quinta-feira, fevereiro 27, 2025

Um corporativismo estrutural

O capítulo 3 de "Kaput - The End of the German Miracle" de Wolfgang Munchau, intitulado "Low on Energy" é algo nojento.

O autor faz uma descrição bastante crítica e, diria até, repugnante da promiscuidade entre políticos e o sector empresarial na Alemanha. Ele descreve um sistema onde ex-políticos se tornam lobistas influentes, enquanto políticos no poder garantem favores a empresas que, mais tarde, retribuem com cargos e privilégios. (Escrevo isto e recordo as imagens na TV da passada quarta-feira em que um lobista defendia a manutenção da TAP nas mãos do estado)

Exemplos disso incluem:

  • Gerhard Schröder não apenas facilitou os acordos energéticos com a Rússia enquanto chanceler, mas logo após sair do cargo, tornou-se executivo da Nord Stream, financiada pela Gazprom. Ou seja, negociou a dependência energética alemã com Moscovo e depois foi recompensado com um cargo altamente lucrativo. 
  • Karl-Theodor zu Guttenberg, ex-ministro da Defesa, reinventou-se como lobista após um escândalo de plágio e chegou a interceder junto a Angela Merkel em favor da fraudulenta Wirecard, empresa que colapsou num dos maiores escândalos financeiros da Alemanha.
  • WestLB, Landesbanken e o cartel da Renânia do Norte-Vestfália: políticos e banqueiros entrelaçaram-se num esquema de suporte às indústrias tradicionais de carvão e aço, garantindo subsídios e protecção a negócios falidos por décadas, sem inovação real.

Münchau argumenta que esse sistema não é apenas uma questão de corrupção explícita, mas de um corporativismo estrutural, onde a política é vista como uma extensão do sector empresarial. Isso leva a políticas públicas viciadas, que protegem indústrias grandes e evitam mudanças estruturais necessárias. O colapso da Wirecard e os escândalos envolvendo bancos regionais (Landesbanken) mostram como essa cultura de conivência prejudicou a economia alemã, que hoje enfrenta um cenário de estagnação e crise.
Em resumo, a descrição de Münchau é nojenta no sentido de expor um sistema político completamente capturado por interesses privados, onde a "economia de mercado" é, na verdade, um jogo fechado entre velhos amigos que trocam favores - e o contribuinte alemão paga a conta.

Só um cheirinho:
"After he came to power, he would pull off another stunt, similar to that of Salzgitter. The following year, he personally intervened to stave off the looming bankruptcy of Holzmann, a large construction company based in Frankfurt. It was a big success. Workers of the company sang chants praising the chancellor. He did not just bang heads together. He used the state-owned KfW bank to provide a €150-million loan and a €100-million loan guarantee that served as an anchor for the financial packages with the various other banks used by the company. The banks would then chip in €200 million. That still was not enough because the company went bankrupt eventually, but it worked for Schröder politically, giving him a reputation for caring about jobs. I saw Schröder as an early populist. During the Holzmann crisis, he accused the creditor banks of 'thinking more about their business than securing the company and the jobs' - as though banks would ever do anything else."

Sem comentários: