sexta-feira, dezembro 29, 2017

Custos Unitários do Trabalho, salários e produtividade

Lembram-se do tempo da troika e de quanto esquerda e direita nos bombardearam com grandes tiradas sobre a necessidade de reduzir os Custos Unitários do Trabalho (CUT)?

Lembram-se de como aqui sempre estivemos contra essa treta porque os CUT são um rácio e, por isso, os CUT podem baixar, apesar dos salários subirem, se o que se produz tiver maior valor unitário?

Os clássicos, como Teixeira dos Santos ou os direitolas como Ferraz da Costa, assumem o jogo do gato e do rato, e relacionam o aumento dos salários com o aumento da produtividade em termos de produção de unidades por unidade de tempo, assumindo que o preço unitário não varia, assumindo que o que se produz mantém-se constante ao longo do tempo.

Aqui, sempre chamámos a atenção para o aumento da produtividade através da alteração do que se produz, a velha lição de Marn e Rosiello, porque tem um impacte muito superior ao que se consegue à custa do aumento da eficiência.

Regresso a isto ao encontrar estes gráficos:

Chamo a especial atenção para a evolução dos CUT (unit labour costs) da Irlanda. Estão a imaginar a quantidade de analistas a rasgar as vestes e a chorar com dó dos pobres irlandeses. Segundo eles, porque os CUT baixaram é porque os salários reais baixaram... os irlandeses devem estar a pagar para trabalhar.

Reparem agora neste outro gráfico sobre a evolução dos salários reais:
Q.E.D.

Já agora, olhem para a evolução da produtividade irlandesa:
Acham que esta evolução aconteceu porque os irlandeses começaram a correr mais depressa e a ser menos preguiçosos, ou porque se alterou o preço unitário do que produzem?

E como se aumenta o preço unitário do que se produz quando não se goza da prerrogativa de ter armas e de se poder obrigar os "utentes" a comprarem o que se produz?

Subindo na escala de valor.

Recordar:
Trechos retirados de "Wages and Nominal and Real Unit Labour Cost Differentials in EMU"



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