negócios, ainda não percebeu o filme que se está a preparar e que ainda há dias apareceu no Jornal de Negócio em "Greves, salários e produtividade". O que diz o senhor:
""o sector pagou e paga aquilo que pode pagar para se manter competitivo"
...
"Os aumentos do salário mínimo nos últimos quatro anos obrigaram a maioria das empresas a crescimentos de mais de 20% na massa salarial, sem sequer verem compensado este incremento com a produtividade""
Ele ainda está na guerra anterior, ainda relaciona salário, competitividade e produtividade. Ainda está no discurso que aqui no blogue chamo de gato vs rato (ver marcador):
+ produtividade pode ser distribuída por + salário sem prejudicar a competitividade se o aumento salarial for moderado 
Na guerra anterior tínhamos o ministro socialista das finanças a dizer:
“os ganhos de produtividade devem reforçar a competitividade e não ser ultrapassados pela evolução de salários”. 
Qual é a próxima guerra, a que não foi ainda declarada e que se antevê em "Greves, salários e produtividade"?

Reparem no racional, como a ordem dos factores se altera:
- Os salários têm de aumentar, para obrigar as empresas a aumentar a sua produtividade. Perceberam? Não é do aumento da produtividade que se vão retirar ganhos para distribuir pelos trabalhadores. Começa-se por aumentar os trabalhadores e obrigar as empresas a desunharem-se para aumentar a produtividade para continuarem a ser competitivas. Quem não for capaz de acompanhar a pedalada terá de fechar a porta, ou bater à porta do PCP a pedir ao partido que arranje um apoio, um subsidio, ou outra cena qualquer.
Esta gente não percebe é que não se pode pôr todo o país com o mesmo modelo de vida da quase totalidade do interior. O interior não tem economia para suportar os custos de contexto do litoral. Assim, fica sem empresas e desertifica-se, quem lá trabalha é funcionário camarário ou do estado.

Vai ser lindo... schadenfreude.

Vejam os textos que citei em "Espero que não vos tremam as pernas quando as empresas começarem a cair como tordos" de "Gabiche (parte III)" e "Especulação perigosa"

sábado, setembro 16, 2017

Curiosidade do dia

Quem lê este blogue sabe o quanto há muito contesto as teorias do FMI sobre a relação entre custos unitários do trabalho e a competitividade. O FMI partilha a sua visão da competitividade com o bicicletas Pais Mamede.

Basta pesquisar nos marcadores deste postal.

No entanto, ao ler "Governo contesta teorias de competitividade do FMI" ocorre-me um reparo, o mesmo que aqui escrevi em Junho de 2011:
  • "Se me vendem a redução da TSU para tornar as empresas que exportam mais competitivas não engulo. Tirando o caso das commodities, associadas a grandes empresas, o preço não é o order-winner das nossas exportadoras. [Moi ici: Recordo o injustamente esquecido relatório que provava que quanto mais um sector era aberto ao exterior menos desemprego tinha]
...
  • Se me venderem a redução da TSU para facilitar a vida às empresas que vivem do mercado interno concordo, o grosso do emprego está aqui e estas empresas vão viver tempos terríveis, o aumento futuro do desemprego virá sobretudo daqui, e tudo o que for feito para lhes aliviar o nó na corda que vai asfixiando o pescoço das empresas será bem vindo.
  • Se me venderem a redução da TSU para capitalizar as empresas concordo."
O problema não é a competitividade, o problema é a sustentabilidade das empresas que vivem do mercado interno. Recordar o caso da Starbucks. Recordar a inconsistência estratégica.

terça-feira, setembro 05, 2017

Produtividade - enfim

Com algum atraso, recupero este artigo publicado em Agosto último no Público, "Mais produtividade = melhor nível de vida".

Será que mais produtividade é realmente igual a um melhor nível de vida?

Durante mais de 20 anos morei em Estarreja. Durante mais de metade desses anos passava diariamente pela portagem de Estarreja na A1. Habituei-me a associar o regresso a casa, depois de um dia de trabalho, a uma pequena conversa com os portageiros da Brisa. Simpatizava especialmente com três deles. Sem esforço, nem propósito, o contacto diário criou entre nós proximidade e cumplicidade. Até ao dia em que a Brisa, em nome do aumento da produtividade, tomou a legítima decisão de acabar com os portageiros e instituir o pagamento via máquina.

A produtividade aumentou mas a qualidade de vida daqueles portageiros não aumentou, até regrediu. É preciso ter cuidado com estes slogans herdados do tempo em que a procura era superior à oferta e, por isso, um aumento da produtividade não punha em causa o emprego.

Mergulhemos no texto:
"Portugal é um país desenvolvido mas com um nível de produtividade baixo. O crescimento da produtividade em Portugal nos últimos 20 anos foi inferior ao verificado nas maiores economias desenvolvidas (G7), o que significa que não convergimos em nível de vida.
.
Alemães, ingleses ou norte-americanos já trabalhavam melhor do que nós e produziam mais bens e serviços numa hora de trabalho."
Aquele "e produziam mais bens e serviços numa hora de trabalho." causa-me arrepios porque associa mais produtividade a mais quantidade produzida. Como se o nosso desafio fosse o de produzir mais rapidamente. Nunca chegaremos ao nível de produtividade dos "alemães, ingleses ou norte-americanos" continuando a produzir o que já produzimos só que mais depressa. Precisamos de produzir coisas diferentes, coisas com maior valor acrescentado. Cuidado com a armadilha da produtividade quando se pensa à engenheiro: "Actualizem o documento por favor.".

A armadilha da produtividade é considerar aquilo que se produz como um dado do desafio e não como uma variável. Recordo sempre a anedota do embaixador do Luxemburgo que achava que os portugueses a viver no Luxemburgo, porque produziam até meio de terça-feira o que cá produziam até sexta-feira, eram mais produtivos por causa da saudade. A saudade impelia-os a produzir mais.

Voltemos ao texto:
"Se aplicados ao ensino, por exemplo, o nível de produtividade significa que um professor alemão ensina em uma hora o que um professor português ensina em duas horas."
Outro absurdo! Qual é o valor de mercado do trabalho de um professor? Qual é o valor de mercado de um funcionário público? Como não é possível calcular esse valor faz-se uma simplificação, assume-se que esse valor é o valor do salário pago. Assim, sempre que a função pública é aumentada, aumenta a produtividade do país. Se um professor alemão der metade da matéria que um português dá, só porque tem um salário superior tem uma produtividade superior.

Outro trecho do texto que nos remete para a armadilha da produtividade. Consideremos então uma multinacional que produz o mesmo artigo em Portugal e na Alemanha. Em que país é que a produtividade será superior?
"Mas os portugueses demonstram diariamente serem bastante produtivos quando o enquadramento é adequado. Basta pensar em fábricas de multinacionais instaladas em Portugal que são mais produtivas do que as instaladas em alguns daqueles países."
A produtividade calcula-se através da equação:
Se o produto é o mesmo e a quantidade produzida é a mesma, ditada pelo ritmo a que trabalham os autómatos e os set-points das máquinas. Então, o Valor produzido unitariamente cá e lá é idêntico.

E o que acontece aos custos? Os custos de mão de-obra em Portugal são inferiores aos alemães, como as matérias-primas são compradas no mercado internacional... os Recursos consumidos unitariamente em Portugal são menores em termos monetários que os consumidos na Alemanha. Logo, a produtividade é facilmente superior por cá. E não é por cá trabalharem mais depressa do que na Alemanha.

Voltemos ao texto:
"As soluções para aumentar a produtividade são conhecidas mas é necessário que haja vontade e pressão na sociedade para que sejam implementadas. Isso só acontecerá se os portugueses perceberem que estas políticas são benéficas para a sua vida. Para além disso, a avaliação de políticas públicas na perspetiva da produtividade torna-se essencial para assegurar políticas apropriadas e corretamente focadas."
Duvido deste parágrafo quase todo. Primeiro, os portugueses não existem. Não existe um grupo homogéneo com interesses e prioridades homogéneas. O que o taxista quer é que não permitam a concorrência da Uber, o que o hoteleiro quer é que não permitam a concorrência da AirBnB. O que o produtor de leite quer é que não permitam a entrada de leite estrangeiro. O que funcionário público não quer é que o novo software seja aplicado com todo o rigor e lhe roube o posto de trabalho. O que o jornalista quer é impedir que as pessoas acedam às notícias na internet. O que o merceeiro sempre quis foi acabar com o hipermercado. O que o livreiro quer é que acabem com a Amazon. Genericamente acredito que a única força adequada para impor o aumento da produtividade, minimizando distorções durante o processo, é deixar a concorrência operar. Quantos portugueses são realmente a favor de uma concorrência que possa acabar com a empresa onde trabalha?

Por fim:
"Uma opção é a constituição de um conselho de produtividade independente, que avalie de uma forma transparente as políticas implementadas no sentido de identificar e destacar os benefícios das opções pró-produtividade."
Como se o problema da produtividade fosse sobretudo do contexto. É claro que o contexto conta, é claro que uma tradição multi-centenária de instituições extractivas conta. É claro que aquilo que favorece a produtividade dos grandes é o que prejudica a produtividade dos pequenos. Por isso, é que as empresas grandes aprenderam a povoar os grupos de estudo e criação de normas técnicas, para criar barreiras à entrada ou à manutenção dos pequenos. Ou seja, qualquer política de produtividade não é neutra, ao favorecer uns prejudicará outros. Uma prática tradicional em Portugal: picking-winners.

Uma das coisas que aprendi em 2008 foi a da variabilidade da distribuição de produtividades. Existem mais variabilidade da produtividade entre as empresas de um mesmo sector de actividade económica do que entre sectores de actividade económica. Percebem as implicações disto? No mesmo país, com as mesmas leis, com o mesmo povo, dentro de um mesmo sector, a variabilidade da produtividade é enorme. E isto quer dizer que o factor mais importante para a produtividade é o ADN que está numa empresa. Esperar que seja um conselho de produtividade independente... como se alguma vez houvesse independência. Ainda há bocado li o que é que as golden-share na PT, supostamente para o poder político proteger a empresa do poder económico, permitiram fazer.

sexta-feira, setembro 01, 2017

Prisioneiros do século XX

"Os custos unitários de trabalho são um factor crítico para a nossa competitividade e não podem ser dissociados da produtividade, intimamente ligada a qualificação profissional e às leis laborais, áreas onde tem de haver um esforço continuado de adaptação às necessidades das empresas."
Quando escrevo sobre as mentalidades atoladas no século XX, prisioneiras de um passado que formatou mentalidades quando se tinha 20 anos, é disto que escrevo.

A promoção da concorrência imperfeita e dos monopólios informais é a descoberta, e a busca das condições, em que uma empresa consegue fugir desta armadilha mental de que tudo se resume ao custo.

De um lado: não podemos ser competitivos com estes custos!

Do outro lado: como podemos ser competitivos apesar destes custos!

Trecho retirado de "Os recursos humanos e a competitividade"

BTW:



sábado, agosto 19, 2017

"It's not the euro, stupid! (parte VI)"

"But something else happened in the global economy right around 2000 as well: China entered the World Trade Organization and massively ramped up production. And it was this, not automation, that really devastated American manufacturing. A recent paper by the economists Daron Acemoglu and Pascual Restrepo—titled, fittingly, “Robots and Jobs”—got a lot of attention for its claim that industrial automation has been responsible for the loss of up to 670,000 jobs since 1990. But just in the period between 1999 and 2011, trade with China was responsible for the loss of 2.4 million jobs: almost four times as many. “If you want to know what happened to manufacturing after 2000, the answer is very clearly not automation, it’s China,”"

Recordar:

Anónimo da província mas muito à frente dos Sarumans da academia tuga.

domingo, agosto 06, 2017

Pedir uma explicação para esta "blasfémia"

Numa introdução mais humorada posso dizer que descobri a identidade secreta do @nticomuna. Só duas pessoas poderiam escrever algo que se escreve neste artigo do Financial Times, "Sterling’s Brexit slide has yet to deliver trade’s sunlit uplands", ou o @nticomuna ou eu. Como não fui eu, ergo ...
"Brexit, we were told, will improve Britain’s trade performance through the depreciation of sterling.
...
The big difference is currency movements. Sterling has fallen 17 per cent since late 2015 against Britain’s trading partners, a period in which the equivalent measure for Portugal rose 2 per cent. With such stark exchange rate differences, it would be natural to see net trade — exports minus imports — contributing more to Britain’s growth rate than that in Portugal over the past year. UK imports have become pricier and exports more competitive.
.
But in most recent data comprising the year to the first quarter of 2017, net trade subtracted 0.2 percentage points from the UK’s growth rate while adding 0.5 percentage points to Portugal’s rate. Sterling’s slide has not helped Britain.
.
Between January and March this year UK output in production industries expanded 2.3 per cent compared with a year earlier, the same rate as the growth in services and less than in construction. British rebalancing towards production is notable for its absence. In Portugal, industrial output grew 4.8 per cent over the same period, considerably faster than the 2.8 per cent overall growth rate. Brexit has not given the UK a more balanced economy.
.
Surely, at least, the Leave vote has spurred UK companies to broaden their horizons and focus exports outside the EU? Again, no. With the depreciation allowing exporters to raise prices, British export values to the EU27 were 15.5 per cent higher in the year to the first quarter, a more rapid improvement than the 13.8 per cent growth rate to non-EU countries. But compared with Portugal, these figures look disappointing; over the same period its exports to outside the EU grew 33.2 per cent with a 51.6 per cent rise in US exports.
.
These are the sort of numbers that would have Brexiters salivating, if they related to Britain rather than Portugal."
Interessante mesmo era alguém pegar neste artigo do FT e com ar de ingénuo chegar junto do bicicletas, ou de Ferreira do Amaral, ou de Vítor Bento, e pedir uma explicação para esta "blasfémia" de exportações que crescem com moeda a fortalecer.


sábado, junho 17, 2017

I rest my case: competitividade e CUT (parte X)

 Parte Iparte IIparte IIIparte IV, parte V, parte VIparte VIIparte VIII e parte IX.

Sabem como gosto de ver a economia como uma continuação da biologia.

Este artigo, "Cities should be studied as evolutionary hotspots, says biologist", vem ao encontro de um pensamento que anda a correr em modo batch algures na minha mente.
"Equilíbrio pontuado é uma teoria evolutiva proposta pelos paleontólogos norte-americanos Niles Eldredge e Stephen Jay Gould em 1972, que propõe que a maior parte das populações de organismos de reprodução sexuada experimentam pouca mudança ao longo do tempo geológico e, quando mudanças evolutivas no fenótipo ocorrem, elas se dão de forma rara e localizada em eventos rápidos de especiação denominados cladogênese.
.
O equilíbrio pontuado é frequentemente contrastado com a teoria do gradualismo, a qual afirma que a evolução ocorre de maneira uniforme, por mudança contínua e gradual de linhagens inteiras (anagênese). Segundo essa visão, a evolução é vista como um processo suave e contínuo."
Na parte IX ficámos neste momento t+1:
E perguntámos:
"O que pode fazer com a empresa verde mude de ideias e resolva voltar para o outro pico onde está a empresa azul?"
Imaginemos que o pico que a empresa verde está a subir é o do valor acrescentado e o que a empresa azul está a subir é o do preço-baixo.

O mais provável é que a empresa verde evolua para:
No entanto, se assumirmos que a empresa verde é um ser vivo, e recordando esta citação da coluna da direita no blogue:
"nature evolves away from constraints, not toward goals"
Se a gestão da empresa verde sentir que os chineses azuis desapareceram, ou rareiam no pico "azul", é provável que a ausência de constrangimentos, o instinto e facilidade de pensar preço, e a ideia de que apostar preço é menos incerta no curto-prazo, pode levar a esta evolução:
Se eu fosse governo interventionista e quisesse evitar este retorno da empresa verde ao mundo do preço aumentaria o SMN, apesar do desemprego que ele geraria. (Por que é que os migrantes de Calais querem ir para o Reino Unido e não colocam a hipótese de ficar em França?)

Se eu fosse governo não-interventionista teria de admitir esta possibilidade de actuação para a empresa verde como uma possibilidade honesta e trataria de estar atento à redução das barreiras à entrada e à redução do custo de falhar no pico do valor acrescentado para que mais agentes individuais aparecessem e optassem pelas várias alternativas nos vários picos.

Estamos em mais um desses momentos de alteração tectónica no fenótipo o que acelera o ritmo da evolução.