segunda-feira, outubro 21, 2019

"a would-be market-shaping firm must understand ..."

Artigos de Nenonen e Storbacka são sempre um must read.
"In addition to sensing and responding to changes in established markets, firms increasingly undertake market-shaping strategies to create new business opportunities.
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The shaping of markets is nontrivial in that it goes beyond incremental changes occurring in markets through the process of competition. Market-shaping implies purposive actions by a focal firm to change market characteristics by re-designing the content of exchange, and/or re-configuring the network of stakeholders involved, and/or re-forming the institutions that govern all stakeholders’ behaviors in the market. These actions aim at creating new opportunities to link resources of various stakeholders in ways that improve value creation in a market. Hence, the market-shaping firms engage in a process to (1) discover the value potential of linking intra- and interstakeholder resources in novel ways, (2) trigger changes in various market characteristics to enable the formation of new resource linkages, and (3) mobilize relevant stakeholders to free up extant resources for new uses.
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We contribute to the literature on marketing and dynamic capabilities by identifying two distinct types of deeply embedded repeatable processes that together comprise the market shaping process: triggering and facilitating capabilities. Triggering capabilities generate new intra- and interstakeholder resource linkages by directly influencing various aspects of the market. They focus on re-designing exchange, re-configuring the network, and re-forming institutions. Facilitating capabilities relate to the creative ability of the firm and determine how the triggering capabilities are applied. They enable market-shaping by facilitating discovery of the value potential of new resource linkages; they also augment the impact of the triggering capabilities by mobilizing relevant resources.
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Research in marketing and management is progressively recognizing markets as networks, systems, or ecosystems, suggesting a need to look beyond the seller–buyer dyad, to see the dyad as part of a larger network or system of stakeholders. This view implies that the locus of value creation moves beyond the borders of the firm, i.e., value is viewed as co-created with a multitude of stakeholders in the market, not only by the firm and for the customer.
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markets cannot be understood only as a context for production and consumption, but rather as a context for value co-creation.
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Institutions are schemas, rules, norms, and routines that form authoritative guidelines for the behavior of market actors. The argument runs that markets as value-creating systems are governed by institutions and institutional arrangements that are themselves actor generated. This raises questions as to how institutions are "created, diffused, adopted, and adapted over space and time; and how they fall into decline and disuse".
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Consequently, to avoid the "new marketing myopia", a would-be market-shaping firm must understand how a larger system of organizations and individuals can co-create value and recognize the institutional arrangements that govern everyone’s behavior in this process."
Continua.

Trechos retirados de "Capabilities for market-shaping: triggering and facilitating increased value creation" de Suvi Nenonen, Kaj Storbacka and Charlotta Windahl, publicado por Journal of the Academy of Marketing Science em Abril de 2019.

domingo, outubro 20, 2019

Para memória futura


A revisitar durante o próximo ano.

Demografia, emigração e instituções extractivas

No jornal Público, "Portugal será o país mais envelhecido da União Europeia em 2050":
"O Eurostat publicou ontem um relatório que faz soar o alarme. Por este andar, em 2050 nenhum outro país da União Europeia (UE) terá uma população tão envelhecida como Portugal. Um dos maiores desafios é segurá-la no mercado de trabalho.
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De acordo com o Ageing Europe 2019, do serviço de estatística da UE, o envelhecimento da população vai acelerar. Tudo por causa das taxas de fertilidade historicamente baixas, do aumento da esperança média de vida e, nalguns casos, dos padrões migratórios."
Há dias relacionei a busca pessoal pelo aumento da produtividade com a emigração portuguesa:
"Ao pensar nisto dou comigo a considerar a emigração como outro fenómeno em busca de produtividades superiores, para alimentarem níveis de vida muito superiores de forma sustentável.
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Num país socialista com estruturas extractivas tradicionalmente instaladas, é natural que parte importante do VAB seja canalizada não para investimento, mas para servir a dívida das empresas e pagar rendas. Assim, vamos condenando-nos a uma sociedade distributiva com cada vez menos riqueza criada para alimentar níveis de rentismo cada vez maiores."
Entretanto, nos últimos dias tenho apanhado:
"Ou isto muda, ou um dia havemos de ver o João, engenheiro mecânico do ISEP, num semáforo na Roménia a lavar vidros de carros por uma moedinha."[Moi ici: Interessante que tenham escolhido como exemplo a Roménia como comecei por o fazer aqui]
Ontem no semanário Expresso li:
"Mas a falta de médicos não é só cronológica, é ideológica. O salário-base para um especialista é de 2746,24 euros brutos e para os mais novos não paga a falta de vida pessoal. “Esta geração prefere ficar com a família do que ganhar 300 ou 400 euros numa Urgência que depois são consumidos pelas Finanças."





sábado, outubro 19, 2019

Aguentar 15 minutos sem comer o marshmallow

Quanto menos vigorar o paradigma do século XX, que pressupunha que o poder estava nas mãos dos produtores.

Quanto mais crescer o interesse e vantagem em trabalhar a nível de ecossistema, em que os ecossistemas que ganham são os que maximizam o valor a ser criado pelo conjunto dos actores, e não por um em particular.

Mais sentido faz esta abordagem "The limits of the pursuit of profit":
"In February 2016, Emmanuel Faber, chief executive of Danone, put a radical proposal to the French food multinational’s senior US executives at a meeting in White Plains, New York.
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Against the grain of agricultural production in the US, where the vast majority is genetically modified, Mr Faber proposed shifting about half Danone’s products — representing some $1bn of yoghurt sales — to non-GMO ingredients. He argued that this was an important change that would improve soil health and biodiversity.
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The pledge triggered vocal protests from some US farm and dairy groups. It did not harm sales. Despite a price rise, the children’s yoghurt brand Danimals, now certified as containing only non-GMO ingredients, has increased its US market share from 30 to 40 per cent."
O artigo refere o clássico artigo de Friedman, “The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits” e a recente alteração de posição do grupo Business Toundtable:
"“While each of our individual companies serves its own corporate purpose, we share a fundamental commitment to all of our stakeholders” — customers, employees, suppliers, communities and — last in the list — shareholders."
Acho que Friedman escrevia para um tempo que já passou. Recordo que a Economia não é como a Física newtoniana ou galilaica.
No ano em que Milton Friedman publicou o artigo, os produtores ainda detinham um poder tremendo. Os produtores podiam, então, comportar-se como o governo português, ainda hoje, a gerir o serviço nacional de saúde ou a educação, com utentes-reféns.

Hoje, com a concorrência, com o poder nas mãos de quem compra, e com a explosão de grupos "intolerantes" ou com paixões assimétricas, impõe-se o uso da obliquidade.

Hoje, é mais claro aquilo que sempre foi verdade. mas então não era tão relevante: o lucro é como o emprego, é uma consequência, não um objectivo. Pois: "they’ll create more and better jobs by not focusing on creating jobs"


Os apelos soviéticos

Já escrevi várias vezes que sou cada vez mais adepto de um mundo sem patentes.

A propósito de "The shoe industry is at war with itself over stolen design" o final do artigo salienta uma perspectiva interessante:
"In some ways, the sneaker world is a microcosm of the broader fashion industry. For the last century, fashion has been built on short-term trends. Designers would make new collections every season, which would influence what looks would be fashionable (and by extension, what looks were no longer in style). Fast-fashion brands only deepened the industry’s tendency to create products that play into rapidly evolving trends.
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This trend-driven model is problematic for many reasons, not just because of the widespread copying. The real tragedy is that it generates so much waste. The global footwear industry produced 24.2 billion pairs of shoes in 2018, for a population of 7.5 billion humans. Many of these shoes will end up in landfills after a few months, or years, when they are no longer in vogue. This is hugely polluting to the planet, not to mention a waste of all the resources, human labor, and greenhouse gases necessary to make the shoes in the first place.
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If brands focused on making classic shoes that will last a long time, instead of trying to keep up with the latest trends, there would be far fewer copyright violations, and perhaps more importantly, there would be a lot less waste."
O final parece-me um bocado soviético. Algo que se ajusta ao que muitas vezes associo a algumas reivindicações de grupos como Extinction Rebellion.


Pelo contrário, em vez do marasmo cinzento de 1984, visualizo um mundo futuro com cada vez mais diversidade e variedade, Mongo.

Não são as pessoas que têm de se submeter à ditadura do gosto, o que vai mudar é o estilo de produção que foi criado pelos industrialistas do século XX que ditavam o gosto. O que vai emergir, também por causa do ambiente, é a produção customizada co-criada entre artesão-artilhado pela tecnologia e o comprador.

sexta-feira, outubro 18, 2019

"Making quick decisions"

"Better to admit defeat now than after having thrown away hundreds of millions.[Moi ici: Os custos afundados são difíceis de esquecer]
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For any business to thrive, difficult decisions need to be made. This applies not only to new projects but to corporate strategy. John Flint was ejected as HSBC chief executive in August because Mark Tucker, the bank’s chairman, thought he was avoiding hard choices. “The job of the CEO, everyone knows, is to make decisions, ”wrote Ram Charan, a veteran strategy adviser.
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being forced to use intuition after considering the evidence helps to avoid being paralyzed by a question when there is no easy answer.
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There are rewards for being decisive, beyond the risk of the company drifting and you losing your job if you are not. Investors and the media are drawn to confident stories and dislike uncertainty. There is no point in holding a strategy day if you cannot settle on a strategy, or say how it will be executed.
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Making quick decisions, even informed by experience and expertise, is valuable but not foolproof. As he noted, “intuition feels just the same when it’s wrong and when it’s right, that’s the problem.
Those who consider a challenge from all angles and act prudently and decisively may still be wrong. “Even highly experienced, superbly competent and well-intentioned managers are fallible,”"
Quando penso em decisões rápidas recuo sempre a um mês de Setembro em Felgueiras... empresário sem curso superior, agarrou-me por um braço, meteu-me no carro e levou-me a um subcontratado que tinha arranjado durante as férias, para pôr em prática o que tínhamos discutido no último dia de Julho antes de férias. Pensei nos licenciados que engonham e engonham, quando basta fazer uma experiência.

BTW,


Trecho retirado de "Dyson and the art of making quick decisions"

O cínico libertário em construção e o festival

Um amigo de longa data da minha veia ambientalista, o Serafim Riem, teve a gentileza de me oferecer o livro "Portugal em Chamas - Como Resgatar as Florestas" de João Camargo e Paulo Pimenta de Castro.

O segundo capítulo é simplesmente delicioso para um cínico como eu, a aprender a ser libertário. A certa altura lê-se:
"Há mais de vinte anos, foi aprovada uma "grande lei da floresta", a Lei de Bases da Política Florestal. Esta lei, nº 33/96, de 17 de Agosto, foi aprovada por unanimidade no Parlamento e mereceu forte consenso entre os agentes económicos e dos principais grupos sociais."
Como não pensar no último postal publicado neste blogue, ""foi mais importante fazer, caso a caso, pessoa a pessoa, a experiência no terreno"". À humildade da experimentação contrapõe-se o poder de um Parlamento unânime e o forte consenso das forças vivas(?).

Depois, o capítulo continua com um festival de comparações entre as intenções da "grande lei da floresta" e os resultados concretos. Nos princípios orientadores encontramos:
"a) Da produção: as políticas tendentes ao aumento da produção, para além da expansão da área florestal, devem contemplar o aumento da produtividade dos espaços florestais, na óptica do uso múltiplo dos recursos e da sua sustentabilidade;"
  • Nas duas décadas que se seguiram o país foi invadido por eucaliptos sem que a produtividade média unitária nacional tenha tido qualquer aumento. O valor registado actualmente não difere dos 6 metros cúbicos por hectare e ano que já se obtinham em 1930. Como não recordar estas tretas (Capoulas e Cristas, a mesma luta)
"b) Da conservação: as intervenções silvícolas devem respeitar a manutenção da floresta enquanto recurso indissociável de outros recursos naturais como a água, o solo, o ar, a fauna e a flora, tendo em vista a sua contribuição para a estabilização da fixação do dióxido de carbono e como repositório de diversidade biológica e genética;"
  • "De 1996 a Outubro de 2013, bem como entre Outubro de 2013 e o final de 2017, o histórico de arborizações e rearborizações no território nacional revela que se plantou, em cerca de 80% dos casos, uma espécie exótica e com carácter invasor." Depois, os autores mostram como a introdução do eucalipto contribui para a libertação de mais dióxido de carbono, contribui para a entrada crescente de insectos exóticos, acidentalmente e deliberadamente, sem qualquer estudo para avaliar impactes futuros. Sim, estamos cheios de jogadores amadores de bilhar que só vêem a próxima jogada.
"c) Assegurar a melhoria do rendimento global dos agricultores, produtores e utilizadores dos sistemas florestais, como contributo para o equilíbrio sócio-económico do mundo rural;"
  • Segundo os autores: "o rendimento da silvicultura regista, desde a aprovação da lei, uma contracção muito significativa, com especial destaque para o período de 2000 a 2009. ... A mais recente aposta política pela produção de madeira para trituração associa-se ao acentuado declínio do valor da silvicultura." Como não recordar as poucas vergonhas que se apanham e já não escandalizam ninguém: "Este país é um país da treta.
"h) Assegurar a protecção da floresta contra agentes bióticos e abióticos, nomeadamente contra os incêndios;"
  • Segundo os autores: "Se quanto aos agentes biológicos, embora com menor visibilidade social, as situações ocorridas são reveladoras do descalabro sanitário das florestas nas últimas duas décadas" basta recordar o nemátodo-da-madeira-do-pinheiro, o gorgulho do eucalipto, o percevejo asiático, a vespa asiática, doenças no castanheiro, nas oliveiras, nos ulmeiros ... "no que respeita aos incêndios o panorama é muito mais visível para toda a população do país." Apesar da desflorestação em curso nos últimos 20 anos, as áreas florestais aredem cada vez mais.
"Ordenamento das matas e planos de gestão florestal
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1 - O plano de gestão florestal (PGF) é o instrumento básico de ordenamento florestal das explorações, que regula as intervenções de natureza cultural e ou de exploração e visa a produção sustentada dos bens ou serviços originados em espaços florestais, determinada por condições de natureza económica, social e ecológica."
  • Os PGF são, 20 anos depois insignificantes
  • Este ano avançaram com:

 "1 - É instituído um sistema de seguros florestais, de custo acessível, nomeadamente um seguro obrigatório de arborização para todas as áreas florestais que sejam objecto de financiamento público.
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2 - Este seguro obrigatório deve ser gradualmente estendido a todas as arborizações."
  • Não existe nenhum seguro obrigatório de arborização
"São de carácter prioritário as seguintes acções de emergência, ... d) Reforço, valorização profissional e dignificação do corpo de guardas e mestres florestais;"
  • Ooops! Já não existe nenhum corpo de guardas e mestres florestais
"São de carácter prioritário as seguintes acções de emergência, ... f) Adopção de todas as medidas tendentes à realização do cadastro da propriedade florestal"
Isto já vai longo é melhor não continuar com este festival.

Como não recordar Nassim Taleb e a Via Negativa? (Ver aqui também)
Como não recordar os intervencionistas ingénuos?

quinta-feira, outubro 17, 2019

"foi mais importante fazer, caso a caso, pessoa a pessoa, a experiência no terreno"

No jornal Público do passado dia 15 de Outubro, encontrei um artigo sobre os Nobel da Economia deste ano. Fixei alguns trechos:
"Em 2004, o economista da Universidade de Harvard analisou o impacto das infecções por vermes intestinais, um problema frequente no Quénia, nos resultados escolares da população. E procurou saber se combater esse problema de saúde poderia ser uma forma eficaz de melhorar o desempenho escolar e assim reduzir a pobreza.
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Fê-lo, usando métodos experimentais comuns a todas as ciências. Em algumas escolas, procedeu-se a um tratamento médico, noutras manteve-se a situação inicial, e depois verificou-se quais os resultados obtidos nos dois tipos de escolas.
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A conclusão: o absentismo reduziu-se em um quarto nas escolas em que o tratamento aos vermes foi realizado, um valor muito mais alto do que o obtido por outras políticas de combate ao absentismo que tinham implicado custos muito mais elevados.
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É assim, sem tentar resolver os problemas todos de uma vez, mas perguntando - de uma forma sistemática, caso a caso, com experiências realizadas no local - o que funciona e o que não funciona que esta corrente da economia do desenvolvimento tem vindo a ganhar peso, introduzindo alterações a uma ciência que conta com um historial de sucesso muito modesto ao nível do combate à pobreza.
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Para todos estes estudos, foi mais importante fazer, caso a caso, pessoa a pessoa, a experiência no terreno que responder se uma determinada política funciona ou não. Como explica, Pedro Vicente, tudo se baseia em não confiar demasiado na teoria: “A ciência económica afastou-se das pessoas e esta nova economia tenta reaproximar-se das pessoas”."
Este é o caminho certo, o caminho de Mongo, o caminho para a individualidade, o caminho para o pragmatismo à romano. Não confiar demasiado na teoria, lançar hipóteses, testar e aprender.

E na sua empresa, continuam a confiar nos gurus da economia, gente afastada da realidade?

Trechos retirados de "Como combater a pobreza? Caso a caso, pessoa a pessoa"

Ecossistemas e proposta de valor

Outro artigo interessante sobre ecossistemas e a capacidade das empresas moldarem o mercado em que actuam, "Ecosystem as Structure: An Actionable Construct for Strategy" de Ron Adner, publicado por Journal of Management em Novembro de 2016.
"starting with a clear definition of “ecosystem”—the alignment structure of the multilateral set of partners that need to interact in order for a focal value proposition to materialize
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The term “ecosystem” has itself grown to encompass an ecology of meanings. A helpful distinction can be made between two general views: (a) ecosystem-as-affiliation, which sees ecosystems as communities of associated actors defined by their networks and platform affiliations; and (b) ecosystem-as-structure, which views ecosystems as configurations of activity defined by a value proposition.
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Originating as a biological metaphor, the notion of a business ecosystem highlighted the need for strategy to extend its consideration beyond rivals competing within industry boundaries.
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Ecosystem as Affiliation
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Iansiti and Levien (2004) define business networks as ecosystems, organized around a keystone species, and “characterized by a large number of loosely interconnected participants who depend on each other for their mutual effectiveness and survival.”
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This perspective, which I call ecosystem-as-affiliation, places emphasis on the breakdown of traditional industry boundaries, the rise of interdependence, and the potential for symbiotic relationships in productive ecosystems. It focuses on questions of access and openness, highlighting measures such as number of partners, network density, and actors’ centrality in larger networks.
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Ecosystem as Structure
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starts with a value proposition and seeks to identify the set of actors that need to interact in order for the proposition to come about. [Moi ici: Mais uma vez, não há um caminho único. Cada empresa terá o caminho mais adequado. Por exemplo, no caso relatado neste vídeo partiu-se da proposta de valor]
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I offer the following definition of an ecosystem and consider its implications:
The ecosystem is defined by the alignment structure of the multilateral set of partners that need to interact in order for a focal value proposition to materialize.
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1. “Alignment structure.” Members of an ecosystem have defined positions and activity flows among them. Alignment is the extent to which there is mutual agreement among the members regarding these positions and flows. Different actors may have different end states and end goals in mind.
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2. “Multilateral.” An ecosystem is inherently multilateral. This means not only a multiplicity of partners, but also a set of relationships that are not decomposable to an aggregation of bilateral interactions.
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3. “Set of partners.” Being a set, membership is defined (i.e., it is not open-ended). Different actors may have different plans and perceptions regarding the composition of the set. Thus, defined does not mean complete, unvarying, or uncontested; rather, it means that the participating actors in the system have a joint value creation effort as a general goal. The goal may or may not be ultimately achieved. The defining attribute of partners is that they are actors on whose participation the value proposition depends, regardless of whether or not they have direct links to the focal firm.
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4. “For a focal value proposition to materialize.” Inherent in this definition is an argument that the productive level of analysis for ecosystems in strategy is the value proposition and that the concern is with bringing about the activities required for its instantiation. Focusing on the value proposition—the promised benefit that the target of the effort is to receive, as opposed to what a firm is to deliver—expands the analysis in a natural way to explicitly incorporate partners. Focusing on materialization raises the requirement that partners reach a threshold level of coordination."
Continua.

quarta-feira, outubro 16, 2019

Criação de nichos (parte II)

Parte I.

"Niche construction: an idea from the evolutionary theory
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The standard view assigned excessive importance to natural selection, and the selection environment was usually seen as exogenous. The role of organisms was typically reduced to the role of a mediator between the selection environment and the population gene pool.
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This view has been largely criticized on the grounds that an organism is, in fact, actively changing its environments: the organism chooses it, modifies it, and creates it, and these modifications may become evolutionarily significant. Genotype retention is not linearly caused by environmental conditions. Instead, genes, organism, and environment are intertwined and mutually influencing entities. In response to the traditional model of adaptation— seeing adaptations as solutions to the problems posed by the environment—Lewontin (1983) suggested that organisms and their ecological niches are coconstructing and codefining each other. Organisms both physically shape their environments and determine which factors in the external environment are relevant to their evolution, thus assembling such factors into their niches.
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The evolutionary process depends not only on natural selection and genetic inheritance, but also on the process of niche construction and ecological inheritance. Niche construction may reduce environmental pressures: e.g., building a burrow or hive will protect organisms and their resources from some nature hazards and predators. Speaking in terms of the fitness landscape, niche-oncstructing species do not climb the local peak of fitness; rather they become landscape shapers, raising new mountains where they never existed before.
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Respectively, the process of niche construction does not imply strategic assaults on rivals or changes in organizational boundaries through acquisitions and divestments, although the outcome of niche construction transforms the competitive landscape. Rather, it implies sustained changes in the pool of resources in the environment (i.e., outside the organizational boundary), and changes in the knowledge distribution and the typical divisions of labor. Rather than the game by the rules strategy, it is envisaged as the change of the rules of the game—a change that results in reorganization or creation of opportunities."

Trechos retirados de "Niche Construction: The Process of Opportunity Creation in the Environment" de Pavel Luksha, Strat. Entrepreneurship J., 2: 269–283 (2008)

Mediocridade e variabilidade

Este texto de Seth Godin "This is mediocre" é a razão porque a marca Redsigma acabou:
"Large organizations seek to decrease variability.
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If you define a spec and work hard to meet it, you can make it so that most things are within a reasonable distance of that spec. Which means that most of what you make is average.
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If an entire industry is busy seeking to meet that average, we can define that work as mediocre. Not horrible, but certainly not exceptional (because ‘exception’ -al is self-explanatory).
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If you want to buy creative work that’s exceptional, you’ll need to pay for it (and accept the risk that it might not work out as planned)."
Recordar Agosto de 2013 - "Redsigma - O fim da linha" e Março de 2008 com "O perigo da cristalização".

Também já escrevi aqui no blogue sobre o útimo parágrafo da citação. Uma falha na produção de um produto maduro é muito diferente da falha no produto inovador. Enquanto a primeira é uma falha na operação do habitual, a segunda é uma falha decorrente da experimentação do possível.

terça-feira, outubro 15, 2019

Produtividade e socialismo (Parte III)

Parte I e parte II.

Começo a escrever estas linhas ao entrar no Túnel do Marão, numa viagem que me vai levar a Bragança.

Primeiro li este artigo "Metade das empresas mais pequenas têm um gestor com o 9º ano ou menos" e fiz duas coisas:
  • Publiquei isto no Twitter

  • Deixei este comentário na parte II 
"Deixem as empresas morrer
Bons eram os Bavas e Salgados"
Depois, comecei a ler o Jornal de Negócios de ontem (obrigado @walternatez) onde encontrei, "Empresas Zombie empregam mais de 20% em vários setores". O que mais me surpreendeu foi ver a "doença tuga" plasmada tão abertamente:
"Concluiram que, em 2015, 6% do universo estudado eram empresas-zombies (em 2013 eram 8,5%).  O número actual parece baixo, mas a melbor forma de percebrer se estas empresas estão a prejudicar a economia não é pelo seu número. Há que avaliar o seu impacto no emprego e no capital.
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E aqui a conclusão é prcocupante: "Em Portugal as empresas-zombie são responsáveis por uma parte significativa do emprego: em alguns sectores, mais de um em cada cinco trabalhadores estão empregados numa empresa-zombie; em particular em algumas regiões, esse número aumenta para um em cada três", lê-se no artigo.
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O estudo mostra ainda que em certos sectores estas empresas chegam a deter 25% do capital tangível, isto é, do que pode ser medido, como edifícios, máquinas, equipamentos ou outros.
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Daí que seja preciso cuidado na forma como se gere economicamente o problema das empresas-zombies. "Potenciar a saída dessas empresas menos produtivas é certamente relevante para o funcionamento eficiente da economia, mas é neessário considerar todas as suas implicações," frisam os autores do estudo."
O último sublinhado faz-me lembrar o quão diferente analizo a situação política portuguesa versua a espanhola. Aprendi com Nassim Taleb não neste artigo, mas em escritos mais antigos, isto:
"Why has seemingly stable Syria turned out to be the fragile regime, whereas always-in-turmoil Lebanon has so far proved robust? The answer is that prior to its civil war, Syria was exhibiting only pseudo-stability, its calm façade concealing deep structural vulnerabilities. Lebanon’s chaos, paradoxically, signaled strength."[Moi ici: O título do artigo diz tudo: "The Calm Before the Storm - Why Volatility Signals Stability, and Vice Versa"]
Esta é a "doença tuga", tão preocupados e concentrados na estabilidade como valor supremo e não conseguem ver que esta vai acumulando desequilibrios. Qunto mais tempo dura, maiores os desequilíbrios, mais dolorosa vai ser a sua correcção.

Quando se estuda a evolução da esperança de vida...
  • Em Portugal em 1960 a esperança média de vida rondava os 62, 8 anos;
  • Em Portugal em 2016 a esperança média de vida rondava os 81,1 anos.
Como é que se deu um ganho tão grande?
Por causa da baixa drástica da mortalidade infantil.

Ou seja, a produtividade crescerá uns cagagésimos com o esforço de melhoria nas empresas que já têm níveis de produtividade superiores e, poderá crescer muito mais com o desaparecimento das empresas-zombies.

Quando comparamos a produtividade média portuguesa com a de outros países esquecemos-nos destas empresas-zombies. Por isso, cometo o sacrilégio de apontar o dedo aos que não têm constância de propósito:


Assim, podemos acabar com esta simulação, por parte dos políticos, de preocupação com a baixa produtividade das empresas portuguesas. Aumentar a produtividade implicaria ousar deixar a economia funcionar e premiar os mais capazes.

Ter um gestor com o 9º ano não é cartão de menoridade. Afinal os primeiro-ministros e ministros das finanças que por três vezes levaram o país à falência tinham muito mais do que o 9º ano de escolaridade; afinal os banqueiros que "emprestaram" dinheiro com critérios-criativos tinham muito mais do que o 9º ano de escolaridade, afinal o ministro da economia sabia como tratar da produtividade, afinal os cursos de gestão em Harvard e na Suíça ensinam a aumentar a produtividade.

Tenho muito respeito pelos gestores, pelos proprietários das empresas, mesmo das empresas-zombies, gente com skin-in-the-game e que faz o melhor que pode, o melhor que sabe, o melhor que os deixam. Não tenho respeito nenhum pelos que os criticam sem skin-in-the-game, protegidos por um emprego no estado.

Tenho muito respeito pela propriedade privada.

Por isso, opto pela resposta de Popper à pergunta de Platão sobre: Quem deve governar a cidade?

A pergunta certa não é quem deve gerir as empresas. A pergunta certa é: como se facilita a morte das empresas-zombies?


BTW, a comunicação social está pejada de empresas-zombies, desde o Diário de Notícias, passando pela TSF e jornal i.

Produtividade e socialismo (Parte II)

Parte I.

Olhar para aqueles gráficos na parte I pôs-me a pensar no que representam, na mensagem que transmitem.

O artigo do Banco de Portugal refere que o aumento da produtividade se pode dar quer através de transferências intra-sectoriais, quer através de transferências inter-sectoriais. Quando o operário que fazia sapatos que se vendiam a 30€ passa para uma fábrica que vende sapatos a 300€ dá-se um aumento da produtividade intra-sectorial. Quando o operário que fazia sapatos a 30€ muda de ramo e vai para uma fábrica de assentos para automóveis dá-se um aumento da produtividade inter-sectorial. Ao pensar nisto dou comigo a considerar a emigração como outro fenómeno em busca de produtividades superiores, para alimentarem níveis de vida muito superiores de forma sustentável.

Num país socialista com estruturas extractivas tradicionalmente instaladas, é natural que parte importante do VAB seja canalizada não para investimento, mas para servir a dívida das empresas e pagar rendas. Assim, vamos condenando-nos a uma sociedade distributiva com cada vez menos riqueza criada para alimentar níveis de rentismo cada vez maiores.

Dá para ficar a pensar muito seriamente na incapacidade das transferências inter-sectoriais gerarem uma massa crítica relevante para o país. A alternativa poderia passar por investimento directo estrangeiro para promover transferências inter e intra-sectoriais com a entrada de novos players.

Só que o campeonato nessa liga não é para amadores:



segunda-feira, outubro 14, 2019

Produtividade e socialismo

Ontem de manhã um dos primeiro tweets que apanhei foi este:



Fez-me lembrar um trecho que apanhei no último Boletim Económico do Banco de Portugal:
"Por outro, o fraco desempenho relativo da PTF em Portugal, que está relacionado com as debilidades do enquadramento institucional e de funcionamento dos mercados. De entre os fatores subjacentes à fraca evolução da PTF em Portugal têm sido destacados a ineficiência do sistema judicial, a reduzida dimensão das empresas, a fraca qualidade da gestão empresarial, o baixo investimento em inovação, a prevalência de segmentação no mercado de trabalho e a existência de mercados do produto pouco concorrenciais e com barreiras à entrada"[Moi ici: Este ponto está maia alinhado com o meu grito - "Deixem as empresas morrer!"]
Já agora, outro trecho interessante foi este:
"Considerando os dados setoriais do VAB por trabalhador, apenas disponíveis para o período 1995-2018, verifica-se que os ganhos modestos da produtividade agregada face à UE15 provêm essencialmente do contributo da componente intersectorial. Este resultado sugere uma orientação dos fluxos de emprego para setores da economia com maior produtividade mais expressiva em Portugal do que na média da UE. Com efeito, não obstante a virtual estabilização do emprego total em Portugal entre 1996 e 2018, o emprego aumentou nos serviços e reduziu-se na indústria, na construção e na agricultura. Refira-se que a produtividade nos serviços e na indústria se situa acima da média da economia, sendo inferior à média no caso da construção e da agricultura.
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No período 1996-2018, o contributo intrassectorial para a convergência da produtividade agregada foi aproximadamente nulo, refletindo ganhos reduzidos face à UE na indústria e reduções nos serviços e na construção."
Há uma velha citação de origem finlandesa neste blogue: "Deixar a produtividade aumentar".

Acham que a produtividade aumenta porque os ratinhos correm mais depressa na roda?

Comparar Portugal 1995 vs 2017 e Roménia 1995 vs 2017:

Por exemplo, quando @s operári@s que fabricam camisolas passam a fabricar sistemas ABS ou assentos para carros... imaginem o quanto cresce a produtividade.

Comparem a evolução da produção automóvel, do calçado, do têxtil, ... impressionante.


A conspiração da realidade

A amarelo as mudanças de produto na linha de produção. Uns produtos com mais produtividade física do que outros. Cada mudança de produto implica paragens para setup.

A verde a ocorrência de avarias que implicaram paragens de produção.

A azul a ocorrência de faltas de pessoal que implicaram impacte na produção: falta de pessoal para produção ou para fazer setup.

A laranja a ocorrência de faltas de matéria-prima.

Olhar para a evolução do desempenho ao longo de um período, olhar para o somatório de ocorrências. Será que faz sentido olhar para os eventos como azares que ocorrem, ou como produtos naturais, expectáveis, previsíveis, decorrentes da forma como uma empresa planeia e desenvolve a produção, compra, trata os seus trabalhadores e cuida dos seus equipamentos.

É nestas circunstâncias que falo da conspiração da realidade e me recordo de Artur Jorge:




domingo, outubro 13, 2019

Subir na escala de valor



Alertado por este tweet fui em busca do artigo original, "O good value for money é agora o grande inimigo do vinho português" publicado na revista Fugas de ontem:
"Descendo à Terra: como vai o vinho português? Muito bem, medalhado como nunca, idolatrado como nunca, consumido como nunca, diverso como nunca, mas pobre como sempre, por ser bom de mais para o que custa. Mais ou menos como o país. O problema do vinho português resume-se nesta frase: good value for money, expressão inglesa para designar uma boa compra. Adoramos dizer que na relação qualidade/preço o vinho português é imbatível. Enchemos o peito de orgulho quando levamos os estrangeiros a reconhecer o mesmo e a confessar que não imaginavam que houvesse vinhos tão bons em Portugal. Mas nem nos damos conta que o good value for money é agora o nosso pior inimigo, o nosso buraco negro, aquele que nos suga para a irrelevância no mundo do vinho. A boa compra é a senha para a simples sobrevivência. Serve até que surja outra compra ainda melhor, graças a um preço ainda mais baixo. [Moi ici: A race to the bottom] Pode servir para vender a grosso, mas é insuficiente para ganhar espaço e notoriedade nos mercados maduros e entre quem gasta realmente dinheiro com o vinho, entre quem olha para o vinho não apenas como uma simples bebida alcoólica mas como algo que tem também um valor cultural e até artístico – algo que pode valer o que se pedir por ele. Fazer vinhos bons e baratos, com custos de produção elevados, nunca deu prestígio e proveito a ninguém.
...
Exportar 800 milhões de euros de vinho, como aconteceu em 2018, é melhor do que nada, mas é muito pouco face aos cerca de cinco mil milhões de euros que só a região francesa de Champanhe facturou.
...
Do vinho português, a percepção que existe – e só desde há poucos anos – é a de ser o tal vinho bom e barato. Quando o consumidor global com poder de compra quer adquirir um vinho caro e especial,  dificilmente pensa em Portugal. Já é um avanço sermos vistos como um país que produz bons vinhos. Mas chegou a hora de centrarmos todos os esforços de promoção na ideia de que o vinho português é mais do que uma boa compra.
...
Precisamos de ser mais ambiciosos e de fazer escolhas, mesmo que tenham custos elevados a curto prazo.
...
Não é de um dia para o outro que se muda tudo. Mas é quando os tempos são mais favoráveis que se pode e deve começar a mudar. Um país bag in box, de produtores mal pagos e em que só umas poucas empresas conseguem realmente ter sucesso, será sempre um país sem grande futuro."
Em linha com as nossas críticas ao mundo do vinho:


Autorização para começar a desmontar o cenário do oásis

No Público de ontem em "Ritmo do crescimento das exportações caiu para metade" verifico que, depois das eleições, os so-called jornalistas tiveram autorização para começar a desmontar o cenário do oásis:
"Quatro dos maiores sectores de exportação mandaram apertar o cinto de segurança. Os números do Instituto Nacional de Estatística sobre o comércio internacional de bens mostram que as vendas ao exterior da metalurgia/metalomecânica, do agro-alimentar, do têxtil/vestuário e do calçado estão a inclinar para o pior lado."
Quem acompanha este blogue sabe que o perfil de exportações há vários anos que se vem a fragilizar. Recordar, por exemplo:

O artigo não traz mais nenhuma novidade para quem lê este blogue. No entanto, saliento algo que ilustra a loucura em que andamos atolados: 
"Rafael Campos Pereira salienta a importância da manutenção das taxas de juro baixas, dado que isso permite alimentar algum investimento nas grandes empresas estrangeiras que são importantes parceiros comerciais deste sector nacional."

Sempre que oiço/leio alguém defender as taxas de tudo muito baixas, recuo a Julho de 2008 e a este diagrama:
Quanto mais baixa a taxa de juro, mais baixo o risco, mais baixa a rentabilidade potencial dos projectos aprovados. Basta as taxas de juros subirem um bocado para estes projectos morrerem facilmente por incapacidade de libertarem meios para servir a dívida.

Uma outra nota a merecer comentário:
"Por outro lado, na indústria do metal pede-se que o próximo governo tome medidas fiscais que ajudem o sector a lidar com o “maior desafio de todos” que é a falta de pessoal."
Rafael Campos Pereira, da AIMMAP, já devia ter começado a preparar os associados para o desafio da subida na escala de valor. Recordo:

sábado, outubro 12, 2019

Sinais do futuro da produção

Eis o futuro:

Sim, dois exemplos de Mongo.

Por exemplo, no calçado, quando escrevo:
"Preferia uma aposta naquilo em que temos tradição, uma aposta na fábrica do futuro, para dar resposta à procura do futuro."
É sobre isto, também:
"Ultimately, their real challenge wasn’t designing garments, but rather creating a digital platform that would connect expert tailors with consumers who were used to shopping online. They spent several months searching for two factories in China and one in the United States that had good workmanship and would also be willing to partner with a startup like theirs that had an on-demand manufacturing model." 

"It's complicated"

Ontem no postal, "Exportações, YTD", escrevi:
"Grande rombo no calçado."
Frase que deu origem ao comentário no Twitter:


Um tweet que gera várias linhas de pensamento:
"O rombo no calçado intriga-me. Sintoma de fragilidade. "

  1. Não é saudável que um qualquer sector económico cresça ad eternum. Mais tarde ou mais cedo, exageros, ou alterações na oferta e/ou na procura, determinam anos de ajuste com crescimento negativo.
O calçado em Portugal cresceu durante quase 10 anos seguidos. Um desempenho notável. Aumento das exportações em número de pares, aumento das exportações em euros e em preço médio; aumento do número de empresas e de trabalhadores. Um desempenho baseado na aposta na flexibilidade, na rapidez, na proximidade.

Acontece que hoje já não estamos sozinhos nessa proposta de valor:
  • Turquia;
  • Marrocos; 
  • Argélia; 
  • Roménia;
  • Etiópia;
  • Albânia; e outros
São capazes de oferecer essa proposta de valor com preços mais baixos.
"Mas então não se andou a investir em marcas próprias nestes últimos anos?"
  1. Sim, investiu-se em marcas próprias. Recordar "As minhas dúvidas". Pode existir a contabilidade das marcas criadas, não existe é a contabilidade das marcas que não vingaram. Criar uma marca não é impossível, mas é caro e obriga a dominar técnicas para as quais a gestão da produção não prepara. Acredito que as marcas a criar têm de ser para complementar a produção para outros (private label). A produção no regime de private label dá o pão com manteiga e as marcas podem em alguns casos dar o complemento do fiambre. Acredito que o futuro passa mais por escolher e trabalhar para nichos do que criar marcas próprias. (Recordar: "Mudar e anichar!" E perceber que a maioria dos empresários não segue indicadores "Até dói fisicamente" e, prefere fugir de constrangimentos em vez do que correr para objectivos. Recordar: "Uma bofetada que recebo como um aviso")
" Não se diversificaram os destinos de exportação?" 
  1. Sim, diversificaram-se, mas somos order takers. A APICCAPS faz um trabalho notável de comunicação, cria uma imagem positiva nos media, mas é como a política no Twitter. O resultado das eleições é diferente da imagem que temos da política no Twitter. Ninguém mente, mas só se mostra uma parte da realidade. Ainda esta semana escutei, meio aparvalhado, como ainda existem empresas más-más-más e que estão vivas. Juro que andava há cerca de dois meses a reflectir sobre que empresas fecham primeiro quando há uma mudança da maré. E pensei nas várias empresas que nos últimos meses têm fechado apesar de não ficarem a dever nada a ninguém. Gente organizada percebe antes de todos os outros que não vale a pena enterrar dinheiro e agem em conformidade. Gente que não tem noção, vai ser empurrada pela realidade. 
"Preço p/par não era já o 2ª atrás de ITA?"

  1. Tudo isso acerca dos preços é verdade, mas... também decorre das diferenças de perfil da produção. Há anos escrevi sobre os golos ...
Mente-se? Não!!! Mas não se conta tudo.

Somos fortes em calçado de couro. Certo? 

sexta-feira, outubro 11, 2019

Exportações, YTD

Por que crescem as exportações de produtos farmacêuticos?

Basta atentar neste título de jornal desta semana "Medicamentos: "nível de preços é o mais baixo na União Europeia"". Por que faltam tantos medicamentos nas farmácias? Por que se ganha mais dinheiro a exportar do que a alimentar o mercado nacional... e quem tem de pagar contas, faz escolhas racionais.

De resto, o forte crescimento das exportações ligadas à óptica, autóveis e aeronaves continua.

As exportações agrícolas continuam a crescer.

O resto ... está em retracção. Grande rombo no calçado.