domingo, setembro 01, 2013

Ter memória... é um fardo

Julgo que os antigos tinham um ditado qualquer acerca de se ter memória e das implicações dessa posse.
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Primeiro - Pensem no que se pode dizer acerca da evolução das exportações portuguesas nos últimos anos após 2009. Lembrem-se o quanto elas têm crescido e, sobretudo, ganho quota de mercado.
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Segundo - Pensem na evolução das exportações portuguesas no período 2005-2010, "Portugal foi o 3º país da UE a 15 em que as exportações mais cresceram no período 2005-2010".
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Terceiro - Recuemos a Outubro de 2011 e recordemos a receita de Daniel Bessa para o aumento das exportações "Daniel Bessa sugere mais horas de trabalho sem aumento de salários":
"“Acho que nas empresas viradas para os mercados exteriores, para serem capazes de produzir e vender mais barato aqui e ali, era vantajoso e um estímulo ser-lhes dada a possibilidade de aumentar o horário de trabalho até uma hora a mais, por exemplo”, afirma à Renascença, adiantando que esse aumento horário não seria acompanhado de um aumento de salário."
Como se pudéssemos competir com a China nos custos... como se a exportação das PMEs se baseasse em commodities.
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Sempre a mesma treta!

3 comentários:

Bruno Fonseca disse...

não sei se viu ontem no canal 2 uma muito interessante reportagem acerca da produção na China, e de eles serem a "fábrica do mundo".

a China tem uma série de potencialidades que ainda não foram totalmente exploradas, e acho que aí sim estará o principal obstáculo para as empresas europeias. os próprios chineses sentem que serão, a partir de agora, bastante mais competitivos face aos europeus do que antes.

existem uma série de empresas chinesas, cujos accionistas ganharam MUITO dinheiro, com produtos relativamente fracos, mas que contudo, estão a investir verdadeiras fortunas para subir na cadeia de valor, tanto ao nível de recursos humanos como tecnologicamente. aliás, hoje as fábricas alemãs produtoras de bens de equipamento trabalham em grande medida para a China.
além disso, existem subsídios estatais, energia muito barata, terrenos gratuitos, uma enorme facilidade na contratação e despedimento de pessoas, compradores globais que vão até lá.
deu lá o caso de uma cidade que está totalmente focada na produção de meias. mais de 50 fábricas só dedicadas a isso, um centro comercial de fábricas onde vão os compradores, produtoras de máquinas especificas para produção de meias, etc. há um efeito spill over, de comunicação informal abismal!

por outro lado, deu depois um exemplo de um concorrente francês, dos poucos (ou muito poucos) que sobreviveram. vivem essencialmente de rapidez, proximidade, e da capacidade de fornecer encomendas com 6 pares de meias (!!!!). mas lá está, é uma situação delicada, em que caso haja um problema com a fábrica, quase que acaba o sector em França. na China é ao contrário, estão a investir imenso, a subir na cadeia de valor, especializando-se.

será um mundo cada vez mais complexo, não tenho dúvidas

Bruno Fonseca disse...

ou seja, representa exactamente o mesmo receio que tenho em relação ao têxtil em Portugal. não vejo dinâmica, vejo as pessoas a lutarem para sobreviver, não vejo investimentos nem fábricas novas. cada fábrica que "cai", é uma menos, porque não existe substituição.
ao contrário do que acontece no calçado por exemplo.

ao nível de concorrência europeia, no tal documentário, além da fábrica de meias (tecnologicamente apetrechada, produção just in time, capacidade de entrega na hora de pequenas séries), deu também uma fábrica de óculos (basicamente assemblagem), mas que era completamente artesanal. segundo ele, quem quer grandes produções vai à China, a produção deles não é suficiente para industrializar. para industrializar teria que baixar o preço, e isso ele não faz.
então, vemos uma fábrica europeia "artesanal" a lutar contra chinesas cheias de maquinaria. curioso.
a vantagem ali é novamente proximidade e rapidez, até porque em qualidade, há produtores chineses capazes de concorrer, até pela capacidade tecnológica que eles estão a absorver.
aliás, mostraram exemplos de empresas sul-coreanas e afins que deslocalizaram da China para Vietname, Paquistão, Sri Lanka, etc, e que portanto, já perceberam claramente que têm que subir na cadeia de valor, têm que aumentar a qualidade, etc. além disso, têm a vantagem do mercado interno, que está a crescer e garante quase a absorção da produção.

também referem que existe uma maior tendência de valorizar o "made in Europe", hoje é uma mais valia.

CCz disse...

Olá Bruno,

Vi parte inicial do documentário que refere. No entanto, confesso que o achei algo superficial, o que me levou a mudar de canal.
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Elogiam a vantagem da produção em massa a baixo-custo como se fosse o único factor competitivo, como se a procura fosse homogénea.
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E até que ponto é que a produção chinesa com futuro, tem interesse em trabalhar para o Ocidente, quando tem em casa uma massa de clientes com cada vez mais dinheiro e a consumirem cada vez mais?
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E até que ponto há importadores europeus capazes de continuarem a viver de um modelo que gera ineficiências tremendas a nível de vendas não realizadas (por causas do sail-out dos best-sellers sem possibilidade de reposição)e vendas a baixo-preço na época de saldos, para limpar o inventário?