terça-feira, setembro 30, 2025

Curiosidade do dia


No The Times do Domingo passado em "I've joined the Conservative Party. No, it's not a joke - let me explain":
"The state is now bloated to an almost unprecedented degree. Taxes are the highest since the 1940s, government spending at the
highest sustained level since the 1950s. Regulation (in the 1990s we were called a light-touch society) has spiralled, compliance costs have escalated and state intervention in the energy market (due to net zero) has proliferated. 
... 
[Moi ici: Em 2001] Debt was 30 per cent of GDP. [Moi ici: Agora ronda os 96%] The top income tax rate was 40p. The triple lock didn't exist. Welfare was under control. So were our borders. You may say that this was before the financial crisis, when growth stagnated. But here's my explanation for the UK "productivity puzzle": we responded to the credit crunch with higher deficits, higher benefits and the micromanaging of people's lives - indeed, even the central bank got in on the act, juicing the economy with oodles of printed money.
...
An economy is an organic system that benefits from a tad of self-reliance. If you shield muscles too much, they atrophy. If you shield bones, they're blighted by osteoporosis. Likewise, if the state responds to any difficulty with stimulus, printed money and more, you never clear out the dead wood, zombie companies proliferate (in 2016, 12 per cent of UK firms were "alive" only because of artificially cheap credit) and the expectation that the government will always offer support becomes part of the ambient psychology. The state now subsidises ten million people of working age and in the coming months you will - mark my words - start hearing plans for government-provided Ozempic for all, to combat obesity, coming on top of pervasive interference in free speech, non-crime hate incidents and more.
What I find strange about today is how difficult it is to convince people that we have been part of a gigantic experiment in statism because it has occurred seemingly without anyone noticing."

A Europa Ocidental está toda ela enredada nesta desgraça, neste modelo socialista. 

Tratados como Figos (parte I)


No FT de ontem encontrei este artigo, "Why Japan is sprucing up its shabby offices."

Gosto de ler o que encontro sobre a economia japonesa por causa da demografia. Gosto de perceber como um país com um desafio demográfico, todos os anos o mercado de trabalho encolhe 600 mil trabalhadores, o ultrapassa.

Houve um tempo em que ingenuamente também eu pensava que seguiríamos por essa via. É uma via que valoriza os trabalhadores. Tudo o que é escasso é valioso. Ao longo dos anos percebi que os trabalhadores em Portugal nunca serão tratados como Figos (Comecei a usar a metáfora do Figo ainda antes do Ronaldo aparecer, são muitos anos). A importação de paletes de mão de obra barata resolve o problema. Esta solução tem duas consequências, ... aliás, três consequências.

Primeiro, os trabalhadores nunca serão tratados como Figos e o seu poder negocial baixará à medida que a importação progride. BTW, segundo o artigo, no Japão:
"Matsukawa Rapyarn is one of thousands of Japanese companies pouring money into office makeovers, as the battle to attract workers becomes fiercer than ever.
...
Employees' power to choose where they work is forcing companies to fight to attract them, propelling once-unthinkable shifts in management behaviour."

Segundo, como as empresas não têm de competir a sério por trabalhadores, sentem menos um stress para subir na escala de valor, sobretudo se trabalham para o mercado nacional.

Terceiro, sem subida na escala de valor as empresas não podem pagar bons salários a quem tem potencial, e isso contribui para mandar essas pessoas para a emigração.

O mesmo FT trazia também um outro artigo sobre Espanha, "Spain has become Europe's standout economy." 
O artigo retrata a Espanha como a economia de maior destaque da Europa, crescendo a uma média anual de 3% desde 2024, bem acima da média da zona euro (cerca de 1%). A recuperação do turismo, os fundos europeus e o investimento em energias renováveis têm ajudado, mas o principal motor tem sido a imigração: desde 2022, entraram cerca de 600 mil imigrantes por ano, maioritariamente em idade activa, o que impulsionou o emprego e o consumo.
No entanto, o artigo alerta que este crescimento precisa de ser acompanhado por ganhos de produtividade, caso contrário os níveis de vida podem estagnar. A maioria dos migrantes tem ocupado empregos de baixos salários em setores como hotelaria e construção.
"For all its success so far, the immigrant-led growth boom must be managed carefully. First, although Spain's real GDP, on a purchasing power parity basis, has risen by about 6.8 per cent since 2019, in per capita terms it has grown by just 3.1 per cent. Migrants have mainly filled gaps in lower valueadded sectors, including hospitality and construction. To ensure living standards also grow, Spain's languid productivity growth needs to improve too."
Espanha e Portugal nisto são como irmãos gémeos. Não há subida na escala de valor, não aumenta a produtividade.

Voltemos ao artigo "Why Japan is sprucing up its shabby offices." O artigo descreve como a empresa têxtil japonesa Matsukawa Rapyran (com mais de 100 anos de história) sobreviveu à crise de atractividade no mercado de trabalho através da renovação do espaço físico e da modernização das condições oferecidas aos trabalhadores.
A remodelação das instalações (mobiliário moderno, cantina elegante, zonas de descanso) não só melhorou a imagem da empresa, como teve um impacte directo no recrutamento e retenção de pessoal, ajudando a competir num contexto de forte escassez de mão-de-obra no Japão, agravada pela demografia e pela pandemia.
O caso é apresentado como exemplo de uma tendência mais ampla: as empresas japonesas estão a investir em espaços de trabalho mais atractivos (e também em benefícios como subsídios de habitação, redução de horas de trabalho, empréstimos a estudantes) para enfrentar a falta de trabalhadores e garantir sobrevivência e crescimento.

Sabem o que me despertou mais curiosidade neste artigo? O terceiro parágrafo:
"The encounter prompted the 66-year old to invest Y460mn ($3.1mn) in anew office for the company's 95 employees. It was a huge sum for the family-owned Matsukawa Rapyarn. But in the most labour-constrained prefecture of the world's most aged country, this was no run-of-the-mill renovation. The sleek wooden furniture, café canteen and relaxation areas represented a decisive move in a fight to secure the 100-year old textile manufacturer's survival."

Uma empresa japonesa ainda a operar no sector têxtil. Vale a pena investigar.

Continua.

segunda-feira, setembro 29, 2025

Curiosidade do dia

Depois desta curiosidade do dia e desta outra ainda mais estes números:

"At Lufthansa, 4,000 administrative positions are being cut" e a versão portuguesa em "Lufthansa vai despedir quatro mil pessoas até 2030."

Como vamos poder continuar com este ...


... modelo de negócio para o país?


Se unirmos os pontos que imagem aparece?

No JN de ontem o artigo "Confiberica fecha e manda mais 160 para o desemprego no Ave." Depois, o subtítulo que me intriga:
"Empresa que trabalha para o grupo da Zara tem uma filial em Marrocos que vai continuar a laborar."

E ainda mais alguns sublinhados:

"As associações do setor querem medidas para enfrentar a falta de encomendas.

...

Segundo Francisco Vieira, a Confiberica trabalhava para a Inditex (detentora de marcas como a Zara, Pull & Bear, Massimo Dutti, Bershka, entre outras), e tinha 160 trabalhadores.

...

Segundo o sindicato, esta têxtil tem também uma unidade em Marrocos a produzir igualmente para o grupo Inditex, que não vai encerrar. 

...

As associações do setor queixam-se de falta de encomendas e pedem medidas de apoio: lay-off simplificado, apoios à tesouraria, e maior flexibilidade para reestruturar as empresas."

Comecemos pelo fim "As associações do setor queixam-se de falta de encomendas" ... não é absurdo? Queixam-se a quem? Ao governo? Se não têm clientes a pedir-lhes trabalho, a culpa é de quem? Quem tem a missão de ganhar clientes? O governo? Os trabalhadores?

Ou seja, é uma forma de pressionar o governo para obter protecção pública face a um problema de mercado. Os contribuintes que paguem.

Cliente Inditex e unidade em Marrocos. Aquele subtítulo... estavam à espera que fechasse a unidade em Marrocos? Come on. São os Flying Geese ao vivo e a cores a funcionar. 

No artigo ainda pode ler-se:

"As situações de empresas têxteis com problemas financeiros, após o verão, têm sido recorrentes: Polopiqué, Stampdyeing (grupo Mabera - Coelima), J.F. Almeida."

Se juntarmos os pontos:


Se nos abstraímos dos casos particulares e subirmos na escala de abstracção para ver as forças de fundo, vemos o estertor (já há muito anunciado aqui no blogue) de um modelo de negócio. 

Ainda recentemente escrevi sobre o futuro de quem trabalha no fast-fashion:

"Proibição do fast/fashion como modelo dominante: pressão regulatória contra ciclos curtos de produção/consumo."

Não adianta pôr sal na ferida. Sim, eu sei, costuma resultar, os tótós do governo de turno libertam uns milhões cobradas aos impostos sobre os saxões, e as empresas comatosas, verdadeiras zombies, em vez de mudar de vida, ou fecharem, sobrevivem até à próxima injecção de capital à custa dos impostos.

domingo, setembro 28, 2025

Curiosidade do dia


A propósito deste artigo no JN de hoje, ""Deve haver debate e discussão pública séria" sobre projetos de torres."

Confesso que não sou técnico de urbanismo e olho para estas discussões sobre torres com a simplicidade de quem gosta de cidades pequenas, próximas das pessoas. Mas, ao mesmo tempo, não consigo deixar de ser pragmático.

Nos últimos anos tenho visto, na freguesia da Madalena onde resido em Gaia, uma vaga de construção de blocos de apartamentos. São edifícios de três ou quatro andares, na sua esmagadora maioria bem desenhados, até atraentes — não me importava de viver em muitos deles. Só que sempre que os vejo, sorrio acerca da ingenuidade dos responsáveis: para a quantidade de pessoas que tem chegado a Portugal, esta escala é manifestamente insuficiente.

Intuitivamente - e na minha ignorância de leigo - penso que os prédios deviam ter muito mais andares. 
Gosto? Não, não gosto, mas temos de ser coerentes com o resto das decisões políticas: se queremos aceitar a chegada de tanta gente de fora, se precisamos de habitação acessível e se o solo urbano é escasso e caro, então não podemos esperar que edifícios baixos resolvam o problema.

Pronto, podem bater-me.

Para um nicho dentro de um nicho

𝐘𝐨𝐮𝐫 𝐪𝐮𝐚𝐥𝐢𝐭𝐲 𝐩𝐨𝐥𝐢𝐜𝐲 𝐢𝐬 𝐩𝐫𝐨𝐛𝐚𝐛𝐥𝐲 𝐟𝐚𝐢𝐥𝐢𝐧𝐠 𝐲𝐨𝐮 (𝐞𝐯𝐞𝐧 𝐢𝐟 𝐲𝐨𝐮’𝐫𝐞 𝐜𝐞𝐫𝐭𝐢𝐟𝐢𝐞𝐝)

Here’s a hard truth: Over 90% of companies have quality policies that don’t even comply with ISO 9001:2015 requirements, yet they’re still certified.

Why? Because most policies are just clichés slapped on a wall to check a box. They sound like this:

“We will consistently provide products and services that meet or exceed the requirements and expectations of our customers.”

They don’t guide decisions, inspire teams, or drive strategy. They’re decoration, not direction.  This course is NOT for everyone.


If you’re happy with a bare-minimum quality policy that “ticks the ISO box,” this isn’t for you.
But if you’re ready to create a policy that actually works for your organization, read on.

Introducing: 𝐅𝐫𝐨𝐦 𝐖𝐨𝐫𝐝𝐬 𝐭𝐨 𝐒𝐭𝐫𝐚𝐭𝐞𝐠𝐲 - 𝐂𝐫𝐞𝐚𝐭𝐞 𝐚 𝐏𝐨𝐥𝐢𝐜𝐲 𝐓𝐡𝐚𝐭 𝐃𝐫𝐢𝐯𝐞𝐬 𝐘𝐨𝐮𝐫 𝐎𝐫𝐠𝐚𝐧𝐢𝐳𝐚𝐭𝐢𝐨𝐧 𝐅𝐨𝐫𝐰𝐚𝐫𝐝

This course is for the 10% who want more than compliance. It's a step-by-step system to build a quality policy that:
👉 Guides real decisions with clarity, not buzzwords
👉 Connects deeply with what your customers truly value
👉 Pinpoints the capabilities your company must dominate to win
👉 Follows ISO 9001:2015 intent, a strategic compass for alignment, focus, and growth

By the end, you'll have a quality policy that doesn't just sit on a wall full of platitudes; it drives your organization forward.

What you get:
✅ Self-paced online course
✅ Practical templates and real-world case studies
✅ Direct feedback to perfect your policy
✅ A proven framework to align strategy, teams, and customers

𝐖𝐡𝐲 𝐍𝐨𝐰? A weak quality policy is costing you alignment, focus, and growth every day. Don’t settle for a policy that’s just “good enough” for certification.

𝐄𝐧𝐫𝐨𝐥𝐥 𝐍𝐨𝐰 - Limited spots for feedback sessions! 

Is your quality policy a decoration or a direction? Drop a comment, I’d love to hear!

"it’s much better to derail something at the beginning than at the end"

 
"Think slow, act fast: That’s the secret of success.
...
But "Think slow, act fast" is not how big projects are typically done. "Think fast, act slow" is. The track record of big projects unequivocally shows that."

Li isto em Fevereiro de 2023.

Agora, encontro a versão de Rory Sunderland:

"And my job, I think, is basically to continually provide the hint—to raise the uncomfortable questions. And actually, that means being a bit of a pain in the ass. Because to someone with an unbelievably linear mindset, it feels like you’re derailing things, throwing a spanner in the works.

But if I can judge the moment well, it’s much better to derail something at the beginning than at the end. One of the worst things you can do on any creative project is to start work straight away. There’s a kind of messy preliminary phase where it’s absolutely right to mess around with the brief—not least to ask whether the objective of the brief is even the right one in the first place."


As PME vivem com recursos limitados — dinheiro, pessoas, tempo. O risco de se lançar logo numa solução (o “act fast, think fast”) é enorme: pode significar investir em algo que afinal não resolve o problema certo. O “think slow” protege a PME contra erros caros. É o tempo de discutir o objectivo, de desafiar o brief, de perguntar “o que é que estamos realmente a tentar resolver?”.

As PME têm uma vantagem que muitas empresas grandes não têm: agilidade. Uma vez tomada a decisão, conseguem implementar rapidamente, ajustar processos, testar no mercado e corrigir em movimento. É aí que entra o “act fast”: depois da reflexão cuidadosa, a execução é veloz e decidida.

"think slow" não é o mesmo que engonhar. Também recordo muitas situações em que a um engonhar se seguiu um act slow.

sábado, setembro 27, 2025

Curiosidade do dia



No FT de hoje:


Calçado e têxtil - uma directiva transformacional!!!



Eu sei que é fim de semana e que muita gente ao fim de semana desliga, mas o mundo continua a girar.

Amigos do calçado e do têxtil, já olharam para a Directiva (UE) 2025/1892 do Parlamento Europeu e do Conselho de 10 de setembro de 2025 que altera a Diretiva 2008/98/CE relativa aos resíduos? 

Acreditem, esta directiva para o têxtil e para o calçado é transformacional (vai mudar modelos de negócio, produtos e custos).

Por exemplo:
  • Responsabilidade alargada do produtor obrigatória: terá de financiar recolha, triagem, reutilização e reciclagem dos produtos colocados no mercado.
"(22) Em conformidade com o princípio do poluidor-pagador, referido no artigo 191.°, n.° 2, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE), é essencial que os produtores que disponibilizem pela primeira vez no mercado no território de um Estado-Membro determinados produtos têxteis, relacionados com os têxteis e de calçado assumam a responsabilidade pela gestão dos mesmos na fase de fim de vida
...
(34) Os produtores deverão ser responsáveis pela criação de sistemas de recolha de todos os produtos têxteis, relacionados com os têxteis e de calçado usados e em fase de resíduo, bem como pela garantia de que os mesmos são posteriormente sujeitos a triagem para reutilização, preparação para reutilização e reciclagem," 

  • Taxas moduladas: pagam mais se os produtos não forem concebidos para circularidade; pagam menos se incluírem fibras recicladas, forem reparáveis e duráveis. 
"(39) Além do mais, a modulação de taxas de responsabilidade alargada do produtor é um instrumento económico eficaz para incentivar uma conceção de têxteis mais sustentável que, por seu lado, conduzirá a uma melhor conceção, que esteja em consonância com os princípios da circularidade. A fim de proporcionar um forte incentivo à conceção ecológica, tendo simultaneamente em conta os objetivos do mercado interno e a composição do setor têxtil, onde predominam as PME, é necessário harmonizar os critérios para a modulação das taxas de responsabilidade alargada do produtor com base nos parâmetros de conceção ecológica mais pertinentes,"

  • Proibição do fast/fashion como modelo dominante: pressão regulatória contra ciclos curtos de produção/consumo. 
"(40) As práticas industriais e comerciais, como a moda rápida e ultrarrápida, influenciam a duração da utilização do produto e a probabilidade de um produto se tornar um resíduo devido a aspetos não necessariamente relacionados com a sua conceção, e baseiam-se frequentemente na segmentação do mercado. Tais práticas poderão fazer com que o produto seja descartado prematuramente, antes mesmo de chegar ao fim da sua vida útil potencial, o que resulta num consumo excessivo de produtos têxteis e, consequentemente, numa produção excessiva de têxteis em fase de resíduo. A fim de identificar melhor essas práticas e permitir a ecomodulação das taxas de responsabilidade alargada do produtor, os Estados-Membros poderão considerar critérios como a largura da gama de produtos, entendida como o número de referências de produtos oferecidas para venda por um produtor, com limiares definidos por segmento de mercado, a frequência das ofertas, entendida como o número de referências de produtos por segmento de mercado oferecido para venda por um produtor num determinado período, ou os incentivos à reparação, entendidos como a probabilidade de o produto ser reparado com base no seu rácio de custos de reparação ou na prestação de um serviço de reparação pelo produtor."

  • Necessidade de redesenhar processos: inclusão de fibras recicladas, maior transparência na cadeia de fornecimento.
"(30) Além disso, a atual gestão de têxteis em fase de resíduo é ineficiente em termos de recursos, está desalinhada da hierarquia dos resíduos e conduz a danos ambientais, 
...
A responsabilidade alargada do produtor relativamente a produtos têxteis, relacionados com os têxteis e de calçado tem como finalidade assegurar um elevado nível de proteção do ambiente e da saúde na União, criar uma economia de recolha, triagem, reutilização, preparação para reutilização e reciclagem, em especial a reciclagem de fibras em novas fibras, bem como dar incentivos para que os produtores assegurem que os seus produtos sejam concebidos de acordo com os princípios da circularidade.
...
(31) e o apoio à investigação e ao desenvolvimento para a conceção ecológica de têxteis que não contenham substâncias que suscitam preocupação."
  • Risco para PMEs: encargos administrativos e financeiros elevados, mitigados se se associarem a organizações coletivas de RAP.
"(25) Tais regras deverão ainda ser mais pormenorizadas e harmonizadas para evitar a criação de um mercado fragmentado suscetível de ter um impacto negativo no setor, em especial nas microempresas e nas PME, 
...
(43) Uma vez que as PME compõem 99% do setor têxtil, é conveniente procurar reduzir, tanto quanto possível, os encargos administrativos decorrentes da aplicação de um regime de responsabilidade alargada do produtor"
Sim, eu sei, para muitos o copo está meio vazio e isto vai ser mais custos. A alternativa é abraçar a mudança e ver que oportunidades podemos encontrar ou desenvolver com esta novidade. Por exemplo, a directiva liga as contribuições financeiras à qualidade do design dos produtos: quanto mais alinhados com os princípios da circularidade, menos pagam as empresas. Na prática, isto traduz-se em:
  • Durabilidade: fabricar peças que resistam mais tempo ao uso, evitando descartes prematuros. 
  • Reparabilidade: facilitar a substituição de componentes (fechos, botões, solas, palmilhas) e disponibilizar peças de reposição ou serviços de reparação.
  • Uso de materiais reciclados: integrar fibras recicladas de qualidade, promovendo uma economia de ciclo fechado.
Para as PMEs portuguesas, muitas das quais já têm reputação internacional em qualidade e detalhe, esta exigência pode transformar-se numa vantagem competitiva: reforçar o posicionamento "premium" e diferenciar-se da produção de baixo custo asiática e não só.

Riscos fortes para as fábricas que dependem de ciclos de moda curta (fast fashion ou private label com colecções rápidas), elas vão sentir um choque. A própria directiva penaliza este modelo, associando-o a sobreprodução e desperdício. Quem continuar a apostar em quantidade, baixa durabilidade e colecções aceleradas verá os custos regulatórios disparar e enfrentará barreiras acrescidas na exportação.
Por outro lado, fábricas que se posicionem em nichos de qualidade, reparação, segunda vida e circularidade podem ganhar espaço:
  • Criando linhas de produtos "eco-premium" com selo de sustentabilidade.
  • Firmando parcerias com marcas que valorizam durabilidade e reparabilidade.
  • Explorando novos modelos de negócio (aluguer, retoma, revenda em segunda mão).
Ou seja, a directiva pode ser vista não apenas como um custo adicional, mas como um filtro de mercado: quem estiver preparado para competir pelo valor, pela sustentabilidade e pela inovação terá mais hipóteses de crescer.

Recordo o recente "Anichar, ao vivo e a cores" sobre as reparações.


Ainda acerca da reciclagem têxtil:
Isto já vai demasiado longo, vou escrever um outro postal sobre as oportunidades e riscos relacionados com esta directiva.

sexta-feira, setembro 26, 2025

Curiosidade do dia

Há dias vi este tweet:

Hoje, lembrei-me dele ao ler "Bosch Plans to Slash 13,000 Jobs in AI Push":

"Germany's Robert Bosch said it plans to slash 13,000 jobs over the next five years, as one of the world's largest car-parts suppliers leans into artificial intelligence to maximize productivity.

Bosch said Thursday that it planned to reduce its workforce by thousands of workers, particularly at its Bosch Mobility arm, in various stages by the end of 2030. The cuts come in addition to 9,000 jobs that were part of a 2024 workforce reduction plan the multinational carparts and technology company had put forward, of which 4,500 have already been eliminated."

E quais as consequências para Portugal?

 Convém não esquecer que a Alemanha é um dos maiores importadores da nossa produção industrial e agrícola, além de ser o grande benemérito de um país habituado a andar de mão estendida em Bruxelas.

 Se o motor industrial alemão abranda ou se reconverte de forma dolorosa, isso não só trava encomendas às nossas empresas, como pode reduzir a capacidade política da Alemanha para manter o papel de financiador da coesão europeia. Para um país como Portugal, sempre demasiado dependente de apoios externos em vez de fortalecer o seu próprio modelo de crescimento, este tipo de anúncios deveria soar como um alarme muito mais alto do que qualquer sirene em Lisboa. 



Arbitrage: o segredo dos que ousam ver o que os outros não vêem

 

"My father ran a small business. The great thing about growing up in a small business—whether it’s a shop, a café, or a restaurant—is that if you’ve got a family business, it’s like getting a free MBA. You automatically start to notice things.
The entrepreneurial mindset is very different from the bureaucratic mindset. The bureaucratic mindset hates outliers and surprising information because it disrupts their mental model. They tend to react with hostility to what you might call counterintuitive information—just like the original behavioral economists were shunned by mainstream economists for messing with the neatness of their artificial models.
The entrepreneurial mindset is the complete opposite. When it notices something weird, it immediately starts looking for an arbitrage opportunity. In contrast, the governmental or bureaucratic mindset says, “I must maintain consistency so I can avoid blame for my decisions. I must preserve fidelity to the model I use to justify my activities, to create a spurious veneer of rationality around everything I do—all with the ultimate aim of avoiding blame and responsibility.”
The entrepreneurial mindset says: “What the hell is going on there? Wait a second... If I know this and nobody else does, there's a market opportunity here.”"

 

A cultura burocrática não quer aprender. Quer proteger-se.

Esta frase, inspirada na transcrição acima, ajuda a expor um dos maiores bloqueios à eficácia dos sistemas de gestão: o medo de enfrentar o estranho, o inesperado, o que não encaixa nos modelos mentais existentes.

A ISO 9001 fala de liderança (5.1.1), de cultura da qualidade, de avaliação de riscos e oportunidades (6.1), de acção correctiva e melhoria (10.2 e 10.3). Mas o que acontece, na prática, quando aparece um dado fora do esperado?

Quando algo não encaixa nos nossos planos, dashboards e procedimentos? Numa cultura empreendedora, alguém pára e pergunta:
-"O que é que se passa aqui? Será que isto é uma oportunidade? Podemos aprender com isto?"
Numa cultura burocrática, a reacção típica é:
"Isto está fora do plano. Vamos arquivar. Fingir que não vimos."

A ISO 9001 pede explicitamente que as organizações determinem e avaliem oportunidades, com o mesmo rigor com que avaliam riscos. Mas quase ninguém o faz.

Porquê?
Porque ver oportunidades exige desconforto. Exige aceitar o "weird".
É preciso ver padrões onde outros só vêem ruído.
É preciso estar atento a falhas no modelo dominante.
É preciso fazer perguntas inconvenientes:
  • E se o cliente não quiser o que sempre quis?
  • E se este desvio for sinal de mudança de comportamento, não de erro?
A maior parte das empresas, mesmo certificadas, confunde oportunidade com melhoria interna. Automatizar um formulário não é aproveitar uma oportunidade. É, no máximo, reduzir desperdício.

Oportunidade, em termos económicos, é arbitrage.

É ver uma diferença de valor entre dois mundos.
É perceber que há algo disponível, barato, subvalorizado — e que pode ser transformado em algo que alguém valoriza mais.
Mas para isso... é preciso ver.
É preciso aceitar que o inesperado pode ser o sinal.

Grande parte da mentalidade empresarial — sobretudo anglo-saxónica — está enraizada num modelo de competição perfeita: mais eficiência, mais corte de custos, mais concorrência, mais pressão para o preço mais baixo.

Este modelo não valoriza o estranho. Valoriza a normalização.
Procura escala, não nuance.
Procura replicar, não reinventar.
Procura "compliance", não surpresa.

Resultado?
Quando aparece uma arbitrage - uma diferença de valor percebido - quem a aproveita não é a multinacional nem o governo, mas o pequeno agente periférico que tem a coragem (ou a liberdade) de ver o que os outros ignoram.

É ingénuo esperar que a inovação venha de quem precisa de justificar todas as suas decisões com base num modelo estável e previsível. O funcionário público, o gestor de grande empresa, o auditor de gabinete - todos são formatados para manter a coerência, não para detectar o estranho.

Quem vê o estranho como "bug" nunca o vai aproveitar como "feature". A arbitrage exige curiosidade.
Exige desconfiar dos consensos.
Exige sistemas de gestão que permitam olhar para uma não conformidade e dizer:
- "Não vamos só corrigir. Vamos explorar."
- "Isto pode ser o princípio de uma ideia nova, não o fim de um desvio."

Um sistema de gestão da qualidade eficaz não serve para garantir previsibilidade.
Serve para garantir aprendizagem rápida e acção inteligente.
O estranho, o inesperado, o fora do plano — tudo isso pode ser ruído.

Mas pode também ser ouro.

Depende de quem olha.
Depende de que cultura se tem.

Depende de se estás a usar a ISO 9001 como escudo contra a realidade - ou como lente para vê-la melhor.

quinta-feira, setembro 25, 2025

Curiosidade do dia



Depois dos automóveis... serão os camiões eléctricos?

O que aconteceu com os automóveis poderá repetir-se nos veículos pesados. Primeiro foram os carros: a China aproveitou a transição tecnológica para os motores eléctricos e, em poucos anos, conseguiu conquistar quota global, colocando-se lado a lado com gigantes tradicionais europeus, japoneses e norte-americanos.

Agora o movimento chega aos camiões. A Sany, que já produz dezenas de milhares de camiões eléctricos por ano e investe fortemente em fábricas, baterias, carregamento e condução autónoma, mostra que o mesmo guião pode estar em curso no segmento de transporte pesado. Enquanto na Europa ainda se discute infraestrutura de carregamento e custos de transição, a China acelera com escala, custos mais baixos e uma política industrial consistente.

A questão é inevitável: vão ser os camiões eléctricos a próxima frente de conquista da indústria chinesa?

Para os fabricantes europeus, o dilema é semelhante ao que viveram com os automóveis. Ou ficam presos ao modelo tradicional, protegendo fábricas e cadeias de valor construídas em torno do motor de combustão, ou usam esta transição como alavanca para inovar, diferenciando-se em áreas como tecnologia de baterias, software, serviços de mobilidade, logística inteligente ou integração com redes de energia. Fiquei logo a pensar no peso da bagagem.

O tempo joga contra quem espera. A experiência dos automóveis mostra que a hesitação custa caro. A Europa tem engenharia, tem marcas com reputação, tem redes logísticas sofisticadas e ... muita bagagem.

No FT de hoje, "Sany's electric trucks power latest Chinese assault on global sector":
"China's biggest electric-truck maker says it is targeting growth overseas in a fresh challenge to the global auto industry as Chinese production of high-tech, low-cost, battery-powered heavy goods vehicles booms.
Liang Linhe, who leads the electric trucking division of Sany Group, a construction and mining equipment behemoth, expects about half the group's sales to come from overseas markets by 2030 - up from about 10 per cent this year.
"We are already seeing the rapid development of the overseas market," he told the Financial Times in an interview, adding that the "biggest challenge" was that many countries' electricity infrastructure lagged behind that of China.
The Chinese group launched its electric truck business in 2021 and has won a market share of about 16 per cent domestically.
The group expects annual sales of about 30,000 electric trucks for this year, mostly in China.
It has opened an electric-truck factory in South Africa this year, is scouting for land in Brazil for a second overseas operation and has begun selling its vehicles in Europe.
...
Industry executives predicted that electric trucks will have a 50 per cent market share within three years in China.
...
Sany, Liang added, invested about 8 per cent of its revenues into research and development for Changsha's battery production, solar-powered battery swapping and charging networks across China, as well as driverless technology."

O contexto é fundamental

Mão amiga mandou-me estas fotos de uma loja em Berlim.

Queijos:

Azeite:

Uma das coisas que se aprende no pricing é que o preço é contextual. Recordo o que sugeri aos meus vizinhos de então na Murtosa:
"O meu conselho inicial era para situar o preço das trutas fumadas em lata junto do salmão fumado a 3,5€ as 100 ou 150g em vez das latas de sardinhas a 0,60€. Esse conselho motivado pela percepção de que o preço é contextual, aqui é reforçado por uma outra percepção, o JTBD da truta fumada se calhar está mais próximo do JTBD do salmão fumado do que o JTBD das conservas de sardinha ou cavala."
Um dos exemplos negativos que recordo é de um certo Carnaval, outro é a Claire's, tudo aqui: Percepções de valor.

Subir na escala de valor exige mais do que melhorar o produto; exige transformar a forma como ele chega ao mercado. Os canais de distribuição clássicos, que tratam o nosso produto como plancton, na metáfora de Seth Godin, não são compatíveis com um posicionamento de diferenciação e premium. 

A distribuição não pode ser um afterthought. Se quisermos jogar no campeonato de Berlim, não basta pensar no output da nossa produção; temos de focar-nos no input na vida do cliente — ou melhor, no outcome que o produto gera na sua experiência, no seu imaginário, no seu dia a dia. Só assim o preço deixa de ser comparado ao das sardinhas e passa a ser situado ao lado do salmão fumado.

P.S. - Aquela apresentação é qualquer coisa. Aquilo não é uma loja, é um templo.

quarta-feira, setembro 24, 2025

Curiosidade do dia

A curva de Laffer ao vivo e a cores no The Times de hoje em "Bitter irony as Reeves loses out after raising alcohol duty":
"Tax receipts from the sales of beer, wine and spirit have fallen sharply since the decision to raise alcohol duty.
The sum since April is down £220 million compared with the same period last year, HMRC figures show. Wine had the steepest decline, with revenues down 6 per cent year on year. Revenue from spirits and beer were down 5 per cent and 2.5 per cent respectively. Cider bucked the trend, rising 10 per cent."
A lógica é simples, quando os impostos são baixos, aumentá-los tende a gerar mais receita, mas, a partir de certo ponto, um aumento excessivo da carga fiscal desincentiva o consumo ou desloca-o para alternativas mais baratas, fazendo com que a receita total do estado caia.

O governo britânico aumentou o imposto sobre o álcool (3,6% em linha com a inflação e novas regras para taxar o vinho pela graduação alcoólica). Resultado: desde abril, a receita caiu £220 milhões em comparação com o ano anterior, apesar do aumento da taxa.

Ou seja, o aumento do imposto não compensou a redução do consumo — a receita global caiu. Isto confirma a regra: se a taxa sobe demasiado, a base tributária (neste caso o consumo) encolhe de tal forma que a receita desce.


Estratégia industrial ... mais socialismo



No passado dia 17 de Setembro o FT trazia um artigo de Andy Haldane, ex-economista-chefe do Banco de Inglaterra, "Industrial strategy needs more than stars."
"Industrial strategies are all the rage around the world. The prompt for this newfound passion has been the combination of lacklustre growth in many western economies and the apparent success of such strategies in stimulating growth in much of Asia, from South Korea to Singapore.
The resulting plans come in many flavours. But one feature common to them all is their focus on a set of "superstar" sectors. Strategy is about making choices so that support can be provided at scale. In a tight fiscal environment, backing only those sectors with the greatest potential sounds like a prudent and purposive way to stimulate growth." [Moi ici: Lembro-me de Pedro Nuno Santos ter avançado algo deste tipo quando subiu a número um do PS]

Haldane chama a atenção para a chamada “everyday economy”: saúde, educação, retalho, hotelaria, distribuição, construção. É aí que trabalha a maioria dos britânicos, mas é aí que a política industrial raramente olha. Apostar apenas nas indústrias da moda não gera inclusão nem resolve problemas de bem-estar. Pior: mantém o vício do Estado em querer substituir o mercado na escolha de vencedores.

Escrevi várias vezes sobre este tema. Em Picking winners (2017) critiquei a tentação recorrente dos governos de tentar proteger empresas ou sectores “estratégicos”. A história mostra que quase sempre sai caro: congela a inovação, atrasa a renovação natural do tecido empresarial e deixa recursos presos em modelos ultrapassados.

Em Big Man economy (2007) recordava como a ideia de salvar empresas decadentes impede a entrada de novos actores mais ágeis e inovadores. A economia precisa de destruição criativa — de deixar morrer os que não se adaptam para que novos surjam. Nunca esquecer Daniel bessa e aquele tenebroso aviso:

"faltou sempre o dinheiro que o "Portugal profundo" preferiu gastar na "ajuda" a "empresas em situação económica difícil"

Ontem, quase que escrevi que aquela notícia:

"German conglomerate Thyssenkrupp has announced that it has received a non-binding offer to acquire its steel division, Thyssenkrupp Steel Europe (TKSE), from Indian group Jindal Steel International, part of the Naveen Jindal Group." 

Seria motivo para manifestações, debates na assembleia, jantares emotivos, tudo para salvar mais um campeão nacional. 

Em In a stagnant economy (2021) sublinhava que, quando os governos se dedicam a sustentar campeões escolhidos, o resultado é estagnação. O mercado é um mecanismo de descoberta. Não há planos quinquenais nem gabinetes ministeriais capazes de antecipar que empresas vão ser bem-sucedidas daqui a dez anos.

O que Haldane mostra — a ilusão de que os sectores “superstar” vão sustentar tudo — é, no fundo, a mesma lógica do socialismo económico: substituir a selecção natural do mercado por escolhas políticas. Os resultados estão à vista: recursos mal alocados, produtividade baixa, crescimento anémico.

A alternativa não é não fazer nada. O papel do Estado deve ser outro: proteger as pessoas, não as empresas. Em 2008 em "Como eu olho para a crise" escrevi:

"Eu, que não tenho a informação que têm os governos, e que não tenho medo de eleições que não disputo, proporia uma receita diferente.

Apoio mínimo às empresas de qualquer sector, os consumidores que decidam quem tem direito a sobreviver como empresa.

Em contrapartida, apoio máximo às pessoas e sobretudo aos desempregados."

Garantir um “chão seguro” e, sobretudo, reconstruir escadas de oportunidade, de progressão — oportunidades de requalificação, mobilidade social, infraestruturas locais que permitam às pessoas reinventar-se quando as empresas desaparecem. É aqui que o investimento público faz sentido: não para escolher vencedores, mas para permitir que o mercado faça a selecção natural, sabendo que os trabalhadores não ficam presos sem saída.

terça-feira, setembro 23, 2025

Curiosidade do dia

O mundo a rodar e a mudar.

O tal de punctuated equilibrium: longos períodos de estabilidade, interrompidos por momentos em que a mudança se torna urgente e necessária.


"German conglomerate Thyssenkrupp has announced that it has received a non-binding offer to acquire its steel division, Thyssenkrupp Steel Europe (TKSE), from Indian group Jindal Steel International, part of the Naveen Jindal Group. This marks a new stage in years of attempts to spin off the steel business, which remains Germany's largest steel producer with annual sales of €10.7 billion, Reuters reports." (Fonte aqui e mais aqui)

Thyssenkrupp. Décadas como gigante estável do aço na Alemanha, e agora a venda da sua divisão siderúrgica já não é apenas uma hipótese — tornou-se inevitável.

No fundo, nada de novo. O Eclesiastes já o dizia há milhares de anos: “Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu.”

E nos anos 60, os Byrds cantaram-no em "Turn, Turn, Turn".

A lição? Estratégia não é desenhar equilíbrios eternos. É reconhecer quando chegou o tempo de mudar.

 

Uma caldeirada



No passado Domingo o JN trazia dois artigos que achei muito estranhos:
  • Importar alimentos de todo o Mundo custa 750 milhões por mês
  • Do bacalhau aos insetos: os produtos que chegam de várias origens
Qual é a mensagem?

Por um lado, faz-me lembrar aqueles que não percebem os custos de oportunidade e querem que os produtores portugueses se dediquem a produzir para o mercado nacional para substituir importações. Uma das maiores estupidezes económicas.

Recordo daqui:
"Produzir para substituir importações consumidas no país é quase sempre um erro, como relato no caso das conservas. Portugueses são pobres, importam sapatos baratos. Portugueses exportam sapatos caros. É quase impossível sustentar empresas portuguesas a produzir artigos para portugueses porque os portugueses não os poderiam pagar. Mas mesmo na substituição das importações também há que ter prudência, recordo o caso das fundições e a Autoeuropa."

Por outro lado, o secretário-geral da CAP faz afirmações contraditórias. Primeiro, faz uma afirmação que me surpreende porque faz todo o sentido:

"É comercialmente vantajoso exportar os nossos produtos, a preços altos, colocando-nos inclusive abaixo da procura interna"

Ou seja, para quem vende, é mais lucrativo exportar certos produtos agrícolas portugueses (porque os preços internacionais são mais altos). Como consequência, esses produtos ficam em falta no mercado interno ou ficam a preços mais elevados. Resultado: a procura interna não é satisfeita, porque as empresas preferem vender para fora em vez de abastecer o mercado português. 

Recordo o que costumo escrever aqui com frequência

"a função do agricultor não é alimentar a sociedade, a função do agricultor é ganhar dinheiro através da prática da agricultura. A sociedade não quer saber dos agricultores, quer produtos agrícolas baratos nem que venham da Ucrânia (escrevi isto em 2019). Por isso, o agricultor não deve ser trouxa e deve trabalhar para quem valoriza o fruto da sua actividade."

Mas o secretário-geral da CAP também mostra o lado de agricultor funcionário-público encapotado:

"refere Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). "Portugal não sabe o que fazer da agricultura."

Luís Mira acha que "Portugal não sabe o que fazer da agricultura", como se Portugal fosse um agricultor distraído que não estudou o manual de instruções. Como se a agricultura fosse um jogo de tabuleiro em que o governo segura as peças todas e a CAP estivesse sentada a ver, impotente, sem agência nem voz. Talvez tenha razão: se o papel da CAP se resume a disputar o campeonato dos subsídios da PAC, então é natural que não saiba o que fazer da agricultura - saberá apenas o que fazer das candidaturas. O problema é confundir o país com um agricultor e a estratégia agrícola com a tabela de ajudas de Bruxelas. O Portugal agricultor deveria ser o somatório de decisões de agentes individuais e não o resultado de um decisor num gabinete ministerial que nunca borrou as botas na lama.

Por fim, o artigo termina com uma mensagem críptica para não afectar a mente dos leitores habituados à mensagem habitual do jornal:

"Luís Goulão, professor no Instituto Superior de Agronomia, alerta que outra lacuna na política agrícola, que terá efeitos na produção, está na "retirada de substâncias ativas de proteção de culturas sem alternativa a curto prazo", [Moi ici: Eu traduzo, refere-se a pesticidas, fungicidas e herbicidas]", com perdas na ordem dos 500 milhões de euros, como na vinha ou no tomate industrial."

No fim, o artigo mais parece uma caldeirada: mistura dados alarmistas sobre importações, afirmações contraditórias de dirigentes da CAP, ironias sobre estratégia nacional e queixas técnicas sobre pesticidas. Tanta contradição junta não é inocente - serve, talvez, para confundir o leitor e disfarçar a verdadeira mensagem de fundo. E esta, especulo eu, é simples: preparar o terreno da opinião pública para a velha exigência de sempre, garantir água barata, paga pelos contribuintes, para sustentar as culturas intensivas que alimentam o negócio de alguns. 

Eu não sou comunista, mas sei que produção apaparicada pelo estado com dinheiro dos contribuintes é um erro económico, ponto.

Lembra-me o Hélder d'O Insurgente e os últimos homens independentes de Portugal. Um abraço.

segunda-feira, setembro 22, 2025

Curiosidade do dia

No fim de semana, centenas de pessoas saíram à rua em 15 localidades do país para dizer basta à monocultura do eucalipto e aos incêndios que ela alimenta. Não foram multidões de estádios, foram cidadãos conscientes, da Lousã ao Porto, que exigiram respeito pela floresta, pelos animais e pelas comunidades que vivem com medo das chamas. Uma afirmação cívica necessária, num país que continua a varrer para debaixo do tapete os custos ambientais e sociais de um modelo florestal insustentável.

O eucalipto é rentável porque os seus impactes — erosão, perda de biodiversidade, risco acrescido de incêndios, desertificação — são pagos por todos nós. São externalidades negativas que ficam fora da conta de exploração das celuloses e dos grandes promotores da monocultura. Em economia, este é o exemplo clássico de falha de mercado: quando quem lucra não paga o preço total do que causa, transfere para a sociedade os seus custos.

É aqui que devia estar a proposta política: internalizar as externalidades. Quer plantar eucalipto? Então que pague um imposto proporcional ao risco de incêndio, à pressão sobre os recursos hídricos, à perda de solos férteis. Que esse valor alimente um fundo de prevenção e compensação, para financiar a reflorestação com espécies autóctones, a gestão activa da paisagem e o apoio às comunidades locais.




Pequenas e ágeis

"For the last 150 years, big companies who have been able to afford big factories were the only ones able to deliver it. Not any more, not in this global, digital, connected economy.

New global small teams can also deliver high quality at a lower cost in many niches. Small teams can source products and ideas faster and more cheaply over the internet than big businesses can. The success of Uber and Airbnb has shown that owning an asset isn't required anymore. Being the person or company that coordinates a tribe of people is more valuable.

Small enterprise can access big factories when they need to, but don't have the overhead when they aren't using them. Smaller is lean but powerful in this economy. Small and lean is faster, more dynamic, cheaper and more flexible. Small is more fun. Small can look very big now. Best of all, small cares.

Small, lean enterprises give the feeling that they are making things for a special type of person rather than a market. Rather than buying things that everyone has, you can have unique things that were made for people just like you."
O mundo económico é cada vez menos um mundo onde todos competem pelo memo pico, e cada vez mais um mundo de muitos e variados picos. Um mundo de nichos. O que chamo de Mongo. Mongo não é para gigantes.

Uma das dificuldades para os incumbentes transitarem da mentalidade do século XX para Mongo é a dimensão. Servir nichos não requer uma dimensão tão grande e encolher é visto como sinal de fracasso.

Recordar:

Trecho retirado de "Key Person of Influence: The Five-Step Method to become one of the most highly valued and highly paid people in your industry" de Daniel Priestley.