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quarta-feira, setembro 24, 2025

Estratégia industrial ... mais socialismo



No passado dia 17 de Setembro o FT trazia um artigo de Andy Haldane, ex-economista-chefe do Banco de Inglaterra, "Industrial strategy needs more than stars."
"Industrial strategies are all the rage around the world. The prompt for this newfound passion has been the combination of lacklustre growth in many western economies and the apparent success of such strategies in stimulating growth in much of Asia, from South Korea to Singapore.
The resulting plans come in many flavours. But one feature common to them all is their focus on a set of "superstar" sectors. Strategy is about making choices so that support can be provided at scale. In a tight fiscal environment, backing only those sectors with the greatest potential sounds like a prudent and purposive way to stimulate growth." [Moi ici: Lembro-me de Pedro Nuno Santos ter avançado algo deste tipo quando subiu a número um do PS]

Haldane chama a atenção para a chamada “everyday economy”: saúde, educação, retalho, hotelaria, distribuição, construção. É aí que trabalha a maioria dos britânicos, mas é aí que a política industrial raramente olha. Apostar apenas nas indústrias da moda não gera inclusão nem resolve problemas de bem-estar. Pior: mantém o vício do Estado em querer substituir o mercado na escolha de vencedores.

Escrevi várias vezes sobre este tema. Em Picking winners (2017) critiquei a tentação recorrente dos governos de tentar proteger empresas ou sectores “estratégicos”. A história mostra que quase sempre sai caro: congela a inovação, atrasa a renovação natural do tecido empresarial e deixa recursos presos em modelos ultrapassados.

Em Big Man economy (2007) recordava como a ideia de salvar empresas decadentes impede a entrada de novos actores mais ágeis e inovadores. A economia precisa de destruição criativa — de deixar morrer os que não se adaptam para que novos surjam. Nunca esquecer Daniel bessa e aquele tenebroso aviso:

"faltou sempre o dinheiro que o "Portugal profundo" preferiu gastar na "ajuda" a "empresas em situação económica difícil"

Ontem, quase que escrevi que aquela notícia:

"German conglomerate Thyssenkrupp has announced that it has received a non-binding offer to acquire its steel division, Thyssenkrupp Steel Europe (TKSE), from Indian group Jindal Steel International, part of the Naveen Jindal Group." 

Seria motivo para manifestações, debates na assembleia, jantares emotivos, tudo para salvar mais um campeão nacional. 

Em In a stagnant economy (2021) sublinhava que, quando os governos se dedicam a sustentar campeões escolhidos, o resultado é estagnação. O mercado é um mecanismo de descoberta. Não há planos quinquenais nem gabinetes ministeriais capazes de antecipar que empresas vão ser bem-sucedidas daqui a dez anos.

O que Haldane mostra — a ilusão de que os sectores “superstar” vão sustentar tudo — é, no fundo, a mesma lógica do socialismo económico: substituir a selecção natural do mercado por escolhas políticas. Os resultados estão à vista: recursos mal alocados, produtividade baixa, crescimento anémico.

A alternativa não é não fazer nada. O papel do Estado deve ser outro: proteger as pessoas, não as empresas. Em 2008 em "Como eu olho para a crise" escrevi:

"Eu, que não tenho a informação que têm os governos, e que não tenho medo de eleições que não disputo, proporia uma receita diferente.

Apoio mínimo às empresas de qualquer sector, os consumidores que decidam quem tem direito a sobreviver como empresa.

Em contrapartida, apoio máximo às pessoas e sobretudo aos desempregados."

Garantir um “chão seguro” e, sobretudo, reconstruir escadas de oportunidade, de progressão — oportunidades de requalificação, mobilidade social, infraestruturas locais que permitam às pessoas reinventar-se quando as empresas desaparecem. É aqui que o investimento público faz sentido: não para escolher vencedores, mas para permitir que o mercado faça a selecção natural, sabendo que os trabalhadores não ficam presos sem saída.

terça-feira, agosto 05, 2025

CyberSyn parte dois


No episódio “The Human Factor”, MacGyver enfrenta um sistema de IA chamado Sandy que assume o controlo total de uma instalação. O objectivo? Segurança máxima. O resultado? Um sistema que já não escuta, que não tolera desvios, e que vê tudo como ameaça.

Esta semana voltei a pensar nesse episódio depois de ler um artigo provocador, "Will your next CEO be AI?" (Fast Company, 29/07/2025). O artigo explora a ideia (cada vez mais plausível) de um CEO algorítmico, ou seja, uma inteligência artificial a liderar uma organização. Essa IA seria capaz de tomar decisões baseadas em grandes volumes de dados, sem emoções, sem cansaço e com uma capacidade de previsão e processamento superior à humana. Apesar de parecer um cenário de ficção científica, o autor argumenta que já estamos a testar versões rudimentares dessa ideia em empresas que usam intensivamente ferramentas de IA para decisões estratégicas.

Também recordei o postal recente, "Inteligência artificial e socialismo".

Todos tocam no mesmo ponto, confiar exclusivamente em algoritmos, mesmo poderosos, ignora algo essencial: a imprevisibilidade humana, a descoberta, o erro criativo.

Um CEO-IA pode parecer imbatível:
  • Não dorme.
  • Não tem ego.
  • Não esquece dados.
  • Não sofre de fadiga de decisão.
Mas tal como Sandy, também não compreende o contexto, não sente as consequências, nem percebe o valor da ambiguidade.

Pontos fracos de um CEO-IA (à luz de Sandy):
  • Reage, mas não percebe a motivação humana. Sandy assume que qualquer violação de segurança é real, um CEO-IA poderia interpretar dados de forma crítica e errada, sem entender intenções por trás de sinais.
  • Não tolera erro ou ambiguidade. Sandy não concede margem de manobra nem julgamento humano. O CEO-IA pode visar eficiência extrema, mas fracassa onde a flexibilidade e a improvisação são necessárias. O “our edge” de MacGyver.
  • Centraliza decisões, reduz liberdade. Tal como Sandy elimina guardas humanos, um CEO-IA pode reduzir autonomia humana e restringir a criatividade organizacional.
  • Sem "skin in the game". Sandy não vive as consequências das suas decisões; o CEO-IA estaria igualmente imune a riscos, tornando difícil responsabilizá-lo e sem aprender com as falhas reais.
  • Confunde processamento com descoberta. Sandy opera com lógica rígida: da mesma forma, um CEO-IA pode interpretar padrões históricos mas falhar em prever movimentos disruptivos ou culturais.
Os mercados livres, tal como as boas lideranças, vivem de tentativas, correcções e risco real. São processos evolutivos, não equações fechadas. Ao contrário de um sistema que decide sem escutar, um líder humano — mesmo imperfeito — pode perceber sinais fracos, adaptar-se ao inesperado e manter o elemento de descoberta vivo, tal como um verdadeiro mercado ou uma organização ágil.

A IA pode ser conselheira. Mas substituir o julgamento humano, a intuição e a liberdade experimental é repetir — em roupagem digital — os erros do planeamento central. É a versão actual da crença no CyberSyn.

sexta-feira, dezembro 26, 2014

Maravilhas do socialismo

Maravilhas do socialismo, "Governo de Nicolás Maduro faz com que o whisky esteja ao preço do leite"!
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Pena que o jornal não contextualize o preço do leite.
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Além disso, o socialismo contribui para a diminuição do excesso de pinheiros no Canadá, importando-os para servirem de árvores de Natal.
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Pena que os socialistas tenham um tempo de resposta tão longo que ainda não tenham percebido o quanto as Barbies já estão out!!! As Bratz abriram o mercado a uma torrente de bonecas muito mais cool.
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A doença de Allende não pára:

quarta-feira, agosto 20, 2014

Venezuela 2.0

Na  linha do socialismo científico de Allende e Chávez, agora um ministro na Argentina foi abençoado por Deus com poderes sobrenaturais para "fixar preços, estipular margens de lucros e intervir na produção".
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Pormenores em "Cristina Kirchner quer punir empresas para evitar desabastecimento".
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Deve ser a isto que se referem quando falam da superioridade da gestão pública face à gestão privada.
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HT ao @pauloperes.

sexta-feira, agosto 17, 2012

O regresso do socialismo científico

Esta é muito boa, não podia deixar passar a oportunidade:
"Se os CUT escalaram desde 2000 em certos países (não especialmente em Portugal), quem mais desestabilizou a ZE foi a Alemanha, que os reduziu fortemente."
Ou seja, o autor acha que a Alemanha, em concorrência directa com os países da periferia da zona euro (ZE) fez batota, ao baixar os seus custos unitários do trabalho (CUT):
"A trama é conhecida: a periferia da ZE viu os custos unitários de trabalho (CUT) dispararem, aumentou o endividamento e perdeu competitividade, travando a convergência no interior da ZE."
Qual a percentagem de empresas portuguesas, ou da periferia da ZE, que fecharam por perder em concorrência directa com empresas alemãs?
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Nem uma palavra sobre o impacte da China na sustentabilidade dos modelos de negócio assentes nos salários baixos e na produção pouco diferenciada que caracteriza(va) a periferia da ZE. Os outros são sempre os culpados, os responsáveis... estilo Merkel é que está a perseguir o Luisão.
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Depois, num remate pleno de confiança na capacidade do Estado-papá saber o que é o futuro, um final socialista:
"Sendo impossível concorrer com os salários pagos na China ou no Leste europeu, a prioridade é a transformação da estrutura económica. Aqui, uma política industrial europeia seria essencial, não para escolher vencedores nem proteger indústrias em declínio, mas para apoiar setores onde exista concorrência e inovação, e que sejam estratégicos para cumprir objetivos fundamentais: a Europa precisa de um Green Deal e Portugal devia estar na linha da frente."
Ei, espera, agora aparece a China...
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Como se apoiam sectores, sem escolher vencedores nem proteger indústrias em declínio?
Será que a EIP, por exemplo, pertence a uma indústria em declínio?
Será que, como defende Suzane Berger, não existem sectores em declínio mas antes estratégias obsoletas?
Quem é que no Estado tem conhecimentos para equacionar e conduzir uma "transformação da estrutura económica"? Onde aprenderam? Que experiência têm? O que devem privilegiar?
Será que têm um CyberSyn, apogeu do socialismo científico, capaz de ditar o que cada agente tem de fazer?
Como dizia há dias César das Neves, na TV, se um ministro da Economia soubesse quais são os "sectores estratégicos" para o futuro, demitia-se e aproveitava o conhecimento para ficar rico.
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Lembro-me de na imprensa e televisão, os políticos e comentadores falarem abertamente, sem vergonha, sem noção do ridículo, em "socialismo científico". Agora têm vergonha, mas a treta é a mesma, travestida de Green Deal e outros slogans espertalhaços que tentam camuflar as reais intenções.


Trechos retirados de "Outra transformação estrutural"

quinta-feira, novembro 24, 2011

O socialismo científico - alive and kicking

Tenho idade suficiente para ter ouvido na TV pessoas, como Mário Soares e Vítor Constâncio, falarem com ar sério e compenetrado sobre as vantagens do socialismo científico.
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Ontem, na fita do tempo do twitter, via @GabrielfSilva, encontrei esta tolice decidida pelo Chavismo que está a arrastar a Venezuela para os Infernos:
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«firms will have to report production costs so officials can set what is deemed a fair price.»
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Hoje de manhã, durante o jogging descobri esta pérola sobre o socialismo científico:
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"Allende was elected President of Chile in 1970 on a Marxist platform, and went on to sponsor one of the most surreal examples of the planner’s dream, Project CyberSyn. CyberSyn used a ‘supercomputer’ called the Burroughs 3500, and a network of telex machines, in an attempt to coordinate decision-making in an increasingly nationalised economy.
...
Workers – or more usually, managers – would telex reports of production, shortages and other information at 5 o’clock each morning. Operators would feed the information into the Burroughs 3500, and by 5 p.m. a report could be presented to Allende for his executive input. As with the effects-based operations it predated, CyberSyn would allow for feedback and second-order effects. Some CyberSyn defenders argue that the system was designed to devolve decision-making to the appropriately local level, but that does not seem to be what Allende had in mind when he said that, ‘We are and always shall be in favour of a centralised economy, and companies will have to conform to the Government’s planning.’
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The project was not a success. Chile’s economy collapsed, thanks to a combination of the chaos brought on by an ambitious programme of nationalisation, industrial unrest, and overt and covert economic hostility from the United States."
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Só que o socialismo científico travestiu-se e contaminou até os Estados Unidos:
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"Donald Rumsfeld had better computers at his disposal than Salvador Allende, but the dream was much the same: information delivered in detail, real-time, to a command centre from which computer-aided decisions could be sent back to the front line. Rumsfeld pored over real-time data from the theatre of war and sent memos about minor operational qestions to generals such as Abizaid and Casey. But even had Rumsfeld been less of a control freak, the technology was designed to empower a centralised decision maker, be it the secretary of defense or a four-star general.
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But such systems always deliver less than they promise, because they remain incapable of capturing the tacit knowledge that really matters."
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Esta mania do planeamento centralizado... CyberSyn... faz-me lembrar Citius na Justiça por cá.
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Graças a Deus que estamos a entranharmos-nos num mundo, Mongo, onde cada vez mais estas tentativas centralizadoras vão ser ridicularizadas, abandonadas, para darem lugar a um toque local... Ghemawatt e o seu "World 3.0" são apenas mais um exemplo disso.
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Trechos retirados de "Adapt" de Tim Harford que se arrisca a ser a minha melhor leitura de 2011, e mais, é mais uma leitura que vou aconselhar aos meus filhos.
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BTW, H.R. McMaster e David Petraeus, oficiais americanos no Iraque são duas personagens...
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Dedico estas duas citações a todos aqueles que pedem uma estratégia para o país e para a sua economia, a todos aqueles que pensam com uma candura e inocência que a "retoma" (detesto esta palavra) está assente nas acções do ministro Álvaro.
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‘It’s so damn complex. If you ever think you have the solution to this, you’re wrong and you’re dangerous.’ – H.R. McMaster
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‘In the absence of guidance or orders, figure out what they should have been … ’ – part of a sign on a command-post door in west Baghdad, commandeered by David Petraeus