quinta-feira, maio 09, 2013

E a "Via Negativa"? (parte I)

Sempre que não resisto a ler Jaime Quesado, invariavelmente acabo a leitura  com a recordação do que Popper dizia acerca de quem não escreve de forma clara, deliberadamente.
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Em "O fomento industrial" leio:
"ou se reinventa por completo o modelo económico (Moi ici: Reinventar por completo? Será que é mesmo preciso arrasar tudo? E que mente sabe o que deve ser arrasado e o que deve substituir o que foi arrasado? E os macacos sabem voar?)
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"Falta em Portugal um sentido de entendimento colectivo de que a aposta nos factores dinâmicos de competitividade, numa lógica territorialmente equilibrada e com opções estratégicas claramente assumidas é o único caminho possível para o futuro." (Moi ici: Tirando a vertente do "territorialmente equilibrada", não tem sido isto que se tem feito no último século? Os governos interpretarem o "entendimento colectivo" e torrarem dinheiro em medidas de fomento top-down?)
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"Uma nova economia, capaz de garantir uma economia nova sustentável, terá que se basear numa lógica de focalização em prioridades claras." (Moi ici: E quem define quais são as prioridades claras? E quem sabe quais são as prioridades claras? Eu tenho medo de prioridades claras!!! Acredito em prioridades claras para uma empresa, tenho medo de prioridades claras para um colectivo de empresas - prefiro pensar em ecossistema de empresas com diferentes abordagens e que enriquecem a diversidade "genética" de um sector económico - e sei que prioridades claras para uma economia é uma receita certa para a desgraça)
Este tipo de pensamento está nas antípodas do que acredito. Eu não acredito no Grande Planeador, eu não acredito no CyberSyn, eu não acredito no bem intencionado "Espanha! Espanha! Espanha!".
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O mundo é demasiado complexo para que um Grande Geometra bem intencionado saiba o que há a fazer. E, porque as prioridades claras de hoje, amanhã se transformam numa armadilha mortal, o truque é não haver prioridades claras para uma economia. O truque é não apostar no intervencionismo ingénuo, mais uma vez, bem intencionado mas perigoso.
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Cada vez mais, comparo a biologia com a economia. E a biologia dá-nos uma grande lição... (ao recordar Valikangas tive uma surpresa.)

"Life is the most resilient thing on the planet. I has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it possesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience?
Just this: Variety matters. Genetic variety, within and across species, is nature's insurance policy against the unexpected. A high degree of biological diversity ensures that no matter what particular future unfolds, there will be at least some organisms that are well-suited to the new circumstances."

Ontem terminei a audição de "Antifragile"... e já tenho saudades!!!
"in the fragile category, the mistakes are rare and large when they occur, hence irreversible; (Moi ici: Os inevitáveis erros do Grande Planeador) to the right the mistakes are small and benign, even reversible and quickly overcome. They are also rich in information. So a certain system of tinkering and trial and error would have the attributes of antifragility. (Moi ici: Os inevitáveis erros do actor individual, que levam a uma variedade de abordagens, a uma multiplicidade de alternativas... talvez algumas resultem agora, talvez algumas resultem amanhã, talvez os erros de agora, porque pequenos são comportáveis, permitam aprender algo que falta para criar uma abordagem que resulte amanhã) If you want to become antifragile, put yourself in the situation “loves mistakes” - to the right of “hates mistakes”- by making these numerous and small in harm. We will call this process and approach the “barbell” strategy.
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Nature is all about the exploitation of optionality; it illustrates how optionality is a substitute for intelligence. Let us call trial and error tinkering when it presents small errors and large gains.
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All this does not mean that tinkering and trial and error are devoid of narrative: they are just not overly dependent on the narrative being true - the narrative is not epistemological but instrumental. (Moi ici: Por isso é que os empreendedores com a 4ª classe avançam e os que têm um doutoramento hesitam e não avançam. Os primeiros não dependem de uma narrativa de "prioridades claras" simplesmente tentam e tentam e tentam até que, eventualmente, encontram algo que resulta. David não era militar de carreira, não tinha experiência de combate militar, e isso libertou-o para uma abordagem não canónica. Os doutorado na ciência da guerra não viam alternativa no combate com Golias... é preciso apostar na arte (da guerra))
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When engaging in tinkering, you incur a lot of small losses, then once in a while you find something rather significant. Such methodology will show nasty attributes when seen from the outside - hides its qualities, not its defects.
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Evolution proceeds by undirected, convex bricolage or tinkering, inherently robust, i.e., with the achievement of potential stochastic gains thanks to continuous, repetitive, small, localized mistakes. What men have done with top-down, command-and-control science has been exactly the reverse: interventions with negative convexity effects, i.e., the achievement of small certain gains through exposure to massive potential mistakes."
E parece que não aprendemos nada...
"“não são apresentadas [DEO] políticas de relançamento da actividade económica com maior efeito multiplicador no emprego," 
Abençoada troika, senão este também dançava ao som desta música de Quesado.
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E a "Via Negativa"?

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