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domingo, março 13, 2016

Vantagens da falta de dinheiro

Ler "Galvanized":
"Often, our best work happens when we're in a situation we wouldn't have chosen for ourselves. The hard part is choosing to be in that sort of situation in the first place, the uncomfortable one where we have no choice but to do better work.
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Find a galvanizer if you can. If you care."
E recordar Zaratustra e Nietzsche... são as dificuldades que moldam o nosso carácter para chegar mais além.
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A falta de dinheiro foi o que salvou a indústria em Portugal. Quem não tem dinheiro teve de apostar na paciência estratégica.
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Oh! Esquecia-me... é politicamente incorrecto falar em sair da zona de conforto para a legião dos que optam pela gratificação imediata.

segunda-feira, dezembro 28, 2015

A prova do tempo... tudo por causa de um Pingo Doce

Este título "Suinicultores entram no Pingo Doce de Braga e detectam falhas na rotulagem" despertou-me a atenção.
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Há qualquer coisa por trás desta acção, o Pingo Doce compra o porco no mercado nacional... ou comprava.
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Então, a minha mente recua a 2011 e à Raporal e a este postal "Especulação à volta da carne de porco".
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Entretanto, uma pesquisa no Google leva-me até "When modern distribution owns the piggy bowl" e... lamento!
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Lamento que as minhas previsões de 2011 se tenham cumprido. Confesso que era fácil, diferenciação sem marca própria dificilmente leva a margens superiores, diferenciação sem paciência estratégica dificilmente leva a resultados positivos. A leitura levou-me a identificar uma terceira falha:
"In 2013 Raporal had overcome the period of transition, and was working together with the large distributors. “Pingo Doce was responsible for more than 50% of the sales” referred Sr. Mário Guarda, one of the board members of Raporal and responsible for the meat slaughtering and meat processing units.
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The result of this partnership was an immediate success; in 2011 the “Pig with more flavour” was awarded the national “The Portugal Winner” prize. In terms of annual performance until 2013, sales were largely made under the umbrella of this contract, which allowed Raporal to continue to grow despite the economic downturn and decreasing consumption of pork meat.
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By 2013, the contract was half way through, and the board of directors used this “free flow” time to evaluate the agreement and the future of “Pig with more flavour” upon the end of the contract.
At this point it had become clear that the initial aim of the differentiation, which rested in the ambition to improve the relationship with a client, was not achieved, as negotiations remained very tough. Moreover Raporal did not create enough brand awareness, with the differentiated product, although this was never its main objective. Nevertheless it did succeed in increasing its sales volume, and more importantly the growth of its business.
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In 2013 Raporal had overcome the period of transition, and was working together with the large distributors. “Pingo Doce was responsible for more than 50% of the sales”, while the percentage of sales through small sellers was becoming more and more irrelevant.
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While sales volumes kept increasing Raporal could not help but see its profit margins go down, mostly because of the tough negotiation with modern distribution agents. [Moi ici: Abaixo faço duas reflexões sobre este sublinhado] In the attempt to improve these relationships, Raporal decided to invest in the differentiation of its product which later was sold exclusively under Pingo Doce’s brand. Although sales figures were very promising, negotiations did not get any better.
With a challenging period ahead, Raporal’s management was forced to continue to develop strategies that would gradually decrease the dependency on this modern distributor although clearly understanding that the market conditions dictated the need to sell to these agents if the aim was to maintain large sales volume."
Reflexão 1: Não deixo de ser sentir um perfume de pedofilia empresarial por este caso. Não sabe o que é? Ver isto e isto.
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Reflexão 2: Aquele "While sales volumes kept increasing Raporal could not help but see its profit margins go down" fez-me logo recordar uma das frases que mais cito neste blogue:
Volume é Vaidade,
Lucro é Sanidade.
 2016 quase a chegar e ainda há tantas e tantas empresas a trabalhar para o market share como objectivo, quando devia ser uma consequência...
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Agora, imaginem que a Raporal tinha contactado há 5 anos este anónimo consultor da província... quanto dinheiro teria poupado? Quanto dinheiro teria ganho? Acham que este consultor iria mesmo propor-lhes "Ser ricos e com saúde" em simultâneo, ou iria trazer-lhes o incómodo de terem de se decidir e alinhar pelo que decidiram, ser rico e doentio ou pobre e com saúde? Acham que este consultor deixaria passar em claro o erro clamoroso de apostar na inovação sem desenvolver marca própria?
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Esta é a prova do tempo, o que previ e o que aconteceu. Há a outra prova do tempo, por exemplo aqui e aqui.
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A sua empresa está no lugar da Raporal em 2007?
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Será que podemos ajudar?

domingo, dezembro 06, 2015

Subir na escala da abstracção (parte II)

Parte I.
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Mergulhemos então no artigo sobre a Wlrod,  "Há “denim” em Famalicão que melhora com a idade".
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A figura que se segue é a recolha dos elementos do texto:
Qual é a estratégia da empresa? Em que é que assenta a sua vantagem competitiva? Qual é a escassez com que faz batota?
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A empresa trabalha com máquinas dos anos 30, máquinas muito ineficientes, quando comparadas com o padrão actual. Por isso, são máquinas que quase já não existem. Essas máquinas permitem fazer tecido à moda antiga, tecido capaz de durar uma vida. A diferenciação assenta nos tecidos que consegue produzir. Como a empresa vende artigos com margens elevadas o negócio não são minutos, o negócio não é eficiência das máquinas.
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Continuemos a subida na escala de abstracção e olhemos para o caso desta empresa com base no canvas de Osterwalder:

Quem são os clientes-alvo?
1. As tribos ligadas ao universo das motas.

Quais os canais de escoamento do produto?
2. Venda online directamente aos consumidores.
3. Venda através de lojas. 

Quais os meios que a empresa prevê para desenvolver um relacionamento com os clientes?
3. Através das lojas.

Qual é a proposta de valor?
4. Roupa à antiga.
4. Roupa durável,
4. Artigos para a vida
"Uniformes" para as tribos das motas.

Quais os recursos-chave?
5. Teares dos anos 30 do século XX. 

Quais as fontes de receita?
2. Vendas online
3. Vendas em lojas

Que conselho dou a estes empresários?
Não sei qual a dimensão, qual a verdadeira importância que eles pretendem dar às lojas físicas. No texto leio:
""Queremos vender lá para fora, online, directamente ao consumidor final. Sabemos que a par desta estratégia temos que fazer um caminho apoiado em lojas, porque as pessoas têm que conhecer e experimentar o nosso material", adianta o empresário."
Sublinhando que estou de fora e que uma estratégia empresarial não é uma ciência newtoniana, também tem muito do que querem os empresários fazer, do que gostam, da sua experiência, da sua paciência estratégica, arrisco propor:
  • Eliminar as lojas da equação;
  • O produto é caro, o produto não é para o cidadão comum, o produto é para os membros de uma tribo estejam eles onde estiverem no mundo;
  • Venda exclusivamente online;
  • Apostar no desenvolvimento da marca, da mística da marca junto dos clientes-alvo e, sobretudo de influenciadores. Quantas concentrações motard existem no Norte da Europa? Quantos clubes motard existem? Quantas revistas motard existem? Quantos sites motard existem? Quem são os influenciadores no mundo motard? Pessoalmente trabalharia o marketing para esta área. Maior custo inicial sem pôr em causa margens futuras. 
Claro que estas máquinas dos anos 30 me fazem lembrar o comentário a este postal:
"Hoje em dia o denim mais procurado pelos especialistas é o japonês, feito com is teares comprados aos americanos quando estes os trocaram por outros mais eficientes."
E me fazem recordar estas outras dos anos 50 em "Têxteis produzidos em países de mão-de-obra cara":
"Most premium jeans' cotton denim fabric comes from the primary maker of high-end denim fabric used in the U.S. and Europe: Greensboro, N.C.-based Cone Denim, a unit of the International Textile Group. There, in a plant known as White Oak, shuttle looms dating from the 1950s weave the denim fabric that winds up in many premium denim brands, including J Brand. The looms are older, narrower, and slower than highly efficient modern looms, but they weave fabric with slight irregularities known as slubs, which impart a texture and character that modern looms lack."
E a sua empresa, tem desafios deste tipo que deviam ser discutidos? Não deviam ser exploradas mais alternativas? Quais os prós e contras de cada uma delas? Não precisa de um advogado do diabo? Não precisa do olhar de um outsider? Talvez possamos ajudar?
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Este caso merece ainda uma outra abordagem na escala da abstracção; por isso, continua numa parte III.

sexta-feira, agosto 21, 2015

Interessante a posição alemã no gráfico...

Mais uma figura interessante retirada de "Your Strategy Needs a Strategy: How to Choose and Execute the Right Approach":

Talvez seja por isto que muitas vezes digo que a empresa americana-tipo não tem paciência estratégica... vive encerrada num modelo mental de estratégia clássica.
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Interessante a posição alemã no gráfico...
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Isto num mundo cada vez mais imprevisível

sexta-feira, agosto 14, 2015

Como se começam a corrigir 30 anos de activismo político?

Depois de ler um artigo como este "French farmers reap a harvest of strife" sinto-me assim:
Pertencemos a dois universos distintos... falamos duas línguas diferentes, cada um com a sua cosmovisão.
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Os agricultores ainda estão na fase marxiana:
"“It’s down to global market prices now, not whether you did a good job,” she says. “You can have a great harvest and not earn much one year, and make more money with lower quality the following. The only thing we can predict is our costs, and they are always rising.”"
Que outro sector da economia ainda acredita que o mais importante é produzir e que o preço deve incorporar o trabalho realizado?
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Em todos os sectores económicos se vive(u) o mesmo. Quando a produção é superior à procura não basta produzir, não chega produzir. É preciso seduzir potenciais clientes para que prefiram os nossos produtos.
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O que é que os economistas e outros membros da tríade propõem para conseguir essa sedução?
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A redução de preços!
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E como é que se reduzem preços e se ganha dinheiro ao mesmo tempo? Aumentando a eficiência, aumentando a escala para distribuir os custos por uma maior quantidade produzida.
"“In France, more than in other European countries where state intervention was less important, the end of the quotas is a major evolution,” says Vincent Chatellier, a researcher at Institut National de Recherche Agronomique. “For 30 years, French authorities encouraged regional development and medium-sized, family-owned dairy farms.”
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Once Europe’s top exporter of agricultural products, France has in recent years been dethroned by the Netherlands and Germany. It is still the continent’s largest producer, but more competitive countries are pushing down the prices of beef, pork and dairy products at home and gaining market share abroad.
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Cédric Daudin, a dairy farmer near Blois, says France has yet to reconcile its ideal of traditional farming, centred around families, and the need to foster larger farms able to compete with lower-cost competitors in Germany or the  Netherlands. Farmers who seek authorisation to extend plots or smallholdings  often run into local opposition, he notes.
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The general public wants small farms because it is more pretty,” says Mr Daudin, 27. “There’s resistance to anything that resembles a factory. But this has a cost. Our labour costs are higher, some of our health and environmental rules are  tougher than the European norms.”"
30 anos de activismo político de governos sucessivos destruíram os sinais económicos que deveriam incentivar os agricultores no terreno a optarem por alternativas estratégicas em função da sua idiossincrasia e leitura do mercado. Uns, teriam optado pela via do gigantismo e tornar-se-iam nos gigantes do low-cost. Outros, teriam abandonado o sector. Outros, muitos, teriam optado por alternativas ao gigantismo: aposta em culturas alternativas; aposta em marcas; aposta em canais de distribuição alternativos; aposta em inovadores modelos de negócio, ...
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30 anos de activismo político que deixaram um grupo profissional a queixar-se do que acontece normalmente nos outros sectores. Uma qualquer fábrica pode produzir bem, pode encher o armazém de algo produzido sem defeitos e, no entanto, não ser capaz de seduzir os clientes simplesmente porque alguém fez melhor ou fez diferente e seduziu os clientes. É a vida!
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O interessante... é como este é o grande desafio, o desafio prioritário em tantos e tantos sectores, em tantas e tantas empresas em todo o mundo.
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Reconhecer que há alternativas à competição pelo preço.
Acreditar que a procura é heterogénea.
E, paciência estratégica para explorar até encontrar a alternativa que se ajusta ao caso de cada um.
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Como se começam a corrigir 30 anos de activismo político?

terça-feira, julho 28, 2015

Curiosidade do dia

A propósito deste texto publicado no Jornal de Negócios, "Dois anos depois, empresas têxteis continuam distantes da bolsa", uma reflexão pessoal.
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O que salvou o sector têxtil português foi o facto de não estar na bolsa!
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Os accionistas não percebem nada do negócio, só querem receber o retorno do seu investimento e, quanto mais rápido melhor.
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Quando um sector como o têxtil português começou a ser dizimado pela invasão chinesa, muitas empresas morreram, muitas empresas tiveram de pensar numa fase de exploration, à procura de novos modelos de negócio, de novos tipos de clientes, de novos tipos de produtos, de novos tipos de propostas de valor.
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Foi preciso fuçar (aqui e aqui, por exemplo) muito e bater contra as paredes muitas vezes. Um accionista dificilmente consegue pensar no longo prazo, falta-lhe paciência estratégica (aqui e aqui, por exemplo), se uma empresa não lhe dá o retorno esperado já, vende e compra acções de outra que o faça.
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Eheheh empresas cotadas na bolsa não contratam anónimos de província (aqui também, por exemplo) para animar reflexões estratégicas, preferem a escola da eficiência, ou seja o choque directo com a Ásia.
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Conseguem imaginar um Kevin O'Leary a ter paciência para algo que não compita com o preço mais baixo, que trabalha com séries pequenas, com muita variedade e sem patentes?

quinta-feira, abril 30, 2015

O truque é a interacção, a co-criação. Os robots não têm hipótese!

Ontem de manhã, fui agradavelmente surpreendido por um tweet que me mereceu logo uma resposta:
Interessante como a frase vai ao encontro do tema da escola do futuro:
"Information creates more value than inventory and interaction creates more value than information!" (fonte)
Algures li uma afirmação de Kasparov que dizia que um grande mestre perdia sempre contra um supercomputador, mas que um jogador mediano com um computador mediano, juntos batiam sempre o supercomputador.
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Em "The Machines Are Coming" leio:
"Most of what we think of as expertise, knowledge and intuition is being deconstructed and recreated as an algorithmic competency, fueled by big data.
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Machines aren’t used because they perform some tasks that much better than humans, but because, in many cases, they do a “good enough” job while also being cheaper, more predictable and easier to control than quirky, pesky humans. Technology in the workplace is as much about power and control as it is about productivity and efficiency.
...
the way technology is being used in many workplaces: to reduce the power of humans, and employers’ dependency on them, whether by replacing, displacing or surveilling them.
...
It’s easy to imagine an alternate future where advanced machine capabilities are used to empower more of us, rather than control most of us. There will potentially be more time, resources and freedom to share, but only if we change how we do things. We don’t need to reject or blame technology. This problem is not us versus the machines, but between us, as humans, and how we value one another."
Nós humanos não somos explicáveis por leis newtonianas. Sim, o retalho levava a deles avante ao principio, com os saldos. Agora, nós humanos, torpedeamos o seu sistema, porque aprendemos a dar a volta. Vai ser bonito ver os humanos a aprender e a tomar partido de formas de enganar as máquinas.
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Gente sem paciência estratégica acha que é tudo uma questão de eficiência e poupança. Gente mais inteligente percebe que o truque é a interacção, a co-criação.
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Em "Is Your Job ‘Routine’? If So, It’s Probably Disappearing" leio:
"In the most recent recession, routine jobs collapsed and simply have not recovered, with employment in both cognitive and manual jobs down by more than 5% if the tasks are mostly routine.
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In recessions of the 1960s and 1970s, routine jobs would fall during the recession but quickly snap back. But after the recession in 1990, something changed. Routine jobs fell and, as a share of the population, never recovered. In the recessions in 2001 and in 2007-09 they fell even further. The snapback never occurred, suggesting that many firms began coping with recessions by scrapping tasks that could be automated or more easily outsourced.
For his part, Mr. Siu thinks jobs have been taken away by automation, more than by outsourcing.
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Many of the routine occupations that were once commonplace have begun to disappear, while others have become obsolete,” they write. “This is because the tasks involved in these occupations, by their nature, are prime candidates to be performed by new technologies.”

Li também "Cheaper Robots, Fewer Workers".

Recordar o destino dos robots da Toyota e das linhas de montagem da Canon na produção, quanto mais na gestão "Why Your Best Managers Soon May Not Be Humans".
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MacGyver ganha sempre ao Sandy!

domingo, abril 12, 2015

Este não pode ser o caminho do futuro

Arrepia-me ler textos assim "Can US manufacturing compete with China?"
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Vou dar um exemplo europeu com o calçado português:
O calçado europeu procura ocupar nichos de valor, em vez de chocar de frente com a produção chinesa.
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O calçado português, goza de boa saúde, assim como muitos outros sectores, como o têxtil:
"Exports of leather goods continue to grow in Portugal. Since 2008 their value nearly tripled and now amounts to 143 million euros.
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Good quality, good customer service and quick response are strong arguments in favour of the Portuguese companies."
Como comparam os custos salariais portugueses com os chineses?

Qual é a via americana? A via da falta de paciência estratégica (mais aqui):
"Manufacturers are bullish on the US these days, and for good reason. Unit labour costs are dropping even as productivity is increasing compared with many countries in Europe at the same time that US energy costs have gone down.
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There is also good reason to believe that the US can be competitive even with China, the world’s manufacturing powerhouse for the few last decades. Which raises the question: Can the US, in fact, be the new rising star in manufacturing?
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“We are hands down more competitive than Europeans both because of energy costs and because of lower labour costs,” [Moi ici: Apetece perguntar; Ri de quê? De sair vitorioso de uma race to the bottom?]
E continua com:
“We should, if projections of the direction of Chinese labour costs are right, be more competitive than China right about now—even if we, too, will have some wage inflation coming as slack in the economy decreases,”
 Este não pode ser o caminho do futuro, o caminho com futuro é o da race to the top, é o do valor mais do que o dos custos.

quarta-feira, abril 01, 2015

Para reflexão

Andei ontem com este texto "How Faribault Woolen Mill Revived A 150-Year-Old Brand" no Cabinet, para o ler num momento com mais calma. Acabei por só encontrá-lo já depois de jantar. Também foi por essa altura que, via Facebook, li "80 cêntimos o quilo" no Roteiro Oficinal do Porto.
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Dá para recordar um comentário que o Miguel fez em tempos aqui no blogue:
"Hoje em dia o denim mais procurado pelos especialistas é o japonês, feito com os teares comprados aos americanos quando estes os trocaram por outros mais eficientes."
Dá também para recordar aquele título de Outubro de 2006 "Portugal ganha a maior rotativa do mundo".
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Leio no Roteiro Oficinal do Porto:
"Quem me conhece sabe que não sou saudosista, não trabalho na defesa do património, nem sou grande fã de preservação museológica. Mas isto interessa-me porque a maquinaria que está a ser derretida é funcional, de alta qualidade e com muito valor a vários níveis, tanto na especificidade da sua função, como na qualidade da construção, que é dificílima de replicar hoje em dia.
...
Infelizmente, vigiar a maquinaria com valor que vamos encontrando, para que não tenha o mesmo fim, é impossível. Mas para quem, como nós, pensa neste tipo de ofícios como actividades com grande valor económico e social, saber que são derretidas silenciosamente as máquinas e ferramentas que os tornam possíveis e produtivos, faz doer o coração."
 Ontem alguém me dizia, custa-me a crer que seja verdade, que os programas  comunitários que agora apareceram, só apoiam a criação de postos de trabalho de licenciados... é a mesma doença provinciana associada aos fabulosos programas de inovação que referi acerca da Chicoração.
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O primeiro texto referido lá em cima, conta a história de uma empresa têxtil vertical americana, com máquinas com 150 anos e que foi resgatada. Alguém olhou para as máquinas com 150 anos, muito mais lentas e ineficientes que as actuais e disse:
“There was no point in going to all the effort of bringing this back to compete with China and India,”
Neste exemplo americano, conta-se a história de uma empresa que em 2011 estava morta, destruída pela globalização e pela falta de paciência estratégica da sua gestão, e que hoje está forte e pujante porque apostou na autenticidade de uma história, de uma marca que dizia muito ao consumidor norte-americano:
"Heritage American goods are a desirable consumer space today"
O pensamento estratégico genuíno equacionou antes, em que campeonato, em que estratégia, em que posicionamento, isto que somos pode ter uma hipótese de sucesso?
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É claro que uma oficina de tipografia não pode aspirar a um posicionamento de mercado de massas de topo, com base numa marca histórica. O que é que uma oficina de tipografia deste tipo pode fazer com vantagem, face aos gigantes actuais? Deve haver um nicho de trabalhos, ou de clientes, que talvez sustentasse a oficina, apesar da carga fiscal e da segurança social. Recordo logo o desafio da artesã: mudar de mercado:


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Claro que aquele trecho do Roteiro, sobre a fraqueza humana é forte:
"Já ouvi falar de casos em que preferiram vender por menos dinheiro à sucata do que a quem ia dar bom uso às máquinas, simplesmente para impedirem que alguém fizesse com aquela maquinaria o que eles não conseguiram."
Pensei nos crimes de violência doméstica em que um parceiro é morto pelo outro, porque este não suportava a perda para outrem de alguém que consideravam sua posse, e mais, que esse alguém pudesse ser mais feliz com um eventual novo parceiro.

quinta-feira, março 26, 2015

Acerca da falta de paciência estratégica

Eis uma descrição da doença americana que já identificámos há muito tempo aqui no blogue e, a que chamamos falta de paciência estratégica:
"“The basic narrative begins in the late 1970s and the 1980s. Through globalization, it became possible and attractive for firms to do business in, to, and from far more countries. Changes in corporate governance and compensation caused U.S. managers to adopt an approach to management that focused attention on the stock price and short-term performance.”"
Trecho retirado de "Why U.S. Firms Are Dying: Failure To Innovate"

quinta-feira, março 05, 2015

Mais produtividade não implica mais salário

"“Increasing productivity does not necessarily lead to higher wages for the average worker,”
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“productivity increases don’t have to be shared with labor. Who gets it all depends who has the bargaining power, and labor hasn’t had it.”"
Como se aumenta a produtividade?
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Uma forma é: Aumentando o numerador, aumentando o preço unitário do que se coloca no mercado, apostando na eficácia. Aí, o aumento dos trabalhadores não põe em causa os ganhos de produtividade.
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A outra forma é: Diminuindo o denominador, reduzindo o custo unitário do que se coloca no mercado, apostando na eficiência. Aí, o aumento dos trabalhadores compete pelos ganhos de produtividade.
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A aposta no crescimento do numerador implica paciência estratégica. O que escrevo eu sobre a paciência estratégica ou a ausência dela nos Estados Unidos?

Recordar:

terça-feira, fevereiro 24, 2015

O luxo no mercado americano

Escrevo aqui no blogue, com alguma frequência, que nos Estados Unidos há falta de paciência estratégica, demasiada crença na força do preço mais baixo como a proposta de valor de eleição. Assim, muitas empresas perante uma dificuldade de mercado, em vez de subir na escala de valor, optaram pela deslocalização.
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Este trecho explica um pouco a situação:
"Remarkably, the US is still very much an under-penetrated luxury market. “[America] has 30 percent of the world’s high net worth individuals (people with more than $1 million in liquid assets) and nearly a quarter of global GDP, but consumes less than a fifth of the world’s personal luxury goods, noted Olivier Abtan of the Boston Consulting Group in a piece recently published by The Economist."
O texto foi retirado de "All Eyes on America"  e traça uma série de oportunidades que podem ser aproveitadas pela nossa indústria do calçado.

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Cuidado com as previsões!

Sabem o que penso sobre os Estados Unidos e a sua crónica falta de paciência estratégica. Isso leva muitas empresas, a maioria mesmo, a concentrar-se em estratégias que valorizam acima de tudo a escala e a padronização.
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Assim, não admira que se conclua:
"50% of occupations in corporations today will no longer exist by 2025"
Claro que a minha reacção instintiva foi uma pergunta:
E quantas das corporações, empresas grandes, de hoje ainda existirão em 2025? 
A previsão escrita acima está na página 4 deste relatório "Fast Forward 2030 - The Future of Work and the Workplace". O interessante é que na página 3 do mesmo relatório encontro:
"81% of interviewees imagine that corporate wealth and value creation will be different in 2030 – driven by ideas and creativity."
Será que o mindset de empresas concentradas na automatização é compatível com o de empresas concentradas nas ideias e criatividade?
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Cuidado com as previsões!

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Re-shoring

De "Manufacturing Moves Back to the U.S.":
Ano após ano a tendência para o reshoring avança.
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Nos Estados Unidos, país com pouca paciência estratégica, a vantagem competitiva privilegiada é sempre o preço (custo), daí:
Mas o reshoring é mais fundo:

domingo, fevereiro 01, 2015

Obliquidade vs curto-prazismo

O Paulo Peres remeteu-me para este excelente texto "Dell mostra". O caso de alguém que percebeu o perigo do curto-prazismo e da falta de paciência estratégica. Depois da Dell sair da bolsa, inverteu a tendência de erosão e:
"“Paramos de ouvir os analistas e passamos a ouvir os nossos consumidores”, afirma Luis Gonçalves, presidente da Dell no Brasil.
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“Afinal, são eles que compram nossos produtos.” A grande mudança da Dell foi, na verdade, uma volta às suas origens como fornecedora de equipamentos para o mercado corporativo. [Moi ici: Focalização nos clientes-alvo] Em vez de buscar o glamour do design da Apple, ou a potência e o baixo custo dos produtos da Samsung, a fabricante americana apostou nas ferramentas mais pedidas pelos departamentos de TI das grandes empresas, como sistemas de gerenciamento e segurança."
E a rematar, algo que ninguém pode negar:
"“Vivemos em um mundo cada vez mais afetado pela miopia – governos que não enxergam além da próxima eleição, um sistema educacional que não enxerga além dos métodos de avaliação convencionais e mercados financeiros que não enxergam além da próxima grande transação”, afirmou o empresário, em artigo publicado no jornal americano The Wall Street Journal. “Toda empresa em qualquer indústria enfrenta os mesmos desafios e oportunidades da era digital. Precisamos encontrar maneiras de sair do ciclo destrutivo do pensamento de curto prazo. Se nós não inventarmos o futuro, alguém irá fazê-lo.” 
O artigo refere os resultados financeiros obtidos e o investimento em novas áreas como a nuvem.
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E voltamos ao tema da obliquidade. Por que a empresa deixou de eleger como objectivo principal os resultados financeiros, eles melhoram. E melhoram porque são uma consequência de se ter recentrado na satisfação dos clientes-alvo e esses é que são os donos do porta-moedas.

sexta-feira, janeiro 30, 2015

Voltar ao Lugar do Senhor dos Perdões

O Miguel Pires, num comentário, chamou-me a atenção para "Bad Assumptions".
Ao ler:
"Bad Assumption 1: Markets are monolithic
If you look at a market monolithically [Moi ici: Como não recordar "Lugar do Senhor dos Perdões (parte III)" e "Quando os macro-economistas falam sobre o desempenho, sobre a produtividade de um sector de actividade, como o calçado, como o têxtil, como o mobiliário, falam de um bloco homogéneo, coerente, maciço... como se todas as empresas, imersas no mesmo ambiente competitivo, tivessem o mesmo comportamento"], simple math dictates that the average will be most heavily influenced by the majority. And, income distributions being what they are, the majority of customers in any market will have less money, and likely be inclined to prioritize price. Ergo, monolithic market analysis necessarily concludes that customers prioritize price.
Markets, though, are not monolithic. They are wildly disparate, able to be endlessly segmented not just by income, but by a whole host of demographic and psychographic factors. In every market there is a segment of people who have the means to buy nice things, and there is a segment that values a superior experience."
E os paralelismos continuam:
"Bad Assumption 2: Consumers only care about speeds, feeds, and priceThe old hoary chestnut that “Apple only wins because its advertising tricks people into paying too much” was raised in my Twitter feed last night, and while the holders of such an opinion are implicitly saying others are stupid, my take runs in the opposite direction: it’s not that people are irrational, it’s that human rationality is about more than what can be reduced to a number. Delight is a real thing, as is annoyance; not feeling stupid is worth so much more than theoretical capability. Knowing there is someone you can ask for help is just as important as never needing help in the first place."
E estas análises, baseadas nas "bad assumptions", são mainstream na Europa mas muito mais mainstream num país sem paciência estratégica como os EUA.


BTW, interessante este ponto:
"Apple lost more money to currency fluctuations than Google makes in a quarter"

quinta-feira, janeiro 29, 2015

Mais importante que o cão que morde o homem e sem syrizices

O título aponta para o óbvio, para o cão que morde o homem, "Calçado português duplica vendas na Polónia e tem "futuro promissor" neste mercado".
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O crescimento do calçado português e das suas exportações já é habitual e merece sempre ser saudado. No entanto, neste artigo, o que gostava de realçar é este trecho:
"o preço médio de um par de sapatos de couro importados na Polónia foi de 19 euros em 2013 (16 euros em 2009), surgindo entre os preços mais elevados os produtos enviados de Portugal (33 euros/par), de Itália (32 euros/par), da Eslováquia (26 euros/par) e da Tunísia (25 euros/par).
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No caso português, os preços do calçado exportado para a Polónia "têm vindo a aumentar todos os anos acima do preço de qualquer dos 10 principais fornecedores", registando uma apreciação de 50% face a 2009."
No imaginário polaco, na mente polaca, se calhar no porta-moedas polaco, em média, um par de sapatos feito em Portugal é mais valorizado do que um par de sapatos feito em Itália.
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Notável trabalho de empresários, de associação e centros de competência sectorial, com paciência estratégica e, sem "syrizices de proteccionismo", infelizmente tão queridas a outros sectores.
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Notável trabalho de criação e divulgação de histórias e narrativas.

quarta-feira, janeiro 21, 2015

Acerca do evangelho do valor

Em sintonia com o que se escreve neste blogue, acerca da falta de paciência estratégica, acerca da doença americana, este trecho:
"U.S. companies typically march to the beat of quarterly earnings. This short-term focus often fosters a corporate culture of quick fixes, and an aversion to risk and experimentation. Since U.S. companies are rarely exposed to the need of looking at pricing as a growth component, pricing is often overlooked in favor of simply adding more customers and increasing market share. In fact, Atenga conducted a study in 2011 of American CEOs that found the vast majority, almost 90 percent,  saw market share gains as their most important profit improvement strategy, while a mere 4 percent said  optimizing price is the best way of increasing profitability."
Tanta gente que precisa de ser missionada no Evangelho do Valor.
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Trecho retirado de "Why Do Europeans Do Pricing Better?"

quarta-feira, janeiro 14, 2015

"Sim, missão para duas ou três gerações seguidas" (parte II)

Parte I.
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De onde vimos?
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Após a abertura das fronteiras, com a adesão à então CEE, perdemos as empresas que trabalhavam para o mercado do topo e tornámos-nos nos chineses da CEE, antes de haver China (momento 1).
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Depois, com a entrada da China, da verdadeira... esse modelo caiu (momento 2):
"“In the ‘90s, Portugal was the ‘China of Europe,’ with very low prices, lower quality and mass production, mainly targeting European markets. Since Portugal joined the Euro, labour costs increased significantly. At the same time, the Chinese, Korean, Vietnamese, Brazilian and North African producers got much better in terms of quality and flexibility. The result was a period of transition with low quality producers going out of business and being replaced by fast growing high-end factories,”"
Estamos agora a viver o momento 3 e, para quem vê ao longe e tem paciência estratégica, há uma oportunidade de fugir da guerra do preço e da luta no lago dos tubarões:
"“Portugal is an excellent source ... “One, it has very similar craftsmanship to Italy and France with significantly lower labour costs. Two, the industry is composed of small-scale factories with very low minimums, which attract higher-end  designers and top-tier ranges. And three, it is easy, cheap, super-quick, normally three days for the import of raw materials such as hides, heels, outsoles, trims, metal components, etcetera from Italy, France and the UK, as well as decent local component supply.”
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“Developing and producing leather goods in Portugal is a fantastic opportunity, as, basically, you get quasi-Italian quality with Italian or French materials, but with the plus of small runs and at a considerably lower cost,”"
Agora é o momento para os líderes se concentrarem na construção, na transição do momento 3 para um futuro momento 4.
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Continua.

sexta-feira, janeiro 09, 2015

A doença americana

A doença americana... a falta de paciência estratégica para apostar na subida sustentável dos preços à custa de maior valor potencial percepcionado pelos clientes.
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Imagem retirada de "Should Your Company Focus on Price or Quality?"