segunda-feira, janeiro 06, 2025

Ah! Encontrei a resposta!!!

Há dias escrevi esta "Curiosidade do dia" por causa da reciclagem têxtil. O tema, que eu tinha lido em pelo menos dois jornais, estranhamente com o mesmo viés  apesar de não ser escrito pela Lusa, referia que a obrigatoriedade da reciclagem de têxteis e calçado pelos municípios iria causar dificuldades às empresas de reciclagem têxtil. Weird! Por isso, no postal coloquei algumas perguntas. 

Entretanto, o JN de Sábado passado publica "Falta de orientações põe em causa recolha obrigatória de têxteis". Artigo que abre um pouco mais a porta sobre as tais dificuldades e, BTW, parece que isto é mais um caso de "proíbição do abate de cães vadios nos canis municipais", ou seja, políticos desligados da realidade e quais agentes da vanguarda revolucionária criam leis sem contar com as suas consequências.

Primeiro vamos ao resumo que faço do texto:

  • Desde 1 de janeiro, os municípios são obrigados a recolher roupas e calçado usados, consequência de regras da União Europeia e deve ser implementada completamente até 2027.
  • Muitos municípios não estão preparados para lidar com o aumento de resíduos, principalmente devido à falta de financiamento. BTW, de onde virá o financiamento para o fogo de artifício e festivais?
Agora vamos à parte interessante:
  • Empresas de reciclagem têxtil, como a Wippytex, relatam dificuldades, incluindo a falta de um sistema sustentável de financiamento. Apesar do potencial aumento de resíduos recicláveis, o sector enfrenta dificuldades devido à falta de responsabilidades claras e apoio financeiro.
  • O administrador da Wippytex destaca que ninguém paga pela produção ou tratamento de resíduos têxteis, o que ameaça a sustentabilidade do sistema. BTW, ao lerem isto não ficam com curiosidade de perceber por que existe a Wippytex? Qual o seu modelo de negócio? Como ganha dinheiro?
Interessante que tenha sido um autarca da Maia a avançar com algo que pode servir de explicação:
"Se até agora os municípios não pagavam a empresas como a Wippytex, que obtinham lucro com a venda de roupa usada e com a reciclagem possível, a "enormidade de resíduos" e a obrigatoriedade de os recolher comprometem o sistema. "Se as empresas não tiverem receitas, não vão conseguir prestar o serviço e muito menos alargá-lo a mais municípios""

Julgo que agora começo a perceber as "dificuldades":

  • Como é que as empresas como a Wippytex ganham dinheiro? Com as vendas de roupa e calçado com melhor qualidade no mercado de segunda-mão e com a venda de materiais reciclados. Os resíduos reciclados (fibras têxteis, enchimentos, etc.) são vendidos para indústrias que utilizam esses materiais na produção.
  • A obrigatoriedade da recolha vai fazer entrar no circuito mais e mais roupa da fast fashion o que reduz a qualidade, aumentando o volume sem contrapartida financeira. 
  • Por outro lado não há procura suficiente de materiais reciclados para sustentar um processo caro porque baseado no trabalho humanos (Colecta e triagem)
Assim, o modelo de negócio da Wippytex era baseado num baixo volume de resíduos, com uma percentagem elevada de roupa vendável no mercado de segunda mão e marginalmente vendia materiais reciclados para algumas indústrias. Este modelo é posto em causa por quantidades crescentes de resíduos, o que obriga a aumentar a capacidade de processamento, ao mesmo tempo que a percentagem de roupa e calçado vendável no mercado de segunda mão está a cair, e que o greenwashing funciona (levando a que as marcas não invistam a sério na reciclagem).


Sem comentários: