Ontem o amigo JPS chamou-me a atenção para este texto, "O ano do "Great Reset"". O texto merece mais do que um comentário. Por exemplo, a referência ao que há muitos anos aqui no blog chamo de "jogadores amadores de bilhar" (por exemplo aqui, ou a estória do leite e do karma, ou aqui):
"temos aquele que é provavelmente o maior drama contemporâneo: o total desprezo por relações de causalidade. A ausência de causalidade e de prova da mesma não são um impedimento para a adopção de medidas radicais, muito menos para cimentar a crença nas afirmações mais extraordinárias."
Outro comentário acerca do texto acima é o que diz respeito ao livro de Susie Scott, "The Social Life of Nothing: Silence, Invisibility and Emptiness in Tales of Lost Experience":
"O que Susie Scott nos diz, é que tudo aquilo que não ocorreu e tudo aquilo que nunca ocorrerá, têm tanto poder sobre nós como tudo aquilo que ocorreu e tudo aquilo que ocorrerá. A nossa vida é determinada não só pelas opções que tomámos, mas também pelas opções que não tomámos; não só por aquilo que sabemos, mas também por aquilo que ignoramos. No seu trabalho, Susie Scott fornece exemplos da vida quotidiana, como a carreira que não escolhemos, quando, findo o ensino secundário, optámos pelo prudente e não pelo que realmente queríamos estudar/”fazer na vida”. Estas “coisas” que não fizemos, mas poderíamos ter feito, têm imenso poder sobre nós: nós somos aquilo que decidimos ser, mas também aquilo que decidimos não ser. O facto de ignorarmos como “teria sido”, caso tivéssemos feito diferentes opções, tem o potencial de assombrar aquilo que de facto somos e sabemos."[Moi ici: Na minha vida, quando chegou a altura optei pelo imprudente, optei pelo risco, optei por uma vida que me tem dado muita realização profissional, uma vida que me levou a crescer e a ver o mundo como nunca poderia ter visto se ficasse pela segurança. O que por vezes me atormenta é o custo que isso trouxe para a minha família em termos de comodidade. Se tivesse optado pela pílula azul teria um ordenado seguro, garantido ... e muito mais alto. Porque a via imprudente obriga a uma travessia do deserto, uma espécie de teste de iniciação]
As opções que fiz na vida permitiram-me construir uma certa forma de ver e perceber o mundo.
Ontem, continuei a minha leitura de "Complexity Economics: Proceedings of the Santa Fe Institute's 2019 Fall Symposium". A certa altura deparo-me com um texto:
"The economy is an enormous collection of arrangement and institutions and technologies and human actions, buying and selling and investing and exploring and strategizing. It's a huge hive of activity, where the individual behavior of agents - banks, consumers, producers, government departments - leads to aggregate outcomes.
…
It's worth looking more formally at how this equilibrium fitness works in modern economics. You take some situation in economics, whatever it might be; it could be the theory of asset pricing, or of insurance markets, or international trade. You define this as a logical problem. You assume each category of agents - they might be consumers, or investors, or firms - has identical agents. They are all the same, and they know that everyone else is identical to them, and they all face the same problem. Further, you assume the problem is well-defined, and agents are infinitely rational, so they can optimize given the constraints of the problem and arrive at the best outcome for themselves knowing others are behaving the same way."
Fechei o livro e pensei nas palavras de Susie Scott. Pensei que se tivesse seguido a via prudente talvez a minha visão do mundo não andasse muito longe desta. A via imprudente ensinou-me o quão errada está esta abordagem. Depois, arrepiei-me. Talvez a maioria dos decisores políticos do país partilhe desta abordagem.
Continua.