“What emerged from these diaries was a crystal-clear finding that the researchers called the progress principle: “Of all the things that can boost emotions, motivation, and perceptions during a workday, the single most important is making progress in meaningful work.” According to the employee diaries, 76% of people’s best days involved progress; only 13% of their best days involved setbacks.Progress energized people and made them happy. Setbacks did the opposite. No other work dynamics had as dramatic an effect on employees’ inner life.What’s particularly striking about the research, as Amabile and Kramer chronicle in their book The Progress Principle, is that most bosses were oblivious to the value of progress as a motivator. “When we surveyed managers around the world and asked them to rank employee motivators in terms of importance, only 5% chose progress as #1,” said Amabile in a speech. “Progress came in dead last.”It’s a stunning oversight: The biggest motivator of employees is nowhere on the radar of the average boss.”
sexta-feira, abril 04, 2025
Motivação e o princípio do progresso
terça-feira, março 25, 2025
Já massacrou os seus clientes hoje?
A propósito do artigo "How did we do? Fine - until you asked" publicado no FT de ontem.
O artigo é sobre a praga crescente de pedidos automáticos e impessoais de feedback, que se tornaram ubíquos e, frequentemente, inúteis. Muitas empresas pedem feedback de forma mal concebida, sem saber analisar os dados recolhidos ou usá-los para melhorar. O artigo não é contra o feedback em si, mas critica os métodos ineficazes, robotizados e invasivos com que este é frequentemente solicitado.
"How satisfied are you with your Help experience?" — before I had a chance to start typing out my complaint. [Moi ici: Os pedidos de feedback tornaram-se excessivos e intrusivos. Somos constantemente bombardeados com pedidos de feedback de múltiplas empresas, muitas vezes antes de ter sequer usufruído do serviço]
...
The feedback experience is just horrible [Moi ici: Os surveys são longos, impessoais, mal elaborados e geram "survey fatigue" nos consumidores. A experiência é frequentemente má]
...
Not every company is equipped to analyse the data they collect in a way that ends up delivering useful information.
...
Responses that businesses do receive can be heavily skewed. [Moi ici: Lembro-me de escrever sobre isto em 2006 ou 2007. Quem responde aos inqueritos são os muito satisfeitos e os muito insatisfeitos. Por isso, distorcem os dados e comprometem a representatividade]
...
So many of today's inhuman, digital efforts are so obviously misguided. [Moi ici: Pedir feedback é legítimo, mas a maioria das abordagens digitais são desumanizadas e mal concebidas]"
Talvez valha a pena levar este artigo para a próxima reunião de preparação da avaliação da satisfação dos clientes. Não para dizer que o feedback não importa - importa, e muito — mas para discutir como é pedido, para quê, e o que se faz com ele.
Se as taxas de resposta são miseráveis, será mesmo porque "as pessoas não querem saber"? Ou será porque nos limitamos a copiar más práticas que banalizam o pedido e ignoram o valor do que é recebido?
Num mundo saturado de inquéritos automáticos, conseguir bom feedback exige respeito, intenção clara e um desenho inteligente do processo.
Como é na sua empresa? Pedem feedback — ou apenas coleccionam cliques sem sentido?
quarta-feira, março 19, 2025
Ser especial em algumas coisas e não dar tiros nos pés a outras
Há muitos anos que uso a metáfora dos "tiros nos pés" associada aos processos de contexto.
Por exemplo:
"Este momento é fundamental! Uma empresa tem de fazer muita coisa. Só que para muitas dessas coisas não é preciso ser excelente, basta ser eficiente, basta não cometer erros, basta não dar tiros nos pés. No entanto, para aquelas acções que levam à satisfação das personagens-chave vale a pena procurar ser excelente, pois é nelas que se fará a diferença." (texto de 2010)
Outro exemplo:
"Processos críticos e processos de contexto têm uma particularidade: procurar ser excelente com um processo de contexto é quase sempre sinal de desperdício. Uma empresa deve ter a preocupação de ser eficiente com os seus processos de contexto. O equivalente a não dar tiros nos pés. Por mais que uma empresa invista num processo de contexto isso não se vai traduzir em melhorias relevantes para a execução da estratégia e satisfação dos clientes. Ninguém fica satisfeito com a EDP ao final do dia só porque a energia não falhou. No entanto, se a energia falhar ... tal gera insatisfação. Processos de contexto têm esta particularidade: nunca gerarão satisfação mas podem gerar insatisfação.
Já com os processos críticos a estória é outra. Quase que é "pecado poupar nestes processos porque ser excelente neles gera satisfação e diferenciação." (texto de 2017)
No WSJ do passado dia 17 de Março li "Companies Should Do It All - but Do Some Things Especially Well" onde o tema dos processos críticos e de contexto aparece.
Investigadores da Universidade de Berna, na Suíça, fizeram um estudo para perceber que tipo de empresas geram melhores retornos financeiros para os investidores. Usaram dados de um ranking chamado Management Top 250, que avalia as empresas com base em cinco aspectos importantes:
"customer satisfaction, innovation, social responsibility, employee engagement and development, and financial strength.
Companies are compared in each of these five areas, as well as in their overall effectiveness,"
O estudo analisou empresas do S&P 500 (as 500 maiores empresas dos EUA) entre 2013 e 2023 e criou dois tipos de carteiras de investimento:
- Um grupo de empresas que eram boas em tudo, mas sem grandes destaques em nenhuma área.
- Outro grupo de empresas que eram muito boas em algumas áreas, mas não necessariamente em todas.
"Over the 11 years examined, the portfolio with more variation had a significantly greater average total annual return than the other did-20% versus 15.1%. By comparison, the average total annual return for the S&P 500 during that span was 13.8%."
"Indeed, all of the categories in the Drucker rankings are interrelated, which is why in 2019 we started to assign a "red flag" to any company that falls within the bottom 25% in any category, no matter how well it scores overall." [Moi ici: Cá estão os tiros nos pés, nos processos contexto não é preciso ser excelente, mas não se pode ser mau, não se pode gerar insatisfaçao. Recordar o exemplo da EDP: Processos nucleares têm potencial para gerar clientes satisfeitos.Processos contexto têm potencial para gerar clientes insatisfeitos ou neutros (alguém fica satisfeito com a EDP, ou a REN, quando, à noite, ao deitar, e ao fazer uma breve revisão do dia, se constata que a energia nunca falhou?]
Por fim este por maior, aequipa do estudo analisou o desempenho financeiro das empresas que tiveram as melhores pontuações em cada uma das categorias do ranking Drucker, excepto a força financeira. O resultado mais surpreendente? As empresas que mais se destacaram no envolvimento e desenvolvimento dos funcionários tiveram os melhores retornos financeiros:
"In addition to assembling the portfolios with different levels of variation, Matzinger and his colleagues also computed the average total annual returns for the 15 highest scoring companies in each separate Drucker category, save for financial strength. Over the 1l years, the employee engagement and development portfolio eclipsed all others, at 21.3%.
"The thing that seems to be driving value is how the workforce is engaged,""
sexta-feira, março 14, 2025
Gargalos de tarefas
"Just to linger on the absurdity: A nurse might order some vials of medicine, and FedEx might fly that medicine across the country in one day, and then getting that medicine from the receiving dock to, say, the third floor of the same building would take another three days."
Quando se resolve que o desempenho não serve, o mundo muda:
"Every system is perfectly designed to get the results it gets.” Meaning that once you change your aspiration—when you set your sights on different results—the system you have is wrong, by definition. Because the system is designed, intentionally or not, to yield the results you got yesterday."
"But we're not trying to maximize picking efficiency. We're trying to maximize the customer experience"
domingo, dezembro 15, 2024
Comunicar proposta de valor
terça-feira, novembro 26, 2024
Lições de uma falência
No WSJ da passada sexta-feira, "Spirit Is Lesson in 'Airline-nomies'".
"Spirit Airlines is both reviled for its bare-bones service and beloved for exerting a downward pull on airfares. Its bankruptcy might be a good opportunity for travelers, investors and regulators to get an updated course on airline economics."
Competir apenas pelo preço pode expor vulnerabilidades, sobretudo em mercados margens muito apertadas e sujeitos a choques imprevisíveis como o aumento do preço dos combustíveis ou pandemias.
"Yet Spirit and Frontier became hated. In the latest American Customer Satisfaction Index, they ranked below broadband providers. Delays and cancellations are partly responsible, but there is a backlash to paying for add-ons, even if the final price tag is lower."
Ainda que o preço mais baixo seja aliciante para uma fatia importante do mercado, isso não quer dizer que seja o factor determinante para a satisfação dos clientes. Sem satisfação a lealdade a uma marca é frágil e isso limita a rentabilidade a longo prazo.
"Breakneck growth allowed Spirit to keep unit costs low, but made it enter crowded markets: Only 6% of Spirit's seats are flown on basically uncontested domestic routes, such as Atlantic City-Orlando, even though the carrier still ranks sixth by size. Ryanair has 30% of its capacity in markets with no competition, despite having grown to Europe's largest airline. Before Covid, it was 49%.
In September, Spirit and Frontier were selling 27% and 50% more seats than before the pandemic, respectively.
The problem is an ultradiscounting strategy no longer insulates these airlines from competition."
O rápido crescimento da Spirit sobrecarregou os recursos, obrigou a empresa para crescer a ter de entrar em rotas com mais concorrência, enquanto a sua dependência de “tarifas simples” dificultou a absorção dos aumentos de custos em toda a indústria. A Ryanair opera em nichos de mercado com concorrência mínima (rotas mal servidas).
Em mercados muito competitivos a adaptabilidade é fundamental. A resposta das transportadoras tradicionais aos ULCC (Ulta Low Cost Carriers) (por exemplo, maior eficiência e programas de fidelização) demonstra como os incumbentes podem neutralizar os disruptores ao longo do tempo.
segunda-feira, outubro 07, 2024
Unreasonable hospitality - parte V
Li os trechos que se seguem do livro "Unreasonable hospitality: the remarkable power of giving people more than they expect" de Will Guidara e sorria a recordar estórias que o meu parceiro das conversas oxigenadoras me contou sobre as suas reuniões diárias no chão de fábrica.
"When initiating change, I look for the best lever, whatever will allow me to transmit the most force with the least amount of energy. And there's no better lever than a daily thirty-minute meeting with your team....A daily thirty-minute meeting is where a collection of individuals becomes a team. In fact, I firmly believe that if every dentist's office, insurance company, and moving company had a daily thirty-minute meeting with their team, customer service as we know it would profoundly change.At EMP, the way we ran our pre-meal meetings set a tone that was at least as important as what we said. Attendance was mandatory. The meetings started on time, at eleven and five, and lasted exactly thirty minutes. For the first year, I ran every single meeting myself, both lunch and dinner, Monday through Friday. I wanted the team to see me, and to know I was accessible and accountable to them, and consistent-that I'd do exactly what I'd said I would do, when I'd said I would do it.In the restaurant's previous iteration, pre-meal had been exclusively devoted to the items on the plate or in the glass: here is the main ingredient, here's how long it was aged for, here's what it's served with, and this is how you pour the sauce tableside.This basic transfer of information was vitally important, especially because so much was changing....Done right, a pre-meal meeting fills the gas tank of the people who work for you right before you ask them to go out and fill the tanks of the people they're serving.Communicating consistent standards, with lots of repetition, was important; a good manager makes sure everyone knows what they have to do, then makes sure they've done it - that's the black-and-white part of being a leader. But a huge part of leadership is taking the time to tell your team why they're doing what they're doing, and I used pre-meal to get into that why.I spoke to the spirit of the restaurant and to the culture we were trying to build. I used those meetings to inspire and uplift the team and to remind them what we were striving for. Those thirty minutes were our time to celebrate the wins, even the small ones, a time to publicly acknowledge when someone on the team was crushing it.Our meetings followed the same template every day, so everyone knew exactly what to expect. We'd start with housekeeping ("Thursday's the last day to make changes to your health insurance; call Angie if you've got questions"). Then I'd move into a quick riff on a topic that had inspired me. It could be an article I'd read about another company or a service experience I'd had somewhere else....In order to become a team, we needed to stop, take a deep breath, and communicate with one another."
Este tipo de reuniões diárias pode ser um poderoso alicerce para PMEs que buscam alinhamento interno, formação contínua e maior consciência colectiva. Implementar um encontro de trinta minutos por dia com a equipa pode transformar um grupo de pessoas numa equipa verdadeiramente coesa e motivada.
Imagine começar cada dia ou turno com uma reunião estruturada, onde não só se passam informações práticas e logísticas, mas também se reafirma o propósito da empresa, se celebram pequenas vitórias e se realça a importância do trabalho de cada membro da equipa. Para as PMEs, este espaço diário é uma oportunidade de reforçar a formação técnica e de manter todos cientes das metas e valores da empresa, criando um sentimento de pertença.
Essas reuniões podem servir como momentos estratégicos para formações rápidas, alertas de actualizações importantes (seja de legislação, produtos ou processos) e para garantir que todos na organização estão alinhados. Além disso, é uma excelente forma de gerar accountability de forma acessível e consistente. Assim, todos sabem o que se espera e têm um fórum aberto para expressar dúvidas ou preocupações.
PMEs que adotam esta prática podem experimentar um salto na eficácia operacional, maior satisfação dos colaboradores e, por consequência, um aumento na satisfação dos clientes.
sábado, outubro 05, 2024
Unreasonable hospitality - parte IV
Há dias encontrei esta citação no livro "Unreasonable hospitality: the remarkable power of giving people more than they expect" de Will Guidara.
No capítulo 18, "Improvisational Hospitality" o autor descreve como nasceu e se desenvolveu o programa Legends. Um programa dedicado a criar experiências que ficam na memória dos clientes.
"I hear this a lot: "Well, of course you could afford to pull those tricks at an expensive restaurant."
And I always think: Are you sure you can afford not to?
It's true-these gifts cost money, in labor if nothing else. But I'm my dad's son, and I reviewed the Dreamweaver line item in the P&L every month with an eagle eye. There was never any question: given the word-of-mouth marketing this bought us with our guests and the excitement this kind of gift-giving created among the team, the program was worth every penny.
[Moi ici: Segue-se agora o trecho que merece reflexão. É disto que falo quando penso na doença anglo-saxónica, quando menciono os Muggles, quando penso em "optimismo não documentado"] Anyway, as a leader, you can't rely solely on your spreadsheets. You have to trust your gut-and what you feel when you're in the room with people, giving and receiving these gifts. Is there a traditional return on investment with a program like this? No. Am I confident that each dollar I spent here did as much or more than the ones I spent on traditional marketing? Absolutely."
Um convite para:
- Confiar na importância de criar experiências memoráveis para os clientes.
- Pensar para além das folhas de cálculo para não perder a visão geral. Uma dependência excessiva da análise pode levar a decisões que reduzam os custos em detrimento da satisfação dos clientes ou da motivação dos trabalhadores, o que pode prejudicar o negócio a longo prazo.
- Pensar em evitar decisões tomadas unicamente com base em projecções financeiras, sob pena dos líderes tornarem-se avessos ao risco, evitando abordagens inovadoras que podem produzir ganhos a longo prazo. As PME, em particular, precisam de se manter flexíveis e abertas a estratégias criativas que as possam ajudar a competir e a crescer.
Recordo este postal sobre a Viarco - "Nós fazemos as contas ao contrário"
quarta-feira, agosto 14, 2024
Como se definem objectivos? (parte III)
Consideremos a Campbell’s Law: “The more any quantitative social indicator is used for social decision-making, the more subject it will be to corruption pressures & the more apt it will be to distort & corrupt the social processes it is intended to monitor".
Nas empresas...
Objectivos de vendas
Uma empresa estabelece objectivos de vendas agressivos para os seus colaboradores, ligando os bónus e as promoções ao cumprimento desses objectivos.
Consequência: Os colaboradores podem recorrer a práticas pouco éticas, como a venda adicional de produtos desnecessários, a manipulação de dados de vendas ou até mesmo a criação de transacções falsas para atingir os seus objectivos. Isto pode prejudicar a confiança do cliente e prejudicar a reputação da empresa a longo prazo, distorcendo o propósito genuíno de melhorar o desempenho das vendas.
Recordo o caso da Wells Fargo, uma das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos, implementou metas agressivas de vendas e incentivos para que seus funcionários abrissem novas contas bancárias e serviços financeiros para os clientes. Para atingir essas metas e evitar represálias, muitos funcionários começaram a abrir contas falsas e a inscrever clientes em produtos financeiros sem o seu consentimento. Estima-se que cerca de 3,5 milhões de contas não autorizadas foram criadas.
Pontuações de satisfação do cliente
Uma empresa depende fortemente dos índices de satisfação do cliente para avaliar o desempenho dos colaboradores.
Consequência: Os colaboradores podem pressionar os clientes a dar feedback positivo ou a escolher selectivamente os clientes que sabem que darão classificações elevadas, em vez de se concentrarem na melhoria genuína da qualidade do serviço. Isto mina a verdadeira intenção de medir a satisfação do cliente para melhorar o serviço, uma vez que o processo passa a ser uma questão de manipular o sistema em vez de entregar valor real.
Recordo o caso da Uber, a empresa usa um sistema de avaliação em que os motoristas e passageiros classificam-se uns aos outros após cada viagem. Essas avaliações são críticas para os motoristas, pois uma baixa classificação pode levar à desactivação das suas contas ou à perda de acesso a determinados benefícios e incentivos. Para evitar avaliações negativas, alguns motoristas começaram a pressionar os passageiros a dar classificações altas, às vezes até sugerindo diretamente que o passageiro deve dar 5 estrelas. Em outros casos, os motoristas poderiam evitar atender passageiros que acreditavam que poderiam dar uma classificação mais baixa, escolhendo atender apenas aqueles que pareciam mais propensos a dar uma boa avaliação. Essas práticas desviam o foco da melhoria genuína da experiência do cliente e passam a ser sobre como manipular o sistema de avaliação para evitar punições ou maximizar recompensas.
Métricas de produtividade em Logística
Uma empresa de logística utiliza métricas quantitativas, como o número de artigos separados por hora, para avaliar a produtividade dos trabalhadores de armazém.
Consequência: Os trabalhadores podem concentrar-se apenas na quantidade, descurando a qualidade do seu trabalho. Podem manusear artigos incorrectamente ou embalar produtos de forma inadequada para aumentar o seu número, levando a mais erros, produtos danificados e taxas de devolução mais elevadas, o que acaba por prejudicar os resultados financeiros da empresa e a experiência do cliente.
Recordo o caso da Amazon que usa sistemas de monitorização rigorosos para acompanhar a produtividade de seus trabalhadores em centros de distribuição. Esses trabalhadores são frequentemente avaliados com base no número de itens que conseguem processar por hora, com metas de produtividade que podem ser muito elevadas. Sob a pressão de atingir essas metas, alguns trabalhadores podem-se concentrar exclusivamente na quantidade, tentando processar o maior número possível de itens em detrimento da qualidade. Isso pode resultar em manuseamento inadequado de produtos, embalagem defeituosa ou apressada, e maior risco de erros. Esses problemas podem levar a um aumento nas taxas de produtos danificados e devoluções, impactando negativamente a satisfação do cliente e os resultados financeiros da empresa.
E nos governos, imaginem o manancial de oportunidades...
domingo, julho 21, 2024
Acerca do valor para o cliente
O que é valor para um cliente?
Quando eu era criança era tudo uma questão de racionalidade, de especificações. Depois, o choque ... é muito mais do que isso, e abandonei a doença anglo-saxónica:
"But that is just the economically rational side of the issue — where the proverbial curves cross. I guess I once naïvely thought that the price was set by how much purchasers wanted and valued the good for themselves. But the accelerator on that is the purchasers' recognition that to a segment of society important to them, it is meaningful that the good in question is ownable by them and not by somebody else. That is, ownership of the good positions the purchaser favorably with a segment of society that matters to the purchaser....Understanding customer value has always been and will always be tricky. We used to be told it was all rational and functional. Then behavioral economics came along and demonstrated that there are many emotional elements involved that go well beyond the traditional functional definitions. And now it is clear that value is clearly socially constructed.
So, when you think about your customers, make sure to consider all the elements of value not just functional value and not just emotional value within the customers themselves. Over and above that, ask to what segment of society does possession of your good helps them to be a member. That final piece may be much more important than you may think at first blush."
Em que é que isto é importante para as PME?
Elas devem:
- adoptar uma abordagem abrangente para compreender o que é valor para o cliente. Isto inclui considerar elementos funcionais, emocionais e sociais,
- considerar a que segmento da sociedade os seus produtos ou serviços ajudam os clientes a pertencer. Este aspecto social pode ser crucial na definição da proposta de valor global.
A compreensão final de qual o segmento social que o seu produto ajuda os clientes a aderir pode ser mais importante do que parece inicialmente. As PME devem considerar isso estrategicamente nos seus esforços de marketing e desenvolvimento de produtos.
Roupas Sustentáveis:
- Funcional: Qualidade e durabilidade.
- Emocional: Sensação de estar a contribuir para um mundo melhor.
- Social: Pertencer a um segmento de consumidores conscientes e ambientalmente responsáveis.
Cervejas Artesanais:
- Funcional: Sabor diferenciado e produção local.
- Emocional: Prazer e satisfação ao experimentar algo único.
- Social: Integração numa comunidade de apreciadores de cervejas artesanais.
Produtos de Beleza Orgânicos:
- Funcional: Benefícios para a saúde da pele.
- Emocional: Sentimento de autocuidado e bem-estar.
- Social: Participação numa tendência crescente de cuidados naturais e orgânicos.
Móveis Artesanais:
- Funcional: Durabilidade e design personalizado.
- Emocional: Orgulho e satisfação em ter uma peça única.
- Social: Pertença a um grupo que valoriza a autenticidade e o artesanato.
Tecnologia de Apoio a Idosos:
- Funcional: Facilidade de uso e segurança.
- Emocional: Tranquilidade e independência.
- Social: Inclusão num segmento que preza pela qualidade de vida na terceira idade.
Alimentos Gourmet:
- Funcional: Ingredientes de alta qualidade e sabor superior.
- Emocional: Prazer e experiência gastronómica.
- Social: Pertença a uma comunidade de amantes da culinária gourmet.
Joias Personalizadas: (recordar o postal recente Marcas e customização será que a Rolex ainda não chegou lá?)
- Funcional: Qualidade e durabilidade.
- Emocional: Sentimento de exclusividade e identidade.
- Social: Integração num grupo que valoriza peças únicas e personalizadas.
quarta-feira, abril 10, 2024
Reposicionar o negócio actual (parte II)
Terminei o postal da parte I com este trecho e esta imagem:
"É como se algumas empresas olhassem para a actividade comercial como:"
"we highly recommend reading Competing Against Luck, a 2016 book by Clayton Christensen, our colleague David Duncan, Taddy Hall, and Karen Dillon) or rely on the accumulated experience of your team to provide detailed answers to these five questions.1. Why have people historically bought from us?2. What do we provide that they really care about?3. What is the disruptive shift in our market?4. What used to matter to them but doesn't really anymore?5. What do they wish we could do that we don't?"
quarta-feira, fevereiro 21, 2024
Primeiro, o que é a abordagem por processos?
Primeiro, o que é a abordagem por processos?
A abordagem por processos consiste em olhar para uma organização como sendo constituída por um conjunto de processos que interagem uns com os outros, porque essa é a forma mais eficaz e eficiente de atingir resultados desejados. Enquanto a abordagem tradicional é a de ver uma organização como um conjunto de departamentos.
Resultados consistentes e previsíveis podem ser mais eficaz e eficientemente atingidos quando as atividades são compreendidas e geridas como processos inter-relacionados que funcionam como um sistema coerente sintonizado num propósito comum.
A reengenharia dos processos nos anos 80 e 90 contribuiu para a popularização da abordagem por processos, que foi depois formalizada nos sistemas de gestão da qualidade pela versão de 2000 da ISO 9001.
Adoptar a abordagem por processos promove uma alteração na forma como se vêem as actividades numa organização. Michael Hammer escreveu:
"First, processes are teleological (from the Greek word telos, meaning "goal' or mission"). That is, they focus on the outcome of work rather than on work as an end in itself. In an organization that pays attention to its processes, everyone in the company understands the why as well as the what of their work. How people are trained and how performance is measured must reinforce the outcome orientation of processes.
Second, processes are customer-focused. Thinking in terms of processes compels a business to see itself and its work from the perspective of the customer, rather than from its own.
...Third, processes are holistic. Process thinking transcends individual activities. It concentrates instead on how activities fit together to produce the best outcome — the results that must be delivered to customers. The key goal - superior value for the customer — is achieved when an assortment of warring departments is replaced with a seamless web of collaborators working together for a unified purpose."
Adoptar a abordagem por processos permite melhorar a eficiência operacional. Quando se traduz o que se faz numa organização num conjunto de processos, facilmente se descobrem os pontos mortos, as etapas que consomem demasiado tempo, os by-pass que normalmente trazem problemas. Um processo é um conjunto de verbos, um processo é acção, um processo é fluxo, um processo é um rio com pressa de chegar à foz. Por isso, uso muitas vezes a imagem da água a jorrar de uma torneira para ilustrar o que para mim é um processo. Quando uma empresa ilustra pela primeira vez como funciona, usando a abordagem por processos, normalmente descobre com horror o lado direito da figura que se segue. Em vez de fluxo livre, temos barreiras a seguir a barreiras, constrangimentos e regras que diminuem o fluxo e levantam problemas.
Se desenhassem o processo, se identificassem as caixas de decisão e a frequência de decisões que emperram, que atrasam o processo, se calculassem a diferença entre o tempo de ciclo teórico e o tempo de ciclo real ficariam com os cabelos em pé. Como se trata de um serviço, algo abstracto, é mais difícil de apreender. Contudo, quando se desenha um processo ... o serviço torna-se tão concreto quanto um processo de uma empresa manufactureira.
Quando se usa a abordagem por processos é mais fácil:
- trabalhar na determinação dos riscos e oportunidades. Olhando para um fluxograma perguntamos: O que pode correr mal? O que nos pode levar a resultados indesejados?
- determinar as competências necessárias para o desempenho eficaz. Olhando para um fluxograma, identificamos as funções intervenientes, e olhando para cada etapa do processo podemos responder de forma clara às perguntas sobre que conhecimentos, que experiências alguém precisa de ter para realizar autónoma e correctamente uma dada tarefa, parte de uma actividade, parte do processo?
- desenvolver acções de melhoria. Olhando para um ou mais fluxogramas dos processos que contribuem para um resultado a melhorar, podemos localizar onde, em que partes dos processos, ocorrem eventos que prejudicam o desempenho do processo. Ou seja, balizamos a área a investigar e a melhorar.
Um dos principais problemas que vejo na aplicação da abordagem por processos passa pela deficiente determinação dos processos. E o erro mais comum é confundir processo com departamento. Assim, o que em muitas empresas se chama de processo, é na realidade a descrição de uma série de actividades desempenhadas num departamento. O exemplo clássico é um suposto processo dos Recursos Humanos que lista como se faz:
- a admissão de novos trabalhadores:
- a avaliação do desempenho dos trabalhadores;
- a formação dos trabalhadores;
- as promoções;
- o pagamento de salários;
- a marcação de férias;
- os processos disciplinares;
- faltas e assiduidade;
- demissões;
- legislação laboral;
- despedimentos;
- ...
Continua.
quarta-feira, janeiro 17, 2024
Penela, produtividade, trabalhadores, censos, autoestrada e inimigos
Ontem de manhã apanhei a parte final de "A História Do Dia", na rádio Observador, sobre o tema "A IA vai ficar com os nossos empregos?". Ouvi os últimos minutos que terminaram assim:
"Os dois problemas do país são a falta de produtividade e a falta de mão de obra"
Sorry, só há um problema, a falta de produtividade. Tudo o resto decorre deste.
Depois, à hora do almoço li no Diário de Coimbra, atraído por uma capa com uma cena de corrupção à base de queijos e spa:
"No entanto, Eduardo Nogueira dos Santos revelou que, «hoje, Penela tem praticamente pleno emprego, sendo que uma das maiores dificuldades dos nossos maiores empregadores reside na captação de trabalhadores». «Temos falta de trabalhadores, porque temos um tecido empresarial robusto, em que a procura excede a oferta. Mas também porque temos falta de habitação, o que também faz com que percamos população e eleitores e, indiretamente, provoca que o municipio veja a sua capacidade de investimento reduzida», frisou."
Temos aqui uma argumentação interessante:
- falta de trabalhadores;
- tecido empresarial robusto;
- procura excede oferta;
- falta de habitação;
- perdemos população;
- capacidade de investimento reduz-se.
A falta de trabalhadores não é uma causa raiz, a causa raiz é a baixa produtividade. Porque a produtividade é baixa não se conseguem pagar salários que atraiam as pessoas. Por isso, o salário médio do concelho ainda não conseguiu ultrapassar o valor atingido em 2012. Por isso, o concelho de Penela perdeu mais de 9% da sua população em 10 anos segundo o Censos de 2021. Quanto à robustez do tecido empresarial o Censos de 2021 diz-me que em 10 anos:
No JdN da passada segunda-feira sublinhei estas palavras:População empregada na Agricultura e Pescas 2,7 % +0,4 р.р. População empregada na Indústria e Construção 27,6 % -1,1 р.р. População empregada nos Serviços 69,6 % +0,7 p.p Trabalhadores por conta de outrem 1.628 -3,4 Empregadores 235 -2,5 % Trabalhadores isolados 240 +50,9 % População ativa com 25 a 44 anos 41,9 % -12,4 p.p. População ativa com 55 e mais anos 23,8 % +10,5 p.p.
"Falou do candidato Pedro Nuno Santos. Como olha para a proposta dele de aumentar o salário mínimo para mil euros em 2028?Acho que mil é pouco. Devia ser muito mais elevado, mas, para isso, precisamos de uma economia que suporte um salário digno, isso é que é importante. Precisamos de crescer 4%, 5% ao ano de forma sustentada."
BTW, a entrevista ao presidente da câmara de Penela é um manancial de temas para este blogue. Mais um:
"Neste campo, não posso deixar de evidenciar a satisfação com que recebemos a notícia de que no dia 1 de janeiro corrente, as portagens da Al3 iriam ser reduzidas. Menos 65% (desconto) é muito impactante para o nosso território. Porque não nos interessa estar a 15 minutos de Coimbra se isso comporta uma despesa demasiado elevada para a maioria das famílias a utilizarem. Com esta medida, de inteira justiça para as populações, mas sobretudo de extremo interesse para as empresas da região, trazemos também mais centralidade e maior qualidade de vida para Penela», sublinhou."
Qual a remuneração base média mensal dos trabalhadores por conta de outrem no concelho de Penela em 2019 (última ano do Pordata com números)? 776,3 €.
Qual a remuneração base média mensal dos trabalhadores por conta de outrem no concelho de Coimbra em 2019 (última ano do Pordata com números)? 966,1 €.
Qual o sentido mais provável do fluxo de trabalhadores?
Para um político nacional mergulhar a sério no tema da produtividade é perigoso para a sua carreira, porque se for sério vai fazer inimigos. Onde estará a tal fábrica?
quinta-feira, março 30, 2023
Acerca de KPIs
- Recordo daqui: "Once again, the reason why a measurement is important to a business or government agency is because of the existence of risk. Without risk, information would literally have no value to decision making.""
- Recordo daqui: "Usar indicadores da treta; Usar metas da treta"
- Um indicador pode ser bom, mas ter um desafio de desempenho tão baixo que acaba por estar sempre no verde. Vem-me logo à cabeça uma empresa que em 2022 teve 8 reclamações, em 2021 teve 9 ou 10 reclamações, e que para 2023 propunha uma meta de não mais de 12 reclamações. O responsável da qualidade queria tudo verde.
- Como saber se um indicador é bom? Se é um indicador estratégico - Está alinhado com a estratégia? Recordar o mapa da estratégia. Se é um indicador operacional - Serve para medir a eficácia, ou a eficiência, ou a quantidade?
quarta-feira, março 15, 2023
Foi você que falou em certificação dos clientes?
Nestes tempos em que se fala tanto de qualidade, de satisfação dos clientes, de certificação, de clientes mistério, de ...
"Americans are encountering more problems with companies' products and services than ever before, and a higher proportion of them are actively seeking "revenge" for their troubles, a new study has found.
Some 74% of the 1,000 consumers surveyed said they had experienced a product or service problem in the past year. That is up from 66% in 2020, when the study last was conducted, and 56% in 2017. Only 32% told researchers they had experienced a problem in 1976, when a similar version of the study was first conducted.
The percentage of consumers who have taken action to settle a score against a company through measures such as pestering or public shaming in person or online, has tripled to 9% from 3% in 2020, according to the study. That reversed a downward trend with regards to revenge-seeking behavior: The average percentage of customers seeking revenge between 2003 and 2017 was 17%."(1)
"Effective support for years has been looked upon as a consumer right, however, and some customer experience executives say stratifying it into tiers runs the risk of eroding trust among those who can't or don't want to pay." (2)
(1) - As Customer Problems Hit a Record High, More People Seek 'Revenge
(2) - Want Better Customer Service? Join the (Membership) Club
terça-feira, março 07, 2023
Trabalho, felicidade e "estabilidade"
Isto anda tudo ligado:
"Em 2021, mais de quatro milhões de pessoas revelaram que trabalhar em Portugal está longe de ser sinónimo de felicidade. Baixos salários, vínculos precários, carga horária excessiva, gestões autoritárias e estagnação profissional estão entre as principais justificações num mercado de trabalho onde poucos se sentem felizes. Foi neste ano que mais de 197 milhões de trabalhadores na União Europeia foram entrevistados sobre o nível de satisfação laboral. Os dados reunidos pelo Eurostat mostram que 43,8% das pessoas estavam "muito satisfeitas" com a condição profissional.
...
Em contraste com a média da Comunidade Europeia, Portugal tem menos de um quarto dos trabalhadores felizes com a sua profissão (21,6%). A maioria respondeu estar "mais ou menos satisfeita", enquanto 10,6% das pessoas expressaram a sua insatisfação. Esse valor mostra que Portugal é o país com a menor percentagem de trabalhadores muito satisfeitos comparativamente às restantes regiões.
...
No indicador da insatisfação, o país volta a surgir nas piores posições. E o segundo da lista com a maior percentagem de trabalhadores insatisfeitos, tendo quase o dobro da média europeia (5,8%). É apenas superado pela Bulgária (11,8%). A Itália é o país com menor percentagem."
Ehehehe só palpites, ninguém faz qualquer estudo para perguntar aos trabalhadores o motivo da sua opinião. E eu já estou habituado aos palpites do Bicicletas e do clube de amigos do Zé Reis.
O presidente da AEP também manda um palpite, certamente sem relação com um dos negócios mais rentáveis da organização a que preside:
"Luís Miguel Ribeiro defende de a necessidade de uma "firme aposta" na valorização do capital humano como "activo estratégico das organizações""
Ao ler este palpite pensei logo nos números sobre os suicídios: há mais suícidios, em %, em países felizes (Dinamarca) do que em países desgraçados (Grécia)? Recordo de 2014 - A felicidade é sempre uma medida relativa. Se se der mais valorização, sem dar oportunidade de escolher outro emprego, as pessoas ainda ficam mais insatisfeitas com o seu trabalho. Este meu palpite parece-me óbvio.
Olha, o Q.E.D. vem logo a seguir no mesmo artigo:
"E o "desencantamento" é evidente nos profissionais com licenciaturas, mestrados ou doutoramentos. São os que menos expressam estar muito satisfeitos em comparação com outros países. Em mais de um milhão e meio de trabalhadores que seguiram os estudos após o ensino secundário, apenas 367 mil (23,8%) responderam nesse sentido."
Como se sai disto? Aqui vai o meu palpite:
Com algo que mete medo ao país com o presidente da república que adora a "estabilidade", deixar a concorrência funcionar, fomentar mais concorrência e, sobretudo, fomentar o aparecimento de mais empresas noutros sectores mais produtivos capazes de oferecerem melhores condições. Agora imaginem o presidente da AEP afirmar isto ... por isto é que escrevo que anda tudo ligado. BTW, é procurar caridadezinha aqui no blogue desde o tempo do 44 como primeiro-ministro:
- Lerolero (2021)
- Vamos brincar à caridadezinha (2008)
quinta-feira, janeiro 26, 2023
Hospital renova certificação
Com alguns familiares a trabalhar em hospitais do SNS e que me colocam questões sobre a ISO 9001 vou percebendo que há coisas interessantes. Por exemplo, haver um quadro de pessoal e o serviço ser certificado sem as pessoas suficientes, de acordo com as regras que a organização tem de seguir. Julgo que isto está relacionado com a cláusula 7.1.2 Pessoas - "A organização deve determinar e providenciar as pessoas necessárias para a implementação eficaz do seu sistema de gestão da qualidade e para a operacionalização e o controlo dos seus processos." Como é possível ser certificado sem ter as pessoas suficientes?
Ontem via Twitter cheguei a "Hospital de Vila Franca renova certificações" ... interessante. A minha mente pensou logo na fama que o referido hospital vem adquirindo ultimamente:
- Longos tempos de espera nas urgências na Grande Lisboa
- Hospital de Vila Franca de Xira perdeu o rasto a doente que estava internado
"Em Novembro, o departamento jurídico do hospital informou os familiares dizendo que não foi possível estabelecer uma “relação casual inequívoca” entre este evento e o desfecho da situação. “Não é possível imputar responsabilidades individuais pelo sucedido [Moi ici: Como não recordar o livro "O Erro em Medicina" e O erro humano não existe!] (…) por não se verificar a existência de indícios da prática de qualquer infracção disciplinar ou presença de um ilícito praticado ou decorrente da actuação dos profissionais de saúde”, refere o hospital....Questionado por O MIRANTE, o hospital confirma o arquivamento do inquérito e diz terem sido cumpridos todos os protocolos de percurso de informação do Gabinete de Cidadão. [Moi ici: Quando dou formação sobre estes temas uso a imagem abaixo. O barco a afundar e nós, muito honestos, continuamos a seguir religiosamente os procedimentos sem questionar a sua eficácia] “Assim que o conselho de administração teve conhecimento da situação, que obviamente lamenta, de imediato deliberou pela abertura de um inquérito interno”, explica. O hospital diz ainda que foi entretanto diligenciado o reforço dos protocolos de segurança e reforçada a informação sobre a abordagem e manutenção das portas de evacuação com alarme [Moi ici: Ui! Então, foi possível ou não estabelecer uma relação causal inequívoca?] junto dos profissionais do hospital."
sábado, janeiro 07, 2023
Clientelas
"A sociedade portuguesa é clientelar e dependente das políticas distributivas controladas pelo poder político. Quanto mais se alarga o campo das funções do Estado, mais se reforçam as redes clientelares e mais dependentes ficam os resultados eleitorais da satisfação dessas redes clientelares - o que conduz diretamente ao crescimento do endividamento. Na política portuguesa e na sua sociedade clientelar, a maioria absoluta de um só partido é a entrada num elevador que só desce: quando se entra, porque se ganhou, está-se no melhor andar, mas a partir daí será sempre a descer. E é assim porque a maioria absoluta de um só partido atrai as redes clientelares que parasitam esse poder político: vivem dele, mas acabam por o matar."
Joaquim Aguiar no passado dia 5 de Janeiro no JdN em "Sem desculpa"
quinta-feira, novembro 17, 2022
Satisfação dos clientes - inquéritos ou entrevistas?
Há dias, durante este webinar "Measurement, Analysis, and Improvement According to ISO 9001:2015" recebi uma pergunta mais ou menos deste teor:
“Most companies find it difficult to measure customer satisfaction. Response rates for surveys is poor & does not serve the purpose. Data is scattered here & there in emails and no centralized analysis is done. Any comments?”
A minha resposta andou em torno de: Talvez os inquéritos a clientes não sejam o melhor método para a maioria das situações. Talvez as empresas usem inquéritos a clientes porque é um método fácil, não porque seja a melhor abordagem. A sua empresa tem um software de CRM? Por que não trabalhar com a sua área comercial para aproveitar as informações que lá estão? A sua empresa trabalha nas instalações dos clientes a fazer reparações ou instalações? Por que não usar algum pedido de feedback para essas interacções enquanto o seu pessoal está por lá? Não quero soar ou ser rude, mas acho que a maioria das empresas recebe o que merece pelo pouco investimento que faz (e não falo de dinheiro, mas de qualidade de pensamento) para obter feedback dos seus clientes. Depois, pouco fazem com isso também. A maioria quer ter um número para se satisfazer com ele.
"For many organizations, surveys like this qualify as “talking to the customer.” They’re ubiquitous – appearing in hotel rooms, after online purchases, and in hospital emergency departments. But do they really qualify as customer consultation? Or are they a symptom of an isolated management just putting on a show of interest? What can be done instead?The obvious answer is to talk with customers directly....If only they knew just how simple and straightforward a customer interview process can be, and how rich the rewards, if you know how to ask the right questions....If you’re like a lot of people, your initial response might be: “Twelve clients? The sample is too small. It’s not enough to tell you anything useful.”But in conversations with clients, you’re after quality not quantity. You want to know how they think about issues and how they make decisions. You want to get inside their minds. You want to get a feel for their needs, wants and pain. You can’t get that from a questionnaire....The short answer is: you need enough interviews to get to the point at which you hear nothing new and material is being repeated – so called “saturation”. You can, it turns out, reach this point surprisingly quickly....When it comes to obtaining customer input, executives often think a multiple-choice survey will be the most cost-effective option. They have their place, of course, such as if you want to know the percentage of people who liked or disliked something. But these instruments are shallow and derivative at best, and at their worst they can be annoying and counterproductive. So don’t let them become an excuse for not talking to the customer."
Trechos retirados de "Customer Surveys Are No Substitute for Actually Talking to Customers"
terça-feira, junho 14, 2022
Quem é este morcão? (parte II)
Dados das exportações dos quatro primeiros meses de 2022 e comparação com 2021 e 2019.
Há dias em Quem é este morcão? escrevi que perante um cenário como o da tabela acima muitos empresários dirão, a quem lhes vier falar de problemas sobre o amanhã e o depois de amanhã:"Quem é este morcão para me vir falar de problemas quando tudo corre bem?"Tudo corre bem? Mas quem é que admite que tudo corre bem? Se calhar, se se admitir que algo corre bem ainda se atrai o mau olhado... ou aumentos da impostagem.
"As exportações das indústrias transformadoras estão em alta, mas os empresários temem que os efeitos da guerra na Ucrânia, da inflação e do aumento e falta de matérias primas venham a condicionar as vendas ao exterior nos próximos meses. A falta de mão de obra é outra das grandes preocupações...."Os números são ainda muito animadores, embora as empresas continuem bastante inquietas quanto às perspetivas causadas pela guerra", diz o vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), acrescentando que "teme-se um abrandamento por causa da falta de matérias-primas, que continua a ser uma realidade, tal como a falta de recursos humanos"....A questão resulta de um problema demográfico, conhecido de todos, mas também da incapacidade em atrair imigrantes na dimensão pretendida. "Sabemos que Portugal e a Índia têm um acordo assinado nesse sentido, mas que o Consulado português em Nova Deli não emite vistos...."Não se pode dizer que os negócios estejam propriamente a correr mal, mas olhamos para estes números numa dupla perspetiva: a satisfação com os resultados obtidos é ensombrada por um conjunto de sinais de alerta e preocupação, que não nos permitem fazer previsões para o futuro", diz o diretor de comunicação da APICCAPS. Paulo Gonçalves destaca a "inflação descontrolada"' em vários países prioritários para o calçado, a par da a "descompensação do mercado ao nível do abastecimento de matérias-primas" a que acrescem as preocupações com a guerra, que "obriga a algumas reservas"....Por fim, a indústria têxtil e do vestuário está a crescer também a dois dígitos, com vendas ao exterior de quase 2082 milhões de euros, mais 18% do que em igual período de 2021. Neste caso, a dinâmica de crescimento é maior para os mercados comunitários, que estão a crescer 18,8% para 1553 milhões de euros. Os extracomunitários crescem 15,5% para 528 milhões. Fonte do setor mostra alguma relutância em "festejar" este crescimento, considerando que parte disto será efeito da inflação sobre as matérias-primas. "Não representa necessariamente que estejamos a fazer mais nem que estejamos a vender a mais" defendem."[Moi ici: Ui!!! Cheira-me a tanto medo de pressões salariais]
Leio estas reacções e dou comigo a pensar numa expressão de Daniel Kahneman: What You See Is All There Is. Parece que o presente é um paradigma que está em risco de ser desfigurado por forças para lá do nosso controlo. Como se a realidade não fosse sempre uma sucessão de paradigmas que depuseram paradigmas anteriores considerados na altura como melhores.
Também é verdade que os dirigentes associativos não estão no terreno competitivo, as associações não competem, quem compete são as empresas individuais, por isso têm de falar de generalidades pacíficas para os associados.
O que o morcão propõe é assumir o controlo do guiador, olhar para as forças que modelarão o futuro próximo, e lançar hipóteses de actuação para estar à frente da onda de mudança. Assumir o controlo do guiador passar por abdicar do papel de coitadinho com a mão estendida, passa por focar o olhar no horizonte e fazer acontecer algo de diferente. Quando olho agora mesmo para o Sales Navigator do Linkedin só vejo: XXXX has slowed growth. There has been reduced hiring and less job openings than usual.
Muitas empresas fora de Portugal estão a antecipar uma grande recessão e estão já a mexer-se. Há quem suspeite que já se está numa recessão. E como é que as PMEs se preparam para este cenário?