quarta-feira, março 12, 2025

De onde uns vêm e para onde outros vão?


Na semana passada escrevi sobre a mudança na China, a transição de Keynes para Schumpeter:
Agora escrevo sobre algo que pode ser uma decisão na Alemanha que vai no sentido oposto. Algo que li em "Fundo alemão de 500 mil milhões vai impulsionar setor da construção, diz DBRS"
"A coligação que venceu as eleições na Alemanha anunciou esta semana um fundo de 500 mil milhões de euros que se destina a investimento em infraestruturas e defesa. A DBRS Morningstar considera que este fundo será uma tábua de salvação para o setor da construção, que se tem apresentado instável.
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Apesar da atenção que tem sido dada à aposta alemã na defesa, a DBRS foca-se mais na vertente da construção, indicando que este apoio será essencial para financiar projetos de infraestruturas públicas, como estradas, pontes, ferrovia e habitação nos próximos 10 anos. "Prevemos que a implementação destes projetos impulsione significativamente a atividade de construção, possivelmente para níveis vistos, pela última vez, na década de 1990", aquando da reunificação da Alemanha.
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"Acreditamos que o fundo proposto de 500 mil milhões de euros provavelmente terá um efeito semelhante, impulsionando o Governo e os gastos do setor privado na atividade de construção, aumentando assim a procura por serviços de construção em toda a cadeia de valor" , lê-se na nota. Entre os maiores beneficiários desta medida estarão a Thyssenkrupp, maior fabricante de aço, e empresas como Bilfinger."

É como se a "DVD leadership team" tivesse lugar nas reuniões da coligação que venceu as eleições na Alemanha. 

A aposta no setor da construção pode impulsionar a economia no curto prazo, gerar empregos e melhorar infraestruturas. No entanto, se esta política não for acompanhada de um esforço para aumentar a produtividade e modernizar a economia, a Alemanha pode estar apenas a prolongar artificialmente um modelo de crescimento dependente do betão – algo que a China fez durante décadas e que agora tenta corrigir.

Se os projectos forem infraestruturas estratégicas, como redes ferroviárias modernas, energias renováveis e digitalização, pode ser um investimento positivo.
Se o foco for apenas obras públicas tradicionais (estradas, pontes, edifícios), o impacto será mais limitado, pois são sectores de baixo valor acrescentado e dependentes de mão de obra intensiva. 

A China está a migrar da construção civil para alta tecnologia, seguindo o modelo de Japão e Coreia do Sul (Flying Geese). Se a Alemanha insistir em estimular a economia através do sector da construção, pode estar a perder uma oportunidade de acelerar a transição para indústrias de ainda maior valor acrescentado.

A China abandonou os megaprojetos de infraestruturas porque percebeu que essa abordagem criava bolhas económicas e baixa produtividade. Em vez disso, passou a investir em tecnologia avançada, impulsionando sectores como IA, semicondutores e robótica. A Alemanha, com uma economia altamente industrializada, poderia focar-se mais em inovação tecnológica e digitalização em vez de apostar em construção tradicional.

O betão é um risco?
Sim, se for um investimento mal direccionado. Se a Alemanha usar este fundo para modernizar a economia, apostando em infraestruturas estrategicamente relevantes (energias renováveis, digitalização, transportes eficientes), pode ser positivo. Mas se for apenas mais betão sem estratégia, corre o risco de se tornar um entrave ao crescimento de longo prazo, exatamente como aconteceu na China. A lição de Schumpeter e dos Flying Geese deveria servir de alerta para a Alemanha e para toda a Europa.

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