quinta-feira, agosto 31, 2023

Números preocupantes

Ontem o Camilo Lourenço chamou-me a atenção para os números do investimento directo estrangeiro (IDE) publicados recentemente pelo Banco de Portugal. Quem segue este blogue sabe a importância que eu dou ao IDE, uma boleia para aproveitar o know-how e subir na escala de valor (a receita irlandesa).

Camilo citou dois números, qual deles o mais preocupante:
  • no primeiro semestre deste ano o IDE caiu mais de 57% face ao período homólogo;
  • no primeiro semestre deste ano quase 94% do IDE foi canalizado para o imobiliário.

quarta-feira, agosto 30, 2023

Falta a parte dolorosa da transição (Parte IV)

Ontem, durante a minha caminhada matinal, voltei a "Flawless consulting" e senti-me assim:

Já publiquei três reflexões sobre: Falta a parte dolorosa da transição (Parte I, parte II e parte III). Sobre a importância de deixar as empresas morrerem.

Entretanto no livro encontro:

"THE QUESTION IS MORE IMPORTANT THAN THE ANSWER

What this means is that we have to learn to trust the questions and recognize that the way we ask the question drives the kind of answer we develop.

We get stuck by asking the wrong question. The most common wrong question is that of the engineer in each of us who wants to know how we get something done. This question quickly takes us down the path of methodology and technique. It assumes the problem is one of what to do rather than why to do it or even whether it is worth doing. [Moi ici: Relaciono isto com o pensamento de que se tivermos melhores gestores, faremos melhor as coisas e, por isso, ficaremos bem. Parte II]

...

BEYOND HOW

"How" questions will take us no further than our starting place. They result in trying harder at what we were already doing. The questions that heal us and offer hope for authentic change are the ones we cannot easily answer. Living systems are not controllable, despite the fact that they evolve toward order and some cohesion. To move a living system, we need to question what we are doing and why. We need to choose depth over speed, consciousness over action-at least for a little while.

The questions that lead to a change in thinking are more about why and where than about how. Some examples:

  • What is the point of what we are doing? ...
  • What has to die before we can move to something new? We want change but do not want to pay for it. We are always required to put aside what got us here to move on. Where do we find the courage to do this?" [Moi ici: Todas estas quatro frases são preciosas! O que precisa de morrer para dar lugar ao novo? Qual o preço da mudança que queremos ver? O que nos trouxe até aqui não nos conseguirá levar até acolá. Onde se arranja a coragem política para deixar a mudança acontecer?]

Há uma frase que diz que quando descobrimos que estamos num poço, num buraco, a primeira coisa que devemos fazer é deixar de cavar. Há coisa de um mês o jornal ECO lembrava-nos que o país cai há seis anos consecutivos no ranking da produtividade. Em vez de deixarmos de cavar, redobramos os esforços, aumentamos os investimentos no passado. Em vez de deixarmos de cavar, cavamos com mais intensidade. Se cavarmos melhor …

terça-feira, agosto 29, 2023

Falta a parte dolorosa da transição (parte III)

Parte I e parte II.

O que escrevi na parte I?
"O período 3 é falso, é rotundamente falso porque falta a parte dolorosa da transição. Falta criar as condições para os flying geese (A mudança bottom-up!The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!). É preciso deixar as empresas morrer (e como isto é dificil politicamente, os desempregados são eleitores). No entanto, o que se faz é apoiar essas empresas para que dêem o salto de produtividade ... a sério?!"

Afinal, os apoios nem são para ajudar as empresas a darem o salto de produtividade. Ontem no JN em "Desemprego atinge os concelhos industriais" li:

"TRABALHO Os concelhos com maior propensão industrial foram os que registaram os maiores aumentos do desemprego nos últimos 12 meses. Mais de metade dos novos desempregados estáno Norte, sobretudo onde predominam os setores do têxtil e do calçado, que se queixam de falta de encomendas. Para travar os despedimentos, o Governo prepara-se para suportar parte do salário dos trabalhadores que estão parados.

...

O setor do couro teve o maior aumento do desemprego, 15,4% Superior ajulho de 2022, e há empresários do calçado que pedem medidas para evitar "despedimentos em massa" (ler texto na página seguinte). Já o têxtil e o vestuário viram o desemprego subir acima dos 12%, porque "as empresas tiveram uma diminuição acentuada da procura", assinala Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. Isto deve-se à conjuntura internacional que arrefeceu os mercados europeus, o que levou a que o retalho vendesse menos do que o esperado no ano passado, gerando-se "excesso de stock" que, este ano, se repercute num travão das encomendas, acrescenta. [Moi ici: Ainda ontem à tarde na RTP 3 ouvi uma declaração do presidente da ATVP sobre o têxtil e a sustentabilidade em que, entre outras coisas, dizia que era preciso aumentar o tempo de vida do vestuário. Eu sorri e pensei no impacte desse justo objectivo na rentabilidade das empresas e no emprego têxtil]

...

O JN sabe que se trata de um programa dirigido aos trabalhadores das indústrias afetadas pela quebra de encomendas, nas quais se inclui o têxtil e vestuário.

A ideia é que o IEFP financie uma parte dos salários, desonerando as empresas que, de outra forma, teriam de recorrer ao lay-off ou despedir. A portaria que regulamenta o programa será publicada no inicio de setembro e as formações devem arrancar nesse mês. A duração prevista é até ao final do ano, mas os empresários veem vantagens em prolongá-lo a 2024. [Moi ici: Entretanto, o presidente da Associação das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC), César Araújo, diz que apesar do desemprego as empresas não conseguem contratar]"

Recordar Tudo vai depender do tal jogo de forças (parte VI)  onde se fala da inversão de ciclo nas exportações portuguesas.

É o medo atávico dos governos portugueses, que não querem deixar as empresas morrer e, por isso, amarram recursos escassos a empresas zombie.

segunda-feira, agosto 28, 2023

Falta a parte dolorosa da transição (parte II)

Na sequência do postal Falta a parte dolorosa da transição o João Ricardo no Twitter comentou:
"Acho que eu e tu continuamos com a mesma diferença de opinião sobre a qualidade dos empresários portugueses e da gestão em Portugal como causa para a falta de produtividade.

Nota que no excerto do Cavaco que citas ele está a pôr o dedo nessa mesma ferida."

Ainda no Twitter respondi:

"Penso que posso dizer que não divergimos quanto à avaliação da qualidade média da gestão. Não posso negar a 2ª figura deste postal Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província. Amanhã respondo com um postal para ilustrar que isso é irrelevante para o salto de produtividade que o país precisa."

Por que é que a maior ou menor qualidade da gestão é irrelevante para o salto de produtividade que o país precisa? 

Primeiro, olhar para o exemplo da cidade de St. Louis no Missouri, retirado de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert. A produtividade nos sectores tradicionais pode aumentar mas atinge sempre um patamar de onde é difícil sair. Na figura que se segue:

Ilustra-se que por mais bem gerida que seja uma empresa no sector da aviação, ou da comunicação, por exemplo, não consegue ter uma rentabilidade melhor do que a média de outros sectores. Se olharmos para o perfil de sectores económicos de Portugal veremos que as melhores empresas têm rentabilidades inferiores a empresas médias de outros sectores económicos. Basta recordar o postal recente sobre o desempenho do sector farmacêutico em Espanha. 

Em França, por exemplo, temos:
  • Food / Hospitality / Tourism / Catering Average Salaries in France 2023 - 2840 €/mês
  • Pharmaceutical and Biotechnology Average Salaries in France 2023 - 5530 €/mês
  • Automotive Average Salaries in France 2023 - 3090 €/mês
O salto de produtividade que o país precisa passa por alterar o perfil das empresas e não por melhorar o desempenho das empresas existentes. A melhoria do desempenho das empresas existentes é bem vinda mas é muito limitada nas suas consequências.

BTW, uma nota final:
  • O Carlos consultor, trabalha com empresas concretas e, no seu trabalho, esforça-se para as ajudar a melhor a produtividade, independentemente do ponto de partida
  • O Carlos cidadão, preocupa-se com o empobrecimento generalizado da sociedade por causa da aposta na competitividade pelos custos, por causa do apoio a empresas que deviam morrer naturalmente e não serem mantidas ligadas à máquina com apoios e subsídios vários como os do Chapeleiro Louco

domingo, agosto 27, 2023

Falta a parte dolorosa da transição

 Um artigo interessante na revista The Economist, "Britain | The low-wage economy - Britain's failed experiment in boosting low-wage sectors":

"Choking off immigration to make low-wage sectors more productive was never going to work

The BREXITEER plan to end free movement from the European Union was not only about satisfying popular hostility to immigration. Leavers also talked of fixing Britain's perennial productivity problems. Boris Johnson, as prime minister in 2021, described a future that was "high wage, high skill, high productivity", and would be realised only if Britain kicked its addiction to cheap foreign labour.

...

Businesses show little sign of investing more or raising wages to attract more domestic workers, says Jonathan Portes, a professor of economics at King's College London.

...

A lack of commitment was not the only reason the Brexiteers' experiment failed. The thinking behind it was also faulty. The real productivity problem starts at home. A significant factor is the poor quality of British managers, according to John Van Reenen and Nick Bloom, two economists who have conducted international surveys. Other research suggests that this is especially true in low-wage sectors."

Portanto a ideia de Boris Johnson era:
  • 1.A produtividade é baixa porque o acesso a mão de obra barata não impele as empresas a aumentarem a sua produtividade. 2.Então, se cortarmos o acesso a mão de obra barata as empresas vão ter de aumentar a sua produtividade para poderem pagar salários mais altos. 3.Assim, os britânicos poderiam aspirar a "high wage, high skill, high productivity".
De acordo com a minha experiência, na frase acima:
  • O período 2 é verdadeiro. Mas é insuficiente. Pagar melhores salários implica cobrar preços mais elevados aos clientes e os clientes não estão para aí virados se não houver uma vantagem competitiva por parte das empresas. É o quadrante da baixa produtividade e baixa competitividade. O aumento do preço é feito sem contrapartidas para os clientes, e esse aumento não é desviado para melhorar a competitividade da empresa via produtividade, mas para pagar os custos mais altos. Nunca esquecer o caso do Uganda. É tão fácil e comum os políticos (e não só) confundirem mais competitividade com mais produtividade. O problema é o quadrante do empobrecimento.
  • O período 3 é falso, é rotundamente falso porque falta a parte dolorosa da transição. Falta criar as condições para os flying geese (A mudança bottom-up!The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!). É preciso deixar as empresas morrer (e como isto é dificil politicamente, os desempregados são eleitores). No entanto, o que se faz é apoiar essas empresas para que dêem o salto de produtividade ... a sério?! Quantas usam o apoio, (sem maldade, simplesmente porque é a única coisa que sabem fazer), para manter os preços baixos e aguentar mais um ano, como Spender ilustrou com as fundições inglesas.
        O Japão não ficou rico a produzir vestuário de forma muito, 
        muito eficiente. Taiwan não ficou rica a produzir rádios 
        de bolso de forma muito, muito eficiente.

O tema dos flying geese ilustra bem a quase irrelevância desta frase tão comum em Inglaterra e em Portugal: "The real productivity problem starts at home. A significant factor is the poor quality of British managers". Acham que os melhores gestores do mundo iriam conseguir pôr o sector do vestuário com um nível produtividade capaz de ombrear com a média europeia? Só no Batalha e no Largo do Rato (e na sede nacional do PSD, et al também).

"high wage, high skill, high productivity" tem de ser resultado de outro perfil de economia... olhar outra vez para o esquema dos flying geese. BTW, nem pensem que conseguem aumentar a produtividade para o nível médio europeu com o mesmo perfil de sectores económicos mas em grande.

Recomendo recordar a noite em que, na minha leitura, morreu a chama de primeiro-ministro de Cavaco Silva em Também estava escrito nas estrelas.

sábado, agosto 26, 2023

A economia é contextual

"If you read what Peter Drucker had to say about competition back in the late ’50s and early ‘60s, he really only talked about one thing: competition on price. He was hardly alone — that was evidently how most economists thought about competition, too."

A economia não é como a física newtoniana, é contextual. O que funciona depois de algum tempo não funciona mais porque o contexto mudou. Nos anos 50 e início dos anos 60 a concorrência era no preço, ainda vivíamos no século XX.

Trecho inicial retirado de "What Is Strategy, Again?"

quinta-feira, agosto 24, 2023

"The "autotelic self""

E aplicar o que segue a empresas? Atentas ao contexto, prontas a abraçar a mudança, e sentindo-se ao volante,  estabelecem indicadores e objectivos, monitorizam o desempenho e tomam decisões com base no feedback. Não porque seguem uma receita, mas porque vivem.

"A person who is healthy, rich, strong, and powerful has no greater odds of being in control of his consciousness than one who is sickly, poor, weak, and oppressed. The difference between someone who enjoys life and someone who is overwhelmed by it is a product of a combination of such external factors and the way a person has come to interpret them - that is, whether he sees challenges as threats or as opportunities for action. [Moi ici: Recordar as reflexões sobre os que resistem à mudança versus os que a abraçam - Abraçar ou resistir à mudança? ou Resistir versus abraçar]

The "autotelic self" is one that easily translates potential threats into enjoyable challenges, and therefore maintains its inner harmony. A person who is never bored, seldom anxious, involved with what goes on, and in flow most of the time may be said to have an autotelic self. The term literally means "a self that has self-contained goals," and it reflects the idea that such an individual has relatively few goals that do not originate from within the self [Moi ici: Recordar as reflexões sobre o locus de controlo interno e externo - Isto é mesmo um desafio digno de Hercules e Calimeros - não obrigado!].  For most people, goals are shaped directly by biological needs and social conventions, and therefore their origin is outside the self. For an autotelic person, the primary goals emerge from experience evaluated in consciousness, and therefore from the self proper.

The autotelic self transforms potentially entropic experience into flow. Therefore the rules for developing such a self are simple, and they derive directly from the flow model. Briefly, they can be summarized as follows:

1. Setting goals. To be able to experience flow, one must have clear goals to strive for. A person with an autotelic self learns to make choices-ranging from lifelong commitments, such as getting married and settling on a vocation, to trivial decisions like what to do on the weekend or how to spend the time waiting in the dentist's office--without much fuss and the minimum of panic.

...

As soon as the goals and challenges define a system of action, they in turn suggest the skills necessary to operate within it. If I decide to quit my job and become a resort operator, it follows that I should learn about hotel management, financing, commercial locations, and so on. Of course, the sequence may also start in reverse order: what I perceive my skills to be could lead to the development of a particular goal that builds on those strengths - I may decide to become a resort operator because I see myself as having the right qualifications for it.

And to develop skills, one needs to pay attention to the results of one's actions-to monitor the feedback. To become a good resort operator, I have to interpret correctly what the bankers who might lend me money think about my business proposal. I need to know what features of the operation are attractive to customers and what features they dislike. Without constant attention to feedback I would soon become detached from the system of action, cease to develop skills, and become less effective.

One of the basic differences between a person with an autotelic self and one without it is that the former knows that it is she who has chosen whatever goal she is pursuing. What she does is not random, nor is it the result of outside determining forces. This fact results in two seemingly opposite outcomes. On the one hand, having a feeling of ownership of her decisions, the person is more strongly dedicated to her goals. Her actions are reliable and internally controlled. On the other hand, knowing them to be her own, she can more easily modify her goals whenever the reasons for preserving them no longer make sense. In that respect, an autotelic person's behavior is both more consistent and more flexible."

terça-feira, agosto 22, 2023

"Subjective experience is not just one of the dimensions of life, it is life itself"

"Spoiler alert: The good life is a complicated life. For everybody.

The good life is joyful... and challenging. Full of love, but also pain. And it never strictly happens; instead, the good life unfolds, through time. It is a process. It includes turmoil, calm, lightness, burdens, struggles, achievements, setbacks, leaps forward, and terrible falls. And of course, the good life always ends in death.

A cheery sales pitch, we know.

But let's not mince words. Life, even when it's good, is not easy. There is simply no way to make life perfect, and if there were, then it wouldn't be good.

Why? Because a rich life-a good life-is forged from precisely the things that make it hard."

Trecho retirado de "THE GOOD LIFE - Lessons from the World's Longest Scientific Study of Happiness"

"Subjective experience is not just one of the dimensions of life, it is life itself. Material conditions are secondary: they only affect us indirectly, by way of experience. Flow, and even pleasure, on the other hand, benefit the quality of life directly. Health, money, and other material advantages may or may not improve life. Unless a person has learned to control psychic energy, chances are such advantages will be useless. Conversely, many individuals who have suffered harshly end up not only surviving, but also thoroughly enjoying their lives. How is it possible that people are able to achieve harmony of mind, and grow in complexity, even when some of the worst things imaginable happen to them? That is the outwardly simple question this chapter will explore. In the process, we shall examine some of the strategies people use to cope with stressful events, and review how an autotelic self can manage to create order out of chaos.

...

The ability to take misfortune and make something good come of it is a very rare gift. Those who possess it are called "survivors," and are said to have "resilience," or "courage." Whatever we call them, it is generally understood that they are exceptional people who have overcome great hardships, and have surmounted obstacles that would daunt most men and women. In fact, when average people are asked to name the individuals they admire the most, and to explain why these men and women are admired, courage and the ability to overcome hardship are the qualities most often mentioned as a reason for admiration. As Francis Bacon remarked, quoting from a speech by the Stoic philosopher Seneca, "The good things which belong to prosperity are to be wished, but the good things that belong to adversity are to be admired." 

Trechos retirados de "Flow - The Psychology of Optimal Experience" de Mihaly Csikszentmihalyi.  

segunda-feira, agosto 21, 2023

"messianic belief in the power of government"

"The real problem with the Treasury's intelectual scepticism is that there is not enough of it in the world. The west is going through a phase of almost messianic belief in the power of government.

...

The state can do spectacular things. Europe cut its reliance on Russian fossil fuels at speed. Governmental leadership, not just biomedical genius, produced the Covid-19 vaccine.

But these feats tend to happen under extreme duress. In normal times, the business of government is to make things a bit better, knowing that it will make other things a bit worse. This is because: resources are finite, different goals conflict, advanced countries plucked most of the low-hanging fruit long ago, unintended consequences obtain, and social outcomes are determined as much by deep historical patterns or geographic constraints as by diktat.

The problem illness isn't Treasury Brain. It is Do Something-itis. Public life isn't full of pessimism. It is full of 10-point plans and summits called things like Horizon 2055. Sunak began the year with a pledge to halve inflation within 12 months. This is a man who "runs" an open, midsized economy, exposed to such outside vagaries as the Ukraine war and foreign central bank policy. Even if the pledge is met, it was vainglorious to make. And he is a relative sceptic about government. The Treasury was always accused of hiring humanities-trained generalists over technical economists. Is that all bad? With some Shakespeare or Conrad, it is easier to see that one's schemes to better the world have to reckon with the permanence of human nature, among other external forces. It is a public service, not a mental defect, to understand how little we can do against the tempest."

Trechos retirados de "The west has forgotten the limits of government"

domingo, agosto 20, 2023

"A store manager is the CEO of their store."

Em tempos trabalhei com uma empresa em que a gerência não queria que os comerciais soubessem o que se vendia e quanto se vendia. Juro!

Entretanto, ontem no WSJ, "Why a Zara Bet Big on a Maxi Dress":

"The Zara store in London's Chelsea neighborhood received a new range of maxi dresses in various styles. After just one week, store manager Ana Oliveira analyzed the sales data and saw that the dresses with prints were selling much better in her shop than those in solid colors. So she moved the print designs to the tall rails by the entrance. They would be the first thing shoppers would see as they came into the store, she said.

Zara is going local, giving store managers control over their shops' inventory, displays and designs.

The strategy relies heavily on its proprietary data system and a willingness to break the standard fashion-chain practice of making centralized decisions on stores' behalf.

...

"It's my kingdom, ," said Oliveira. She credits the new tech with giving her a level of control that wasn't previously possible.

Especially useful, Oliveira said, is her ability to crosscheck what's happening regionally, using data compiled from a basket of comparable U.K. stores. If a top-selling item at other British stores isn't doing so well in Chelsea, that is her cue to change up her displays, move unpopular items to storage or request new designs from Zara's headquarters.

...

After a warm weekend in June, her store's data showed a rise in demand for linen menswear, Oliveira said. Sensing the beginning of a trend, she quickly rearranged the layout of the men's section to put linen shirts and trousers in the most visible display areas.

It doesn't make sense to keep commercial data locked away at headquarters when store employees can use it to maximize sales, said Inditex Chief Executive scar García Maceiras. He said the mirror system was developed in response to managers requesting access to more data to help them oversee their stores, crediting managers as the key ingredient to Zara's success: "A store manager is the CEO of their store."

When Oliveira saw a drop in demand for blazers and a corresponding bump in T-shirt purchases relative to the week before, she interpreted it as a sign of a seasonal shift as summer arrived. As a result, she changed the displays to give more space to warmweather clothes."

sábado, agosto 19, 2023

Acho estranho ...

No FT de hoje "Novartis plans to spin off generics unit Sandoz in October".

Em empresas pequenas este tipo de decisão devia ser tomada mais vezes. Empresas pequenas têm poucos recursos e devem concentrar-se onde podem fazer a diferença. Em empresas pequenas, normalmente, um dos negócios vive à custa do outro. E recuo a Jonathan Byrnes, a Kotler e à curva de Stobachoff. Em empresas pequenas, sem "plant-within-the-plant", a gestão comporta-se como um esquizofrénico que às segundas, terças e quartas olha para as bolas vermelhas como artesanato, e às quintas, sextas e Sábados olha para as bolas vermelhas como produção em série. Resultado: desempenho zombie.

Em empresas grandes, com acesso a recursos humanos que se podem focar em coisas diferentes... acho estranho. Quer isto dizer que quem pensa a corporação não vê capacidade de criar valor na pertença da Novartis e da Sandoz a um mesmo todo. 

Inveja da Novo Nordisk?

Seguir a onda?


sexta-feira, agosto 18, 2023

Simplesmente impressionante

Simplesmente impressionante:

Deixar esta mensagem afundar lentamente na consciência...

Imagem retirada de "Mais de metade dos jovens até aos 34 anos vive com os pais"

Curiosidade do dia

Coisas que não acontecem em Portugal, mas aparecem no FT:

"Hawaiian Electric/fires: transmission risks

The securities of US energy utilities are supposed to be safe investments.

Consumer prices for power are set by regulators with the aim of producing solid returns. In parts of the US, climate change has upended that.

Shares of Hawaiian Electric Industries have fallen nearly 70 per cent this month. Investors fear that electricity transmission equipment may be implicated in wildfires claiming more than 100 lives and causing property damage running into billions."

quarta-feira, agosto 16, 2023

Curiosidade do dia

"You, as a mere taxpayer, or holder of UK public debt, might ask when you can expect this putative return on spending to materialise. Look, don't be so difficult. And learn to call it "investment". "Spending" is as below-stairs now as calling a napkin a serviette."

Um clássico português, chamar investimento a torrefacção pura de impostagem presente e futura.

Trecho retirado de "The west has forgotten the limits of government"

terça-feira, agosto 15, 2023

Acerca das exportações portuguesas e espanholas

Neste interessante artigo "La industria farmacéutica da el 'sorpasso al automóvil como mayor exportadora de España":

O artigo chama a atenção para o peso das vacinas Covid-19 produzidas em Espanha e que não terão peso no futuro. No entanto, é interessante notar a evolução do perfil das exportações entre 2019 e 2022 na figura acima.

Fiquei curioso e com vontade de comparar o perfil espanhol com o nosso:
Quase 20% das nossas exportações são veículos e combustíveis (em Espanha pouco mais de 13%)

Uma evolução assim faz-me pensar logo na evolução dos produtos farmacêuticos na Irlanda. 

Vou numa próxima oportunidade comparar a evolução do perfil das exportações portugueses entre 2013 e 2023.




segunda-feira, agosto 14, 2023

Mongo e o "Bud Light Fiasco"

O planeta Mongo da série de banda desenhada Flash Gordon é o lar de várias tribos e reinos com culturas, tecnologias e sistemas distintos. Da mesma forma, a economia pós-século XX é marcada pela complexidade e diversidade da oferta e procura cada vez mais atomizada e apaixonada. Foi disso que me lembrei em 2007 para criar uma metáfora que dura até aos dias de hoje (A cauda longa e o planeta Mongo).

Seth Godin usa uma imagem interessante, o século XX via os clientes como plancton, uma massa homogénea. Eu vejo o século XXI como o tempo de Mongo, ou do Estranhistão, terra de Um número infinito de nichos.

Em Novembro passado escapou-me este artigo sobre Mongo, "Strategy in a Hyperpolitical World":

"So what does that mean for strategy?

We define strategy as the art of making informed choices in a competitive environment. Choices are important when differing paths lead to differential risks and rewards. When the social environment is broadly favorable to business, a company's strategic choices can be justified in purely business terms or, as necessary, finessed with carefully crafted press releases. Today, however, choices must be made on an expanded playing field. They are often complex because the underlying ethical, social, and political issues are constantly evolving and defy simple analysis. To make and implement the best strategic choices in this environment, leaders will have to (1) develop robust principles to guide strategic choices, (2) address ethical issues early, (3) consistently communicate and implement their choices, (4) engage beyond the industry to shape the context, and (5) learn from mistakes to make better choices."

Entretanto, há dias li "The Strategy Lesson from the Bud Light Fiasco": 

"A company’s goal should be to present an offering — supported by compelling messaging — that has advantaged appeal to the biggest circle possible. That may be a relatively small circle — Red Bay Coffee — or a relatively big one — Starbucks Coffee. But it should be as big a circle as the offering can support.

The Temptation

In pursuing the biggest circle supportable, companies are forever tempted to send different messages to different parts of their audience — whether inside or outside the confines of their current circle — in an attempt to strengthen and/or enlarge their circle.

...

this kind of thing is getting ever more dangerous with ever increasing transparency,

...

In this age of fuller transparency, brands must think a lot more thoroughly and carefully about the heterogeneity of their Where to Play (WTP), which hangs together now and produces their current market share. But under its apparently calm surface, that overall share hides fault lines — those customers aren’t all the same even if they buy the same product. If a brand isn’t careful, it can take those fault lines that lie benignly beneath the surface and turn them into giant fissures with its actions.

...

The naïve idea — not an unusual one but naïve nonetheless — was that Bud Light could keep all its current customers, and, with this terrific new message, could appeal to some new ones (whether light users or non-users). This kind of naivety has always been dangerous. But it has gotten a lot more so in this hyperpolitical and transparent world.

The Particular Challenge for Broad-Based Companies

It is particularly challenging for broad-based companies and going to get more challenging. The broader-based a company is, the greater heterogeneity its customer base is likely to embody. Every company will have heterogeneity in its customer base. But a giant retailer, like Target, will likely have a greater level of heterogeneity in its customer base than tiny LGBTQ+-friendly clothing retailer, WILDFANG. Ultra Right Beer was launched to woo disaffected Bud Light customers and seemed deliriously happy to hit the $1 million mark in sales. But that is one-five thousandth of the (pre-fiasco) sales of Bud Light. With great size comes more dangerous and pronounced fault lines."

Como não recuar a 2014 e a "-Tu não és meu irmão de sangue!"

O século XX económico (da inauguração da linha de montagem da Ford até à queda do Muro de Berlin) foi um acidente histórico que agora estamos a corrigir, o futuro não é de homogeneidade, mas de heterogeneidade. E mundos heterogéneos não são meigos para com os gigantes. Nunca esqueço: Too big to care.

sábado, agosto 12, 2023

O destino do turismo

Assisti ontem à noite na CNN Portugal a uma parte da conversa com profissionais do turismo algarvio. Na parte da conversa que ouvi este tema surgiu "Algarve "descola da imagem de destino barato". Subida dos preços compensa menos dormidas":

"Decréscimo no número de dormidas no Algarve está a ser compensado pelo aumento dos preços. Redução foi registada essencialmente por parte dos portugueses, pressionados pela inflação e taxas de juros."

Não é impunemente que se sobem salários acima da produtividade, a consequência natural é aumentar os preços e/ou cortar as margens. É o destino!

É o mesmo destino das PMEs exportadoras nos sectores tradicionais. Produzem para fora porque os portugueses não têm poder de compra para as suportar.

Já ontem tinha apanhado este artigo "Açores: Falta de mão-de-obra deixa restaurantes a «meio-gás". Sinal gritante de que a procura (turistas) é superior à oferta. Se os açorianos querem restaurantes com qualidade de serviço têm de ter empregados qualificados, se não os há têm de aumentar os salários e para isso têm de aumentar os preços. Se as pessoas percebessem a assimetria do impacte da subidas de preços, optariam por ele mais vezes. Recordo o Evangelho do Valor, os clientes que se perdem com a subida de preços são mais do que compensados pelo que se ganha a mais com os que se mantêm.

Turistas mais satisfeitos, empregados mais satisfeitos, patrões mais satisfeitos e ambiente menos ameaçado.

Claro, o Evangelho do Valor só funciona se os Açores se focarem nas suas vantagens competitivas como destino turístico: baleias, líquenes (acho que ninguém liga a este potencial) e Atlântida.

sexta-feira, agosto 11, 2023

Curiosidade do dia

No FT de sexta, 11 de Agosto último, este artigo muito interessante, "Is Britain really as poor as Mississippi?"

Primeiro, este gráfico super-eloquente:


Uma nota final, aplicável a Portugal:

O autor destaca um paradoxo: Londres é a principal força que mantém o Reino Unido numa posição económica superior, mas a sua posição de domínio tem impedido outras regiões de contribuirem plenamente para o seu potencial económico. O artigo conclui que, se o Reino Unido pretende superar a "Questão do Mississippi" e recuperar a mobilidade ascendente, será necessário mais do que apenas a força económica de Londres; outras partes do país também devem desempenhar um papel como motores económicos.

Empobrecimento garantido

Primeiro estes números:

Desde Q4 2019 até Q1 2023 os custos do trabalho cresceram 19%. Como refere Nogueira Leite no Twitter:
"Aliás é aquele em q os ganhos relativos dos salários foram mais expressivos"

Recordo do ECO, "Portugal é o país da OCDE com o maior aumento real dos custos laborais

Entretanto, no Expresso encontro:
"O aumento do emprego, como aconteceu em Portugal no segundo trimestre deste ano, é sempre positivo. Mas nem tudo foram boas notícias nos números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). É que o emprego mais qualificado caiu. E caiu muito.
Entre o segundo trimestre de 2022 e o segundo trimestre deste ano, contam-se no país menos 128 mil pessoas empregadas com ensino superior. Um recuo de 7,3%. E "a comparação homóloga regista uma queda pelo quarto trimestre consecutivo" salienta uma nota de análise do BPI."

No Público li, "Ao fim de nove meses, número de trabalhadores licenciados voltou a subir":

"Num mercado de trabalho em que o emprego continuou a crescer (mais 54,7 mil empregos face ao trimestre imediatamente anterior e mais 77,6 mil empregos face ao período homólogo do ano anterior), esta quebra em termos homólogos no número de trabalhadores licenciados tem como contraponto um aumento do número de trabalhadores com niveis de ensino mais baixos. Passou a haver, DOS últimos 12 meses, mais 171,3 mil trabalhadores que não foram além do terceiro ciclo do ensino básico.

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O que é que terá acontecido nos três trimestres anteriores para se assistir a um retrocesso? A explicação poderá estar na forma como a economia portuguesa tem crescido mais recentemente. De facto, a maior parte dos empregos criados em Portugal nos últimos 12 meses veio, mostram 

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a maior parte dos empregos criados em Portugal nos últimos 12 meses veio, mostram os dados publicados ontem pelo INE, do sector do alojamento e restauração (mais 74,3 mil empregos) e do sector da construção (mais 40,7 mil empregos). Estes são sectores que, em média, tem trabalhadores com níveis de ensino mais baixos"


Ainda no Expresso encontro "Turismo e construção puxam emprego em Portugal para novo máximo"

Salários a aumentar e produtividade relativa a cair ano após ano ...

Ou eu me engano muito, ou o caldinho que se está a preparar não é o melhor:

  • salários a crescer mais do que a produtividade - em vez de gerar morte das empresas com menos valor acrescentado, mata emprego qualificado… isto é tão weird. Especulo que só acontece por causa da facilidade em importar mão de obra barata.
  • salários a crescer mais do que a produtividade - em vez de gerar o flying geese que mata as empresas com menos valor acrescentado, gera uma abordagem que alimenta os sectores não transaccionáveis (competitivos pelos custos).
  • Sucesso das empresas competitivas pelos custos gera empobrecimento garantido.

Agora vou repousar uns dias para carregar pilhas.