A apresentar mensagens correspondentes à consulta calçado bessa ordenadas por data. Ordenar por relevância Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta calçado bessa ordenadas por data. Ordenar por relevância Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, junho 24, 2022

Depois do hype: O mastim dos Baskerville!

Agora que passou o hype e que as carpideiras já se recolheram, acrescento o meu comentário sobre o relatório do estado da nação publicado pela Fundação José Neves.


 Começo por este trecho que encontrei em “Carlos Oliveira. "Temos empresas demasiado preocupadas com o Estado, com os apoios, com os incentivos"” (BTW, este título remete-me para uma série de postais publicados aqui no blog ao longo dos anos, como este: “O by-pass” ao estado e ao país):

O que faz o governo de turno quando as empresas (como a Sonae, ou a Aquinos) não podem suportar os salários mínimos? Lança um apoio. Recordar “No país do Chapeleiro Louco (parte II)” em 2022, ou “Acham isto normal? Ou a inconsistência estratégica! Ou jogar bilhador como um amador!” em 2009. Recordo “Aspirar por objectivos sem ter coragem para a disciplina que requerem”.


O trecho acima faz-me voltar ao postal da semana passada “Competitividade sem competitividade? Mas o que é ser competitivo?” e à figura:

Enquanto escrevo estas linhas, mão amiga envia-me pelo Twitter este artigo “Grandes marcas de calçado desportivo desviam encomendas da Ásia para Portugal”. Isto é mau? Claro que não, claro que é bom ponto.


No entanto, volto ao tema dos “flying geese”:

Em “The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!” é possível ver o exemplo da história do sector do calçado na cidade de St. Louis nos Estados Unidos. 


Um país com níveis de produtividade superior não pode ser construído com base em sectores competitivos, mas com baixa produtividade.


Estão a ver a consequência imediata desta conclusão? Mata o que se segue:


Este tweet é representativo de parte das conclusões do referido relatório. Se os empresários e os trabalhadores tiverem mais qualificações as empresas alcançarão níveis de produtividade superior. Mais qualificações não permitem mais produtividade? Claro que sim, mas são aquilo a que chamo as melhorias de engenheiro. Recordo de 2009 “Actualizem o documento por favor”. 


A produtividade é um rácio entre entradas e saídas, ou um rácio entre os recursos utilizados e o valor gerado, como ilustro em “Acerca do Evangelho do Valor”:

 

Quando o relatório refere:


“e não há produtividade sem qualificações, pelo que é essencial apostar na formação ao longo da vida, na reconversão e aquisição de competências.

...

Há ainda o problema das qualificações dos gestores, em que quase não se tem visto investimento, com o país a apresentar a maior percentagem de empregadores que não terminou O ensino secundário. "Em 2021, era o caso para 47,5% dos empregadores, praticamente o triplo da média europeia (16,4%).”


Podemos acreditar que a produtividade cresce com mais qualificações, mas esse crescimento é pouco para o que o país precisa, esse crescimento é baseado sobretudo na melhoria da eficiência, na redução das entradas. As melhorias de produtividade que o país precisa são aquelas que são baseadas em brutais aumentos do valor criado. Mais valor criado traduz-se em preços mais elevados. As melhorias de produtividade que o país precisa são baseadas no gráfico de Marn e Rosiello como explico em “Para aumentar salários ... (parte IV)”:

 

E isto leva-nos à lição dos finlandeses que aprendi em 2007:


"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."
Mas, e como isto é profundo:
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."


E isto leva-nos a um pedido que faço aqui no blogue há muitos anos: DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!!!


Mais formação para os trabalhadores actuais ou futuros não resolve o problema porque o problema não está na oferta do mercado de trabalho, o problema está na falta de procura para trabalhadores mais qualificados. Mais formação dos trabalhadores num país sem procura por ela promove a emigração. Recordar o postal “Lerolero”: 


“In my experience, well-educated Haitians are very easy to find as taxi drivers in the French-speaking part of Canada. An estimated 82 per cent of Jamaican medical doctors practise abroad. Seventy per cent of all inhabitants of Guyana with a university education work outside the country. North American hospitals vacuum up poor English-speaking countries like Trinidad for nurses, while in many places in the Caribbean Cuban nurses are the ones that keep the health sector functioning.”


Mais formação para os trabalhadores actuais é um tema que sigo no blogue desde a primeira década deste século com as promessas de amor de Sócrates. Recordar o tema da caridadezinha em “Caridadezinha strikes again”:


"The problem is that poverty and unemployment are not much influenced by the qualities and qualifications of the workforce. They depend, rather, on the state of demand for labor. They depend on whether firms want to hire all the workers who may be available and at the pay rates that firms are willing, or required, to offer, especially to the lowest paid."

Neste podcast, “Formação e salários: não podemos nivelar por baixo”, João Ferreira do Amaral pede estudos, sector a sector, para comparar as empresas mais produtivas de outros países com as empresas portuguesas, para retirar ensinamentos. E regresso a 2011 e a uma tarde de Verão em Guimarães a fazer horas para entrar numa empresa, e ao que aprendi com mais uns nórdicos em “Acerca da produtividade, mais uma vez (parte I)”. Comparar sector a sector é, inconscientemente, assumir que as saídas de cada empresa são semelhantes e que as diferenças estão na forma de gerir as entradas para produzir as saídas. O que os nórdicos me chamaram a atenção é que não faz sentido comparar a produtividade de quem faz sapatos que saem de uma mini-fábrica-ateliê a 600 euros o par com quem faz 2000 pares de sapatos por dia a 25 euros o par. Recordo de 2010, “As anedotas”. 


Percebo que a Fundação José Neves e outras entidades se foquem na formação porque é algo que se pode planear e porque é algo que agrada a uma vasta fauna de partes interessadas instaladas no terreno e habituadas a viver da formação.


Então quem vai dar formação aos empresários? Daniel Bessa? Alguém de entre estes outros 24 cromos?


Deixem os empresários que estão a trabalhar em paz. Saúdem o seu esforço. Concentrem-se no que chamo o mastim dos Baskerville. Concentrem-se nas empresas e nos empresários que não existem. As melhorias de produtividade que o país precisa dependem das empresas e dos empresários que não existem. Recordo “Empresários e escolaridade ou signaling”. 


Por fim, volto ao exemplo irlandês. Acredita que o brutal salto de produtividade na Irlanda foi conseguido à custa dos empresários irlandeses? Se acredita que sim, pense outra vez. Recordo, “Tamanho, produtividade e a receita irlandesa”. 


Lembre-se do mastim dos Baskerville.

 

terça-feira, junho 02, 2020

A subida na escala de valor (parte III)

Parte I e parte II.

Tudo pode ser posto em causa porque tudo foi perdido.

Dizer a um empresário que terá de encolher a sua empresa, que terá de despedir gente, que terá de aumentar preços, que ..., parece-lhe absurdo, injusto, demasiado, exagerado. Então os clientes estão a abandonar-me porque tenho preços altos e está a dizer-me que tenho de aumentar preços?!

Por isso, vai resistir, vai agarrar-se ao modelo existente até à última. Por isso, muitos não mudam a tempo e as empresas acabam por morrer.

Uma frase que uso há anos: os macacos não voam, os macacos trepam ás árvores. Um empresário de calçado não começa a fabricar foguetões para subir na escala de valor, só sabe fazer sapatos, poucos são os que mudam de ramo.

O que os empresários portugueses fizeram nos sectores tradicionais foi à custa da exploration descobrir uma alternativa onde podiam assegurar uma fonte de rendimento. A teoria da efectuação propõe uma explicação com os seus 5 princípios. Por exemplo, começar com o que se tem à mão, se a vida nos dá limões em vez de laranjas façamos limonada, quem é que conheço que possa ajudar-me?, o que posso arriscar sem pôr o futuro em causa? ...

A alternativa que emergiu, e eu sublinho a palavra emergiu, pois não foi fruto de um qualquer directório socialista, pois não foi fruto de experimentação planeada, mas antes resultado de uma caótica e quiçá desesperada tentativa e erro por muitos, cada um com o seu projecto. Recordo o que Sérgio Figueiredo e Daniel Bessa (em 2005) e André Macedo (em 2008) diziam sobre os sectores tradicionais. BTW, tremam ao pensar que um directório socialista vai usar 26 mil milhões de euros em investimento estruturante na economia...

A alternativa que emergiu mais do que baseada num produto foi baseada numa vantagem competitiva: a rapidez e a flexibilidade. Em Outubro de 2015 escrevi "Do concreto para o abstracto e não o contrário" sobre o que considero o erro dos livros de gestão quando aplicados às PMEs. Nas PMEs não se pode ir da teoria para a prática, tem de se ser mais pragmático e rápido, tem de se ir da prática para a teoria para depois fazer a batota. Atenção, não existem vantagens competitivas intrínsecas tem de haver interessados nelas, tem de haver clientes que as valorizem. Uma empresa capaz de prazos de entrega rápidos é de pouco valor para um cliente organizado que faz encomendas com 4 semanas de antecedência. No entanto, essa mesma empresa é preciosa para um outro cliente desorganizado, ou num sector super-rápido e fluido que faz encomendas com 1 semana de antecedência e às vezes para ontem.

A PME tuga num sector tradicional, fruto da cultura do desenrascanço, fruto da proximidade dos mercados da Europa Ocidental descobriu e foi descoberta como fornecedora de produtos que se vendiam nas lojas a preços cerca de dez vezes mais, no mínimo, do que os produtos deslocalizados para a China. Claro que o produto à saída da fábrica era 3 a 10 vezes mais caro que o produto fabricado na China, mas o empresário não ganhava assim tanto, tinha de pagar salários mais altos, tinha de pagar matérias-primas mais caras, tinha um jugo impostal de respeito ...

E foi este modelo que deu origem a um novo Estado 2 de suposto equilíbrio académico. O modelo revelou-se um sucesso assegurando quase dez anos de crescimento das exportações, subida do preço médio, aumento do número de empresas, aumento do número de trabalhadores no sector.

Rust never sleeps. Assim que o modelo revela algum sucesso os decisores de Excel resolvem entrar em cena. Eles só entram depois dos pioneiros terem apanhado com todas as setas. E dinheiro começa ser canalizado para replicar o modelo, mas em países de mão de obra mais barata, mas com a mesma vantagem competitiva da distância para os locais de consumo - recordo Simon Wardley e o eterno efeito da eficiência.

Norte de África, Leste Europeu e Turquia. Leste Europeu mais Roménia, Bulgária, Albânia porque os outros países já estão a outro nível de salários e de custos de oportunidade... o 25 de Novembro devia ter tido outro desfecho. Assim, nunca tivemos o nosso 1989 a sério.

Rust never sleeps e a seu tempo, 2018 foi o apogeu deste Estado 2, os novos concorrentes vieram estancar o aumento de preços ou até mesmo a reduzi-los. E o Estado 2 começou a entrar em desequilíbrio. Recordo este postal de 24 de Abril de 2019 "O fim de um ciclo" sobre isto:


Enquanto o modelo dava sinais de esgotamento por si próprio, o Estado e os intelectuais decidiam acelerar o seu fim invertendo os pressupostos da relação salários e produtividade

Em cima disto surge o Covid-19 com encomendas canceladas, encomendas não pagas, inventários por vender ,...

Apetece dizer vamos ficar todos bem, o slogan mais parvo jamais inventado. Só pode ter sido inventado por um funcionário com direitos adquiridos

Continua com e como se sai disto?


quinta-feira, agosto 29, 2019

Filosofia, empresas, antifragilismo e a seta do tempo

Há dias aqui no blogue, em "O fragilista e o diabo", senti a necessidade de complementar uma análise com o recurso a ligações para outros textos relevantes para o tema (uma técnica em que o jornal digital Observador me copiou, ehehehe), numa dessas ligações quis fazer um video com uma monumental comunicação de Alicia Juarrero sobre a diferença entre o fragilista, o arrogante, o tolo fail-safe e o antifragilista (Nassim Taleb talvez não concorde e refira que é apenas resiliente) safe-fail. Como constatei que o video de 2015 já não está no endereço inicial, procurei outro vídeo que ajudasse os incautos a avaliarem o calibre da senhora. E foi assim que acrescentei este vídeo depois de o escutar (entretanto, descobri no Youtube o vídeo original de 2015 e acrescentei-o ao blogue).

Ainda bem que o primeiro vídeo foi apagado, porque este outro é ainda melhor, abordando ainda mais temas. Um desses temas é o do papel do tempo. Quis saber mais, por isso pesquisei e descobri  um livro de Alicia Juarrero (na verdade encontrei vários, mas uma fonte qualquer dizia que um era o melhor), que arranjei na internet: "Dynamics in Action: Intentional Behavior as a Complex System"

Analisei o índice e resolvi ler, para começar, os capítulos 1, 7 e 8.

E começou o festival. O capítulo 1, "How the Modern Understanding of Cause Came to Be", abre com Aristóteles e o lançamento da carga ao mar, ou nos tempos modernos, a aplicação da austeridade. Lembram-se? Passos era um ogre mau que aplicou austeridade voluntariamente, porque era mau como as cobras e queria provocar sofrimento. Comparem com a explicação que os media vão dar em 2020 ao reforço da austeridade pelo próximo governo: é uma acção involuntária, há que sobreviver à tempestade ( mas eu sofro o castigo máximo que os deuses podem aplicar a um humano, tenho memória e ainda me lembro do capitão que prometeu que com ele não haveria mais tempestades). BTW, os membros do tribunal constitucional deviam aprender a Lei de Rhodes.

No capítulo 7, "Some New Vocabulary: A Primer on Systems Theory", encontro uma reflexão preciosa sobre o papel do tempo. Alicia Juarrero usa Galileu e Newton para balizar a época em que o tempo não fazia parte da ciência. Segundo ela, ainda estávamos a viver da herança filosófica grega das coisas terem uma essência.

Parei. E os meus olhos abandonaram o ecrân, e olharam o horizonte. E fiz a ponte para o jovem Léon Walras em Paris, maravilhado com a ciência do seu tempo, qual Greta, e a querer criar uma ciência nova, hoje conhecida por economia. (Como aprendi em "The Origin of Wealth: The Radical Remaking of Economics and What it Means for Business and Society" de Eric Beinhocker)
Talvez os alicerces da economia como ciência tenham sido criados, confesso que não fui ver, antes de Darwin e da entropia, (mas teve de ser num tempo em que ainda não havia a Matemática capaz de trabalhar as equações longe do equilíbrio). Por isso, percebo melhor o quanto me passo com académicos e políticos que falam de economia sem referir o vector tempo, sem considerar o contexto (imaginem seguir as indicações de Catarina Martins ou do futuro primeiro ministro Pedro Nuno Santos e não pagar aos alemães... Só quem não considera o tempo é que não vê as consequências, amadores a jogar bilhar). E aqui no blogue uso há anos recorrentemente a referência a Galileu, à ciência Newtoniana e à histerese, para chamar a atenção para a importância do tempo na Economia. Entretanto, vou sofrendo com a tríade. Lembram-se? Os paineleiros, os políticos e os académicos, gente sem skin-in-the-game que manda postas de pescada sem nunca terem queimado pestanas no mundo real.

Para Galileu uso esta imagem das experiências na Torre de Pisa:


Voltando ao livro, Alicia Juarrero descreve como a segunda lei da termodinâmica veio introduzir o vector tempo na ciência e como Darwin e a evolução tornaram o factor tempo fundamental. Depois, com Ilya Prigogine introduz-nos num mundo fundamental para o trabalho que realizo nas organizações, a dinâmica de sistemas e o pensamento sistémico.


Nos dois vídeos que vi com as comunicações de Alicia Juarrero ela começa sempre com a manifestação de uma surpresa por uma "teórica" ser convidada para congressos de praticantes, de empíricos. Deve ser uma forma de baixar as expectativas iniciais para depois overdeliver. Porque qualquer gestor tem muito a aprender ao ouvi-la a falar do contexto e do tempo.

Nunca me esqueço que eu aproveitava as viagens para o trabalho, e para casa, nos anos 80 do século passado para devorar tudo o que apanhava de Karl Popper e, dizia para mim: isto tem tudo a ver com o meu trabalho de melhoria de produtos e processos como engenheiro de produto. Ou de descobrir Ortega y Gasset e dizer isto até dói de tão relevante para o meu trabalho com as organizações.

Exemplos de Alicia Juarrero?
Os académicos derrotados versus os ignorantes empíricos que constroem/descobrem soluções (é um bailado entre os organismos (as empresas) e o meio (a paisagem competitiva):
"For Darwin as well as Aristotle, then, science cannot explain novelty or emergence unless that seemingly novel, emergent, and original event is really neither truly novel, nor emergent, nor a radical new beginning, but instead is already there, folded into the dynamics, just waiting to be unfolded and made actual."[Moi ici: Como não recordar Daniel Bessa e as suas previsões sobre o calçado]
O contexto e a ISO 9001:
"How external to an organism is the niche in which it is located if, over time, features of that environment contribute to specifying the very primary properties of that kind of living thing? An organism's primary properties are, according to evolutionary theory, both a record of past environments and a conjecture about the current one.[Moi ici: Tema deste postal ainda esta semana] The overall species-niche supersystem determines the traits that individual organisms will exhibit. It is known that two animals with the same genotype can be phenotypically different depending on the environment in which they develop. Is this not a form of self-cause whereby the distributed whole influences its components?"
A paranóia da economia académica da busca do equilibrio, e o meu trabalho junto das PME... fugir do equilibrio como o diabo da Cruz. As PME têm de ser criadoras de desequilíbrio. O equilibrio para elas é sinal de morte. Animei uma formação esta semana que no final foi invadida por uns penetras que sem avisar vieram dar um toque final para ligar a formação ao day-after. Um desses penetras, o director executivo da organização, usou várias vezes uma palavra que saboriei e disse que a ia roubar para a usar muito mais vezes: desassossego. As PME devem ser organizações paranóicas a criar desassossego. Como dizia Ortega y Gasset, as PME não podem ser como aqueles que vivem e são em cada instante o que já são, sem esforço de perfeição em si mesmas, bóias que vão à deriva. As PME não podem esperar pelo futuro, têm de o criar (Ah! Isto é tão Popper e ccz!)

segunda-feira, março 12, 2018

Delicioso

Aqui no blogue costumo escrever sobre o fuçar, sobre como os práticos da indústria, sem CV na academia, fazem o que os académicos não conseguem encontrar nos seus estudos. Recordo sempre Daniel Bessa e o calçado.

Matthew Syed no livro "Caixa Negra" conta uma estória muito interessante:
"This was a major problem for the company, not just because of maintenance and lost time, but also in terms of the quality of the product. They needed to come up with a superior nozzle. Fast. And so they turned to their crack team of mathematicians. Unilever, even back then, was a rich company, so it could afford the brightest and best. These were not just ordinary mathematicians, but experts in high-pressure systems, fluid dynamics, and other aspects of chemical analysis. They had special grounding in the physics of “phase transition”: the processes governing the transformation of matter from one state (liquid) to another (gas or solid). These mathematicians were what we today might call “intelligent designers.” These are the kind of people we generally turn to when we need to solve problems, whether business, technical, or political: get the right people, with the right training, to come up with the optimal plan.
.
They delved ever deeper into the problems of phase transition, and derived sophisticated equations. They held meetings and seminars. And, after a long period of study, they came up with a new design. You have probably guessed what is coming: it didn’t work. It kept blocking. The powder granularity remained inconsistent. It was inefficient. Almost in desperation, Unilever turned to its team of biologists. These people had little understanding of fluid dynamics. They would not have known a phase transition if it had jumped up and bitten them. But they had something more valuable: a profound understanding of the relationship between failure and success. They took ten copies of the nozzle and applied small changes to each one, and then subjected them to failure by testing them. “Some nozzles were longer, some shorter, some had a bigger or smaller hole, maybe a few grooves on the inside,” Jones says. “But one of them improved a very small amount on the original, perhaps by just one or two percent.” They then took the “winning” nozzle and created ten slightly different copies, and repeated the process. They then repeated it again, and again. After 45 generations and 449 ‘failures,’ they had a nozzle that was outstanding. It worked “many times better than the original.” Progress had been delivered not through a beautifully constructed master plan (there was no plan), but by rapid interaction with the world. A single, outstanding nozzle was discovered as a consequence of testing, and discarding, 449 failures."
Lembrem-se do desfile.

segunda-feira, fevereiro 27, 2017

Do not try this at home


Recuo a Agosto de 2008 e a esta especulação:
"A China aproxima-se rapidamente de um cenário em que terá uma parte da população (cerca de 400 milhões de habitantes, números do The Mckinsey Quarterly) com um rendimento médio semelhante ao das famílias na União Europeia. Especulemos pois!
.
E se...
.
... algures entre o final dos Jogos Olímpicos e o final deste ano a China deixar de apoiar a moeda americana, resolvesse apreciar o renminbi e optasse por fazer da sua procura interna o motor do crescimento da economia?
.
Mesmo sem este cenário especulativo o The McKinsey Quarterly prevê que em 2025 os lares chineses consumam tanto como os lares japoneses."
Quem acompanha este blogue sabe a importância do marcador reshoring.  Por exemplo, os últimos postais:

Ou por exemplo recuar a Maio de 2006, quando ainda não havia marcadores e recordar "O regresso dos clientes".

De há cerca de 3 anos para cá comecei a sentir, de forma ténue inicialmente, o regresso de clientes não por causa da rapidez, da flexibilidade, da proximidade, da marca Portugal mas por causa do ... preço, por causa da China estar mais cara e do efeito do banhista gordo.

Eis que agora o Financial Times aparece para se juntar ao coro com "Chinese wages now higher than in Brazil, Argentina and Mexico":
"Average wages in China's manufacturing sector have soared above those in countries such as Brazil and Mexico and are fast catching up with Greece and Portugal after a decade of breakneck growth that has seen Chines pay packets treble.
.
Across China's labour forces as a whole, hourly incomes now exceed those in every major Latin American state apart from Chile, and are at around 70 percent of the level in weaker eurozone countries, according to data from Euromonitor International, a research group."

Como não recordar esta tabela e este título de 2011 "It's not the euro, stupid! (parte I)":


Percebem agora porque usei esta figura há dias:
Mesmo com a geringonça a erguer barreiras ...

Cuidado, não cometam o erro do consultor-criança, o de querer usar o que resulta num país com um mercado interno de 1400 milhões de consumidores e que valoriza o lucro, a acumulação de capital e o sucesso empresarial, num país de mentalidade socialista e que adora rendas e incumbentes.

Recordo agora o empresário de calçado que em 2009 acreditava que o futuro eram mais 5 anos no máximo, porque os chineses acabariam com tudo... gente que não lê e dedica o pouco tempo que tem a ouvir os supostos sábios que regista sem capacidade de crítica:
"Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas."
Como não pensar neste anónimo da província versus estes engravatados e sorrir ao ler "Surgeons Should Not Look Like Surgeons".

Termino com "Turn, turn, turn" e os mundos de Lindgren.

Este postal será provavelmente o único que será escrito esta semana, por causa de uma mudança de casa em curso que altera rotinas e rouba tempo dedicado à reflexão e leitura.

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Os que não tiveram capacidade de sair do território nacional foi quem nos salvou

"An important paper, “The China Shock”, published by economists David Autor, David Dorn and Gordon Hanson, showed convincingly that US manufacturing sectors that have been particularly exposed to competition from China have been hurt deeply and lastingly. Just like Harfordia’s childcare sector, they’ve been wiped out. That’s not a surprise to an economist. What is a surprise is that, many years after the initial shock, people hadn’t managed to retrain or relocate and find good new jobs. The US economy, more flexible than most, is less flexible than we’d thought.
.
One can’t help wondering how easy it will be for the UK economy to replace deeply established patterns of inter-EU trade with something more global. Such changes can be wrenching."
Há muito que exponho aqui no blogue algo que serve de explicação simples para esta falta de flexibilidade da economia dos EUA.
.
Lembram-se do que dizia Daniel Bessa em 2005 acerca do futuro do calçado?
"Só não é ainda uma catástrofe, porque vai ficar pior: o sector do calçado, ex-libris da nossa indústria tradicional, um caso exemplar de modernização, caminha silenciosamente para a morte.
...
Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas."
O ponto é aquele "As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas"

As empresas americanas perante o choque chinês, tiveram capital para seguir o conselho de Daniel Bessa. Não mudaram nem de estratégia nem de posicionamento, para isso deslocalizaram-se para a China.

As empresas portuguesas não tinham capital para se deslocalizarem. Assim, muitas morreram, outras encolheram, e alguns dos desempregados criaram novas empresas baseadas em novos modelos de negócio e/ou novas propostas de valor. Alguns anos de fuçar, de bater contra a parede, de tentativa e erro geraram algumas hipóteses bem sucedidas, depois o spillover fez o resto.

Exagerando, podemos dizer que nos EUA não ficou capital e/ou know-how para fazer o mesmo que foi feito em Portugal.

Recordo do início do livro “How we compete” de Suzanne Berger and the MIT Industrial Performance Center, publicado em Janeiro de 2006, a estória de uma empresa têxtil americana que nos anos 70 e 80 ganhava prémios. Depois, a procura começou a baixar. A gestão acreditou que a culpa era do custo/preço. Por isso, deslocalizaram-se para a Mongólia. Berger relatava que tinha encontrado um dos elementos da equipa de gestão num aeroporto e que da conversa tinha percebido que a empresa se encontrava em adiantado estado de decomposição. Segundo ela, o problema não tinha passado elo custo/preço mas pelo não acompanhamento das tendências da procura.

Trecho inicial retirado de "Remind me what was so great about trade?" e BTW, não percam a ironia de Tim Harford.

BTW2, num lado conspirativo, já aqui defendi que a celeuma que se vive agora nos EUA por causa da globalização, tem tudo a ver com o fim da vantagem de produzir na China, que estava na mão dos grandes grupos económicos. Finda essa vantagem, esses grupos precisam de protecção para regressar a uma produção nos Estados Unidos sem serem massacrados pelas empresas europeias.

domingo, julho 17, 2016

Do mobiliário para as elites que nos pastoreiam

Tenho sempre dupla precaução em relação ao que diz Daniel Bessa. No entanto, dessa vez em 2005 estávamos em sintonia:
"Se tudo correr bem", para a economia, "o desemprego vai subir."
Recordar o exemplo do calçado: "Por que é que calçado e têxtil têm tido desempenhos tão diferentes?".
.
Recordar o exemplo do têxtil e vestuário: "Iliteracia estratégica nos jornais"
Recordar o exemplo do mobiliário: "O exemplo do mobiliário". Acerca do mobiliário recordar também:

Por isso, tudo em sintonia com estes números:
"Em 10 anos, o sector de mobiliário para o lar perdeu mais de 2000 empresas, segundo um estudo da Informa D&B divulgado esta quinta-feira.
.
Em 2015, a indústria registava 3850 empresas em atividade (22145 assalariados), um universo que compara com 6000 fabricantes em 2004."
Havia quem interpretasse a previsão de Daniel Bessa desta maneira:
"Segundo aquele dirigente patronal, esta subida [dos salários] estará ainda relacionada com a modernização tecnológica na indústria e com a escassez de mão-de-obra especializada, o que obriga a pagar melhor aos trabalhadores especializados. De acordo com Van Zeller, este processo traduz o início da transição de uma economia baseada na mão-de-obra pouco qualificada para uma mais especializada. «É um processo que já aconteceu noutros países, é positivo, mas tem como contraponto o aumento do desemprego». Para não perderem competitividade, «as empresas emagrecem para compensar os custos salariais e o desemprego aumenta», [Moi ici: Completamente ao lado, completamente absurdo. Quase diria ... infantil!!! As empresas não encolheram porque os salários subiram!!! As empresas encolheram porque tiveram de mudar de estratégia. Recordar "Há 12 anos éramos 500 pessoas e tínhamos cinco clientes activos. Hoje somos 160 e temos mil clientes activos". A figura abaixo remete-nos para ""despedir é sempre resultado de uma maldade ou de preguiça da gestão"". Como é possível pensar que se mantém a estratégia quando entra uma China no jogo... e é isto o pensamento das elites iluminadas que nos pastoreiam. Bem podiam recordar o exemplo dos sapatos que não se vendiam a 20€ e passaram a vender a 230€. Não são os mesmos sapatos, não são os mesmos clientes, não é o mesmo modelo de negócio] explica. «É nesse sentido que Daniel Bessa diz que, se tudo correr bem, o desemprego vai subir»" 


Trecho retirado de "Mobiliário. Em 10 anos desapareceram mais de 2000 empresas"



terça-feira, junho 07, 2016

Descredibiliza-se logo, e em grande

"Muitas das pequenas empresas, nomeadamente no calçado, que conseguiram triunfar, se for ver alguns casos, são pessoas que estiverem alguns anos fora do país, que perceberam e conseguiram criar alguma inovação tecnológica, alguma diferenciação que permitiu entrar mercados estrangeiros e exportar mais facilmente."
Simplesmente patético!
.
Em que países é que aprenderam? Que países podiam dar lições a Portugal? Se Portugal era a china da Europa antes de haver China, foi, de muito longe, o país mais afectado pelo efeito China. Íamos aprender com os alemães ou os franceses?
.
Simplesmente patético!
.
Conheço dezenas e dezenas de empresas e nem uma encaixa no perfil. Antigos patrões e antigos encarregados, derrotados ou encostados às cordas pela globalização, continuaram no sector que conheciam e simplesmente fuçaram, testaram, experimentaram para ver o que é que dava. Lá fora no estrangeiro o state-of-the art era o de Daniel Bessa. Perguntem ao senhor Joaquim Carvalho onde é que há 10 anos ele já tinha aprendido o segredo.
.
A estes académicos falta a humildade para perceber como gente com a 4ª e 6ª classe descobriu o que eles nunca ousaram enunciar, a economia do século XXI, a economia pós-efeito de escala.

Trecho retirado de "“Não é por trabalhar muitas horas que há grandes ganhos de produtividade”"

terça-feira, maio 31, 2016

Quando o futuro parece inevitável e fora de controlo ...

Há dias o @pauloperes chamou-me a atenção para "Douglas Rushkoff joins IFTF as Research Fellow" e para esta citação:
"The future is not a scenario we should prepare for, but a process we enact in the present. It’s not a fate we discern, but an extension of our actions in the moment - be they personal, cultural, or institutional. [Moi ici: Gosto particularmente do trecho que se segue] If anything, when the future seems inevitable or out of control, it’s simply because we have not yet unearthed the embedded assumptions informing our highly determinative actions."
Como não pensar no futuro inevitável do calçado previsto por Daniel Bessa em Março de 2005

sexta-feira, abril 22, 2016

O mundo da micro economia: uma beleza e surpresa que não passa pela mente da tríade

Ao longo dos anos aqui no blogue uso o rótulo de "tríade" para identificar o conjunto de académicos, políticos e comentadores que, estando nós no século XXI, estando nós a entranhar-nos em Mongo, estando a economia a evoluir para uma explosão de propostas de valor, canais e, sobretudo, uma explosão do lado da procura em termos de tribos, cada vez mais tribos e mais segmentadas e mais intransigentes no seu gosto e mais informadas, continuam a ver o mundo e a propor soluções que resultaram no século XX da produção e do consumo de massas.
.
Recomendo a leitura desta excelente metáfora "Ye gods: an efficient orchestra!"
.
Torna viva e materializa de forma fácil a treta que é a conversa da tríade:
"If this student had instead chosen a factory, nobody would be laughing, perhaps least of all the people in that factory."
Como já aqui escrevi muitas vezes e afirmei em muitas salas de reunião, o que salvou as PME exportadoras foi o não ligarem à tríade. Imaginem que um empresário do calçado em 2005, (quando o sector atingiu o ponto mais baixo e Daniel Bessa passava a certidão de óbito e André Macedo enterrava o caixão), ouvia as previsões de Ferreira do Amaral, ou as bocas dos gurus desta série e as levasse a sério... teria desistido certamente.
.
Daí ter favoritado:



Por isso, a tríade não percebe este desempenho, aliás, aposto que nem o conhecem:
Uma empresa que compete no mercado pelo custo mais baixo compete de forma diferente e dirige-se a clientes diferentes dos de uma empresa que compete pela rapidez e flexibilidade, dos de uma empresa que compete pela autenticidade, dos de uma empresa que compete pela inovação, dos de uma empresa que compete pela marca, dos de uma empresa que compete pela ...
.
Claro, a tríade acha que é tudo igual, recordar "Voltar ao Lugar do Senhor dos Perdões".
.
BTW, foi por este tema que estranhei a escolha de alguém com a cultura SONAE (custo) para a Viriato.

quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Aprenda a duvidar dos media (parte IV)

Parte I, parte II e parte III.
.
Gurus de Lisboa a comentar a indústria nortenha dá nisto:
Mira Amaral acha que a indústria a Norte não foi tocada pela globalização. Como é possível ignorar a realidade?
.
Por exemplo no calçado, entre 1994 e 2010 o sector perdeu 45% do emprego e 23% das empresas. E saliento que o número de empresas que fechou foi muito superior a 23%, em 2010 muitas das empresas existentes não eram as mesmas que existiam em 1994.
E será que Mira Amaral não conhece estes números relativos ao sector do têxtil e vestuário?
"O Plano Estratégico para o "Cluster Têxtil e Moda 2020", divulgado em Setembro de 2014, prevê que esta indústria chegue ao final da década a exportar cinco mil milhões de euros por ano, o que significaria "voltar ao pico" das vendas ao exterior, registado em 2001, mas agora com quase metade das empresas e dos trabalhadores, que recuaram para 120 mil."
O próximo guru a ser desmentido será ... Daniel Bessa.

terça-feira, fevereiro 09, 2016

Produtividade? Há muitas! (parte II)

Parte I.
.
O @miguelppires ontem chamou-me a atenção para "The secular slowdown in European productivity" onde se pode encontrar uns trechos a suportar o que aqui se escreve no blogue há muitos e muitos anos, sempre à revelia do mainstream da tríade, e dos governos (recordar o marcador do gato e do rato):
"Narrow focus on cost competitiveness can impede productivity growth
.
Much of the policy focus since the crisis has been on increasing the cost competitiveness of exports. However, lower labour costs do not necessarily lead to better productivity, and too narrow a focus on cost competitiveness carries risks: firstly, as it may neglect the supply-side measures necessary to boost productivity; and secondly, because keeping wages low risks depressing domestic demand, with a knock-on effect on GDP."

Recuar a 2006 e recordar a diferença entre o numerador e o denominador nesta narrativa da produtividade em "Ainda a produtividade". Recuar a Novembro de 2012 a "Sobre a paranóia da eficiência e do eficientismo". E recuar a ontem e a uma lição do calçado português: se não se consegue vender a 20€, vende-se a 200€". Parem aqui!!!
.
Perceberam bem o que acabaram de ler? Leiam devagar, por favor:
"se não se consegue vender um tipo de sapatos a 20€, arranja-se maneira de vender outro tipo de sapatos a 200€"
Pensem na galeria de membros da tríade que ao longo dos anos tenho aqui mencionado: João Ferreira do Amaral, Daniel Amaral, Daniel Bessa, João Duque, Vítor Bento, Manuela Ferreira Leite, Bagão Felix, Augusto Mateus e mais dois ou três que me estou a esquecer. Todos eles só conhecem uma forma de competir, a do bicicletas: baixar o preço. Seja reduzindo custos nominais, seja através da desvalorização cambial. Ainda estão no registo que funcionou aquando da entrada na CEE que decapitou a nata das empresas portuguesas que competiam internamente pelo mercado mais caro. O que aconteceu esta década foi uma competição com a China, pela fatia mais barata, logo, a resposta teria de ser outra.
.
Já num outro registo:
"The outlook suggested by the data analysed here—of mild but sustained productivity growth in Belgium, France, Germany and the Netherlands; a slowly strengthening recovery in the UK; and a much weaker pick-up in Austria—is in this context far from a failure.
...
Downside risks stem from slower progress than we currently expect in any of these areas, and also from the structural shift under way in China away from industry and towards consumption, given the possible fall in demand for European industrial goods that this may cause."[Moi ici: É impressão minha ou alguém está a esquecer-se do potencial de consumo da China e do poder do glamour das marcas europeias]

segunda-feira, outubro 26, 2015

Poesia subversiva

"the linear dogma so prevalent in the world of science and politics - that science drives innovation, which drives commerce - is mostly wrong. It misunderstands where innovation comes from. Indeed, it generally gets it backward.
.
When you examine the history of innovation, you find, again and again, that scientific breakthroughs are the effect, not the cause, of technological change. It is no accident that astronomy blossomed in the wake of the age of exploration. The steam engine owed almost nothing to the science of thermodynamics, but the science of thermodynamics owed almost everything to the steam engine. The discovery of the structure of DNA depended heavily on X-ray crystallography of biological molecules, a technique developed in the wool industry to try to improve textiles.
.
Technological advances are driven by practical men who tinkered until they had better machines; abstract scientific rumination is the last thing they do."
Eu gosto disto!!!
.
Por isso, é que o professor Daniel Bessa em 2005 profetizava o fim da indústria do calçado em Portugal. Por isso, tenho apreço pelos que fuçam, pelos que descobriram um caminho, uma alternativa. Por que não escutaram os professores não sabiam que não havia caminho alternativo. Por isso, construíram-no.

Trecho retirado de "The Myth of Basic Science"

segunda-feira, outubro 19, 2015

Bem vindos ao Estranhistão!

Em 2006, por aqui escrevia-se:
Em 2008, intuíamos que o código tinha sido decifrado em "Cuidado":
"Como temos referido aqui no blogue, vários sectores industriais estão a dar a volta, a micro economia está a resolver os seus problemas concretos.
...
No limite pode acontecer, sair duma crise estrutural e cair numa crise conjuntural."[Moi ici: O desastre de 2009 foi o conjuntural que previa. BTW, reparar na última linha deste postal, o que escreviam os gurus na mesma altura... o anónimo da província marca outra vez ;-)))]
Em 2009, chamávamos a atenção em "Desemprego: por que não investigar estes oásis?"

Agora, até os laggards mais laggards descobrem:


O que pensarão Daniel Bessa e André Macedo de tudo isto?

sexta-feira, abril 24, 2015

Evolução do desemprego no sector do Couro

Parte I (Construção),
.
Este postal refere-se ao desemprego no sector da "Indústria do couro e produtos de couro" onde se salienta a produção de calçado e marroquinaria.
.
Acerca da evolução do sector do calçado, convém recordar estes gráficos destes postais:

De acordo com a primeira figura acima, o pico do número de empresas de calçado terá sido atingido à volta de 1993, recordo que nessa altura a taxa de desemprego chegou a atingir os 3,9%.
.
Os números do desemprego do IEFP que consegui recolher começam em 2002.
.
Antes de haver China, Portugal era a China da Europa.
Incapazes de calçar os sapatos do outro e ver o mundo a partir do seu ponto de vista, poucos portugueses são capazes de admitir que muito do crescimento industrial, baseado em investimento estrangeiro, durante os anos da EFTA  e os primeiros anos da CEE, aconteceu porque éramos o paraíso dos salários baixos na Europa. Muito desse investimento, assim como veio para cá, rumou à Ásia quando lá ofereceram melhores condições.
.
Aqui vai a evolução dos números do IEFP:

A - Março de 2005, Sérgio Figueiredo e Daniel Bessa declaram a morte do calçado em Portugal. 
B - Junho de 2005, atinge-se o pico do número de desempregados registados no IEFP, um crescimento que terá durado 10 a 12 anos. Recomendo a leitura das palavras de Mira Amaral, sobre a globalização ter chegado atrasada ao Norte. As pessoas debitam conversa da treta, sem estudar, sem investigar, porque sabem que ninguém as vai questionar, é o reino dos Baptistas da Silva e do lero-lero.
.
C - Fevereiro de 2008, André Macedo em editorial do Diário Económico declara a morte do sector do calçado.
D - Março de 2008. Num postal escrevi: 
"Como temos referido aqui no blogue, vários sectores industriais estão a dar a volta, a micro economia está a resolver os seus problemas concretos.
...
No limite pode acontecer, sair duma crise estrutural e cair numa crise conjuntural."
E assim foi. Em 2008 o sector já tinha dado a volta, a crise estrutural estava ultrapassada, o sector tinha aprendido a trabalhar sem competir com a China. Contudo, a crise internacional provocaria um dano conjuntural que se traduziu num novo crescimento do desemprego durante 2009, o annus horribilis do comércio internacional.
.
E - Completamente a Leste, o jornal Público, em Setembro de 2009, ainda só apanhava parte da história, sem ver o filme todo.
.
E estamos, em Março de 2015 com desemprego no sector do couro inferior a Janeiro de 2002.
.
Já com os números do desemprego no sector da Construção fiquei com a sensação, não documentada, de que quando se cria procura de trabalhadores, quando se cria emprego num sector, o desemprego nesse sector baixa lentamente, parece que o novo emprego vai preferencialmente para outras pessoas.
.
A seguir, a evolução na indústria do vestuário.

ADENDA:Há um fenómeno importante que não referi ainda. Olhando para a primeira figura deste postal, para o gráfico do canto superior direito, percebe-se como as empresas do novo modelo, após a reestruturação do sector, são mais pequenas. Ou seja, a redução do desemprego é ainda mais significativa. As empresas de 2012 não são as mesmas de 2002, não têm o mesmo ADN, foi uma verdadeira revolução estrutural e não uma mera quebra conjuntural. Mesmo mais pequenas, em média, mesmo sem os gigantes das multinacionais, o desemprego baixou.

quarta-feira, abril 15, 2015

Curiosidade do dia

"focando-se no facto de as taxas de juro estarem muito baixas, Bessa assinalou que "estes tempos são muito perigosos". "Gosto muito de Fórmula 1", modalidade onde um dos pontos mais importantes é "os pneus que vou colocar". "Ando sempre calçado com pneus de chuva. Quanto mais baixo vejo as taxas de juro, mais correntes e pneus de chuva" coloco, contou. Aludindo ao facto que, quanto mais baixas forem as taxas de juro, mais precauções devem existir, pois os juros irão voltar a subir."
Este é o tempo em que os futuros "lesados de (qualquer coisa)" embalam docemente nas patranhas que interessam aos aprendizes de feiticeiro. Depois, virão de calças na mão argumentar que não sabiam, que foram enganados, que têm iliteracia financeira, que ...

Trechos retirados de "Daniel Bessa: “Quanto mais baixo vejo as taxas de juro, mais correntes e pneus de chuva” coloco""

sábado, janeiro 17, 2015

A "Grande" lição da minha vida

Mal comecei a ler este texto de Hilary Austen, "Reading between data’s lines" , e como eu gosto de Hilary Austen, começou a formar-se e a consolidar-se o pensamento que dá título a este postal.
.
A "Grande" lição da minha vida profissional, e reconheço-o com contentamento, agora que estou deste lado do precipício e onde vejo que há muitas mais oportunidades de criar futuros melhores, foi ter percebido, descoberto, aprendido, ouvido e lido a mensagem deste artigo.
"Thinking artistically may help us in the liberal and fine arts, but how the artistic method works outside of an artist’s realm is still unclear. What exactly does it entail?
.
Be open, we’re told. Be aware. Be empathetic. Engage with the moment. Embrace uncertainty." [Moi ici: Para quem acaba de ler Spender, esta referência à incerteza no mundo dos negócios está carregada de simbolismo e profundo significado. O resto encaminha-nos para o particular, para o diferente, para o único, para longe do vómito industrial]
E, sobretudo:
Scientific inquiry starts with a question–then encodes qualities with symbolic or numeric values. Its findings are objective facts, derived from analyzing data and stated in standardized language including reports, theories, recipes, algorithms, statistics and charts.
.
· Artistic inquiry starts with a person experiencing qualities–then relates, shapes, and creates further qualities to create qualitative forms. [Moi ici Como não pensar no sucesso das indústrias tradicionais portuguesas, no momento 3, depois de terem percebido que o low-cost era impossível com a China por perto e, terem descoberto as alternativas] Its findings entail personal understandings expressed through stories, prose, poetry, speeches, images, compositions, objects, actions and performances."
Quando a maioria capitulou e absorveu a frase "China a fábrica do mundo" (recordar André Macedo e Daniel Bessa), já a abordagem artística, não sabia que tinha esse nome, me tinha salvo e até permitiu este acto contrarian em Março de 2008.
.
BTW, ontem no Twitter o @mlopes publicou esta imagem:
 Notável este desempenho... recordar "O que é que vão inventar agora?"
.
Conseguido com os tais piores empresários do mundo, segundo os teóricos de Lisboa. E, muito pouco à custa da abordagem científica... interessante relacionar isto com "Governo quer mais doutorados nas empresas". Não estou contra, mas a "Grande" lição da minha vida profissional não rejeitando essa via, ultrapassa-a de longe com o lado humano... lembro-me sempre de um final de tarde, já noite fria de Dezembro, em Felgueiras, em que industrial e filho "brincavam" com máquina comprada em 2ª mão para perceber que efeitos conseguiriam produzir no calçado com mais ou menos tempo de lavagem, temperatura e centrifugação.

segunda-feira, dezembro 15, 2014

Acerca de Keynes (parte II)

Parte I.
.
Mais uma agradável surpresa de Schrage, uma crítica a Keynes e a todos os que sentados nos cadeirões das universidades, dos ministérios e do twitter, botam discursos, botam explicações e muita teoria, sem nunca tentar, sem nunca experimentar, sem nunca arriscar... vem logo à memória a velha história de Daniel Bessa e o calçado...
"Too many businesspeople have been bullied, brainwashed, and highbrow-beaten into believing that economic value creation is rooted in intellectual breakthroughs. They’ve been persuaded - perhaps even intimidated - by the eloquent specter of John Maynard Keynes’s famous cliché: “The ideas of economists and political philosophers, both when they are right and when they are wrong, are more powerful than is commonly understood. Indeed the world is ruled by little else . Practical men, who believe themselves to be quite exempt from any intellectual influence, are usually the slaves of some defunct economist.”
.
Bold words, indeed—but, with respect, what does one expect an elitist Cambridge don with a well-deserved reputation for intellectual snobbery to say? That Great Britain’s Industrial Revolution required the collaborative energies of rigorous tinkerers like James Watt and entrepreneurial opportunists like his partner, Matthew Boulton? That the engineering prowess of Isambard Brunel, Richard Trevithick, and Charles Parsons transformed the world’s railways, sea transport, and energy production? That John D. Rockefeller’s ruthless business practices at Standard Oil altered how ambitious innovators perceived economies of scale and scope? That Henry Ford’s relentless focus on design simplicity and production efficiency redefined what manufacturing meant? That college dropouts like Bill Gates, Steve Jobs, Michael Dell, and Mark Zuckerberg might one day lead  multibillion-dollar ventures that turned personal computing into mass media worldwide?
.
Of course not. Keynes and his intellectualizing apostles are above the practicality of all that. Yes, those innovators may have pioneered new industries, overturned establishments, and improved the quality of life for millions. But, in Keynes’s reality, they’re entrepreneurial ‘meat puppets’ in thrall to the transcendent influence of defunct economists and dead philosophers. For Keynes, ideas from economics and economists - not tools or technologies from scientists, engineers, and entrepreneurs  - are what really rule the world.
.
Who are we kidding? The arrogance displayed here is exceeded only by its historical inaccuracy. Keynes offers little but the propaganda of his professional genius to make his point. The sweeping pomposity of his assertion recalls George Orwell’s tart observation that “some ideas are so absurd that only an intellectual could believe them.” Indeed. This particular absurdity thrills intellectuals for an excellent reason: it makes them the heroes and aristocracy of innovation.
That’s why understanding this arrogance is important. This intellectual superiority justifies the condescension so many idealists and ideaholics bring to postindustrial innovation. Contemporary Keynesians aren’t Harvard-trained economists debating how much money governments should print to stimulate demand. Rather, they’re intellectual capital–obsessed idealogues who evangelize that good ideas are more valuable than strong currencies.
Ideas sit at the white-hot center of innovation and value creation in this economic universe. They channel their Lord’s fundamentalist ideal, both in their descriptions of how they think the world works and their prescriptions for how they think the world should work. Ideas über alles.
This describes the power struggle confronting innovators everywhere. Academics, intellectuals, and the peddlers of good ideas have declared ideas and intellect the central pillars of innovation. People who don’t appreciate the power and potential of good ideas are either idiots or apostates. They’re doomed. Pity them or damn them, but please get them out of the way."