- Importar alimentos de todo o Mundo custa 750 milhões por mês
- Do bacalhau aos insetos: os produtos que chegam de várias origens
"Produzir para substituir importações consumidas no país é quase sempre um erro, como relato no caso das conservas. Portugueses são pobres, importam sapatos baratos. Portugueses exportam sapatos caros. É quase impossível sustentar empresas portuguesas a produzir artigos para portugueses porque os portugueses não os poderiam pagar. Mas mesmo na substituição das importações também há que ter prudência, recordo o caso das fundições e a Autoeuropa."
Por outro lado, o secretário-geral da CAP faz afirmações contraditórias. Primeiro, faz uma afirmação que me surpreende porque faz todo o sentido:
"É comercialmente vantajoso exportar os nossos produtos, a preços altos, colocando-nos inclusive abaixo da procura interna"
Ou seja, para quem vende, é mais lucrativo exportar certos produtos agrícolas portugueses (porque os preços internacionais são mais altos). Como consequência, esses produtos ficam em falta no mercado interno ou ficam a preços mais elevados. Resultado: a procura interna não é satisfeita, porque as empresas preferem vender para fora em vez de abastecer o mercado português.
Recordo o que costumo escrever aqui com frequência:
"a função do agricultor não é alimentar a sociedade, a função do agricultor é ganhar dinheiro através da prática da agricultura. A sociedade não quer saber dos agricultores, quer produtos agrícolas baratos nem que venham da Ucrânia (escrevi isto em 2019). Por isso, o agricultor não deve ser trouxa e deve trabalhar para quem valoriza o fruto da sua actividade."
Mas o secretário-geral da CAP também mostra o lado de agricultor funcionário-público encapotado:
"refere Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). "Portugal não sabe o que fazer da agricultura."
Luís Mira acha que "Portugal não sabe o que fazer da agricultura", como se Portugal fosse um agricultor distraído que não estudou o manual de instruções. Como se a agricultura fosse um jogo de tabuleiro em que o governo segura as peças todas e a CAP estivesse sentada a ver, impotente, sem agência nem voz. Talvez tenha razão: se o papel da CAP se resume a disputar o campeonato dos subsídios da PAC, então é natural que não saiba o que fazer da agricultura - saberá apenas o que fazer das candidaturas. O problema é confundir o país com um agricultor e a estratégia agrícola com a tabela de ajudas de Bruxelas. O Portugal agricultor deveria ser o somatório de decisões de agentes individuais e não o resultado de um decisor num gabinete ministerial que nunca borrou as botas na lama.
Por fim, o artigo termina com uma mensagem críptica para não afectar a mente dos leitores habituados à mensagem habitual do jornal:
"Luís Goulão, professor no Instituto Superior de Agronomia, alerta que outra lacuna na política agrícola, que terá efeitos na produção, está na "retirada de substâncias ativas de proteção de culturas sem alternativa a curto prazo", [Moi ici: Eu traduzo, refere-se a pesticidas, fungicidas e herbicidas]", com perdas na ordem dos 500 milhões de euros, como na vinha ou no tomate industrial."
No fim, o artigo mais parece uma caldeirada: mistura dados alarmistas sobre importações, afirmações contraditórias de dirigentes da CAP, ironias sobre estratégia nacional e queixas técnicas sobre pesticidas. Tanta contradição junta não é inocente - serve, talvez, para confundir o leitor e disfarçar a verdadeira mensagem de fundo. E esta, especulo eu, é simples: preparar o terreno da opinião pública para a velha exigência de sempre, garantir água barata, paga pelos contribuintes, para sustentar as culturas intensivas que alimentam o negócio de alguns.
Eu não sou comunista, mas sei que produção apaparicada pelo estado com dinheiro dos contribuintes é um erro económico, ponto.
Lembra-me o Hélder d'O Insurgente e os últimos homens independentes de Portugal. Um abraço.
%2012.55.jpeg)







