quarta-feira, março 12, 2025

Curiosidade do dia


Às vezes trabalho com empresas grandes, algumas até muito grandes. Empresas com capacidade para atrair e reter pessoas talentosas mesmo.

Às vezes, ao trabalhar com algumas dessas empresas deparo com uma situação que até hoje me tinha deixado perplexo. 

Desenhamos um modelo do funcionamento da organização com base na abordagem por processos. Os processos não querem saber dos departamentos, os processos são um rio de montanha em busca da foz, os processos são sequência de actividades que furam departamentos.

Então, surge a necessidade de escolher líderes para cada um dos processos. O líder de um processo não é necessariamente o líder de um departamento. É mais difícil chefiar um processo do que um departamento. Quem chefia um processo não tem poder hierárquico sobre parte dos intervenientes relevantes no processo, quem chefia um processo tem de trabalhar competências para que os objectivos, para que o propósito do processo seja cumprido.

Eu, ingenuamente, acreditava que esta posição de líder de um processo pudesse ser uma posição-chave para que gente ambiciosa quisesse mostar o seu valor e posicionar-se para voos mais altos na organização. No entanto, muitas vezes vejo gente a seguir aquele meme em que Homer Simpson recua lentamente para o interior de uma sebe até desaperecer completamente.

O que é que mudou hoje? Ter, por acaso, visto este vídeo até ao fim.


"I understand why people do that there's real danger to being visible. There's real danger in being visible now you might be successful if you're visible but you also might be dead"

De onde uns vêm e para onde outros vão?


Na semana passada escrevi sobre a mudança na China, a transição de Keynes para Schumpeter:
Agora escrevo sobre algo que pode ser uma decisão na Alemanha que vai no sentido oposto. Algo que li em "Fundo alemão de 500 mil milhões vai impulsionar setor da construção, diz DBRS"
"A coligação que venceu as eleições na Alemanha anunciou esta semana um fundo de 500 mil milhões de euros que se destina a investimento em infraestruturas e defesa. A DBRS Morningstar considera que este fundo será uma tábua de salvação para o setor da construção, que se tem apresentado instável.
...
Apesar da atenção que tem sido dada à aposta alemã na defesa, a DBRS foca-se mais na vertente da construção, indicando que este apoio será essencial para financiar projetos de infraestruturas públicas, como estradas, pontes, ferrovia e habitação nos próximos 10 anos. "Prevemos que a implementação destes projetos impulsione significativamente a atividade de construção, possivelmente para níveis vistos, pela última vez, na década de 1990", aquando da reunificação da Alemanha.
...
"Acreditamos que o fundo proposto de 500 mil milhões de euros provavelmente terá um efeito semelhante, impulsionando o Governo e os gastos do setor privado na atividade de construção, aumentando assim a procura por serviços de construção em toda a cadeia de valor" , lê-se na nota. Entre os maiores beneficiários desta medida estarão a Thyssenkrupp, maior fabricante de aço, e empresas como Bilfinger."

É como se a "DVD leadership team" tivesse lugar nas reuniões da coligação que venceu as eleições na Alemanha. 

A aposta no setor da construção pode impulsionar a economia no curto prazo, gerar empregos e melhorar infraestruturas. No entanto, se esta política não for acompanhada de um esforço para aumentar a produtividade e modernizar a economia, a Alemanha pode estar apenas a prolongar artificialmente um modelo de crescimento dependente do betão – algo que a China fez durante décadas e que agora tenta corrigir.

Se os projectos forem infraestruturas estratégicas, como redes ferroviárias modernas, energias renováveis e digitalização, pode ser um investimento positivo.
Se o foco for apenas obras públicas tradicionais (estradas, pontes, edifícios), o impacto será mais limitado, pois são sectores de baixo valor acrescentado e dependentes de mão de obra intensiva. 

A China está a migrar da construção civil para alta tecnologia, seguindo o modelo de Japão e Coreia do Sul (Flying Geese). Se a Alemanha insistir em estimular a economia através do sector da construção, pode estar a perder uma oportunidade de acelerar a transição para indústrias de ainda maior valor acrescentado.

A China abandonou os megaprojetos de infraestruturas porque percebeu que essa abordagem criava bolhas económicas e baixa produtividade. Em vez disso, passou a investir em tecnologia avançada, impulsionando sectores como IA, semicondutores e robótica. A Alemanha, com uma economia altamente industrializada, poderia focar-se mais em inovação tecnológica e digitalização em vez de apostar em construção tradicional.

O betão é um risco?
Sim, se for um investimento mal direccionado. Se a Alemanha usar este fundo para modernizar a economia, apostando em infraestruturas estrategicamente relevantes (energias renováveis, digitalização, transportes eficientes), pode ser positivo. Mas se for apenas mais betão sem estratégia, corre o risco de se tornar um entrave ao crescimento de longo prazo, exatamente como aconteceu na China. A lição de Schumpeter e dos Flying Geese deveria servir de alerta para a Alemanha e para toda a Europa.

terça-feira, março 11, 2025

Curiosidade do dia


Há tempos numa empresa deparei com um indicador sobre "Número de acidentes" que tinha como meta zero acidentes. No entanto, a empresa ano após ano não cumpre essa meta. Propus uma meta mais realista que possa motivar os responsáveis. A resposta fez-me lembrar algo que Peter Drucker escreveu. Sei que há um livro onde Drucker discute a importância de definir objectivos claros e mensuráveis para organizações sem fins lucrativos. Ele dá o exemplo de instituições cujo objectivo é "acabar com a fome" ou "eliminar uma doença", e explica que essas metas são demasiado amplas e inatingíveis no curto prazo. Em vez disso, ele sugere que as organizações devem definir objectivos mais concretos e realistas, como "reduzir a taxa de desnutrição infantil em determinada região em X% dentro de Y anos" ou "aumentar a cobertura vacinal contra uma determinada doença em Z%".

Já procurei esses trechos nos livros "Managing the Non-profit Organization" e "Management - Tasks, Responsibilities, Practices", ainda não os encontrei, mas ainda não desisti.

Entretanto, ontem Roger Martin publicou "Management Tasks, Responsibilities, Practices & Playing to Win" onde escreveu:
"When I started reading it, something felt wrong. It sounded too politically correct and modern. Though I had an aging memory of it, having read it over 30 years earlier, it wasn’t what I remembered. Then I realized — and should have before diving in — that I was reading a revised edition, published in 2008, three years after Drucker’s death.
So, I tracked down a 1st edition, published in 1973, and started over again. Unlike the revision I had started to read, the original is flat-out brilliant, packed full of absolute wisdom across its 800+ pages. On utility, it is an A+!
Based on this experience, I issue this heartfelt request: Please don’t, after my death, revise, modernize and ‘improve’ my work. I don’t want someone deciding what I meant to say and saying it ‘better.’ No, no, no. Please."
A minha versão de "Management - Tasks, Responsibilities, Practices" é a de 1973. Por isso, o trecho que se segue ainda não foi expurgado:
"When Efficiency Is a Sin 
Efficiency and cost control, however much they are being preached, are not really considered virtues in the budget-based institution. The importance of a budget-based institution is measured essentially by the size of its budget and the size of its staff. To achieve results with a smaller budget or a smaller staff is, therefore, not performance. It might actually endanger the institution. Not to spend the budget to the hilt will only convince the budget maker—whether legislature or the budget committee of a company-that the budget for the next fiscal period can safely be cut.
Thirty or forty years ago it was considered characteristic of Russian planning, and one of its major weaknesses, that Soviet managers, toward the end of the plan period, engaged in a frantic effort to spend all the money allocated to them, which usually resulted in total waste. Today the disease has become universal as budget-based institutions have become dominant everywhere. End-of-year pressure on the executive of a budget-based institution certainly accounts for a good deal of the waste in the American defense effort. And "buying-in," that is, getting approval for a new program or project by grossly underestimating its total cost, is also built into the budget-based institution."
Como não recordar: Curiosidade do dia e Curiosidade do dia.



Diversificação e entropia (parte IV)



Estratégia em todo o lado!

No Domingo, folheava o JN quando encontrei, "A crise chegou ao mercado dos festivais de verão". Comecei a ler o artigo e a perceber que todo ele é sobre estratégia, posicionamento, risco da diversificação e da comoditização.

O artigo ilustra a importância da definição estratégica num sector em mudança. Os festivais enfrentam o dilema entre expandir para captar mais público ou especializar-se para manter identidade e valor percebido.

Aqueles que tentam agradar a todos perdem diferenciação e entram em competição pelo preço. Já os que segmentam e reforçam a identidade conseguem fidelizar público e justificar preços mais altos. Em linha completa com o final da parte III.

"No clima de incerteza atual, quem apresentar um produto que se distinga da concorrência ganha vantagem.
...
Os festivais já perceberam que para continuarem a existir têm que segmentar, ou seja, só vai sobreviver quem tiver uma identidade forte."

Lendo a citação acima parece que o texto está cheio de pérolas sobre estratégia. Não! Infelizmente. 

O artigo começa por enumerar uma série de festivais que não se realizaram no ano passado, depois informa que o cachet dos artistas subiu bastante porque o mercado asiático, com mais poder de compra do que o americano e o europeu, entrou no mercado e paga mais para ter as bandas que contam. Eu acrescentaria, se calhar erradamente, que a demografia também não ajuda. Também alguns artistas preferem organizar os seus próprios espectáculos em vez de trabalharem para o dono de uma prateleira, o que rarefaz a disponibilidade de cabeças de cartaz que atraiam multidões.

Depois, claro, isto é Portugal, começa o choradinho:

"Muito crítico sobre a falta de apoio do Estado aos promotores privados no setor da cultura, Álvaro Covões, da Everything Is New, vê um problema de raiz em toda esta questão: "O país nunca mais cresce. O baixo poder de compra que temos dificulta o acesso a espetáculos".

...

"os preços dos bilhetes em Portugal estão muito abaixo da média europeia".

O final do artigo traz algo que pode ser preocupante:

"Com as mudanças em curso, o presidente da Aporfest considera que "no futuro será cada vez mais difícil vermos artistas de primeira linha" nos festivais. "É preciso que os promotores se readaptem aos novos desafios. Já estão a fazê-lo, aliás: basta ver o destaque maior dado a artistas portugueses ou até brasileiros", afiança" 

O maior destaque a artistas portugueses ou até brasileiros é significado de diversificação para baixar custos apenas? Se sim, traduzir-se-á em perda de identidade, perda de poder de marca.

A diversificação sem critério leva à diluição do valor do produto, o que se reflete nos festivais que tentam atingir todo o público e acabam sem identidade. (Ligação à Parte I).

Festivais sem identidade forte tornam-se commodities, indistinguíveis entre si, e entram numa guerra de preços insustentável. O artigo menciona uma opinião de que só sobreviverão aqueles com uma identidade forte, alinhando-se com a ideia de Seth Godin de que posicionar-se de forma clara no mercado é um serviço ao cliente. O risco de tornar-se genérico e perder diferenciação é real, o que já aconteceu com alguns festivais descontinuados. (Ligação à Parte II).

Em linha com a Parte III

A premiumisation dos festivais (oferecer experiências diferenciadas, além do cartaz de artistas) é uma estratégia semelhante à da Nestlé com os seus produtos premium. A polarização do mercado também está presente nos festivais: eventos muito baratos sobrevivem pelo volume, os premium pela exclusividade, mas os que estão no meio correm o risco de desaparecer.

Expandir demasiado (oferecendo tudo a todos) pode levar ao colapso do modelo de negócio.

segunda-feira, março 10, 2025

Curiosidade do dia

 
"If the people who work on tech's cutting edge think their children should reverse course, then maybe the rest of us ought to reconsider our parental guidance. Dan Dumont recently did what any responsible engineering director would do: He asked his favorite artificial-intelligence assistant whether his children, ages 2 and 1, should follow in his footsteps.
Maybe not, the bot warned. It recommended fostering creativity and people skills, while stopping short of prescribing specific jobs for the toddlers.
...
More parents are coming to the same conclusion, says David Ferreira, spokesman for the Massachusetts Association of Vocational Administrators. He says vocational school was long looked-down-on in a state known as a science and tech hub. "It was where other people's kids went-kids who learned with their hands and who were not college material," he says of many white-collar parents' thinking.
Not anymore. Ferreira says 1 in 5 Massachusetts high-schoolers is in a vocational program, about 30% more than a decade ago. And trade schools that used to accept virtually everyone now have hundreds of teens on wait lists. Demand is so high that several mainstream public high schools in the state are reviving or expanding shop classes, part of a nationwide trend."

Trechos retirados do WSJ de hoje em "Parents in Tech Engineer A Career Switch for Their Kids" 

Risco versus incerteza

Frank Knight, na sua obra "Risk, Uncertainty and Profit" (1921), distingue risco de incerteza da seguinte forma:

  • Risco refere-se a situações em que os resultados futuros são desconhecidos, mas podem ser calculados com base em probabilidades objectivas. Ou seja, é possível quantificar o risco com base em dados históricos ou modelos estatísticos (ex.: seguros, apostas, mercados financeiros).
  • Incerteza, por outro lado, ocorre quando os resultados futuros são desconhecidos e não podem ser quantificados com probabilidades objectivas. Não há dados suficientes para calcular probabilidades precisas, tornando a tomada de decisão mais difícil (ex.: inovações disruptivas, mudanças políticas imprevistas).
"Nothing is certain under the sun. Our knowledge of the world - or our future wants - is incomplete and fallible. Nor can we be sure about others' opinions or wants. We can only imagine. Yet resolute action requires confidence in our individual and collective choices. Where does confidence come from, especially when we imagine something new? How do we justify judgments prone to mistake and disagreement?
...
Briefly, Knight's 1921 book Risk, Uncertainty and Profit distinguished uncertainty from risk thus: Risk can be objectively calculated from historical statistics (as in constructing life expectancy tables) or from probability theory (like the chance of successive "heads" in a coin toss). Knight defined uncertainty by exclusion - as situations when we cannot calculate probabilities from statistical distributions or mathematical laws.
...
Knight's definition of uncertainty as the absence of calculable risks has immediate intuitive appeal, but this definition has also become a reason for its neglect. Most real - world situations and problems - which dish to order in a new restaurant, for example - don't naturally map into statistical distributions or mathematical calculations.
...
mainstream economic theories now make no distinction between "probability situations" that are, in Knight's words, "to a high degree unique" and those that are not. Uncertainty is banished to the unexaminable, occult world of unknown unknowns. 
...
Uncertainty is thus a personal ("subjective") mental state that covers future events that no one can observe before they occur. Doubts can also pertain to ignorance of existing or past conditions.
...
Knight's 1921 book distinguished between uncertainty and risk for a reason: to propose that true profit requires bearing (taking "responsibility" for) uncertainty rather than risk. In Knight's theory, providing capital for risks that can be calculated from the laws of probability or statistical tables only earns the going market rate for risk-bearing. (Conceptually, according to Knight, the market rate of return must be excluded from true profit, although no one actually does this.) Moreover, responsibility for uncertainty is an entrepreneurial function, and the return for performing this function is the source of an entrepreneur's profit. Although I find Knight's "no-uncertainty, no-profit" thesis appealing, I see little hope of its acceptance in mainstream economics."
Mais uma razão para a aversão à novidade.

Trechos retirados de "Uncertainty and Enterprise" de Amar Bhidé.

domingo, março 09, 2025

Curiosidade do dia

Na sequência desta Curiosidade do dia, o FT de 5 de Março voltou à carga em "Europe must trim welfare to fund warfare":

"In that rare thing, an Angela Merkel statement that aged well, the long-serving German chancellor worried that Europe accounted for 7 per cent of the world's population, a quarter of its economic output and half of its social spending. Those numbers have modulated somewhat in the subsequent 13 years, but the gist of her point holds.

More than that, it has gained a new urgency. The reason Merkel wanted some welfare trimmings was to preserve Europe's "way of life". The mission now is to defend Europe's lives. How, if not through a smaller welfare state, is a better-armed continent to be funded? Borrowing? Britain and France have had tense moments with bond investors of late. Public debt nears or exceeds national output in both countries, as it does in Italy. ... The other option is to raise taxes. At the margins, this could happen. But big rises? In an already undynamic continent? 

...

The question is whether the public agrees. I have come to doubt whether rich, democratic societies can make difficult reforms - except in a crisis. Public discomfort isn't enough. An element of real fear has to come in, 

...

Still, that isn't the purpose of defence, and politicians must insist on this point. The purpose is survival."

Por cá, já ouviram falar nisto? Vai ser tema da campanha eleitoral? 

Diversificação e entropia (parte III)

Parte I e parte II.

Ontem no FT um artigo que se encaixa bem nesta série, "Nestlé targets higher-end baby formulas"

O artigo discute a estratégia da Nestlé para enfrentar o declínio das taxas de natalidade, apostando em fórmulas infantis premium. A empresa observa que, com menos filhos por família, os pais tendem a gastar mais em produtos de alta qualidade. Para compensar a possível redução da base de clientes, a Nestlé foca-se na premiumização, vendendo produtos infantis mais caros e reduzindo os custos das suas marcas mais baratas.

"Parents having fewer children are buying more expensive baby food, according to the head of Nestlé's nutrition business, as the world's largest food company shifts its strategy to offset the impact of falling birth rates.
Nestlé, like other consumer goods companies, has been trying to push customers towards buying fewer, higher-priced goods as it attempts to combat a potentially shrinking customer base and higher ingredient costs, a strategy known as premiumisation.

Serena Aboutoubol said people with fewer children, or an only child, 'tend to spend more. We are seeing a clear reduction of the number of children per household. And this drives premiumisation.'

The Swiss group said a steady decline in global birth rates in developing nations as well as in richer economies was driving demand in its higher-end baby products
...
The division has been targeting sales of higher-end infant products including baby milk and foods as well as driving down the cost of its cheapest brands — as part of a wider strategy to boost flagging performance." [Moi ici: Uma empresa multi-marca e multi-unidades de fabrico pode fazer isto. Nunca esqueçer a lição de "The Focused Factory" de Wickham Skinner]

A aposta na chamada polarização do mercado, os consumidores estão cada vez mais polarizados entre produtos low-cost (focados em preço e valor acessível) e premium (produtos diferenciados e de alta qualidade), resultando na erosão da procura pelos produtos do meio-termo. Um tema que acompanha este blogue desde 2005!!! 

Portanto:

  • Premiumisation como resposta à queda da natalidade → Com menos filhos, os pais investem mais em produtos de maior qualidade.
  • Reposicionamento da oferta → A Nestlé ajusta a sua estratégia promovendo produtos premium e reduzindo custos em marcas mais baratas.
Agora começa a relação mais forte com esta série, a expansão para novos segmentos. A empresa amplia o foco para mães, crianças mais velhas e idosos, para diversificar as fontes de receita.

"The division chief said Nestlé was "expanding the boundaries" of its nutrition category, into products for mothers, older children and to the elderly demographic.

"You have [fewer ] babies but you can look at toddlers, you look to the mothers and develop a strategy on healthy ageing and longevity, which is a growing trend," she said."

Vamos à parte II e ao risco de colapsar para o centro.

Será que a Nestlé está a evitar o colapso para o centro? A Premiumisation pode ser vista como uma tentativa de reforçar a identidade da marca, diferenciando os produtos infantis mais caros e apostando no valor percebido pelos consumidores. Este posicionamento alinha-se com a ideia de que "positioning is a service" - ou seja, a empresa está a dizer ao mercado que, se procura qualidade superior, a Nestlé tem a solução.
Ou está a colapsar para o centro? A diversificação da oferta para incluir mães, crianças mais velhas e idosos pode indicar um movimento expansionista que dilui o foco da marca. Se esta estratégia levar a Nestlé a perder a diferenciação nos segmentos premium e a competir diretamente com players massificados, poderá cair na armadilha do "collapsing to the center".

Vamos à parte I e ao risco de dispersar a energia do negócio.

A decisão de expandir para mães e idosos levanta a questão: está a Nestlé a reforçar a sua proposta de valor ou a dispersar a sua energia? Se a expansão enfraquecer a posição da marca em nutrição infantil, pode levar a uma diluição da diferenciação e à concorrência com produtos de menor valor acrescentado.

Se a Nestlé perder a exclusividade do seu posicionamento premium e entrar numa lógica de diversificação excessiva, pode acabar por competir em segmentos de menor margem, o que pode ser um problema a longo prazo.

Se agora me afastar deste caso concreto e subir na escala da abstracção vejo um padrão tantas vezes repetido: 

  • o mundo muda
  • a procura baixa
  • a empresa em vez de anichar, encolher e ajustar-se à nova realidade opta por diversificar para manter receita
  • a diversificação traz complexidade e custos
  • a empresa deixa de ser vista como especialista
  • a empresa tem de competir com generalistas
  • a margem baixa 
  • a empresa colapsa, a menos que os "medrosos" no governo de turno corram em seu auxílio

sábado, março 08, 2025

Curiosidade do dia

Mão amiga fez-me chegar este recorte de jornal de 2008, "Sem água potável já em 2025":

"Portugal e Espanha serão os dois países europeus mais afectados pelo aquecimento global em 2025, ano em que não haverá água potável na Península Ibérica, segundo previsões das Nações Unidas. A escassez dos recursos hídricos, provocada pelo aumento da temperatura, resultado do aquecimento, afectará milhões."

Recordo daqui:

"Há muito que penso que os políticos começaram a falar cada vez mais do ambiente porque era algo que não lhes vinha cobrar. Por exemplo, um político pode propor políticas para reduzir défice, para reduzir filas de espera na Saúde, para aumentar salários, ... e todas essas políticas têm o inconveniente de, mais tarde ou mais cedo, virem cobrar através da comparação entre os resultados propostos versus os resultados obtidos. Já com o ambiente era diferente. Os políticos podiam falar do ambiente à boca cheia sem recear que ainda durante a mesma legislatura alguém lhes viesse pedir contas."

Recomendo a escuta deste vídeo, agora sobre os cientistas.

Diversificação e entropia (parte II)


Na linha da parte I.

Tão interessante o título dado por Seth Godin a este tema no seu livro "What is Strategy", "241. Collapsing to the Center"

O termo "Collapsing to the Center" refere-se ao fenómeno em que marcas e empresas, ao longo do tempo, perdem a sua identidade distinta e acabam por tornar-se genéricas, previsíveis e enfadonhas. Isso acontece porque há uma pressão constante para expandir, agradar a mais clientes e reduzir riscos, o que inevitavelmente leva a um modelo de negócio mais homogéneo e indiferenciado. Recordar a suckiness dos gigantes.

Godin escreve:
"Marty Neumeier points out that many brands get boring over time. Systems and feedback loops relentlessly push us to center. It's easier to manage 100 doctors in a healthcare practice if they consistently act in similar ways.

It's hard work to stand for something, stick with a strategy, and to be willing to send customers to someone else for help.

Positioning is a service. It's a beacon to your customers, patients, or constituents. It says, "If you're looking for X, that's what we have. On the other hand, plenty of people are looking for Y, and you'll find that from our colleagues over there."

Positioning isn't competitive. It's the opposite. It turns your competitors into colleagues, folks who do something else for someone else.

But positioning is also a move in a strategic game. When you put yourself over here you are also choosing to put people who previously competed with you over there.
Some of them will make a move in response. Others will find themselves pushed to the center as you go to the edge.

We need organizations and people in the center, and I don't think we're in any peril of running out of that. But you (and your customers) benefit when you have a strategy to get to the edge you seek to live on."

sexta-feira, março 07, 2025

Curiosidade do dia

A minha veia libertária leva-me a ter alguma compreensão pela ideia da liberalização das drogas, cada um sabe de si.

Numa das minhas caminhadas matinais, ao passar ao lado do novo campo da bola do Valadares, talvez há três anos, tive um choque. Num texto em inglês, não recordo se num livro, jornal ou revista, alguém contava que num jornal de São Francisco que tinha trazido uma série de artigos em defesa da liberalização das drogas, foi publicada uma carta de uma mãe. Uma mãe que tinha identificado o filho perdido numa foto dos perdidos para a droga que o jornal tinha publicado. Naquele momento ouvi as palavras de Deus a dirigirem-se a mim, qual Caim:

"O SENHOR perguntou a Caim: «Onde está o teu irmão?»

«Não sei. Será que eu sou o guarda do meu irmão?», respondeu ele."

Há tempos, numa outra curiosidade do dia escrevi: "Qual o serviço do estado que não é gerido assim?"

Hoje, volto a sentir a interpelação de Deus. Li algo e acredito que o mesmo se passa por cá sob a tolerância, o beneplácito e até a promoção dos responsáveis desde a sala de aula até ao topo da hierarquia do monstro, e nós cidadãos incluídos. 

Um horror deste tempo do paraíso dos funcionários, "She graduated from high school with honors but can't read or write. Now she's suing":

"Despite graduating last June from Hartford Public High School in Hartford, Connecticut, and earning a scholarship to college, Aleysha is illiterate. She says she cannot read or write.

...

She graduated with honors, which usually means a student has demonstrated academic excellence. But after 12 years of attending public schools in Hartford, Aleysha testified at a May 2024 city council meeting that she could not read or write. Suddenly, she says, school officials seemed concerned about awarding her a diploma."

Ao princípio a gente não acredita. Como é possível nos tempos de hoje em que toda a gente tem um smartphone não saber ler nem escrever... mas ela explica. Há aplicações que traduzem texto para voz, e aplicações que traduzem voz para texto. 

Schumpeter, China e nós



E volto a "China has embraced creative destruction, says Tom Orlik" publicado no número de Março de 2025 da Bloomberg Businessweek.

Não sei até que ponto o autor é isento, mas fica o aviso.

"National People's Congress? Don't count on it. After decades following British economist John Maynard Keynes and his doctrine of demand management, China's leadership is taking a lesson from US economist Joseph Schumpeter and his creed of creative destruction.
...
The rest of the world had moved on from Keynes and his great insight-born of the Great Depression of the 1930s—that in a downturn the government should pay people to dig holes in the ground and then fill them in. But until pretty recently, roads to nowhere, desolate airports and vacant apartment towers showed China was sticking to the Keynes playbook.

This resolve was great for growth. In the years after the global financial crisis of 2008, China's economy continued to hum, while self-imposed austerity delayed recoveries in the US and Europe. All that stimulus, though, left China laboring under a heavy burden of overcapacity. In the end, too many idle factories, too many empty apartments and too many unpaid real estate loans resulted in an economic malaise not dissimilar to the one that afflicted Western economies in the 1970s after their decades of following Keynes' recipe.

What's the solution? Whether by choice or necessity, Keynes is out and China is now following the precepts of another great economist: Schumpeter. In Capitalism, Socialism, and Democracy, his magnum opus, Schumpeter argues that the power of the capitalist system came from a "perennial gale of creative destruction" blowing through the economy. New technologies displace old technologies. New companies displace old companies. For the losers, it's painful. But it drives progress.

Schumpeter made the case that creative destruction was unique to capitalism. China is demonstrating it can work in its hybrid state-plus-market system, too. Exhibit A is the property sector, where after years of backstopping developers, the government is allowing them to face the consequences of their excesses. The shakeout has been savage for all those involved, from bondholders to homebuyers who made down payments on apartments that will never be built. But it also means capital and labor are freed up for more productive purposes.
...
Is the transition from Keynes to Schumpeter going to be smooth? No. ... the country is moving from a diet of cheesecake to a diet of broccoli-less tasty but more healthy.
...
It was as an immigrant to the US-and professor at Harvard-that Schumpeter developed his theory of creative destruction. If the US is to stay ahead in the global economic race, it would be wise not to forget his wisdom, especially as China has just learned it."
Há anos que defendo aqui no blogue a necessidade de deixar as empresas morrer, de apoiar as pessoas, não as empresas, durante a transição dolorosa. Por cá sempre ouvi o choradinho, o peditório dos que à segunda, terça e quarta querem apoios para as empresas, para depois à quinta, sexta e Sábado clamar por menos impostos. Agora, é ainda mais impressionante, leio a mesma conversa a nível da União Europeia.

Não vamos ficar todos bem!

Este artigo "»Es geht ums nackte Überleben der energieintensiven Industrie"" é impressionante. A loucura dos governos ao longo dos anos, o locus de controlo no exterior do CEO ... aqui até o percebo é uma loucura quase maquiavélica. Será que a Alemanha teve um cavalo de Tróia nos seus governos?

quinta-feira, março 06, 2025

Curiosidade do dia

Agora que por cá vamos voltar a ter socialistas de esquerda a substituir socialistas de direita é interessante pensar o que uns conseguem fazer e outros não: 

"Liz Kendall, the work and pensions secretary, has described Britain's status as the "sick man of Europe" as a national disgrace as she prepares to unveil ambitious employment reforms.
About £5 billion of welfare cuts are planned, with the long-term sick expected to be required to work.
...
Those with mental health conditions will also find it harder to claim separate disability benefits. Hundreds of thousands of people could find their payments reduced. There are more than 9.3 million working-age people in the UK who are not looking for employment.
...
Figures published this year revealed that 2.4 million incapacity benefit claimants now have no work conditions attached to their paymentsup 50 per cent in five years. Kendall said: "Labour's message is clear: if you can work, you should, and this government is stepping up to its duty to fix this and restore trust and fairness in the system.
...
The Treasury has told City bosses, who are spooked about the prospect of further tax rises, that savings in the welfare bill will avoid the need to reopen the budget. Welfare is expected to be one area, along with the ballooning size of the civil service, that the chancellor will target for cuts."


Trechos retirados do artigo "Jobs for long-term ill and £5bn cuts to welfare to heal 'sick man of Europe'" publicado pelo The Times de 2 de Março passado.

Já no FT de 3 de Março em "Labour works up remedy for 'unaffordable' benefits" podia ler-se:
"Employment minister Alison McGovern has signalled Labour might tear up the process that determines financial help for sick and disabled people by 'focusing on what they can't do on a worst day, not on what they would like to do or what support they think they would need. Britain 'can't afford the level of resources', she says, ahead of a government green paper that will aim to put more people into work."

A China e a receita Irlandesa


Mão amiga mandou-me uma cópia de um artigo que vai merecer mais do que um postal aqui no blogue, "China has embraced creative destruction, says Tom Orlik" publicado no número de Março de 2025 da Bloomberg Businessweek.

Primeiro, recordar estes números sobre algumas produtividades por hora em euros:
No artigo da Bloomberg Businessweek encontramos este gráfico eloquente:


O gráfico mostra a evolução da contribuição de dois sectores para o PIB da China: o sector imobiliário (linha preta, em queda) e o sector de alta tecnologia (linha vermelha, em crescimento). Prevê-se que, por volta de 2026, o sector de alta tecnologia ultrapasse o imobiliário em termos de contribuição para o PIB.

E de que é que falamos quando falamos em Teoria dos Flying Geese?

A Teoria dos Flying Geese descreve um padrão em que países seguem uma sequência de industrialização, movendo-se de sectores menos sofisticados para sectores mais avançados. O gráfico acima ilustra como a China está a migrar de uma economia baseada na construção civil, no betão tão querido dos nossos políticos, para uma economia mais tecnológica, seguindo os passos de países como o Japão e a Coreia do Sul.

A China já terceiriza parte da sua produção de baixo valor (como têxteis e manufactura simples) para alguns países do Sudeste Asiático, como o Vietname, Bangladesh e Indonésia. Enquanto isso, foca-se cada vez mais na produção de chips, inteligência artificial, eletrónica avançada e robótica, subindo na hierarquia global da inovação.

O gráfico acima ilustra a Teoria dos Flying Geese e também ilustra como se aumenta a sério a produtividade de um país.

O crescimento do sector de alta tecnologia implica maior produtividade, pois esse sector gera muito mais valor acrescentado por trabalhador e por unidade de capital investido. Enquanto a construção civil depende de grandes volumes de matéria-prima e mão de obra intensiva, o sector de tecnologia avança com inovação e eficiência. Isso reflecte uma mudança estrutural na economia chinesa, orientada para indústrias mais avançadas.

"O Japão não ficou rico a produzir vestuário de forma muito, muito eficiente. Taiwan não ficou rica a produzir rádios de bolso de forma muito, muito eficiente."

Qual o impacte da evolução do gráfico acima nos salários e nível de vida dos chineses? O sector de alta tecnologia paga salários mais elevados do que o sector imobiliário e a manufactura tradicional, pois exige trabalhadores mais qualificados. A crescente procura por engenheiros, programadores e cientistas de dados impulsiona os rendimentos dessas profissões.

Que melhor ilustração para a frase ""It's no longer about how you do it; it's about what you do.""? Que melhor ilustração para a diferença entre trabalhar o denominador (melhorar a eficiência) ou trabalhar o numerador da equação da produtividade:


Por que nos admiramos? É a mesma receita que a seguida pela Irlanda. Acham que a "DVD leadership team" tem voto na matéria?

Por cá temos um gráfico semelhante para o turismo, por exemplo. Acham que é um sector que contribui para o aumento da produtividade agregada do país? Acham mesmo? Mas atenção, as pessoas do turismo estão a fazer a sua parte, o problema são os ausentes, os mastins dos Baskerville.

Finalizo com uma citação de 2007:

"It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."

Mas, e como isto é profundo:

"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."


quarta-feira, março 05, 2025

Curiosidade do dia


 

"Young men's wages have fallen consistently behind women's for the first time, according to a hardhitting report that warns of a "crisis" facing males under 24.
The Lost Boys study by the Centre for Social Justice think tank says the gender pay gap has flipped among 16 to 24-year-olds, with women earning 9 per cent more than men in both blue and whitecollar jobs."

Esperam por uma Wendy...


Trecho retirado de "Boys lose out in gender pay gap" publicado no The Times de 2 de Março.

Diversificação e entropia

 
"Because you can do something is a dreadful reason for doing that thing. Any broadening of WTP — whether more offerings, more customers, more geographies, more vertical integration (forward or backward) — should only happen if it strengthens HTW; that is, if it increases the intensity of the energy. If it has a neutral effect on HTW, it shouldn’t be done. Tie doesn’t go to the runner. That is because it will spread the energy, which accelerates entropy. If it decreases the power of HTW, it shouldn’t be given a millisecond of consideration. Steve Jobs understood this in spades. When he returned to Apple, he famously hacked and slashed his way through energy-dissipating offerings in order to build energy in the remaining core."

As PME que expandem sem critério acabam a competir no terreno das commodities, onde o único diferencial possível é o preço e a escala, mas as PME não podem competir com grandes players neste modelo, pois não têm poder de compra, produção em massa nem logística eficiente o suficiente para operar com margens muito baixas.

O cliente que procura um produto ou serviço diferenciado não quer uma empresa que "faz tudo". Ele quer uma empresa especialista, que entrega um valor real e uma experiência superior. Isto está directamente relacionado com o ponto do texto sobre preservação da energia do negócio: a Starbucks voltou a crescer cortando excessos e regressando ao essencial, tal como as PME devem evitar o risco de diluir a sua proposta de valor.

Recordo:

Trecho retirado de "Starbucks & Strategic Entropy"

BTW, recordo de 2012:

"By September 1997, Apple was two months from bankruptcy. Steve Jobs, who had cofounded the company in 1976, agreed to return to serve on a reconstructed board of directors and to be interim CEO.

...

What he did was both obvious and, at the same time, unexpected. He shrunk Apple to a scale and scope suitable to the reality of its being a niche producer in the highly competitive personal computer business. He cut Apple back to a core that could survive.

...

Jobs cut all of the desktop models—there were fifteen—back to one. He cut all portable and handheld models back to one laptop. He completely cut out all the printers and other peripherals. He cut development engineers. He cut software development. He cut distributors and cut out five of the company’s six national retailers. He cut out virtually all manufacturing, moving it offshore to Taiwan. With a simpler product line manufactured in Asia, he cut inventory by more than 80 percent. A new Web store sold Apple’s products directly to consumers, cutting out distributors and dealers.

...

The power of Jobs’s strategy came from directly tackling the fundamental problem with a focused and coordinated set of actions. He did not announce ambitious revenue or profit goals; he did not indulge in messianic visions of the future. And he did not just cut in a blind ax-wielding frenzy—he redesigned the whole business logic around a simplified product line sold through a limited set of outlets."

Tempo de preparação

 

Hoje é Quarta-feira de Cinzas, o início da Quaresma, um tempo de reflexão, penitência e conversão espiritual. Este dia convida-nos a recordar a nossa fragilidade e a renovar o compromisso com Deus, preparando o coração para a Páscoa.

Durante a celebração, recebemos a imposição das cinzas sobre a testa, acompanhada das palavras: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho". Este gesto simboliza humildade e a necessidade de mudança interior.

Convido à participação nas cerimónias litúrgicas deste dia especial, reflectindo sobre o caminho quaresmal que agora iniciamos.



terça-feira, março 04, 2025

Curiosidade do dia

Um artigo super interessante noo FT de hoje, "Students must learn to be more than mindless 'machine-minders'".

Eu uso a inteligência artificial todos os dias no meu trabalho. E interrogo-me muitas vezes sobre o impacte do seu uso na minha capacidade futura de pensar criticamente sobre os assuntos. Também sei que há temas em que a inteligência artificial é propícia a erros de interpretação e, por isso, é perigoso aceitar acriticamente o que nos diz.

"A survey of UK undergraduates by the Higher Education Policy Institute thinks shows 92 per cent of them are using generative Al in some form this year compared with 66 per cent last year, while 88 per cent have used it in assessments, up from 53 per cent last year." [Moi ici: Interessante como a autora propõe uma série de medidas criativas para enfrentar o problema para depois perceber que na prática não resultam porque já foram testadas em Cambridge]

...

"Maria Abreu, a professor of economic geography at Cambridge university, told me her department had experimented along these lines. But when they gave undergraduates an AI text and asked them to improve it, the results were disappointing. 'The improvements were very cosmetic, they didn’t change the structure of the arguments,' she said."

...

Michael Veale, an associate professor at University College London's law faculty, told me his department had returned to using more traditional exams, too. Veale, who is an expert on technology policy, sees Al as a 'threat to the learning process' because it offers an alluring short-cut to students who are pressed for time and anxious to get good marks. "We're worried. Our role is to warn them of these short-cuts - shortcuts that limit their potential. We want them to be using the best tools for the job in the workplace when the time comes, but there's a time for that, and that time isn't always at the beginning," he says."

...

"The researchers concluded that 'a focus on maintaining foundational skills in information gathering and problem-solving would help workers avoid becoming overreliant on Al'. In other words, to use the short-cut effectively rather than mindlessly, you need to know how to do it without the short-cut."

Há dias conversava com a minha mãe, professora reformada, sobre a necessidade de se pensar o que se deve ensinar nas escolas. Conversa motivada pelo comentário de alguém que trabalhou na China e me despertou para o tema de como é que uma máquina de escrever é usada na China que tem dezenas de milhares de caracteres.  

A autora escreve, e bem:

"After all, your students' prospects in the world of work are going to depend on how much value they can add, over and above what a machine can spit out."

Em linha com o que ouvi há dias na net:

Inequality and risk preference

Um tema interessante, a relação entre desigualdade e risco e a relação entre insatisfação económica e risco. 

"Using a globally representative data set on risk preference in 76 countries, we empirically document that the distribution of income in a country has a positive and significant link with the preference for risk." (página 191)
"At both the individual and country-level, we find a precise, stable estimate that indicates higher inequality is significantly associated with a greater degree of risk taking." (página 194) [Moi ici: Quanto maior a desigualdade, mais as pessoas arriscam. Em países onde há uma diferença muito grande entre ricos e pobres, as pessoas tendem a estar mais dispostas a correr riscos]
...
"We find evidence of a steeper gradient between willingness to take risks and inequality for cognitively more able individuals who likely have a better assessment of inequality and for those who are dissatisfied with their income." (página 191)
"Perceptions likely deviate from objective reality through a kaleidoscope of individual biases and imperfect information, all of which determine the extent to which we 'experience inequality' (Roth & Wohlfart, 2018)." (página 194) [Moi ici: Quem tem mais consciência da desigualdade arrisca mais. Pessoas que conseguem perceber melhor as diferenças de rendimento na sociedade (geralmente aquelas com maior aptidão matemática ou educação) são ainda mais propensas a correr riscos quando vivem num ambiente muito desigual]
...
"We also consider that the effect of inequality on individuals is by no means homogeneous. We hypothesise that the risk preference of individuals who are better placed to read or interpret the objective degree of inequality should be more affected." (página 195)
"We next investigate what role income plays in determining how inequality can affect risk preferences. Satisfaction with own-income is likely a salient point of reference where individuals react to inequality differently. That is, when an individual is satisfied with their current level of income, we expect changes in the level of inequality to have no effect on their appetite for risk taking." (página 211) [Moi ici: Quem está insatisfeito com o seu dinheiro arrisca ainda mais. Se uma pessoa sente que ganha pouco e está tendo dificuldades financeiras, a desigualdade faz com que ela se sinta ainda mais para trás, e isso aumenta a vontade de assumir riscos para tentar mudar a sua situação]

E recuo a 2007 e a este gráfico:

 

Trechos retirados de "Inequality and risk preference" publicado por Journal of Risk and Uncertainty (2024) 69:191-217 


segunda-feira, março 03, 2025

Curiosidade do dia

"O atual Governo, liderado por Luís Montenegro, assume que quer "consolidar" a marca dos 50%, mas reconhece que tal não será fácil. "Não é nada mau se, nos próximos anos, consolidarmos esse patamar dos 50%", referiu o ministro da Economia, Pedro Reis, numa entrevista conjunta ao Negóciose Público em abril do ano passado, durante a primeira visita oficial ao exterior: Contudo, destacou que, mais importante do que ter uma "meta ambiciosa". ", é garantir "mais valor acrescentado nas exportações"."

O texto acima aparece no JdN de hoje num artigo intitulado "Peso das exportações no PIB cai pelo segundo ano seguido"

O artigo aborda a queda do peso das exportações portuguesas no PIB pelo segundo ano consecutivo. Em 2024, as exportações representaram 46,6% do PIB, um valor inferior aos 50% atingidos em 2022 e abaixo do nível de 2023. A diminuição é atribuída à queda nos preços das mercadorias exportadas e à menor procura externa.

A diminuição do preço das mercadorias exportadas reflecte a influência da inflação, e reflecte a dolorosa realidade de dependermos muito da exportação de commodities com baixo valor acrescentado.

Concordo com o ministro Pedro Reis acerca da importância de "é garantir "mais valor acrescentado nas exportações". Só que tal não se obtém por decreto e, seguramente, não se obtém sem uma transição dolorosa.

Os incumbentes têm aversão a testar o novo. Resta-nos criar condições para minimizar a transição dolorosa.

Let that sink in ...