quinta-feira, agosto 22, 2024

Curiosidade do dia

Mão amiga mandou-me esta folha retirada da revista Popular Mechanics:

Como o mundo económico pode mudar em 60 anos.


Fixado na guerra anterior

No WSJ de ontem li "U.S. Companies Shift From China to Avoid Tariffs":
"Until a few years ago, Chinese factories supplied the world with Sharpie retractable pens and Oster blenders.
No more.
Consumer giant Newell Brands now makes those products, and more, at its own plants in the U.S. and Mexico. Many of its other products are made in factories in Vietnam, Indonesia and Thailand.
Chris Peterson, Newell's chief executive, said the company's shift reduces its dependence on China at a time when both the Democratic and Republican parties "are getting more protectionist in terms of trade policy."
Tariffs are becoming an entrenched tool tying together geopolitics and trade, and they are playing a bigger role in long-term manufacturing and sourcing decisions. Nowhere are they hitting harder than in China, where importers and exporters are navigating an increasingly complicated regime of levies on goods ranging from semiconductors to mattresses.
...
Retail-industry trade groups and some executives warn some items can't be produced anywhere else in the world and that escalating tariffs will simply raise consumer prices and fuel inflation. Analysts at Goldman Sachs estimate that every percentage-point increase in the overall U.S. tariff rate would increase core consumer prices by just over 0.1%.
"The problem is the best place to make shoes is China," said Ronnie Robinson, chief supply chain officer at Designer Brands, parent company of footwear retailer DSW.
Robinson said for every dollar the government adds in tariffs, consumers pay an extra $2 to $4 at the checkout. "The reality is that you and 1 are paying for the tariffs as part of the ticket price when you go into the store and buy," he said.
Robinson said Designer Brands sources about 70% of its footwear from China, down from 90% several years ago. He said the company aims to reduce its reliance further to about 50%, but China will remain the company's largest single source of shoes.
Peterson said just 15% of Newell's goods rely on products made in China today, down from more than 30% several years ago. He expects that by the end of next year the share will fall below 10%."

 E fiquei a pensar em certas desculpas que se dão.

Por exemplo, no JN do passado dia 19 de Agosto, "Concorrência chinesa ameaça indústria nacional". Senti-me a recuar 20 anos atrás:

"As indústrias do têxtil e do calçado atravessam um mau momento. Nos primeiros seis meses do ano houve um aumento das insolvências, com estes dois setores a destacarem-se pela negativa. Taxas de juro em alta, inflação, dificuldade de adquirir matérias-primas e a concorrência que classificam como "desleal" das empresas chinesas estão entre as causas apontadas pelos empresários para o mau momento. Mas, pela primeira vez, algumas das empresas que trabalham mais para o mercado nacional do que para exportação estão a resistir melhor à crise."

So weird!

Números sobre o calçado e o ITV:

  • A percentagem de insolvências decretadas aumentou 9,3%, para 1054, relativamente ao período homólogo;
  • O têxtil e moda com mais 110 falências decretadas (mais 178%), 
  • A confecção de vestuário exterior com mais 31 (um aumento de 78%); e
  •  O fabrico de calçado com mais 587 (um crescimento de 414%).
"“O têxtil até cresceu em número de clientes, o problema é que eles fazem encomendas mais pequenas”, refere Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal e da Euratex - Confederação Têxtil Europeia." 
Reparem na caldeirada de desculpas:
  • Encomendas mais pequenas (lembram-se deste discurso aqui classificado como estranho, acerca do calçado?).
  • Estamos a viver um período com duas guerras, uma na Europa e outra às portas.
  • Taxas de juro em alta e a inflação.
  • “A União Europeia (UE) baixou as suas importações em 17% e Portugal teve uma diminuição de vendas de 5%. Ou seja, nós até aumentamos a nossa quota de mercado” - Atentem neste ponto, aumentamos a quota de mercado.
  • 4 anos depois, ainda a tentar a carta da pandemia "as empresas de vestuário e moda “durante a pandemia tiveram de se endividar para evitar despedimentos e manter a paz social”."
  • "a “concorrência desleal” das empresas chinesas é outro problema que a UE tem de atacar, “sob pena de acabar com todo o setor industrial europeu”" - mas então não estão a ganhar quota de mercado?
Como mostrar que isto não passa de desculpas? Tratando-se do sector económico nacional com produtividade mediana mais baixa, não consegue ter produtividade para o nível de custos que agora tem. Como é que a França e a Alemanha perderam as suas empresas têxteis? O fenómeno dos Flying Geese

quarta-feira, agosto 21, 2024

Curiosidade do dia

Despedir trabalhadores antigos para contratar trabalhadores mais baratos oriundos das paletes de imigrantes?


 Gráfico retirado daqui.

Em Portugal, a conversa de café é a norma (parte III)

A pergunta do final da parte I foi: "Como se altera a composição relativa dos sectores económicos?" 

A esta pergunta alguns vão responder com outra pergunta: Por que é preciso alterar a composição relativa dos sectores económicos?

Neste blogue ninguém deseja o mal de ninguém, todos fazem falta até que o mercado diga que chegou a hora de morrerem porque não mudaram, ou porque chegaram ao limite da mudança permitida. Recordo que há muitos anos que olho para a economia como uma continuação da biologia. Se os crocodilos encontraram um nicho também algumas empresas em sectores tradicionais o conseguirão fazer. No entanto, um nicho é um nicho.

Vamos considerar um cenário onde não se altera a composição relativa dos sectores económicos. 
Como pode aumentar a produtividade do país? Este é o campo dos "Carlos consultor":


Os consultores podem ajudar a conseguir melhorias intrasectoriais. É o mundo da melhoria da eficiência, melhoria da inovação e consequente melhoria de preços.

Os consultores podem também ajudar a conseguir melhorias por mudança de sector. Por exemplo:
Por exemplo, uma empresa do sector têxtil conseguir migrar para o fabrico de têxteis técnicos para a indústria aeronáutica ou automóvel. Só que isto tem de ser feito em larga escala para o agregado se mexer.

Esta melhoria da produtividade nunca será capaz de trazer o salto para nos tirar dos 66% da média europeia.

E quando se considera um cenário onde se altera a composição relativa dos sectores económicos? Ou seja, quando se mexe a sério no agregado?

Aqui entra o ponto de vista do Carlos cidadão. Os empresários portugueses fazem o melhor que podem e sabem, mas para alterarem a composição relativa dos sectores económicos teriam de ter muito mais capital e, sobretudo mais know-how (reparem como todos os investimentos industriais da Sonae na Europa deram para o torto, por exemplo). Algumas vozes recomendam a fusão e concentração das empresas porque as empresas maiores têm produtividades superior às empresas pequenas no mesmo sector de actividade. Só que estas vozes não sabem é que o mercado que uma empresa de calçado com 200 trabalhadores tem de servir não é o mesmo mercado, com a mesma proposta de valor que quatro empresas de calçado com 65 trabalhadores servem. Se as juntarem elas não vão conseguir servir nem os antigos nem os novos, por falta de know-how e, muitas vezes, por hardware inadequado.

OK. Onde se arranja know-how e capital em quantidade? Com investimento directo estrangeiro.

Por que é que investimento directo estrangeiro escolheria Portugal? Ver a coluna "Corporate Tax Rank" no "2023 International Tax Competitiveness Index Rankings". Por isso, escrevi: Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas. Por isso, acho incrível que os números da parte II e esta necessidade de alterar a composição relativa dos sectores económicos não entre nesta conversa Descida do IRC é injusta (tanto o PS como o PSD são desesperantes, um porque está contra e o outro porque não sabe defender a necessidade da descida, refugiando-se na necessidade das empresas existente acumularem capital. Sim, isso é verdade, mas a verdadeira razão é muito mais importante, copiar a atractividade irlandesa). Por isso, escrevo há anos sobre os mastins dos Baskerville. Na estória de Sherlock Holmes os mastins não ladraram e isso era significativo. Neste tema, o significativo são as empresas que não estão presentes na economia portuguesa, as presentes fazem o melhor que sabem com os resultados que temos.

Quando foi o último grande salto da produtividade portuguesa? Quando milhares de alentejanos abandonaram a agricultura e foram trabalhar na cintura industrial de Lisboa. Recordar Reinert:
"As was so obvious to American economists around 1820, a nation - just as a person - still cannot break such vicious circles without changing professions."
Este tipo de salto pode ser conseguido com investimento directo estrangeiro. Mas não é com apoios para suportar negócios que vivem de apoios. Não, é criar as condições e deixar quem sabe criar riqueza vir.

Acerca da produtividade um dos primeiros choques que tive, porque ia contra o mainstream, foi-me dado por um finlandês, Maliranta, que escreveu sobre a experiência finlandesa. Com ele aprendi algo deste género: "É amplamente aceite que a reestruturação das empresas aumentou a produtividade ao deslocar trabalhadores pouco qualificados e criar empregos para os altamente qualificados. Contudo, isso é falso. Na sua essência, a destruição criativa significa que as fábricas de baixa produtividade são substituídas por fábricas de elevada produtividade ." Por favor, volte a trás e releia esta última afirmação. O salto de produtividade não é dado por trabalhadores com mais formação (recordar a caridadezinha ou a azelhice ao estilo de AOC de um presidente da câmara de Guimarães), mas por outro tipo de empresas.

Outra afirmação que guardo há anos sobre o tema:
"Systems don’t learn because people learn individually –that’s the myth of modernity. Systems learn at the collective level by the mechanism of selection: by eliminating those elements that reduce the fitness of the whole, provided these have skin in the game."
Por isso, escrevo aqui há anos sobre a necessidade de deixar as empresas morrerem e ter cuidado com os apoios que se dão:
"By and large, the inability to distinguish the A and B groups rendered these grants socially counter-productive. The funds flowed selectively into the least viable part of the industry, preventing change, and subsidized competition with the A-group, so slowing its growth."
Às vezes penso que se não fossem os apoios da UE a economia portuguesa estaria mais desenvolvida, porque muitos desses apoios são para apoiar as empresas que passam mal. O apoio funciona como uma botija de oxigénio para um zombie.

Por fim recordo os Flying Geese uma ilustração clara do que é preciso para conseguir a tal alteração da composição relativa dos sectores económicos:
BTW, para conseguir a tal alteração da composição relativa dos sectores económicos tem de haver uma transição mais ou menos dolorosa

Como não há esta injecção de capital e know-how, os incumbentes vão recorrendo a truques para se manterem.

terça-feira, agosto 20, 2024

Curiosidade do dia

No jornal The Times de ontem:
"Senior executives who hired the three big strategic consulting firms of McKinsey, Boston Consulting Group and Bain often say they are no help, according to a study commissioned by a rival firm.
A survey of 702 executive staff and project managers found that of those who worked with the three biggest consultancies in corporate transformation projects, 84 per cent felt they "were no help at all". Only 13 per cent said they were more help than hindrance. Three per cent said they had a negative effect.
...
"What you have is big consultancy armies with briefcases. They walk into organisations and confidently try to get them to fit into a predesigned transformation strategy mould. But what organisations need is a solution that works in their context.""

Faz-me lembrar a estória do Big Data. 

Em Portugal, a conversa de café é a norma (parte II)

Pergunte-se, por que é que nunca lhe mostraram estes números?

Quando escrevi a parte I a minha ideia era escrever uma parte II que respondesse à pergunta "Como se altera a composição relativa dos sectores económicos?" e numa parte III mergulhar nos números. Agora, mudei de ideias. Responderei à pergunta numa parte III e vou dedicar esta parte II aos números.

Pense na quantidade de pessoas que falam e escrevem sobre produtividade. Pense nas dezenas de anos e milhares de conversas em que o tema da produtividade é discutido. Recorde as teorias mais estapafúrdias que aparecem nos media, um exemplo cómico, outro exemplo cómico de 2007 é o da saudade. E recorde os professores de Economia a pedirem estudos, "Formação e salários: não podemos nivelar por baixo", quando basta procurar os números. Não resisti...

Vamos lá aos números a frio sem mais demoras.

Na parte I apresentamos esta comparação:

Alguma vez foram procurar números ao sítio da instituição irlandesa que trata das estatísticas, Central Statistics Office (CSO)? Vamos a esta publicação em particular, "Productivity in Ireland Quarter 3 2023". Nela vão encontrar algo que referimos inicialmente aqui no blogue em 2020, no dia em que nasceu o primeiro campeonato do Amorim, no dia em que chamei a atenção para a falta de informação e conhecimento de Alexandre Relvas sobre este tema em particular. 

No referido site encontramos que a produtividade na Irlanda, por hora trabalhada, no terceiro trimestre de 2023 foi de 103,9 €/h. Reparem neste gráfico:
Três linhas?!!!

Reparem como a prática do CSO é a de apresentar três números em simultâneo:
  • para a economia no seu total - 103,9 €/h
  • para o sector doméstico - 54,4 €/h
  • para o sector estrangeiro, agarrem-se à cadeira - 405,9 €/h
Perguntam vocês: o que é isto de sector doméstico e de sector estrangeiro?

Sector Doméstico: Inclui empresas que são de propriedade maioritariamente irlandesa e que operam principalmente para o mercado interno. Essas empresas têm menos vínculos com as supply-chain globais e são mais representativas da economia local.

Sector Estrangeiro: Compreende as empresas que são de propriedade estrangeira, muitas vezes multinacionais, que operam na Irlanda. Estas empresas estão fortemente integradas nas supply-chain globais e utilizam a Irlanda como uma base para produção e exportação para outros mercados.

No final do artigo abram a "Table 1.1: Labour Productivity by Sector (Euro per Hour)", vejam a produtividade de "Manufacturing sectors dominated by foreign-owned multinational enterprises" (503,6 €/h) e comparem com "Manufacturing sectors dominated by domestic and other enterprises" (88,4 €/h) há aqui um efeito de spillover (recordo que a produtividade por hora trabalhada na Alemanha em 2022 foi de 63 €/h).

Pergunte-se, por que é que nunca lhe mostraram estes números?

Vou repetir-me na parte III, mas conseguem agora relacionar: 
  • a lição irlandesa;
  • os mastins dos Baskerville, os que "não ladram" porque não estão presentes;
  • "a descida do IRC é injusta" - tão dolorosa é a posição do PS como a do PSD. Um porque não a quer, o outro porque não a sabe explicar;
  • Portugal precisa mais delas do que elas de Portugal;
  • Flying Geese;
  • deixem as empresas morrer;
  • Maliranta e Taleb; e
  • falta a parte dolorosa da transição.

segunda-feira, agosto 19, 2024

Curiosidade do dia

Recordo de Junho passado a propósito das palavras da ministra da Saúde:

Agora leio "Cinco auditorias expõem falhas na gestão da escala de férias dos médicos em 2022. O que está a falhar agora nas urgências?":

"Muitas unidades aceitam que médicos concentrem férias no verão, receando que deixem o SNS. Urgências ressentem-se e Ordem revê mínimos das equipas. 

...

Em Almada, o Hospital Garcia de Orta foi acusado pela IGAS de “total passividade” por não ter resolvido o problema que surgiu em junho de 2022, quando um elevado número de especialistas estavam de férias em simultâneo, gozando férias que constavam de um mapa que ainda nem sequer tinha sido formalmente aprovado.

...

e, pior do que isso: pelo menos oito profissionais foram colocados em turnos em dias em que se encontravam de férias já aprovadas.

Todo este caldo levou a uma semana de caos nas urgências. A IGAS argumentou ainda (tal como fez noutros hospitais) que o hospital podia ter recorrido a mecanismos do Código de Trabalho para, unilateralmente, mudar as férias dos profissionais e impedir que a urgência tivesse de fechar. Mas o hospital considerou que tinha de ser “sensível ao ambiente de desmotivação e descontentamento verificado naquele serviço (…) procurando amenizar esse ambiente e evitar a saída de mais profissionais”. Recorrer a esses mecanismos legais iria gerar mais descontentamento, concluiu o hospital." 

Em Portugal, a conversa de café é a norma (parte I)

Em Portugal, a conversa de café é a norma. Discute-se, discute-se mas recorrer a números, quase ninguém o faz.

Vamos por partes, por que é que a produtividade de um país é importante?

A produtividade mede a riqueza criada. Quanto maior a produtividade mais rico é um país. Ou seja, quanto maior a produtividade mais os recursos utilizados, sempre escassos, geram mais riqueza. Esta riqueza pode ser canalizada para:
  • Suportar o investimento, fundamental para a inovação e crescimento económico, os custos do futuro, como escreveu Schumpeter.
  • Melhorar salários. Quando as empresas se queixam de falta de trabalhadores, o problema pode residir na incapacidade de gerar riqueza suficiente para oferecer salários atraentes. A solução passa por aumentar a produtividade, o que permitirá pagar melhor e atrair mão-de-obra qualificada.
  • Pagar mais impostos. Não necessariamente através de taxas mais elevadas, mas sim pela maior quantidade de riqueza gerada.  Este ponto é importante: os governos são como os vizinhos invejosos, querem dar aos seus cidadãos serviços e benesses que os outros governos já dão apesar da riqueza criada ser menor. Por isso, têm de aplicar taxas muito progressivas que acabam a inibir o crescimento económico.
É chocante olhar para os números da produtividade por hora trabalhada de Portugal e da Irlanda:
Quando comparamos a evolução da produtividade entre Portugal, a Irlanda e outros países temos:


Quando falamos de produtividade, referimo-nos à capacidade de maximizar a criação de valor com uma quantidade limitada de recursos, sejam eles tempo, dinheiro, mão-de-obra ou materiais. Assim, uma empresa produtiva não é apenas aquela que produz mais, mas sim aquela que consegue gerar mais valor a partir dos recursos disponíveis.
Como é que a produtividade de um país pode aumentar?

Tratando-se de um rácio, a produtividade pode ser aumentada de duas maneiras:
  • Aumentando o numerador - Aumentando o preço do que se produz.
  • Reduzindo o denominador - Aumentando a eficiência, reduzindo os custos.
Agora chega o ponto crítico: O Carlos consultor versus o Carlos cidadão.

A melhoria da produtividade das empresas existentes nunca será suficiente para que o país dê o salto, é preciso que outro tipo de empresas apareça, é preciso que a composição relativa dos sectores económicos se altere. Por exemplo:

As empresas mais produtivas nos sectores "Ind. têxteis, vestuário e calçado" não conseguem competir com uma empresa mediana no sector "Produtos farmacêuticos".

Como se altera a composição relativa dos sectores económicos? Vamos responder na parte II.




domingo, agosto 18, 2024

Curiosidade do dia

Fiquei tentado a simplesmente citar:

"One danger of trying to outlaw ‘fake news’ is that mistaken views have a habit of turning out to be true"

No entanto, acabei por acrescentar mais un pozinhos:

"Foster Wallace's point is that even the most intelligent among us are immersed in delusions we struggle to perceive and which future generations will regard as primitive or downright false. This is baked into the human condition and articulates why free speech is so precious. For while there will always be a lot of nonsense spouted when the spigots are opened up, it is the only way for us to perceive the blinkers that afflict us all. To use a metaphor of which Foster Wallace might have approved: free speech helps to grow the tree of knowledge. And while censorship can prune the rotten branches, it condemns the overall structure to non-growth, which is the greatest poison of all.

This is also why heretics and mavericks are so crucial to progress. I don't just mean people like Galileo but more everyday examples. Sometimes, you see, a rogue doctor will be right about the dangerous side effects of a vaccine. Sometimes, a journalist will be right that a drug is causing birth defects.

Sometimes, a whistleblower will be right when claiming a pandemic was unleashed by a lab leak. And sometimes an outsider will be right when saying that progressives - who often wish to censor others — are themselves enmeshed in a gigantic delusion. Indeed, a good contemporary example is the pseudoscience of critical race theory, which has ensnared so much of the radical left, including the Sussexes."

Trechos retirados de "Censors enforce orthodoxy the problem is we need heretics too

"Um empresário investe lucros, não empréstimos"

"P - Isso leva-nos a outra questão: as empresas têm uma fiscalidade justa? 
 R - Se comparar a tributação efetiva em média - não a nominal -, com as empresas europeias com quem nos devemos comparar, como Áustria, Bélgica, Holanda e Espanha, pagamos mais 6 pontos percentuais de IRC. É colossal a diferença, e destrói a capacidade de acumular parte dos lucros para investir. Um empresário investe lucros, não empréstimos. Temos as empresas insuficientemente capitalizadas porque temos ideias feitas sobre o lucro. Na Europa a tributação das empresas é 19%, em Portugal 25%."

Sem investimento não há inovação, não há subida na escala de valor. Por isso, a oferta vai-se comodificando, a margem vai-se corroendo e entra-se numa corrida para o fundo, inexorável.

Recordar o que a Mariana não sabe acerca dos custos do futuro. No entanto, se lerem este último link, olhem para o exemplo da Toyota. A Toyota não fala dos lucros passados, fala dos lucros futuros. Sim, é preciso acumular capital porque os lucros de um ano não chegam para fazer todos os investimentos necessários. Como o futuro é incerto, é preciso acumular uma parte antes de começar, para evitar surpresas. reservas. Esse montante é parte do lucro líquido que não é distribuído aos accionistas na forma de dividendos, mas sim retido pela empresa para financiar futuros investimentos, expansão, ou para cobrir possíveis contingências. Em Portugal, as reservas constituídas a partir dos lucros não são directamente taxadas de forma diferente dos próprios lucros. A tributação ocorre sobre o lucro líquido da empresa antes de qualquer alocação para reservas.

Trecho retirado do caderno de Economia do semanário Expresso do passado dia 15 de Agosto, "A sociedade desconfia do lucro, e por isso quer taxá-lo", uma entrevista com Augusto Mateus.

sábado, agosto 17, 2024

Curiosidade do dia

Primeiro o porco, depois o vinho, depois ...

Ontem: "Cette boulangerie près de Lyon arrête de vendre du porc : "Sinon, ils brûlent tout""

Recordar de 2015 "Mongo e escolhas assimétricas"

"Strategic pricers do not ask ..."

"Most companies still make pricing decisions in reaction to change rather than in anticipation of it. 

...

So how do marketing and financial managers at exceptional companies achieve sustainable exceptional profitability? It is not the result of slashing overhead more ruthlessly than their competitors. In fact, Deloitte's data indicates that exceptional performers tend to spend a bit more than competitors (as a percent of sales) on R&D and SG&A. Their exceptional profitability and, eventually, exceptional stock valuations are built on higher margins per sale that fund initiatives to grow future revenues.

Unfortunately, many companies fail to understand that making sales profitably should be the first priority, not an afterthought, to a growth strategy.

...

The difference between successful and unsuccessful pricers lies in how they approach the process. To achieve superior, sustainable profitability, pricing must become an integral part of strategy. Strategic pricers do not ask, "What price is needed to cover our costs and earn a profit?" Rather, they ask, "What costs can we afford to incur, given the prices achievable in the market, and still earn a profit?" Strategic pricers do not ask, "What price is this customer willing to pay?" but "What is our product worth to this customer and how can we better communicate that value, thus justifying the price?" When value doesn't justify price to some customers, strategic pricers do not surreptitiously discount. Instead, they consider how they can segment the market with different products or distribution channels to serve the more price-sensitive customers without undermining the perceived value to other customers. And strategic pricers never ask, "What prices do we need to meet our sales or market share objectives?" Instead, they ask,

"What level of sales or market share can we most profitably achieve?""

Trechos retirados de "The Strategy and Tactics of Pricing" de Thomas T. Nagle, Georg Müller and Evert Gruyaert" 


sexta-feira, agosto 16, 2024

Curiosidade do dia

Encontrei este texto no jornal The Times do passado dia 31 de Julho.

Voltei a recordar-me dele ao ler que o governo de turno em Portugal resolveu distribuir mais dinheiro por reformados.

Entretanto, vi imagens sem som da senhora da APRE e o texto ficou ainda mais vivo:
  • O texto destaca como as pessoas mais velhas, especialmente os reformados, se tornaram significativamente mais ricas ao longo das últimas décadas, vivendo muitas vezes em famílias abastadas devido a factores como o aumento dos preços dos imóveis e políticas de pensões generosas.
  • O texto defende que muitas doações e benefícios governamentais, tais como pagamentos de combustível de Inverno, passes de viagem gratuitos e receitas(?)/consultas gratuitas do NHS para maiores de 60 anos, já não são justificáveis, dada a riqueza relativa de muitas pessoas mais velhas. O autor sugere que estes benefícios devem ser dados após prova de necessidade, para que apenas aqueles que realmente necessitam deles os recebam.
  • O texto discute a crescente disparidade entre o apoio financeiro prestado aos idosos e o disponível aos mais novos, incluindo crianças, estudantes e famílias trabalhadoras. Exige uma reavaliação de onde os recursos governamentais sejam alocados para garantir a justiça entre gerações.

Conformar-se tem os seus custos

"When your brand has fingerprints, don’t do things that require you to wear gloves."

"Fingerprints" simbolizam a singularidade e a individualidade. Tal como as impressões digitais são únicas para cada pessoa, o estilo ou identidade única de uma marca é o que a diferencia das outras. 

“Wear gloves” representa esconder ou encobrir esta singularidade.

Se uma marca tem um estilo distinto e identificável, não deve escondê-lo, obedecendo às normas ou tentando misturar-se com a multidão.

"If your brand has a unique style, don't hide it by trying to be like everyone else."

A importância de abraçar e mostrar as qualidades únicas de uma marca, em vez de as suprimir na tentativa de se encaixar nas outras.

Se é como todos os outros...

Se uma marca se tornar indistinguível das outras (ou seja, se “usa luvas” para esconder as suas “impressões digitais”), perde aquilo que a torna especial e memorável. Perder a sua identidade distinta, deixar de se destacar ou ser esquecida num mercado sobrelotado.

Porquê?

  • As marcas podem temer que o seu estilo ou abordagem única possa afastar determinados segmentos de clientes. Para atrair um público mais vasto, podem suavizar as suas características distintivas para corresponder às expectativas mais convencionais.
  • Se uma tendência ou estilo específico se torna dominante na indústria, uma marca pode sentir-se pressionada a conformar-se para se manter relevante. Isto pode levá-la a minimizar as suas qualidades únicas em favor do que é popular actualmente.
  • Uma marca pode acreditar que imitar os concorrentes de sucesso levará a um crescimento mais rápido ou à entrada no mercado. Podem deixar temporariamente de lado a sua identidade única na esperança de ganhar uma maior quota de mercado ou competir mais directamente.
  • Se uma marca estiver com dificuldades financeiras, poderá recorrer à adopção de uma abordagem mais “segura” e convencional, acreditando ser menos arriscada. Isto pode envolver minimizar os elementos que a tornaram única em primeiro lugar.

Trecho inicial retirado de "Fingerprints"


quinta-feira, agosto 15, 2024

Curiosidade do dia

Neste mundo insano, algumas palavras sensatas.

Cuidado com as certezas

A propósito disto (1):

Lembrei-me disto (2):

E já agora:

Quando penso no que tem sido a evolução:
  • na habitação;
  • na saúde;
  • nos transportes públicos,
  • na imigração; e
  • na educação.
Penso naquele número 10, "The planner has no right to be wrong."

Na ciência, as hipóteses são testadas e refutadas, e os cientistas não são culpados se as suas hipóteses forem refutadas, desde que sigam o método científico. Ao contrário dos cientistas, os políticos não podem dar-se ao luxo de estar errados porque as suas decisões têm consequências no mundo real que têm impacte directo na vida das pessoas.

Os políticos lidam frequentemente com "problemas graves", que são complexos, difíceis de definir e não têm uma solução clara. Estes problemas são ainda mais complicados pela ambiguidade de causas e efeitos e pela diversidade de opiniões públicas, tornando difícil para os políticos encontrar soluções universalmente aceites.

E vejo tantos políticos cheios de certezas.

E recordo Roger Martin em Maio passado:
"Betterment over Perfection
...
In contrast, the mindset of betterment focuses on the journey from the choices producing the current painful gap to enacting a set of choices that eliminates the gap. The current choices, the gap, the journey, and the desired strategic outcome are all front of mind.
In addition, by focusing on one gap at a time, betterment makes the strategy problem more tractable, and tractability is often a challenge in strategy. Executive teams can get overwhelmed by the task of creating from scratch a perfect overall strategy. That often feels too daunting and too abstract. Betterment is a more concrete task that makes it easier for executive teams to stay engaged and power through."

(1) - Fonte

(2) - Fonte

quarta-feira, agosto 14, 2024

Curiosidade do dia

Como se definem objectivos? (parte III)

Parte I e parte II.

Consideremos a Campbell’s Law: “The more any quantitative social indicator is used for social decision-making, the more subject it will be to corruption pressures & the more apt it will be to distort & corrupt the social processes it is intended to monitor".

Nas empresas...

Objectivos de vendas 

Uma empresa estabelece objectivos de vendas agressivos para os seus colaboradores, ligando os bónus e as promoções ao cumprimento desses objectivos.

Consequência: Os colaboradores podem recorrer a práticas pouco éticas, como a venda adicional de produtos desnecessários, a manipulação de dados de vendas ou até mesmo a criação de transacções falsas para atingir os seus objectivos. Isto pode prejudicar a confiança do cliente e prejudicar a reputação da empresa a longo prazo, distorcendo o propósito genuíno de melhorar o desempenho das vendas.

Recordo o caso da Wells Fargo, uma das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos, implementou metas agressivas de vendas e incentivos para que seus funcionários abrissem novas contas bancárias e serviços financeiros para os clientes. Para atingir essas metas e evitar represálias, muitos funcionários começaram a abrir contas falsas e a inscrever clientes em produtos financeiros sem o seu consentimento. Estima-se que cerca de 3,5 milhões de contas não autorizadas foram criadas.

Pontuações de satisfação do cliente

Uma empresa depende fortemente dos índices de satisfação do cliente para avaliar o desempenho dos colaboradores.

Consequência: Os colaboradores podem pressionar os clientes a dar feedback positivo ou a escolher selectivamente os clientes que sabem que darão classificações elevadas, em vez de se concentrarem na melhoria genuína da qualidade do serviço. Isto mina a verdadeira intenção de medir a satisfação do cliente para melhorar o serviço, uma vez que o processo passa a ser uma questão de manipular o sistema em vez de entregar valor real.

Recordo o caso da Uber, a empresa usa um sistema de avaliação em que os motoristas e passageiros classificam-se uns aos outros após cada viagem. Essas avaliações são críticas para os motoristas, pois uma baixa classificação pode levar à desactivação das suas contas ou à perda de acesso a determinados benefícios e incentivos. Para evitar avaliações negativas, alguns motoristas começaram a pressionar os passageiros a dar classificações altas, às vezes até sugerindo diretamente que o passageiro deve dar 5 estrelas. Em outros casos, os motoristas poderiam evitar atender passageiros que acreditavam que poderiam dar uma classificação mais baixa, escolhendo atender apenas aqueles que pareciam mais propensos a dar uma boa avaliação. Essas práticas desviam o foco da melhoria genuína da experiência do cliente e passam a ser sobre como manipular o sistema de avaliação para evitar punições ou maximizar recompensas.

Métricas de produtividade em Logística

Uma empresa de logística utiliza métricas quantitativas, como o número de artigos separados por hora, para avaliar a produtividade dos trabalhadores de armazém.

Consequência: Os trabalhadores podem concentrar-se apenas na quantidade, descurando a qualidade do seu trabalho. Podem manusear artigos incorrectamente ou embalar produtos de forma inadequada para aumentar o seu número, levando a mais erros, produtos danificados e taxas de devolução mais elevadas, o que acaba por prejudicar os resultados financeiros da empresa e a experiência do cliente.

Recordo o caso da Amazon que usa sistemas de monitorização rigorosos para acompanhar a produtividade de seus trabalhadores em centros de distribuição. Esses trabalhadores são frequentemente avaliados com base no número de itens que conseguem processar por hora, com metas de produtividade que podem ser muito elevadas. Sob a pressão de atingir essas metas, alguns trabalhadores podem-se concentrar exclusivamente na quantidade, tentando processar o maior número possível de itens em detrimento da qualidade. Isso pode resultar em manuseamento inadequado de produtos, embalagem defeituosa ou apressada, e maior risco de erros. Esses problemas podem levar a um aumento nas taxas de produtos danificados e devoluções, impactando negativamente a satisfação do cliente e os resultados financeiros da empresa.

E nos governos, imaginem o manancial de oportunidades...

terça-feira, agosto 13, 2024

Curiosidade do dia

O académico versus o empírico.



 

Come on. Como se pode ser tão básico?

Acerca do vinho tenho escrito alguns postais ao longo dos anos. Recordo de há anos um focado no problema de fundo, a incapacidade de subir na escala de valor: O crescimento canceroso (de Dezembro de 2018).

Recentemente escrevi sobre a incapacidade de todos os intervenientes, desde o governo aos produtores de uva, enfrentarem a situação de frente e falarem verdade. Não falando verdade, qualquer hipótese de melhoria fica ferida de morte (recordar o que Roger Martin escreveu recentemente). Por isso escrevi:
Em Julho escrevi "Julgo que nunca verei esse dia... uma tristeza." onde citei dados da produção e consumo mundial de vinho e do crescente desencontro. Consumo desce e produção sobe. Qual a reacção em Portugal? Destilar vinho e culpar importações. E mudar? Não isso não é com os produtores.

Ontem, no FT li "Australian wine sector suffers from shift upmarket":
""Three years ago, the industry was in the best position it has been in. Now it's the worst it's been," he said.
The woes of the sector, which employs more than 160,000 full and part-time workers, have prompted an exodus of established operators.
Treasury Wine Estates, Australia's largest wine producer and the maker of some of the best-known labels on UK supermarket shelves, including Wolf Blass and Blossom Hill, announced this week that it would sell its commercial wines division with a A$290mn (US$189mn) writedown.
It was the latest in a series of deals involving Australian wine.
...
Globally, wine consumption has also been declining. UK per capita wine consumption peaked in 2009, except for a temporary boost during the coronavirus pandemic, with British drinkers now consuming 14 per cent less than they did in 2000.
Some of the world's largest alcohol companies are shifting from the commercial end of the wine marketbrands that retail for less than $10 a bottle - towards higher-margin and faster growing segments, such as spirits and premium wine.
...
"The reality is biting in Australia. [Moi ici: Esta é a linguagem de olhar para os factos e não de arranjar culpados ou pedir botijas de oxigénio, aka destilação] We are in a global oversupply situation. This is a crucible moment in the industry."
Trevor Stirling, an analyst at Bernstein, said winemakers globally had been forced to cut prices to remain competitive. "Wines that were once upon a time considered premium are now seen as mainstream," he said. "The only bit of 'Three years ago, the industry was in the best position it has been in.
Now it's the worst it's been' the wine industry in the world making money is rosé and upmarket wines.""

Também ontem, mas no JdN, apanhei, "Exportações de vinhos crescem até junho 8,6% em volume, mas só 1,25% em valor" [Moi ici: Esta matemática é impressionante!]

"As exportações totais de vinho português aumentaram nos primeiros seis meses deste ano 8,58% em volume, mas apenas 1,25% em valor, comparativamente com o mesmo período de 2023. 

...

[Moi ici: Os dois parágrafos que se seguem são de chorar. Não percebem como isto não tem nada a ver com sustentabilidade? Basta recordar os números de Simon e Dolan e o impacte assimétrico da redução de preços na rentabilidade. Esta gente não percebe que vender mais, e ganhar menos dinheiro, apesar de ter mais trabalho, mais custos, mais inventário é uma forma antieconómica de operar?] Em seu entender, "o aumento de 8,58% em volume demonstra a forte procura pelos nossos vinhos nos mercados internacionais, contribuindo para a sustentabilidade do setor".

No entanto, salienta que "continuamos a ter um desafio no que toca ao preço médio, que reduziu em vez de aumentar, como era a nossa expectativa"."

Não enfrentamos os problemas de frente, não olhamos para os dados e iludimos-nos com "vanity metrics": aumentar vendas, enquanto se perde dinheiro. Come on. Como se pode ser tão básico?

O mundo muda e temos de mudar de vida, mudar de estratégia, mudar de mercado, mudar de clientes, mudar de produto, mudar de modelo de negócio. Não podemos querer perpetuar uma postura de mercado e esperar que outros nos paguem para a manter.

O mais grave é ninguém falar como adulto suportado em números... sempre a velha estória da festa de Natal do nosso filho de cinco anos...