sábado, fevereiro 08, 2025

Curiosidade do dia

Por favor, continuem a usar o fax senão o Sr. Rodrigues fica sem emprego.

Faz segunda-feira um mês que comecei a usar aqui a poderosa imagem metafórica:

"They stopped inviting the DVD leadership team to meetings" 

Esta é a quarta vez que a volto a usar.

Hoje no "jornal" Público aparece o artigo "Governo integra vários organismos das Finanças em três novas autoridades". Depois num destaque pode ler-se:

"Sindicatos saíram da reunião com a garantia de que não haverá redução do número de trabalhadores" 

No texto lê-se que o governo pretende fundir e reorganizar diversas direcções-gerais e organismos dependentes do Ministério das Finanças, criando três novas autoridades com responsabilidades específicas na gestão orçamental, financeira e da administração pública. A fusão e reorganização desses organismos visam melhorar a eficácia e a especialização da administração pública.

É extraordinário:

  • presumo que a criação das novas autoridades com responsabilidades mais bem definidas pode eliminar redundâncias existentes entre os organismos que serão fundidos;
  • presumo que com o avanço da tecnologia, muitos processos administrativos podem ser optimizados ou automatizados, reduzindo a necessidade de trabalho manual;
  • presumo que ao unificar entidades, o trabalho pode ser redistribuído de forma mais eficiente entre os funcionários, evitando sobreposição de funções.
No entanto, o governo garantiu que não haverá cortes de postos de trabalho, possivelmente por razões políticas e sindicais. 

No postal de 10 de Janeiro último, "Portugal, Netflix e produtividade" escrevi:

"A decisão estratégica de Reed Hastings e Ted Sarandos de excluir a "DVD leadership team" das reuniões não foi apenas prática, mas simbolicamente poderosa. Eles reconheceram que, para avançar, era essencial abrir espaço para ideias alinhadas com o futuro, mesmo que isso significasse sacrificar o presente. Da mesma forma, Portugal precisa deixar morrer (deixar morrer não é o mesmo que matar) empresas ou modelos que não têm futuro, para realocar recursos e criar espaço para negócios inovadores, especializados e de maior produtividade.

Essa transição não é fácil, seja para empresas, seja para economias. Envolve perdas, dor, mudanças e resistência, mas é a única forma de garantir um "metabolismo económico" saudável, em que novas empresas possam surgir e substituir as antigas."

E assim continua a grande tradição portuguesa da "reestruturação sem reestruturação", onde a palavra mágica "fusão" significa apenas empilhar organismos uns em cima dos outros, sem nunca tocar no verdadeiro tabu: a redução do quadro de pessoal.

Criam-se três novas autoridades, prometem-se sinergias, eficiência e especialização... mas que ninguém se assuste: nem um único funcionário será dispensado. Porque, como todos sabemos, o problema da administração pública portuguesa nunca foi o excesso de pessoas a desempenhar funções redundantes, mas sim a falta de cargos suficientemente pomposos para todos.

Na prática, a metáfora da "DVD leadership team" continua mais viva do que nunca, mas em Portugal há uma diferença crucial: ninguém se esqueceu de convidar "DVD leadership team" para as reuniões. Aliás, provavelmente acabaram de lhes dar gabinetes novos nas tais 'três novas autoridades', onde, com um pouco de sorte, passarão a receber um suplemento remuneratório pelo incómodo da mudança. É o tipo de reforma que garante que tudo muda para que tudo fique exactamente na mesma. E, claro, com um ligeiro aumento de despesa pelo caminho - porque cortar gastos enquanto se 'aumenta a eficiência' seria um conceito demasiado inovador para o nosso metabolismo económico.

Lembrei-me do caso real de uma jovem cheia de pedalada que ao começar a trabalhar numa empresa grande e tradicional, enviou uma série de e-mails para fornecedores e parceiros, para iniciar assuntos relacionados com o seu posto de trabalho. Depois, foi surpreendida por uma administrativa a pedir para não repetir esse procedimento, para não esvaziar de conteúdo o seu posto de trabalho, toda a correspondência teria de passar por ela. Estávamos já na segunda década do século XXI.

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