quarta-feira, janeiro 17, 2024

Penela, produtividade, trabalhadores, censos, autoestrada e inimigos

Ontem de manhã apanhei a parte final de "A História Do Dia", na rádio Observador, sobre o tema "A IA vai ficar com os nossos empregos?". Ouvi os últimos minutos que terminaram assim:

"Os dois problemas do país são a falta de produtividade e a falta de mão de obra"

Sorry, só há um problema, a falta de produtividade. Tudo o resto decorre deste.

Depois, à hora do almoço li no Diário de Coimbra, atraído por uma capa com uma cena de corrupção à base de queijos e spa:

"No entanto, Eduardo Nogueira dos Santos revelou que, «hoje, Penela tem praticamente pleno emprego, sendo que uma das maiores dificuldades dos nossos maiores empregadores reside na captação de trabalhadores». «Temos falta de trabalhadores, porque temos um tecido empresarial robusto, em que a procura excede a oferta. Mas também porque temos falta de habitação, o que também faz com que percamos população e eleitores e, indiretamente, provoca que o municipio veja a sua capacidade de investimento reduzida», frisou."

Temos aqui uma argumentação interessante:

  • falta de trabalhadores;
  • tecido empresarial robusto;
  • procura excede oferta;
  • falta de habitação;
  • perdemos população;
  • capacidade de investimento reduz-se.
Hoje em dia quando me falam em falta de trabalhadores torço logo o nariz. Recordo de Novembro passado "Depois não se venham queixar das empresas zombies". 

A falta de trabalhadores não é uma causa raiz, a causa raiz é a baixa produtividade. Porque a produtividade é baixa não se conseguem pagar salários que atraiam as pessoas. Por isso, o salário médio do concelho ainda não conseguiu ultrapassar o valor atingido em 2012. Por isso, o concelho de Penela perdeu mais de 9% da sua população em 10 anos segundo o Censos de 2021. Quanto à robustez do tecido empresarial o Censos de 2021 diz-me que em 10 anos:

  • População empregada na Agricultura e Pescas 2,7 % +0,4 р.р.
  • População empregada na Indústria e Construção 27,6 % -1,1 р.р.
  • População empregada nos Serviços 69,6 % +0,7 p.p
  • Trabalhadores por conta de outrem 1.628 -3,4 
  • Empregadores 235 -2,5 %
  • Trabalhadores isolados 240 +50,9 %
  • População ativa com 25 a 44 anos 41,9 % -12,4 p.p.
  • População ativa com 55 e mais anos 23,8 % +10,5 p.p.
  • No JdN da passada segunda-feira sublinhei estas palavras:
    "Falou do candidato Pedro Nuno Santos. Como olha para a proposta dele de aumentar o salário mínimo para mil euros em 2028?
    Acho que mil é pouco. Devia ser muito mais elevado, mas, para isso, precisamos de uma economia que suporte um salário digno, isso é que é importante. Precisamos de crescer 4%, 5% ao ano de forma sustentada."

    BTW, a entrevista ao presidente da câmara de Penela é um manancial de temas para este blogue. Mais um:

    "Neste campo, não posso deixar de evidenciar a satisfação com que recebemos a notícia de que no dia 1 de janeiro corrente, as portagens da Al3 iriam ser reduzidas. Menos 65% (desconto) é muito impactante para o nosso território. Porque não nos interessa estar a 15 minutos de Coimbra se isso comporta uma despesa demasiado elevada para a maioria das famílias a utilizarem. Com esta medida, de inteira justiça para as populações, mas sobretudo de extremo interesse para as empresas da região, trazemos também mais centralidade e maior qualidade de vida para Penela», sublinhou."

    Qual a remuneração base média mensal dos trabalhadores por conta de outrem no concelho de Penela em 2019 (última ano do Pordata com números)? 776,3 €.

    Qual a remuneração base média mensal dos trabalhadores por conta de outrem no concelho de Coimbra em 2019 (última ano do Pordata com números)? 966,1 €.

    Qual o sentido mais provável do fluxo de trabalhadores?

    Para um político nacional mergulhar a sério no tema da produtividade é perigoso para a sua carreira, porque se for sério vai fazer inimigos. Onde estará a tal fábrica?

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