Notícias de uma outra dimensão, de um universo paralelo, de um outro paradigma.
Face ao superavit do cantão de Genebra, na sequência de uma promessa eleitoral, os cidadãos aprovaram em referendo uma baixa dos impostos que pode ir até 11% para a classe média - L'impôt sur le revenu va baisser à Genève dès 2025:
"Les Genevoises et Genevois ont accepté dimanche une baisse d'impôt sur le revenu à une confortable majorité de 61,16%. Cette diminution concrétise une promesse de législature du Conseil d'Etat. Elle fera perdre au canton 326 millions de francs de recettes fiscales.
La baisse d'impôt concerne l'ensemble des contribuables, mais elle varie en fonction des catégories du revenu imposable. La classe moyenne, celle qui ne reçoit aucune subvention étatique, peut s'attendre à une diminution de plus de 11%. Pour les franges les plus aisées, l'allègement ne sera que de l'ordre de 5%.
Cette diminution d'impôt était défendue par la droite, qui l'estimait parfaitement supportable pour l'Etat de Genève, lequel a dégagé d'importants excédents de recettes ces dernières années. Selon elle, la mesure permettra de redonner du pouvoir d'achat à la population, surtout aux catégories qui ne perçoivent aucune aide."
Outro exemplo desse mundo:
"Confrontée à des excédents historiques, Bâle veut rembourser les impôts perçus
Le Grand conseil bâlois demande que soit mis en référendum un projet de loi envisageant de reverser aux contribuables, chaque année, les excédents budgétaires Ils s'élevaient, en 2023, à 464 millions d'€ pour moins de 200 000 habitants."
"O trabalho expande-se de modo a preencher o tempo disponível para a sua realização". A teoria, de autoria do historiador e escritor britânico Cyril Northcote Parkinson, foi publicada pela primeira vez em 1955 em um artigo da revista The Economist. O mesmo escritor foi autor de uma outra versão, mas para os gastos públicos:
"Os gastos públicos aumentam sempre até esgotar toda a receita disponível — e ainda mais um pouco."
Ah, a Suíça, esse estranho país onde a matemática parece funcionar ao contrário. Onde superavits orçamentais não significam a invenção de novos impostos com nomes criativos ou mais uns quantos "fundos especiais" para dissipar o excesso de receitas. Onde, imagine-se, o dinheiro que sobra é devolvido aos cidadãos - esses seres que, noutras geografias, são tratados apenas como fonte inesgotável de financiamento para um monstro estado sempre insaciável.
É uma realidade tão distante que parece ficção científica. Em Portugal, uma notícia destas seria recebida com um misto de incredulidade e horror por certas elites políticas e comentadeiros do regime. Afinal, todos sabemos que baixar impostos "é irresponsável", que "o Estado precisa desse dinheiro", e que "os serviços públicos não se pagam sozinhos". Por cá, qualquer excedente é rapidamente dissolvido em novas promessas de "investimentos estratégicos" que, por alguma razão misteriosa, nunca chegam a traduzir-se em melhorias reais na vida dos contribuintes.
Enquanto em Genebra se discute a devolução de impostos pagos em excesso, em Portugal debate-se qual será o próximo pretexto para aumentar a carga fiscal. Seja a habitação, o clima, a saúde ou simplesmente o gosto pelo esbulho disfarçado de "justiça social", a criatividade para sugar mais um pouco do bolso do cidadão não tem limites.
Afinal, como bem postulava Cyril Northcote Parkinson, o Estado nunca tem dinheiro a mais. Se o tiver, trata logo de o gastar - e, se possível, de endividar-se ainda mais. Mas, pelos vistos, até essa regra tem uma excepção.
Que chatice não termos nascido suíços.
Sem comentários:
Enviar um comentário