sexta-feira, fevereiro 28, 2025

Curiosidade do dia

Interessante olhar para os números do IEFP ...

Em Janeiro de 2023 havia 17939 desempregados no sector da "Construção", em Janeiro de 2025 o número vai em 19065 desempregados.

Em Janeiro de 2023 havia 31723 desempregados no sector do "Alojamento, restauração e similares", em Janeiro de 2025 o número vai em 38362 desempregados.

Alguém sabe explicar o que se passa?

Quem tem coragem para ter esta conversa olhos nos olhos?


Mão amiga fez-me chegar às mãos recorte do jornal "Barcelos Popular" com o artigo "Rombo no sector têxtil faz exportações reduzirem 12% em Barcelos" onde basicamente se repete o comunicado da Associação Comercial e Industrial de Barcelos (ACIB).

Recordo os temas:
Com base no conteúdo das páginas 2 e 3 do Barcelos Popular, fica evidente que a ACIB enfatiza a necessidade de intervenção pública para sustentar um sector têxtil em declínio. Enquanto a narrativa enaltece a região como um motor de empreendedorismo e capacidade industrial, paradoxalmente, reivindica subsídios para manter empresas cuja produtividade e competitividade são questionáveis.

A questão central reside na incoerência entre o discurso e a acção: defende-se o aumento da produtividade e da inovação, mas, simultaneamente, solicita-se financiamento público para sustentar empresas que, por razões estruturais ou de modelo de negócio ultrapassado, não conseguem manter a sua viabilidade. No contexto de uma União Europeia que privilegia a sustentabilidade económica e boas condições de vida, insistir na manutenção de um sector pouco competitivo à custa dos contribuintes parece ser uma estratégia míope.

Resta saber se a associação tem uma visão de futuro que vá além da dependência do Estado ou se continuará a perpetuar um ciclo de subsidiação sem uma estratégia real de adaptação e modernização. O locus de controlo está, claramente, no exterior, mas é crucial que se invista em soluções de longo prazo em vez de insistir numa lógica de curto prazo que já demonstrou falhas.

A forte dependência de subsídios e apoios públicos pode ter implicações sérias na produtividade e competitividade de longo prazo da economia de Barcelos. Se as empresas locais se habituarem a recorrer a ajudas externas sempre que enfrentam dificuldades, corre-se o risco de enfraquecer os incentivos à eficiência e à inovação. Uma economia que sobrevive à base de subsídios pode cair na armadilha de adiar ajustes necessários, criando empresas menos produtivas ou "zombies" mantidas artificialmente. 

No caso em análise, a ACIB insiste que as "empresas precisam de apoios, infraestruturas e acções colectivas bem executadas" para enfrentar a crise. Sem dúvida, infraestruturas melhores e colaboração podem aumentar a competitividade (por exemplo, melhor logística e cooperação sectorial). No entanto, se os apoios financeiros servirem apenas para cobrir prejuízos ou prolongar a vida de modelos de negócio ultrapassados, a competitividade e produtividade estrutural da região tende a estagnar ou deteriorar-se. É duro, mas aquele título de há dias, "It's no longer about how you do it; it's about what you do," mostra como é difícil ou quase impossível que os apoios pedidos ajudem a resolver a situação.

Quem tem coragem para ter esta conversa olhos nos olhos?

Ontem de manhã vi este tweet na mouche:

A Teoria do Cavalo Morto é uma metáfora que se refere ao acto de continuar a investir tempo, esforço ou recursos em algo que claramente já falhou ou não tem mais hipóteses de sucesso. A expressão vem do ditado:

"When you discover that you are riding a dead horse, the best strategy is to dismount."

Ou seja, se um cavalo está morto, não adianta continuar a montá-lo – o mais lógico é aceitar a realidade e seguir em frente. No contexto empresarial, a metáfora é usada para descrever situações onde empresas, governos ou pessoas insistem em estratégias, projectos ou modelos de negócios falidos em vez de mudarem de abordagem.

quinta-feira, fevereiro 27, 2025

Curiosidade do dia


Hoje a primeira página do Público traz "Há 176 novos hotéis previstos para os grandes centros. Porto suplanta Lisboa" e a primeira página do DN traz "Preços do aluguer de carros afundam 15% por excesso de oferta."

Lembrei-me logo da Tragédia dos Comuns, que em bom português deve ser a Tragédia dos Baldios. 

Tempo para recordar este artigo de 2007 "'Tragedy of the commons' in the tourism accommodation industry" e este trecho:
"Results from the study show that open access generally leads to both economic and environmental overexploitation, that is 'the tragedy of the commons'. This also affects the overall tourism industry since tourism accommodation and environmental quality perform central roles. This ultimately leads to mass tourism characterized by tourists with low willingness to pay."

Relacionar este sublinhado com o que aparece no DN via JdN:

"O preço a pagar pelo aluguer de um carro desceu 15% no ano passado, avança esta quinta-feira o Diário de Notícias. A descida reflete o aumento do número de veículos disponibilizados pelas "rent-a-car", que tem levado a uma excesso de oferta enquanto a procura, sobretudo de turistas, arrefeceu.

O desequilíbrio entre a oferta e a procura foi implacável com as receitas das empresas. "Foi o pior ano de sempre para o setor, excluindo o período da pandemia", diz o secretário-geral da Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor (ARAC), Joaquim Robalo de Almeida, sublinhando que, como fazer férias em Portugal ficou mais caro, "as rent-a-car são um dos primeiros serviços a ficar para trás""

Nope, os turistas é que têm menos poder de compra.

O mesmo vai acontecer aos hotéis, então teremos o sector, com enorme poder nos media e com ligações poderosas ao sistema político, a pedir para que os contribuintes impeçam um sector "tão importante para o país" de fechar portas.

Again, recordar as salamandras da minha querida e saudosa Estarreja:

"Será que as empresas também não sofrem mais com o rescaldo dos exageros cometidos no tempo das vacas gordas do que com as tribulações dos tempos de vacas magras?"

E Yogi Berra:

"Nobody goes to that restaurant anymore because it's too crowded." 


Um corporativismo estrutural

O capítulo 3 de "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau, intitulado "Low on Energy" é algo nojento.

O autor faz uma descrição bastante crítica e, diria até, repugnante da promiscuidade entre políticos e o sector empresarial na Alemanha. Ele descreve um sistema onde ex-políticos se tornam lobistas influentes, enquanto políticos no poder garantem favores a empresas que, mais tarde, retribuem com cargos e privilégios. (Escrevo isto e recordo as imagens na TV da passada quarta-feira em que um lobista defendia a manutenção da TAP nas mãos do estado)

Exemplos disso incluem:

  • Gerhard Schröder não apenas facilitou os acordos energéticos com a Rússia enquanto chanceler, mas logo após sair do cargo, tornou-se executivo da Nord Stream, financiada pela Gazprom. Ou seja, negociou a dependência energética alemã com Moscovo e depois foi recompensado com um cargo altamente lucrativo. 
  • Karl-Theodor zu Guttenberg, ex-ministro da Defesa, reinventou-se como lobista após um escândalo de plágio e chegou a interceder junto a Angela Merkel em favor da fraudulenta Wirecard, empresa que colapsou num dos maiores escândalos financeiros da Alemanha.
  • WestLB, Landesbanken e o cartel da Renânia do Norte-Vestfália: políticos e banqueiros entrelaçaram-se num esquema de suporte às indústrias tradicionais de carvão e aço, garantindo subsídios e protecção a negócios falidos por décadas, sem inovação real.

Münchau argumenta que esse sistema não é apenas uma questão de corrupção explícita, mas de um corporativismo estrutural, onde a política é vista como uma extensão do sector empresarial. Isso leva a políticas públicas viciadas, que protegem indústrias grandes e evitam mudanças estruturais necessárias. O colapso da Wirecard e os escândalos envolvendo bancos regionais (Landesbanken) mostram como essa cultura de conivência prejudicou a economia alemã, que hoje enfrenta um cenário de estagnação e crise.
Em resumo, a descrição de Münchau é nojenta no sentido de expor um sistema político completamente capturado por interesses privados, onde a "economia de mercado" é, na verdade, um jogo fechado entre velhos amigos que trocam favores - e o contribuinte alemão paga a conta.

Só um cheirinho:
"After he came to power, he would pull off another stunt, similar to that of Salzgitter. The following year, he personally intervened to stave off the looming bankruptcy of Holzmann, a large construction company based in Frankfurt. It was a big success. Workers of the company sang chants praising the chancellor. He did not just bang heads together. He used the state-owned KfW bank to provide a €150-million loan and a €100-million loan guarantee that served as an anchor for the financial packages with the various other banks used by the company. The banks would then chip in €200 million. That still was not enough because the company went bankrupt eventually, but it worked for Schröder politically, giving him a reputation for caring about jobs. I saw Schröder as an early populist. During the Holzmann crisis, he accused the creditor banks of 'thinking more about their business than securing the company and the jobs' - as though banks would ever do anything else."

Acerca do retalho

No WSJ de ontem em "Retailers Are Suffering, but There Is No 'Apocalypse' Yet" podia ler-se:

"Other than 2020, when the pandemic crippled in-person shopping, last year had the most U.S. retail bankruptcies since 2017, according to S&P Global Market Intelligence. 2025 hasn't started off promisingly either: Retail sales in January surprised economists with their biggest drop in nearly two years.

There were mitigating factors like cold weather and wildfires, but it is hard to shake the sense that forecasters also are missing other issues they can read about in the newspaper.

...

News of the retail industry's demise has been greatly exaggerated before, of course. Six years ago, before the pandemic, analysts at UBS warned of an "apocalypse" of store closures because of tariffs and e-commerce. Landlords are experiencing the exact opposite-rising rents and low vacancy-especially as more people spend a weekday or two near home."

Entretanto, no mesmo jornal no dia 24 de Fevereiro em "Stores Suffer as Online Retail Rules" podia ler-se:

"E-commerce didn't kill bricks-and-mortar stores, but it made them worse. Much worse.

Physical stores today are understaffed and full of inconveniences such as locked shelves and self-checkout lines. Now, add one more gripe to the list: not enough stuff.

If you have ever trekked to a store only to be told the item you are looking for is out of stock but can be ordered online, you aren't alone.

...

The internet ushered in a new era of shopping nirvana, in which consumers could order whatever they wanted from the comfort of their couch. It also has siphoned money and merchandise away from brick-and-mortar stores, turning buzzy emporiums into dilapidated mausoleums. Retailers have vastly expanded the breadth of products they sell online to better compete with Amazon.com, making the offerings in their physical stores feel paltry by comparison.

Retail CEOs like to say they want customers to shop however they want-either online, in stores or a combination of the two. The reality is that they make more money when customers buy from physical stores because packing and shipping expenses eat into online profits.

...

Nearly three-quarters of consumers prefer shopping in physical stores, but only 9% are satisfied with the store experience.

Chief among their complaints is a lack of product variety and availability in stores,

...

"Retailers have pivoted too hard to e-commerce and neglected the in-store experience, and that has got to swing back," said Don Hendricks, chief executive of department store chain Belk."


Os dois artigos do Wall Street Journal abordam a situação do retalho físico nos EUA sob perspectivas diferentes, mas que se complementam. O primeiro foca-se na resistência do sector, destacando que, apesar do aumento de falências no retalho e da queda inesperada nas vendas em Janeiro de 2025, o cenário ainda não representa um "apocalipse". Embora sinta que o artigo "culpa" a situação económica pelo mau desempenho. Já o segundo artigo aponta para a deterioração da experiência de compra em lojas físicas, em grande parte devido ao foco excessivo no comércio electrónico.

O comércio electrónico transformou o retalho, enquanto o primeiro destaca que as lojas ainda resistem, o segundo mostra que essa transição teve efeitos negativos, como stocks reduzidos e lojas menos atraentes.

O paradoxo central é que, mesmo com a predominância do comércio electrónico, muitos consumidores ainda preferem comprar em lojas físicas, mas a má experiência afasta-os.

O caminho para o sector pode passar por um ajuste de estratégia, reforçando a atractividade das lojas físicas enquanto mantém a competitividade online.

Interessante acrescentar um terceiro artigo, "Amazon can't figure out physical stores":

""I don't think they really understand retail," Nick Egelanian, president of retail-advisory firm SiteWorks Retail, told The Journal. "Running warehouses and shipping stuff efficiently is not the same as greeting a customer and saying, 'May I help you?'"

Acabo a pensar nos treinadores de futebol que são como o Dick Dastarly, focam-se mais nos advsersários concorrentes do que no seu modelo de jogo nos clientes. 

quarta-feira, fevereiro 26, 2025

Curiosidade do dia



Suspeito que esta "Curiosidade do dia" está relacionada com este tipo de fenómeno:

"Nos últimos 10 anos o país perdeu 117 mil estudantes. No mesmo período o sistema educativo passou a ter mais 9 mil professores. E 40% das escolas apresentam turmas com 15 alunos e 26% têm menos de 10 alunos. No entanto, volta e meia ouve-se falar em falta de professores. Como explicar este paradoxo? Péssima gestão do sistema público de ensino. Problemas que começam no ministério, a nível central, e que terminam nas escolas (que não têm autonomia e parece que nunca ouviram falar no termo "gestão").

Pergunta: o leitor está surpreendido? Não, certo? Qualquer cidadão com dois dedos de testa pergunta como é que com menos alunos e mais professores há falta de professores...

Pergunta seguinte: o sistema é reformável? Provavelmente não."

BTW, nestes tempos de Zooms e Teams vocês lembram-se da Nicole e do Patapoufe nas tardes da televisão portuguesa? 

Treco retirado de "Como dar cabo da escola pública" no JdN de hoje. 

Surpreendidos pelo sucesso

Nesta "Curiosidade do dia" do passado dia 23 escrevi:

"Vai ser a repetição da migração que aconteceu com o têxtil e calçado francês e alemão a caminho de Portugal."

Entretanto, no JdN do passado dia 24 encontro, "Saúde bate recorde e exporta 4 mil milhões com ajuda alemã": 

"O Health Cluster Portugal, que agrega empresas, universidades, associações e outras entidades do setor, ainda não dispõe de dados que expliquem o inusitado aumento de 295% das vendas à Alemanha."

Parece que o Health Cluster Portugal foi surpreendido pelo próprio sucesso! Só no final do ano é que se aperceberam de um aumento de 295% nas vendas? Será que ninguém notou o crescimento ao longo dos meses? Nenhuma curiosidade em investigar? Nenhuma análise intermédia? Muito conveniente. Ou muito estranho. Ou ambas as coisas. 

Isto lembra a típica revisão pela gestão (cláusula 9.3 da ISO 9001): faz-se uma vez por ano, quando os números já são passado e a única coisa que resta é justificar ou lamentar. Indicadores lagging no seu esplendor! A gestão descobre o que aconteceu, mas tarde demais para influenciar o que acontece. O que custa perceber que indicadores leading e análises mais frequentes são mais úteis para actuar a tempo?

Quantas empresas caem nesta armadilha? Olham para o espelho retrovisor e não para o caminho à frente. Depois admiram-se que as decisões estratégicas sejam sempre reactivas. E assim se gere... ou melhor, assim se observa. 

terça-feira, fevereiro 25, 2025

Curiosidade do dia

Mão amiga fez-me chegar este eloquente elemento gráfico:

O gráfico animado pode ser encontrado aqui.


Do cavalo ao carro eléctrico

Ontem, durante a caminhada matinal, tive a oportunidade de ler cerca de metade do segundo capítulo de  "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau. O título é "Neuland". Não, não é sobre a minha marca preferida de marcadores, é sobre a internet e o digital. Em 2013 Merkel terá chamado à internet de "Neuland" como nós na Idade Média usávamos o termo "Terra Incógnita".

O capítulo é outra surpresa. Primeiro o autor defende porque é que a Alemanha é um país digital-unfriendly (em 2020 só 33% dos alunos tinha acesso à internet na escola. BTW, "teachers, as a profession, are among the first to warn about the negative consequences of digitalisation"). Depois, apresenta números que mostram o divórcio dos estudantes alemães com o estudo universitário dos cursos de engenharia, ciência e matemática. Depois, aborda o tema da fraca infraestrutura de suporte ao uso da internet:

"My favourite story about Germany's slow internet came from the deepest Sauerland, a region of rolling hills and dense forests to the south-east of Dortmund. A photographer needed to send a large photo collection to a printer that was 10 kilometres away. The total data volume was 4.5 gigabytes, which is about the size of an average movie. He organised a race - between an internet upload and his horse. He burnt his photos on to a DVD and gave his computer a twenty-minute head start because he had to get the horse ready. The horse not only won the race, but, after riding home and feeding the horse, the photographer found the internet transmission was still uploading."

Depois, o capítulo começa a embrenhar-se no desempenho da indústria automóvel alemã e o seu horror ao carro eléctrico. Até mudei a cor do sublinhado no livro ao chegar a este trecho. Juro que escrevi "Quando o gigante cai: Empresas e nações em risco" antes de ler isto:

"Small countries often have industries that dominate everything. Large countries are more diversified. The US has a very strong high-tech sector, but it constitutes less than 10 per cent of the entire economy. It is hard to calculate the share of the car industry in German GDP. We know that cars and car components make up some 16 per cent of exports, having peaked at 19 per cent in 2016. My favourite measure is value added - because it disentangles the complex supply chains and isolates those parts of manufacturing activity done in the country. According to Germany's Federal Statistics Office, the German car industry alone constitutes almost 20 per cent of the value added in the entire industrial sector - this is massive for a single industry.

The memorable quote by Charles Wilson, President Eisenhower's defence secretary, comes to mind, here: What is good for GM is good for America. That was the 1950s. Nobody in the US would say that anymore, not even about Google or Apple. But they are still saying the equivalent in Germany. The German version has many names: there is Volkswagen, which also owns Audi and Porsche; Mercedes; and BMW. International car makers also have car plants in Germany: Ford, Opel, and nowadays even Tesla.

Of the forty companies now in the German DAX stock index, seven are from the car industry. The industry employs 786,000 people directly. Their future is not looking too bright. Many will lose their jobs, especially in supplier industries. The problem is a skills mismatch. A fuel-driven car is a mechanical-engineering product. An electric vehicle is a digital device at heart. Its engine only has a fraction of the parts of a fuel engine - and they are different parts.
...
There are many problems with corporatist constructs. The biggest one is that when the industry starts to decline, so will the country.
This whole corporatist world lived under the illusion of control - they believed they were in charge and would remain in charge forever. The reality is that, while they were asleep at the wheel in Berlin, Wolfsburg, Stuttgart and Munich, China was busy creating an entire new industry from scratch. The Chinese managed to come from nowhere to become the world's largest car exporter in just a few years."

Volto a mudar de cor no sublinhado aqui acerca da transição para o carro eléctrico:

"What is happening here is not a technical evolution. The electric car works differently and is made by different people. Remember the typewriters? We know how that story ended. Desktop computers and laptops, and the availability of cheap high-quality printers, killed the typewriter industry within a few years. Smartphones, with their sophisticated Al-driven photo software, killed the market for consumer cameras, along with GPS devices, watches, compasses and many more paraphernalia people used to schlep around. When that happens, not only does the product change, but so does the producer. The German car makers are the typewriter champions of our times.

As they used to say in the 1970s: the world will always need typewriters. Until recently, many believed the world would always buy German cars."

Depois, algo que conhecemos muito bem no nosso país:

"The Chinese had increased their market share in Europe from zero to 8 per cent by 2023. The European Commission calculated that this share would go up to 15 per cent by 2025 and has therefore announced protective tariffs of up to 38.1 per cent on imported Chinese electric cars from July 2024.

This is the playbook of how industries decline. After they have manoeuvred themselves into a corner, they start to call for subsidies and for trade barriers. The consequence will be that EU consumers will pay higher prices for the same product compared to Chinese." 

Sabem o que costumo escrever aqui acerca do futuro do calçado e do têxtil? Nichos. 

"I am not saying that the German car industry will go from a hundred to zero in five years. Germany will still produce cars. But the industry will employ fewer people. And, more importantly, German companies will not dominate the industry as they did in the past. Tesla and the Chinese are the global market leaders.

...

I am reminded of what happened to the manual watch industry after the arrival of digital and smart watches. Rolex is still making money, because the product is not simply a watch, but jewellery. The status-symbol end of the car market may well be the biggest niche for Germany, and a profitable one. But it is small."

segunda-feira, fevereiro 24, 2025

Curiosidade do dia


No livro "hat is Strategy" de Seth Godin sublinhei o trecho:
""If only" is a trap.
If the constraints went away, you'd be playing a totally different game, because your competitors would see their constraints lifted as well.
Constraints are a gift because they bring us something to lean against, and they give us the chance to focus.
Sometimes, the situation changes, and constraints are lifted. In those moments, we need to be hyper-aware of the new possibilities. The rest of the time, instead of cursing the boundaries, we can celebrate them.
The most interesting strategies happen at the edges, and the edges exist because that's where the constraints are."

Sem constrangimentos não pode existir concorrência imperfeita e, em condições equitativas, "level playing field", apenas os mais fortes prevalecem.

Lembrei-me deste trecho ao ler o artigo "Strategy in an Era of Abundant Expertise - How to thrive when AI makes knowledge and know-how cheaper and easier to access" publicado pela Harvard Business Review (January-February 2025).

E agora lembrei-me da citação ali ao lado:

"When something is commoditized, an adjacent market becomes valuable"

Pois:

"1. Which aspects of the problem we now solve for customers will customers use AI to solve themselves?

...

2. Which types of expertise that we currently possess will need to evolve most if we are to remain ahead of AI's capabilities?

...

3. Which assets can we build or augment to enhance our ability to stay competitive as AI advances?"


O canário na mina


O primeiro capítulo de "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau  , "The Canary", foi uma relevação para mim.

O autor defende que o sistema bancário corporativista da Alemanha, base do seu modelo neomercantilista focado em exportações e na indústria tradicional, [Moi ici: Basta reler o texto do JdN do passado dia 21 de Fevereiro, página 8, "Quanto mais a Alemanha exportar, melhor para Portugal"] entrou em colapso, antecipando problemas futuros na economia alemã. 

Historicamente, este sistema dividia-se em três pilares: bancos privados, como o Deutsche Bank e o Commerzbank, bancos estatais (Landesbanken), que apoiavam políticas económicas regionais, e bancos cooperativos (Sparkassen), voltados para o financiamento local, caracterizando-se por ser fortemente estatal e descentralizado, funcionando como um subsidio à indústria. Os Landesbanken, essenciais para financiar sectores como o aço e a energia, eram influenciados por interesses políticos, como no caso da WestLB, que se tornou um instrumento de clientelismo na Renânia do Norte-Vestfália. Na busca por lucros, estes bancos arriscaram em investimentos internacionais de alto risco e, durante a crise de 2008, sofreram perdas enormes com hipotecas subprime nos EUA, levando à dissolução da WestLB em 2012 e ao fim do modelo de finanças públicas que sustentava o neomercantilismo. Este colapso revelou as fragilidades estruturais na economia alemã, como a excessiva dependência de indústrias tradicionais, a falta de investimento em inovação e digitalização e a inexistência de um mercado de capitais eficiente para startups, mantendo o país preso a um modelo do século XX, enquanto nações como os EUA e a China progrediam na digitalização.

O autor compara os Landesbanken a "o canário na mina de carvão", um sinal precoce do colapso do modelo económico alemão. A falência desses bancos revelou as fraquezas estruturais da economia alemã e seu fracasso em se adaptar às mudanças tecnológicas e geopolíticas. Münchau argumenta que a Alemanha não diversificou sua economia e ignorou tendências tecnológicas cruciais, o que a deixou vulnerável em um mundo cada vez mais digitalizado.

"The German economy remains reluctant to diversify into new sectors, and so it continues to be dependent on industries that are long past their prime.
...
One of the reasons Germany is missing out on high-tech companies is lack of finance. Germany has more than its fair share of talented researchers. But the financial systems cannot support them.
...
The biggest problem, as I see it, is political selection bias. The state banks were ultimately backward-looking, and not geared towards company start-ups.
...
Like most things in life, the Landesbanken system did not fail in theory, it failed in practice. The defenders of the system argued that the state served as a hedge against excessive risk-taking by private banks. But it was the Landesbanken that ended up taking the most reckless risks."

domingo, fevereiro 23, 2025

Curiosidade do dia

No JN de hoje, "Exportações de calçado sobem em volume mas caem em valor": onde se pode ler:
"Portugal exportou 68 milhões de pares de calçado para 170 países em 2024, um crescimento de 3,9% em volume, mas uma quebra de 5,4% em valor face a 2023, para 1.724 milhões de euros, segundo o INE. A Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos destaca que este recuo compara com uma perda de 8,2% do maior concorrente de Portugal, a Itália, e uma quebra de 7% do maior produtor mundial, a China."

Vender mais e receber menos pode ser explicado por:

  • vender peças mais baratas e cortar na margem;
  • vender peças mais baratas e recorrer à subcontratação no exterior;   
  • vender menos calçado de couro (mais caro) e vender mais calçado de outros materiais.
Entretanto, no JdN de sexta-feira passada em ""Impacto será positivo seja qual for o resultado das eleições"" pode ler-se:
"PME alemãs querem investir 
O responsável acredita também que o investimento direto germânico em Portugal vai crescer. "Vemos muito interesse de empresas alemãs em trabalhar mais com a indústria portuguesa. Há dias tivemos cá uma delegação de compradores de empresas importantes da Alemanha, organizamos mais de 90 reuniões com possíveis fornecedores portugueses e o "feedback" alemão foi muito positivo, superou as expectativas", avança. "Vemos mais investimento de empresas alemãs. Dizem que a mão de obra em Portugal é ótima, que a infraestrutura é boa". Estou seguro que o comércio e os investimentos alemães em Portugal vão crescer". ", estima."

Vai ser a repetição da migração que aconteceu com o têxtil e calçado francês e alemão a caminho de Portugal. Por sua vez, as empresas portuguesas do nível de produtividade anterior ou fecham ou deslocalizam. Flying Geese ao vivo e a cores:

Por exemplo, se a Alemanha for o país A e Portugal for o país B, então, Marrocos será o país C.


Quando o gigante cai: Empresas e nações em risco

Esta semana, durante a minha habitual conversa com o meu parceiro das chamadas "conversas oxigenadoras", falámos sobre os perigos da dependência excessiva. Começámos por discutir uma empresa que vive à sombra de um único cliente grande. Imaginem uma pequena ou média empresa (PME) que, de repente, é escolhida por uma gigante para ser fornecedora regular. Cresce rapidamente, adapta-se às exigências desse cliente, mas acaba prisioneira da relação. Não é o Euromilhões que parece à primeira vista.

Os riscos são claros. Se o cliente reduzir pedidos, atrasar pagamentos ou romper o contrato, a empresa enfrenta uma crise financeira imediata. O poder de negociação fica desigual: a gigante impõe preços baixos, prazos longos ou condições difíceis — como se viu recentemente num e-mail da Simoldes aos seus fornecedores mais pequenos. Sem alternativas, aumentar lucros torna-se quase impossível. Pior, o foco num só cliente trava a inovação e a busca por novos mercados. A empresa especializa-se tanto que, se o cliente desaparecer, adaptar-se a outros torna-se um desafio. A longo prazo, o crescimento estagna e atrair investidores fica mais difícil. Um colapso é um risco real. Uma vida sem autonomia estratégica.

Enquanto reflectia sobre isto ao almoço na sexta-feira, ocorreu-me uma ideia: e se aplicarmos esta lógica a uma escala maior? O que acontece a um país cuja economia depende de poucas empresas dominantes? Pensei num Portugal com cinco ou seis Autoeuropas, onde um punhado de gigantes controla sectores estratégicos e sustenta grande parte do PIB. As fragilidades saltam à vista.

Se uma dessas empresas/sectores tropeçar — por dificuldades financeiras, perda de competitividade ou deslocalização —, o impacto no país pode ser devastador. Economias concentradas em sectores como o turismo, a indústria automóvel ou o petróleo ficam mais expostas a crises globais. Essas gigantes influenciam políticas públicas, limitam a concorrência e dificultam o surgimento de novos negócios. Despedimentos em massa afectam o emprego nacional, e trabalhadores especializados podem ficar sem opções. As PME, por sua vez, lutam por crédito e apoios, já que os recursos se concentram nos grandes. Se os lucros dessas empresas caem, as receitas fiscais também, forçando o governo a oferecer incentivos para as manter, mesmo que sejam insustentáveis.

A analogia entre uma PME dependente e um país refém de poucas empresas é reveladora. Veja-se a Alemanha: outrora um modelo de sucesso, hoje enfrenta um declínio económico, como noticiou o Wall Street Journal a 21 de fevereiro, "Germany Goes From Model to Broken Economy". A sua indústria encolheu, os custos subiram, as exportações caíram. Faltou diversificação e coragem para mudar, dizem os analistas. Será um exemplo perfeito desta dependência?

"A decade ago, Germany was the model nation. Its economy hadn't just withstood the ascendance of China; it was thriving in its wake. Its balanced public finances stood out in a world of huge government debt. And while British and U.S. lawmakers were caught up in the culture wars, German politicians continued to practice the art of compromise.
Today, Germany has gone from paragon to pariah. Its economic model is broken, its self-confidence shattered and its political landscape fractured. Europe's former growth engine has shrunk for two years in a row, erasing any recovery made since the Covid-19 pandemic. Its manufacturing output is down about 10% over the same period and its companies, squeezed between rising costs and falling exports, are shedding thousands of jobs a month. 
...
There are external causes for this malaise, from the war in Ukraine to U.S. protectionism and China's economic slowdown.
Yet some analysts, economists and historians think Berlin mismanaged its response. The reason: the preference for the status quo over change, for reaction over action and for caution over risk.
This is partly the wage of success. As long as Germany's economy was growing, brushing aside the financial crisis and the eurozone debt crisis, there was no pressure to course-correct, said historian Timothy Garton Ash, author of "Homelands," a history of Europe in the past 50 years."

Recordo o meu último trabalho por conta de outrem. Em apenas um ano, a empresa passou a produzir num dia o que antes fazia em duas semanas. Cresceu, sim, mas ficou quase totalmente dependente de um cliente. Os outros tornaram-se um estorvo. É uma lição simples, mas poderosa: depender de poucos, seja numa empresa ou numa nação, é jogar com o equilíbrio na ponta de uma faca. Será que Portugal — ou mesmo a Alemanha — pode diversificar antes que o fio se parta?

sábado, fevereiro 22, 2025

Curiosidade do dia

Notícias de uma outra dimensão, de um universo paralelo, de um outro paradigma.

Face ao superavit do cantão de Genebra, na sequência de uma promessa eleitoral, os cidadãos aprovaram em referendo uma baixa dos impostos que pode ir até 11% para a classe média - L'impôt sur le revenu va baisser à Genève dès 2025:

"Les Genevoises et Genevois ont accepté dimanche une baisse d'impôt sur le revenu à une confortable majorité de 61,16%. Cette diminution concrétise une promesse de législature du Conseil d'Etat. Elle fera perdre au canton 326 millions de francs de recettes fiscales.

La baisse d'impôt concerne l'ensemble des contribuables, mais elle varie en fonction des catégories du revenu imposable. La classe moyenne, celle qui ne reçoit aucune subvention étatique, peut s'attendre à une diminution de plus de 11%. Pour les franges les plus aisées, l'allègement ne sera que de l'ordre de 5%.

Cette diminution d'impôt était défendue par la droite, qui l'estimait parfaitement supportable pour l'Etat de Genève, lequel a dégagé d'importants excédents de recettes ces dernières années. Selon elle, la mesure permettra de redonner du pouvoir d'achat à la population, surtout aux catégories qui ne perçoivent aucune aide."

Outro exemplo desse mundo:

"Confrontée à des excédents historiques, Bâle veut rembourser les impôts perçus

Le Grand conseil bâlois demande que soit mis en référendum un projet de loi envisageant de reverser aux contribuables, chaque année, les excédents budgétaires Ils s'élevaient, en 2023, à 464 millions d'€ pour moins de 200 000 habitants."

"O trabalho expande-se de modo a preencher o tempo disponível para a sua realização". A teoria, de autoria do historiador e escritor britânico Cyril Northcote Parkinson, foi publicada pela primeira vez em 1955 em um artigo da revista The Economist. O mesmo escritor foi autor de uma outra versão, mas para os gastos públicos:

"Os gastos públicos aumentam sempre até esgotar toda a receita disponível — e ainda mais um pouco."

Ah, a Suíça, esse estranho país onde a matemática parece funcionar ao contrário. Onde superavits orçamentais não significam a invenção de novos impostos com nomes criativos ou mais uns quantos "fundos especiais" para dissipar o excesso de receitas. Onde, imagine-se, o dinheiro que sobra é devolvido aos cidadãos - esses seres que, noutras geografias, são tratados apenas como fonte inesgotável de financiamento para um monstro estado sempre insaciável.

É uma realidade tão distante que parece ficção científica. Em Portugal, uma notícia destas seria recebida com um misto de incredulidade e horror por certas elites políticas e comentadeiros do regime. Afinal, todos sabemos que baixar impostos "é irresponsável", que "o Estado precisa desse dinheiro", e que "os serviços públicos não se pagam sozinhos". Por cá, qualquer excedente é rapidamente dissolvido em novas promessas de "investimentos estratégicos" que, por alguma razão misteriosa, nunca chegam a traduzir-se em melhorias reais na vida dos contribuintes.

Enquanto em Genebra se discute a devolução de impostos pagos em excesso, em Portugal debate-se qual será o próximo pretexto para aumentar a carga fiscal. Seja a habitação, o clima, a saúde ou simplesmente o gosto pelo esbulho disfarçado de "justiça social", a criatividade para sugar mais um pouco do bolso do cidadão não tem limites.

Afinal, como bem postulava Cyril Northcote Parkinson, o Estado nunca tem dinheiro a mais. Se o tiver, trata logo de o gastar - e, se possível, de endividar-se ainda mais. Mas, pelos vistos, até essa regra tem uma excepção.

Que chatice não termos nascido suíços.

Produtividade Reino Unido, Luxemburgo e Portugal

No JdN do passado dia 20 de Fevereiro várias páginas são dedicadas ao crescimento do turismo, nomeadamente o artigo "Receitas disparam mais de 5% no arranque do ano." O turismo cresce, o seu peso no PIB do país cresce, mas a sua contribuição para a produtividade agregada não deve ser muito positiva. Basta pensar no choradinho dos empresários do sector sempre a pedir imigrantes baratos "porque senão o sector pára."

Um aparte, o Luxemburgo tem uma produtividade elevada porque ... há uma concentração de serviços financeiros. O Luxemburgo é um dos principais centros financeiros do mundo, especialmente em fundos de investimento, private banking e seguros. As atividades financeiras geram um alto valor agregado por trabalhador, elevando a produtividade média do país.

No FT do mesmo dia 20 de Fevereiro encontro o artigo, "Britain's productivity puzzle turns into a crisis". Gráfico neste postal do LinkedIn.


"If the official data can be believed, it is time to panic about the UK economy's efficiency. [Moi ici: Aqui acho que eficácia ficava melhor do que eficiência] Britain's longstanding productivity puzzle is turning into a crisis and the result will be feeble improvements in living standards, weak public finances and discontent in the country's governance. Growth in output per hour worked fell after the global financial crisis, rising only 0.7 per cent a year instead of the pre-2008 2 per cent rate. The most recent data shows labour productivity decisively below this meagretrend.
The proximate causes of the original "productivity puzzle" are now reasonably well understood. While improvements in efficiency deteriorated across broad areas of the economy, the prime driver in the declining growth rate was that Britain's best sectors, best companies and best regions had lost much of their pre-2008 momentum. Advanced manufacturing, professional services, finance and London's economy were no longer pulling away from the rest of the UK." [Moi ici: City of London e a sua área financeira tem sofrido com o Brexit ... Luxemburg rings a bell]
"The underlying drivers of the current crisis are different. The Office for National Statistics has found a "batting average" effect where more people are now employed in low-productivity sectors. This drags down overall rates, reflecting both the growing need for elderly care and a temporary recent surge in lower-skilled migration.
...
There has been a general malaise affecting most sectors of the economy. The Competition and Markets Authority puts this down to a fall in business dynamism, evidenced by fewer people moving jobs, company start-ups and closures declining and fewer young companies displacing more established players in their sectors."


sexta-feira, fevereiro 21, 2025

Curiosidade do dia

Mão amiga fez-me chegar este artigo "These are the most brazen product counterfeits of 2025

"This year, the Plagiarius campaign intends to draw attention to the issue again by awarding the dreaded negative award "Plagiarius." The prize is meant to highlight brazen one-to-one imitations "that deliberately look deceptively similar to the original product, are reckless and morally reprehensible, and lead to stagnation instead of progress and diversity." Although the award does not specify whether an imitated product is legally permissible or unlawful, it represents an expression of the association's opinion."

Não apoio de forma alguma a cópia descarada de produtos, especialmente quando prejudica empresas inovadoras e engana consumidores. No entanto, questiono a afirmação de que as imitações "lead to stagnation instead of progress and diversity". No sector da moda e da marroquinaria, onde a ausência de patentes permite a livre replicação e adaptação de designs, vemos precisamente o oposto: uma constante renovação, diversidade e inovação. A cada estação surgem novas tendências, muitas vezes inspiradas em criações anteriores, o que impulsiona a criatividade e mantém o mercado dinâmico. Claro, há uma diferença entre inspiração e cópia directa, mas generalizar que todas as imitações travam o progresso parece um exagero.

Recordo agora outro postal "Num mundo sem patentes... tudo é acelerado" acerca do impacte do fenómeno da cópia na cerâmica.

O mundo do Red Queen Effect:

No mundo do Red Queen Effect, a sobrevivência exige movimento constante—não basta inovar uma vez, é preciso correr para se manter relevante. Assim como na biologia, onde as espécies devem evoluir continuamente para não serem ultrapassadas pelos concorrentes e pelo ambiente em mudança, o mercado funciona de forma semelhante. A cópia e a adaptação forçam as empresas a reinventarem-se sem cessar, impulsionando ciclos de inovação cada vez mais rápidos. No fundo, o progresso não estagna por causa das imitações; pelo contrário, elas obrigam os verdadeiros inovadores a manterem-se sempre um passo à frente.

BTW, no JdN de hoje pode ler-se:

"Birkenstock "não são obras de arte", diz tribunal alemão
A Birkenstock recorreu aos tribunais para travar a cópia das suas famosas sandálias por outros fabricantes. Para se proteger, defendeu junto das instâncias judiciais que a sandálias com sola de cortiça e tiras de látex são obras de arte, mas o tribunal não tem a mesma opinião. Para o serem, "os produtos têm de ter algum tipo de característica única" diz a justiça alemã."

Competitiveness compass? Be careful what you wish for

"The refusal to adopt modern technologies is, in many ways, the original sin. As time went on, German CEOs and political leaders continued to double down with poor technological, geopolitical and economic bets - and with an economic ideology that equated the economy at large with industry. This is why the biggest concept in the entire German economic debate is competitiveness, something of huge importance for companies, but a concept rarely used for countries. You hardly hear about it in economic debates in the UK or the US. You hear about almost nothing else in Germany.
I recently came across a book written by Hans-Olaf Henkel, a former president of the Federation of German Industry lobby group, who in later life became a member of the European Parliament for the far-right AfD. One of Henkel's big complaints was that Germany had lost the textile industry; he failed to mention that this was the case for every other country in the Western world, too. If he had understood David Ricardo's theory of relative comparative advantage, he would have known that it is perfectly normal for advanced nations to lose certain sectors to developing countries. But Henkel's narrative is the one that stuck in Germany. It is the fight against Ricardo. More competitiveness became the answer to every economic crisis.
In the period from 2005 until about 2015, this focus on competitiveness appeared to work. This is the story of the modern German miracle - the story that got a lot of people confused. Germany managed to prolong an outdated industrial model for a few more years due to a series of fortuitous accidents. At a superficial level, that decade seems to be the counter-narrative to my story. At a deeper level, it is not. That decade is not so much the exception that proves the rule, but a period that laid the foundations for a future crisis."

Trecho retirado de "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau  

Recomendo a leitura dos comentários ao postal "Curiosidade do dia" de 7 de Fevereiro passado.

Recordo o tema da competitividade no Uganda - Competitividade, absurdo, lerolero e contranatura e a relação entre competitividade e empobrecimento.

Os três textos (o de Munchau, os comentários ao postal, e o do Uganda de Reinert) convergem para uma crítica comum ao uso do conceito de competitividade como um dogma económico que, sem um foco real na produtividade, pode levar ao empobrecimento. 

Münchau critica o dogmatismo alemão em relação à competitividade, o que ecoa a análise de Reinert sobre como o termo se tornou um conceito vago e manipulável.

Reinert mostra como competitividade surgiu como um conceito confuso e controverso nos anos 1990. Ele aponta que economistas como Paul Krugman rejeitavam a noção de "competitividade nacional", pois isso poderia justificar políticas que não necessariamente levavam ao aumento da produtividade e do rendimento real. Reinert também destaca que, em alguns contextos (como no Uganda), "competitividade" foi utilizada para justificar a redução de salários e condições de vida, em vez de promover crescimento real. O diagnóstico de Reinert sobre a confusão em torno da competitividade encaixa-se perfeitamente na narrativa de Münchau sobre a Alemanha. O que aconteceu na Alemanha foi exactamente isso: uma busca por competitividade sem inovação estrutural, o que resultou em estagnação. E interrogo-me se não foi isso também que aconteceu no Japão, com base no artigo de Michael Porter, "What is Strategy?"

A frase de João Rocha: "competitividade sem produtividade é igual a pobreza" resume bem a crítica de Münchau e Reinert e é um tema crítico deste blogue.

O facto da Comissão Europeia ter substituído "produtividade" por "competitividade" é preocupante, pois sugere que a UE pode estar a adoptar um discurso similar ao alemão, onde a busca por competitividade pode estar a mascarar a ausência de inovação real.

(imagem daqui)

No fundo, a grande questão aqui é: se um país procura ser "competitivo" apenas reduzindo custos (salários, regulamentações, direitos sociais), ele empobrece. A verdadeira competitividade precisa vir da produtividade, da inovação e da criação de valor.

Neste postal escrevi:

"O Carlos cidadão, preocupa-se com o empobrecimento generalizado da sociedade por causa da aposta na competitividade pelos custos, por causa do apoio a empresas que deviam morrer naturalmente e não serem mantidas ligadas à máquina com apoios e subsídios vários como os do Chapeleiro Louco"

É preocupante como a União Europeia segue os mesmos passos de Portugal ... a doença dos subsídios é tramada. Não porque os subsídios sejam intrinsecamente maus, mas porque (e volto a Munchau):

"Subsidies are geared towards large companies with legal departments, not to entrepreneurs whose mind is focused on their business." 

Para rematar, estão todos com medo da transição: Falta a parte dolorosa da transição.








quinta-feira, fevereiro 20, 2025

Curiosidade do dia

No JdN de hoje num texto assinado por Luís Todo Bom, "A competitividade da Europa", sublinhei:

"Na minha visão, a partir do relacionamento que mantenho com o mundo empresarial, a entidade responsável máxima por esta perda de competitividade é a Comissão Europeia. Constituída, não só ao nível dos comissários, mas também, e sobretudo, ao nível dos dirigentes intermédios dos vários departamentos, por quadros ligados aos vários partidos políticos, sem qualquer experiência e sensibilidade empresarial, vão produzindo legislação abundante, que condiciona a capacidade das empresas europeias de competirem nos mercados globais."

Interessante, no livro "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau ele queixa-se do contrário:

"The domestic-policy counterpart to neo-mercantilism is corporatism. For a country to pursue mercantilist policies, it needs to work hand in hand with the corporate sector. For decades, governments of the left and right subordinated national politics in the interest of specific champion industries. The CEOs of those chosen industries in turn had special access to government - unlike Karl Albrecht, the entrepreneurial anti-hero of my home town. It felt at times as though the car industry chiefs had their own private keys to the chancellery in Berlin.

This is why errors of judgement in the corporate sector get amplified. Everybody hangs together. Everybody believes in the old industrial model.

...

This is why Germany's economic problems are a 'structural slump', an expression invented by the American economist Edmund Phelps. The structure part in this slump relates to the economic model which Germany has clung on to for far too long. The cycle of good times and bad will repeat, but the structural slump will persist - unless you change the model. And change would have to begin with an economic narrative that is not reduced to competitiveness."

No final de um jogo de futebol, muitas vezes o treinador da equipa derrotada queixa-se que perdeu por causa do árbitro... às vezes a equipa até devia ter sido expulsa.  



Again, perceber a necessidade de sair do carreiro

No JN do passado dia 17 de Fevereiro encontrei o artigo ""A flor da amendoeira é festa que não chega ao bolso dos agricultores"".

Interessante, fez-me recuar à transição para este século e ao impacte do choque da China no mundo das PME portuguesas.
"O baixo preço da amêndoa pago ao produtor está a desmotivar muitos agricultores transmontanos de continuarem a manter esta cultura, que é uma das mais emblemáticas dos concelhos do Douro Superior, no distrito de Bragança. A região, até março, enche-se de turistas ansiosos por se deslumbrarem com as encostas pintadas de branco, repletas de amendoeiras floridas.
"É bom que venham visitantes, mas, ao bolso dos produtores, não chega o dinheiro que cá gastam", garante Jorge Sousa, produtor de amêndoa na aldeia de Felgar, em Torre de Moncorvo."

Imagino o impacte da recente produção alentejana nos circuitos de comércio regional Portugal-Espanha.

 ""Tenho três hectares de amendoal, que já foram rentáveis. Agora não são. O preço do miolo de amêndoa baixou para menos de metade em meia dúzia de anos. Passou de sete para cerca de três euros por quilo"

...

O valor da amêndoa é definido pela produção da Califórnia. Flutua em função de haver muita ou pouca quantidade nos Estados Unidos da América, bem como pelo consumo do produto.

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nos últimos anos, o Alentejo equiparou-se com um grande investimento em amendoais de cultura intensiva, graças à rega da barragem do Alqueva.

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O amendoal intensivo tem um potencial produtivo elevado. No Alentejo, 100% dos pomares são regados.

...

Pedro Ricardo entende que é preciso promover o que distingue a amêndoa transmontana das restantes. "Tem mais qualidade do que a do Alentejo e a estrangeira, porque é toda produzida em modo biológico", afiança."

Há dias escrevi este título, ""It's no longer about how you do it; it's about what you do."" No entanto, como neste caso, às vezes não é possível mudar o que se faz (bom, na verdade é, basta seguir as pegadas do velho canadiano conhecido deste blogue). Então, é altura de mudar de mercado. Recordar a artesã de Bragança ou o burel de Manteigas.

Como poderiam os produtores de amêndoa aumentar o seu rendimento?

  • Criar produtos derivados da amêndoa. Eu sou um grande adepto da manteiga de amêndoa que faço em casa. Será que faz sentido? Será que não há mercado, não para o produto comoditizado da Prozis, mas para o produto com marcação da região, marcação da quinta, marcação do produtor?
  • Criar certificação da região. Promover a diferenciação. Ainda há tempos li e escrevi sobre o stress das oliveiras.
  • Apostar na certificação biológica feita por entidades espanholas.
  • Criar experiências turísticas, visitas a pomares e degustações para aumentar os rendimentos com a presença de visitantes. E depois, vender os produtos derivados da amêndoa. Algures no blogue está um artigo sobre explorações pecuárias nos Estados Unidos que fazem mais dinheiro com a venda de produtos e restauração do que com a produção de leite. Fazer um modelo deste tipo
Imaginem se eles trabalhassem o posicionamento... BTW as câmaras parece que estão cheias de dinheiro, porque não lideram um projecto para este tipo de marketing comunitário?
  • Diferenciação pela qualidade - Valorizar a amêndoa transmontana como um produto de qualidade superior, promovendo-a como biológica e tradicional.
  • Marketing territorial: Vincular a amêndoa ao turismo da floração e a um estilo de vida saudável, promovendo-a como um produto premium. 
  • Sustentabilidade e inovação: Apostar em práticas sustentáveis para atrair consumidores preocupados com o meio ambiente.
  • Venda directa ao consumidor: Criar canais de venda online ou em mercados locais não tanto para reduzir a dependência de intermediários, mas para chegar a consumidores em busca de outra proposta de valor que não o preço mais baixo.
Mais uma vez, é preciso pensar como David junto ao ribeiro de Elah (ribeiro dos Pistácios), quando mirou o gigante e se abaixou para colher uns seixos rolados.


Convido a ler o significado de David aqui: Perceber a necessidade de sair do carreiro

quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Curiosidade do dia

Lembram-se desta Curiosidade do dia onde se podia ler:

"Sindicatos saíram da reunião com a garantia de que não haverá redução do número de trabalhadores" 

Hoje o DN traz um artigo, "Mais funcionários e mais burocracia eletrónica nos tribunais?", que ilustra porque é que o estado é irreformável:

"It is difficult to get a man to understand something when his salary depends upon his not understanding it" 

O artigo aborda a transição digital nos tribunais, destacando que essa mudança tem sido, em grande parte, uma mera migração da burocracia do papel para o digital, sem explorar plenamente as vantagens que o ambiente digital oferece. 

"A transição digital nos tribunais tem sido, em grande parte, uma migração da burocracia em papel para uma burocracia eletrónica, sem que se explorem plenamente as possibilidades que o digital oferece. 

A verdadeira digitalização vai além da simples substituição de arquivos físicos por imagens digitais, pois implica uma transformação mais profunda na forma como se processa, acede e partilha a informação [Moi ici: A Justiça tem simplesmente transferido processos físicos para o digital sem modificar a estrutura burocrática, resultando numaa "burocracia eletrónica" em vez de uma verdadeira modernização]

...

Em vez de desmaterializar, automatizar e desintermediar, os tribunais continuam a replicar a lógica do papel no mundo digital. Processos que poderiam ser fluidos e automatizados mantêm-se presos a liturgias pseudodigitais, com batalhões de funcionários a digitalizar, imprimir, assinar e arquivar documentos manualmente, num ciclo interminável que consome tempo e recursos. A impressão de resmas de papel e a dependência excessiva de intervenções humanas mostram que a transição digital ainda não atingiu o seu potencial. [Moi ici: Apesar da digitalização, os processos judiciais continuam a seguir a mesma lógica do mundo analógico, com funcionários dedicados a digitalizar, imprimir e arquivar documentos manualmente, o que gera morosidade. Extraordinário!!! ... Bom, na verdade nem sei como me surpreendo]

...

No entanto, a resistência cultural e o apego aos métodos tradicionais impedem que essas tecnologias sejam adotadas em larga escala. Muitos ainda preferem revirar processos físicos, como se a minúcia manual fosse sinónimo de rigor, ignorando que a tecnologia pode aumentar a precisão e a rapidez. [Moi ici: A mentalidade tradicional e a estrutura corporativa do sector jurídico impedem uma digitalização eficiente. Muitos profissionais ainda preferem lidar com processos físicos, acreditando que a análise manual garante maior precisão]

...

Enquanto os tribunais continuarem a replicar no digital os mesmos processos morosos do mundo analógico, o progresso será ilusório. A verdadeira transformação digital na Justiça só ocorrerá quando se abandonar a lógica do papel e se abraçar plenamente as possibilidades do digital, tornando os processos mais ágeis, acessíveis e eficientes para todos os intervenientes." [Moi ici: O verdadeiro avanço só ocorrerá quando os tribunais abandonarem a lógica do papel e adoptarem totalmente as possibilidades do digital, tornando os processos mais ágeis, acessíveis e eficientes.]

A "DVD leadership team" a funcionar em todo o seu esplendor e glória.

Qual o serviço do estado que não é gerido assim?